Neste Domingo de Páscoa da Ressurreição do Senhor, concluindo a Semana Santa deste Ano Jubilar de 2025, recordamos a Mensagem Urbi et Orbi (À cidade e ao mundo) proferida pelo Papa São João Paulo II (†2005) há 25 anos, no Domingo de Páscoa do Grande Jubileu do Ano 2000:
Papa João Paulo II
Mensagem Urbi et Orbi
Praça de São Pedro
Domingo de Páscoa, 23 de abril de 2000
1. «Mors et vita duello conflixere mirando...».
«A morte e a vida travaram um admirável combate: depois de
morto, vive e reina o Autor da vida» (Sequência pascal).
Hoje, mais uma vez, a Igreja se detém maravilhada junto ao sepulcro
vazio. Como Maria Madalena e as outras mulheres, vindas para ungir com aromas o
corpo do Crucificado, como os Apóstolos Pedro e João, que vieram correndo ao
ouvir as palavras das mulheres, assim a Igreja se inclina sobre o sepulcro onde
o seu Senhor foi depositado depois da crucificação.
Há um mês, peregrino na Terra Santa, tive a graça de me
ajoelhar diante da laje de pedra que indica o lugar onde Jesus foi sepultado. Hoje,
Domingo da Ressurreição, faço meu o anúncio do mensageiro celeste: «Ressuscitou,
não está aqui!» (Mc 16,6).
Sim, a vida e a morte se enfrentaram e a Vida triunfou para
sempre. Tudo está novamente orientado para a vida, para a Vida eterna!
2. «Victimae
paschali laudes immolent christiani...».
«À Vítima pascal ofereçam os cristãos sacrifícios de louvor.
O Cordeiro resgatou as ovelhas: Cristo, o Inocente, reconciliou com o Pai os
pecadores».
As palavras da Sequência pascal expressam admiravelmente o
mistério que se realiza na Páscoa de Cristo. Indicam a força renovadora que
emana da sua Ressurreição. Com as armas do amor, Deus derrotou o pecado e a
morte. O Filho eterno, que se esvaziou a si mesmo, fazendo-se servo obediente até
a morte de cruz (cf. Fl 2,7-8), venceu o mal na raiz, abrindo
aos corações arrependidos o caminho de retorno ao Pai.
Ele é a Porta da Vida, que na Páscoa triunfa sobre as portas
do inferno. É a Porta da salvação aberta de par em par para todos, a Porta da
divina misericórdia que projeta uma nova luz sobre a existência humana.
3. Cristo Ressuscitado aponta caminhos de esperança, os quais
devemos percorrer juntos em direção a um mundo mais justo e solidário, onde o
egoísmo cego de poucos não prevaleça sobre o grito de dor de muitos, reduzindo
povos inteiros à condição de humilhante miséria.
A mensagem da vida, que ressoa pela boca do anjo junto à
pedra removida do sepulcro, derrote a dureza dos corações, leve à superação de
barreiras injustificadas e favoreça um encontro fecundo de povos e culturas.
A imagem do homem novo, que resplandece na face de Cristo, leve
todos a reconhecer o valor intangível da vida humana; suscite respostas
adequadas à exigência cada vez mais sentida de justiça e de igualdade de
oportunidades nos vários âmbitos da vida social; mova os indivíduos e os
Estados ao pleno respeito dos essenciais e autênticos direitos enraizados na própria
natureza do ser humano.
4. Senhor Jesus, nossa Paz (Ef 2,14), Verbo encarnado
há dois mil anos, que ressuscitando vencestes o mal e o pecado, concedei à
humanidade do terceiro milênio uma paz justa e duradoura; conduzi a bom êxito
os diálogos empreendidos entre homens de boa vontade que, apesar de tantas perplexidades
e dificuldades, se propõem pôr fim aos preocupantes conflitos na África, às lutas
armados em alguns países da América Latina, às contínuas tensões que afligem o
Oriente Médio, vastas partes da Ásia e algumas regiões da Europa.
Ajudai as nações a superar antigas e novas rivalidades, rejeitando
sentimentos de racismo e de xenofobia.
Possa a terra inteira, inundada pelo esplendor da Ressurreição,
alegrar-se porque «a luz de Cristo, o Rei eterno, dissipou as trevas do mundo»
(Precônio pascal).
Sim, Cristo ressuscitou vitorioso e ofereceu ao homem, herdeiro
de Adão no pecado e na morte, uma nova herança de vida e de glória.
5. «Ubi
est mors stimulus tuus?».
«Ó morte, onde está o teu aguilhão?» (1Cor 15,55),
exclama o Apóstolo Paulo, atingido pela luz do Cristo Ressuscitado no caminho de Damasco. O seu grito
ecoa através dos séculos como anúncio de vida para toda a civilização humana.
Também nós, homens e mulheres do século XXI, somos
convidados a tomar consciência desta vitória de Cristo sobre a morte, revelada às
mulheres de Jerusalém a aos Apóstolos, quando chegaram temerosos no sepulcro.
A experiência destas testemunhas oculares, através da
Igreja, chegou até nós. Ela se exprime de modo significativo no caminho dos
peregrinos que, neste ano do Grande Jubileu, atravessam a Porta Santa e
retornam com mais coragem para construir caminhos de reconciliação com Deus e
com os irmãos.
No coração deste Ano de graça ressoe com mais força o
anúncio dos discípulos de Cristo, um anúncio comum, para além de toda divisão, no
desejo ardente de uma comunhão plena:
«Scimus Christum surrexisse a mortuis vere».
«Sabemos e acreditamos: Cristo ressuscitou dos mortos. Ó Rei
vitorioso, tende piedade de nós». Amém.
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Aparição do Ressuscitado aos Apóstolos (Szymon Czechowicz) |
Fonte: Santa Sé (com pequenas correções do autor deste blog).
Confira também:
Domingo de Ramos: Homilia (2000)
Missa Crismal: Homilia (2000)
Vigília Pascal: Homilia (2000)
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