segunda-feira, 14 de abril de 2025

Catequeses do Papa Francisco: Vícios e virtudes 11

Concluindo a publicação das Catequeses do Papa Francisco sobre os vícios e as virtudes que realizamos ao longo da Quaresma deste Ano Jubilar de 2025, trazemos suas meditações sobre a maior das virtudes teologais, a caridade, e sobre a virtude da humildade.

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 15 de maio de 2024
Os vícios e as virtudes (19): A caridade

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje falaremos da terceira virtude teologal, a caridade. As outras duas, recordemos, são a fé e a esperança: hoje falaremos da terceira, a caridade. Ela é o ápice de todo o itinerário que percorremos nas Catequeses sobre as virtudes. Pensar na caridade dilata imediatamente o coração e a mente, segundo as palavras inspiradas de São Paulo na Primeira Carta aos Coríntios. Concluindo aquele maravilhoso hino, São Paulo cita a tríade de virtudes teologais, exclamando: «Agora, pois, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade. Mas a maior delas é a caridade» (1Cor 13,13).

As três virtudes teologais
(August Kiss, Cripta da Catedral de Berlim)

Paulo dirige estas palavras a uma comunidade muito longe de ser perfeita no amor fraterno: os cristãos de Corinto eram bastante turbulentos, havia divisões internas, havia aqueles que pretendiam ter sempre razão e não ouviam os outros, considerando-os inferiores. Paulo recorda-lhes que a ciência ensoberbece, enquanto a caridade edifica (cf. 1Cor 8,1). Além disso, o Apóstolo fala de um escândalo que atinge até o momento de maior união de uma comunidade cristã, ou seja, a “Ceia do Senhor”, a Celebração Eucarística: também ali há divisões, e há quem se aproveite para comer e beber, excluindo os que nada têm (cf. 1Cor 11,18-22). Perante isto, Paulo pronuncia um juízo severo: «Quando, pois, vos reunis, já não comeis a Ceia do Senhor» (v. 20), tendes outro ritual, que é pagão, não é a Ceia do Senhor.

Talvez ninguém na comunidade de Corinto pensasse que tinha cometido pecado e aquelas palavras tão duras do Apóstolo lhes parecessem um pouco incompreensíveis. Provavelmente todos estavam convencidos de que eram pessoas boas e, se fossem interrogados sobre o amor, teriam respondido que para eles o amor era certamente um valor muito importante, como a amizade e a família. Até hoje o amor está nos lábios de todos, na boca de muitos “influencers” e nos refrões de numerosas canções. Fala-se muito de amor, mas o que é o amor?

“Mas o outro amor?”, parece perguntar Paulo aos seus cristãos de Corinto. Não o amor que sobe, mas aquele que desce; não o que toma, mas aquele que oferece; não o que aparece, mas aquele que se esconde. Paulo receia que em Corinto - como também entre nós hoje - se crie confusão e que da virtude teologal do amor, que vem de Deus, não permaneça na realidade vestígio algum. E, embora todos afirmem ser pessoas boas, que amam a própria família e os amigos, na verdade sabem muito pouco sobre o amor de Deus.

Os cristãos da Antiguidade tinham à disposição várias palavras gregas para definir o amor. No final surgiu o vocábulo “ágape”, que normalmente traduzimos como “caridade”. Porque, na verdade, os cristãos são capazes de todos os amores do mundo: também eles se apaixonam, mais ou menos como acontece com todos. Também eles experimentam a benevolência da amizade. Também eles vivem o amor à pátria e o amor universal a toda a humanidade. Mas existe um amor maior, um amor que vem de Deus e se dirige a Deus, que nos permite amar a Deus, tornando-nos seus amigos, e nos concede amar o próximo como Deus o ama, com o desejo de partilhar a amizade com Deus. Por causa de Cristo, este amor nos impele para onde humanamente não iríamos: trata-se do amor pelos pobres, pelo que não é amável, por quem não nos ama e não nos é grato. É o amor pelo que ninguém amaria; até pelo inimigo. Até pelo inimigo. Isto é “teologal”, vem de Deus, é obra do Espírito Santo em nós.

No Sermão da Montanha Jesus prega: «Se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Até os pecadores amam aqueles que os amam. E se fazeis o bem somente aos que vos fazem o bem, que recompensa tereis? Até os pecadores fazem assim» (Lc 6,32-33). E conclui: «Amai os vossos inimigos - estamos habituados a falar mal dos inimigos -, fazei o bem e emprestai sem esperar coisa alguma em troca. Então a vossa recompensa será grande, e sereis filhos do Altíssimo, porque Deus é bondoso também para com os ingratos e os maus» (v. 35). Recordemo-lo: “Amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem nada esperar”. Não o esqueçamos!

Nessas palavras o amor revela-se como virtude teologal, adquirindo o nome de caridade. O amor é caridade! Compreendemos imediatamente que se trata de um amor difícil, aliás, impossível de praticar, se não se vive em Deus. A nossa natureza humana leva-nos a amar espontaneamente o que é bom e belo. Em nome de um ideal ou de um grande afeto até conseguimos ser generosos e realizar gestos heroicos. Mas o amor de Deus vai além desses critérios. O amor cristão abraça o que não é amável, oferece o perdão - como é difícil perdoar, quanto amor é preciso para perdoar! -, abençoa quem amaldiçoa, enquanto nós estamos habituados, perante um insulto ou uma maldição, a responder com outro insulto, com outra maldição. É um amor tão audacioso que parece quase impossível e, no entanto, é a única coisa que restará de nós. O amor é a “porta estreita” através da qual passar para entrar no Reino de Deus. Pois no crepúsculo da vida não seremos julgados pelo amor genérico, seremos julgados precisamente pela caridade, pelo amor que tivermos concretamente. E Jesus diz-nos isto, é muito bonito: «Em verdade vos digo: todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!» (Mt 25,40). Esta é a beleza, a grandiosidade do amor.

