sábado, 19 de abril de 2025

Homilia do Papa João Paulo II: Vigília Pascal (2000)

Nesta Semana Santa do Ano Jubilar de 2025 recordamos a homilia proferida pelo Papa São João Paulo II (†2005) na Vigília Pascal na Noite Santa da Ressurreição do Senhor há 25 anos, durante o Grande Jubileu do Ano 2000:

Vigília Pascal (Ano B)
Homilia do Papa João Paulo II
Praça de São Pedro
Sábado Santo, 22 de abril de 2000

1. “Tendes uma guarda. Ide e guardai o sepulcro como melhor vos parecer” (Mt 27,65).
O sepulcro de Jesus é fechado e lacrado. A pedido dos sumos sacerdotes e dos fariseus foram colocados soldados de guarda, para que ninguém pudesse roubar o corpo (cf. Mt 27,62-64). É deste acontecimento que parte a Liturgia da Vigília Pascal.
Vigiavam junto ao sepulcro os que haviam desejado a morte de Cristo, considerando-o um “impostor” (v. 62). Seu desejo era que Ele e sua mensagem fossem sepultados para sempre.
Não longe dali, vigiava Maria e, com ela, os Apóstolos e algumas mulheres. Conservavam impressa no coração a imagem desconcertante dos recentes acontecimentos.


2. Vigia esta noite a Igreja em cada canto da terra, e revive as etapas fundamentais da história da salvação. A solene Liturgia que estamos realizando é expressão deste “vigiar” que, de certo modo, remete àquele mesmo Deus do qual fala o Livro do Êxodo: “Aquela foi uma noite de vigília para o Senhor, quando os fez sair da terra do Egito: essa noite em honra do Senhor deve ser observada por todos os filhos de Israel em todas as suas gerações” (Ex 12,42).

No seu amor providente e fiel, que ultrapassa o tempo e o espaço, Deus vigia sobre o mundo. Assim canta o salmista: “Ele não dorme nem cochila, Aquele que é o guarda de Israel! O Senhor é o teu guarda, o teu vigia... Ele te guarda desde agora e para sempre!” (Sl 120,4-5.8).

Também a passagem entre o segundo e o terceiro milênio, que estamos vivendo, é guardada no mistério do Pai. Ele “age sempre” (Jo 5,17) para a salvação do mundo e, através do Filho feito homem, guia o seu povo da escravidão para a liberdade, da morte para vida. Toda a “obra” do Grande Jubileu do Ano 2000 está, por assim dizer, inscrita nesta noite de Vigília, que leva a cumprimento aquela do Natal do Senhor. Belém e o Calvário evocam o mesmo mistério do amor de Deus, que “amou tanto o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).

3. Nesta Noite Santa, enquanto vigia, a Igreja se debruça sobre os textos da Sagrada Escritura, que descrevem o desígnio divino do Gênesis ao Evangelho e que, graças aos ritos litúrgicos do fogo e da água, conferem a esta singular celebração uma dimensão cósmica. Nesta noite, todo o universo criado é chamado a vigiar junto ao sepulcro de Cristo. Diante dos nossos olhos desvela-se a história da salvação, da criação à redenção, do êxodo à Aliança no Sinai, da antiga à nova e eterna Aliança. Nesta Noite Santa cumpre-se o eterno projeto de Deus sobre a história do homem e do cosmo.

4. Na Vigília Pascal, mãe de todas as vigílias, todo homem pode reconhecer também a própria história pessoal de salvação, que tem seu ponto fundamental no renascimento em Cristo através do Batismo.
Esta é, de modo particular, a vossa experiência, caríssimos irmãos e irmãs, que daqui a pouco recebereis os Sacramentos da Iniciação Cristã: Batismo, Crisma e Eucaristia.
Sois de diversos países do mundo: Japão, China, Camarões, Albânia e Itália.
A variedade das vossas nações de origem evidencia a universalidade da salvação trazida por Cristo. Daqui a pouco, caríssimos, sereis inseridos na intimidade do mistério do amor de Deus, Pai e Filho e Espírito Santo. Possa a vossa existência se tornar um canto de louvor à Santíssima Trindade e um testemunho de amor sem fronteiras.

5. Ecce lignum Crucis, in quo salus mundi pependit: venite adoremus!”. Assim cantou ontem a Igreja, mostrando o madeiro da Cruz “do qual pendeu o Cristo, Salvador do mundo”. “Foi crucificado, morto e sepultado”, recitamos no Credo.

O sepulcro! Eis o lugar onde o depositaram (cf. Mc 16,6). Ali está espiritualmente presente toda a Comunidade eclesial de cada canto da terra. Nós também estamos ali com as três mulheres que vão ao sepulcro antes da aurora, para ungir o corpo sem vida de Jesus (cf. Mc 16,1-2). Sua pressa é a nossa pressa. Com elas, descobrimos que a enorme pedra sepulcral foi retirada e o corpo já não se encontra ali. “Não está aqui”, anuncia o anjo (v. 6), mostrando o sepulcro vazio e as faixas fúnebres no chão. “A morte já não tem poder sobre Ele” (Rm 6,9).

Cristo ressuscitou! Anuncia, no fim desta noite de Páscoa, a Igreja, que ontem tinha proclamado a morte de Cristo sobre a Cruz. É anúncio de verdade e de vida.

Surrexit Dominus de sepulchro, qui pro nobis pependit in ligno. Alleluia!”. Ressuscitou do sepulcro o Senhor que por nós foi pregado na cruz.
Sim, Cristo verdadeiramente ressuscitou e nós somos testemunhas.
Gritamo-lo ao mundo, para que a nossa alegria chegue a muitos outros corações, acendendo neles a luz da esperança que não decepciona (cf. Rm 5,5).
Cristo ressuscitou! Aleluia!

Cristo Ressuscitado
(Jerzy Duda-Gracz)

Fonte: Santa Sé (com pequenas correções do autor deste blog).

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