domingo, 20 de abril de 2025

Mensagem do Papa João Paulo II: Páscoa (2000)

Neste Domingo de Páscoa da Ressurreição do Senhor, concluindo a Semana Santa deste Ano Jubilar de 2025, recordamos a Mensagem Urbi et Orbi (À cidade e ao mundo) proferida pelo Papa São João Paulo II (†2005) há 25 anos, no Domingo de Páscoa do Grande Jubileu do Ano 2000:

Papa João Paulo II
Mensagem Urbi et Orbi
Praça de São Pedro
Domingo de Páscoa, 23 de abril de 2000

1. «Mors et vita duello conflixere mirando...».
«A morte e a vida travaram um admirável combate: depois de morto, vive e reina o Autor da vida» (Sequência pascal).

Hoje, mais uma vez, a Igreja se detém maravilhada junto ao sepulcro vazio. Como Maria Madalena e as outras mulheres, vindas para ungir com aromas o corpo do Crucificado, como os Apóstolos Pedro e João, que vieram correndo ao ouvir as palavras das mulheres, assim a Igreja se inclina sobre o sepulcro onde o seu Senhor foi depositado depois da crucificação.


Há um mês, peregrino na Terra Santa, tive a graça de me ajoelhar diante da laje de pedra que indica o lugar onde Jesus foi sepultado. Hoje, Domingo da Ressurreição, faço meu o anúncio do mensageiro celeste: «Ressuscitou, não está aqui!» (Mc 16,6).

Sim, a vida e a morte se enfrentaram e a Vida triunfou para sempre. Tudo está novamente orientado para a vida, para a Vida eterna!

2. «Victimae paschali laudes immolent christiani...».
«À Vítima pascal ofereçam os cristãos sacrifícios de louvor. O Cordeiro resgatou as ovelhas: Cristo, o Inocente, reconciliou com o Pai os pecadores».

As palavras da Sequência pascal expressam admiravelmente o mistério que se realiza na Páscoa de Cristo. Indicam a força renovadora que emana da sua Ressurreição. Com as armas do amor, Deus derrotou o pecado e a morte. O Filho eterno, que se esvaziou a si mesmo, fazendo-se servo obediente até a morte de cruz (cf. Fl 2,7-8), venceu o mal na raiz, abrindo aos corações arrependidos o caminho de retorno ao Pai.

Ele é a Porta da Vida, que na Páscoa triunfa sobre as portas do inferno. É a Porta da salvação aberta de par em par para todos, a Porta da divina misericórdia que projeta uma nova luz sobre a existência humana.

3. Cristo Ressuscitado aponta caminhos de esperança, os quais devemos percorrer juntos em direção a um mundo mais justo e solidário, onde o egoísmo cego de poucos não prevaleça sobre o grito de dor de muitos, reduzindo povos inteiros à condição de humilhante miséria.

A mensagem da vida, que ressoa pela boca do anjo junto à pedra removida do sepulcro, derrote a dureza dos corações, leve à superação de barreiras injustificadas e favoreça um encontro fecundo de povos e culturas.

A imagem do homem novo, que resplandece na face de Cristo, leve todos a reconhecer o valor intangível da vida humana; suscite respostas adequadas à exigência cada vez mais sentida de justiça e de igualdade de oportunidades nos vários âmbitos da vida social; mova os indivíduos e os Estados ao pleno respeito dos essenciais e autênticos direitos enraizados na própria natureza do ser humano.

4. Senhor Jesus, nossa Paz (Ef 2,14), Verbo encarnado há dois mil anos, que ressuscitando vencestes o mal e o pecado, concedei à humanidade do terceiro milênio uma paz justa e duradoura; conduzi a bom êxito os diálogos empreendidos entre homens de boa vontade que, apesar de tantas perplexidades e dificuldades, se propõem pôr fim aos preocupantes conflitos na África, às lutas armados em alguns países da América Latina, às contínuas tensões que afligem o Oriente Médio, vastas partes da Ásia e algumas regiões da Europa.

Ajudai as nações a superar antigas e novas rivalidades, rejeitando sentimentos de racismo e de xenofobia.

Possa a terra inteira, inundada pelo esplendor da Ressurreição, alegrar-se porque «a luz de Cristo, o Rei eterno, dissipou as trevas do mundo» (Precônio pascal).

Sim, Cristo ressuscitou vitorioso e ofereceu ao homem, herdeiro de Adão no pecado e na morte, uma nova herança de vida e de glória.

5. «Ubi est mors stimulus tuus?».
«Ó morte, onde está o teu aguilhão?» (1Cor 15,55), exclama o Apóstolo Paulo, atingido pela luz do Cristo Ressuscitado no caminho de Damasco. O seu grito ecoa através dos séculos como anúncio de vida para toda a civilização humana.

Também nós, homens e mulheres do século XXI, somos convidados a tomar consciência desta vitória de Cristo sobre a morte, revelada às mulheres de Jerusalém a aos Apóstolos, quando chegaram temerosos no sepulcro.

A experiência destas testemunhas oculares, através da Igreja, chegou até nós. Ela se exprime de modo significativo no caminho dos peregrinos que, neste ano do Grande Jubileu, atravessam a Porta Santa e retornam com mais coragem para construir caminhos de reconciliação com Deus e com os irmãos.

No coração deste Ano de graça ressoe com mais força o anúncio dos discípulos de Cristo, um anúncio comum, para além de toda divisão, no desejo ardente de uma comunhão plena:
«Scimus Christum surrexisse a mortuis vere».
«Sabemos e acreditamos: Cristo ressuscitou dos mortos. Ó Rei vitorioso, tende piedade de nós». Amém.

Aparição do Ressuscitado aos Apóstolos
(Szymon Czechowicz)


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