Caridade
(Piero del Pollaiolo)

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 22 de maio de 2024
Os vícios e as virtudes (20): A humildade

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Concluímos este ciclo de Catequeses meditando sobre uma virtude que não faz parte do setenário de virtudes cardeais e teologais, mas que está na base da vida cristã: esta virtude é a humildade. Ela é a grande antagonista do mais mortal dos vícios, a soberba. Enquanto o orgulho e a soberba inflam o coração humano, fazendo-nos parecer mais do que somos, a humildade repõe tudo na dimensão certa: somos criaturas maravilhosas, mas limitadas, com qualidades e defeitos. A Bíblia recorda-nos desde o início que somos pó e ao pó voltaremos (cf. Gn 3,19); com efeito, “humilde” vem de húmus, ou seja, terra. No entanto, no coração humano surgem com frequência delírios de onipotência, muito perigosos, e isto fere-nos muito.

Para nos libertarmos do orgulho bastaria realmente pouco, seria suficiente contemplar um céu estrelado para recuperar a medida certa, como reza o Salmo: «Quando contemplo o firmamento, obra das vossas mãos, a lua e as estrelas que fixastes, que é o homem para que vos lembrardes dele, o filho do homem para dele cuidardes?» (Sl 8,4-5). A ciência moderna permite-nos ampliar muito mais o horizonte e sentir em maior medida o mistério que nos circunda e habita.

Felizes as pessoas que conservam no coração esta consciência da sua pequenez! Estas pessoas são preservadas de um vício tremendo: a arrogância. Nas suas bem-aventuranças Jesus parte precisamente delas: «Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos céus» (Mt 5,3). É a primeira bem-aventurança, pois está na base das seguintes: com efeito, a mansidão, a misericórdia, a pureza de coração nascem desta sensação interior de pequenez. A humildade é a porta de entrada para todas as virtudes!

Nas primeiras páginas dos Evangelhos a humildade e a pobreza de espírito parecem ser a fonte de tudo. O anúncio do anjo não se verifica às portas de Jerusalém, mas em um povoado remoto da Galileia, tão insignificante que as pessoas diziam: «De Nazaré pode vir algo bom?» (Jo 1,46). Mas é precisamente dali que o mundo renasce. A heroína escolhida não é uma pequena rainha que cresceu na infantilidade, mas uma jovem desconhecida: Maria. A primeira a ficar abismada é ela mesma, quando o anjo lhe traz o anúncio de Deus. E no seu cântico de louvor sobressai exatamente este enlevo: «A minha alma engrandece o Senhor e o meu espírito exulta em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva» (Lc 1,46-48). Deus - por assim dizer - é atraído pela pequenez de Maria, que é sobretudo pequenez interior. E é atraído também pela nossa pequenez, quando a aceitamos.

Daqui em diante Maria terá o cuidado de não pisar o palco. A sua primeira decisão após o anúncio angélico é ir ajudar, ir servir a prima. Maria vai às montanhas de Judá para visitar Isabel: assiste-a nos últimos meses de gravidez. Mas quem vê este gesto? Ninguém, a não ser Deus. A Virgem parece nunca querer sair deste escondimento. Como quando, do meio da multidão, a voz de uma mulher proclama a sua bem-aventurança: «Bendito o ventre que te gerou e os seios que te amamentaram!» (Lc 11,27). Mas Jesus responde imediatamente: «Bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática» (v. 28). Nem sequer a verdade mais sagrada da sua vida - ser Mãe de Deus - se torna para ela motivo de vanglória diante dos homens. Em um mundo que busca a aparência, o demonstrar-se superior aos outros, Maria caminha com determinação, só com a força da graça de Deus, na direção oposta.

Podemos imaginar que também ela conheceu momentos difíceis, dias em que a sua fé avançava na escuridão. Mas isto nunca fez vacilar a sua humildade, que em Maria era uma virtude granítica [firme como granito]. Quero enfatizá-lo: a humildade é uma virtude granítica! Pensemos em Maria: ela é sempre pequena, sempre despojada de si mesma, sempre livre de ambições. Esta sua pequenez é a sua força invencível: é ela que permanece aos pés da cruz enquanto se fragmenta a ilusão de um Messias triunfante. Será Maria, nos dias precedentes ao Pentecostes, que reunirá o rebanho dos discípulos que não foram capazes de vigiar uma só hora com Jesus e que o abandonaram quando chegou a tempestade.

Irmãos e irmãs, a humildade é tudo. É ela que nos salva do Maligno e do perigo de nos tornarmos seus cúmplices. E a humildade é a nascente da paz no mundo e na Igreja. Onde não há humildade, há guerra, há discórdia, há divisão. Deus deu-nos o exemplo disto em Jesus e Maria, a fim de que seja a nossa salvação e a nossa felicidade. E a humildade é precisamente a vereda, o caminho da salvação.

Humildade

Fonte: Santa Sé (15 de maio / 22 de maio).

Confira também as Catequeses do Bem-aventurado Papa João Paulo I sobre a virtude da caridade e sobre a virtude da humildade.

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