Nesta Semana Santa do Ano Jubilar de 2025 recordamos a homilia proferida pelo Papa São João Paulo II (†2005) na Vigília Pascal na Noite Santa da Ressurreição do Senhor há 25 anos, durante o Grande Jubileu do Ano 2000:
Vigília Pascal (Ano B)
Homilia do Papa João Paulo II
Praça de São Pedro
Sábado Santo, 22 de abril de 2000
1. “Tendes uma guarda. Ide e guardai o sepulcro como
melhor vos parecer” (Mt 27,65).
O sepulcro de Jesus é fechado e lacrado. A pedido dos sumos
sacerdotes e dos fariseus foram colocados soldados de guarda, para que ninguém
pudesse roubar o corpo (cf. Mt 27,62-64). É deste
acontecimento que parte a Liturgia da Vigília Pascal.
Vigiavam junto ao sepulcro os que haviam desejado a morte de
Cristo, considerando-o um “impostor” (v. 62). Seu desejo era que Ele e sua
mensagem fossem sepultados para sempre.
Não longe dali, vigiava Maria e, com ela, os Apóstolos e
algumas mulheres. Conservavam impressa no coração a imagem desconcertante dos
recentes acontecimentos.
2. Vigia esta noite a Igreja em cada canto da terra, e
revive as etapas fundamentais da história da salvação. A solene Liturgia que
estamos realizando é expressão deste “vigiar” que, de certo modo, remete àquele
mesmo Deus do qual fala o Livro do Êxodo: “Aquela foi uma noite de
vigília para o Senhor, quando os fez sair da terra do Egito: essa noite em
honra do Senhor deve ser observada por todos os filhos de Israel em todas as
suas gerações” (Ex 12,42).
No seu amor providente e fiel, que ultrapassa o tempo e o
espaço, Deus vigia sobre o mundo. Assim canta o salmista: “Ele não dorme nem
cochila, Aquele que é o guarda de Israel! O Senhor é o teu guarda, o teu vigia...
Ele te guarda desde agora e para sempre!” (Sl 120,4-5.8).
Também a passagem entre o segundo e o terceiro milênio, que
estamos vivendo, é guardada no mistério do Pai. Ele “age sempre” (Jo 5,17)
para a salvação do mundo e, através do Filho feito homem, guia o seu povo da
escravidão para a liberdade, da morte para vida. Toda a “obra” do Grande
Jubileu do Ano 2000 está, por assim dizer, inscrita nesta noite de Vigília, que
leva a cumprimento aquela do Natal do Senhor. Belém e o Calvário evocam o mesmo
mistério do amor de Deus, que “amou tanto o mundo que deu o seu Filho Unigênito,
para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).
3. Nesta Noite Santa, enquanto vigia, a Igreja se debruça
sobre os textos da Sagrada Escritura, que descrevem o desígnio divino do Gênesis
ao Evangelho e que, graças aos ritos litúrgicos do fogo e da água,
conferem a esta singular celebração uma dimensão cósmica. Nesta noite, todo o
universo criado é chamado a vigiar junto ao sepulcro de Cristo. Diante dos
nossos olhos desvela-se a história da salvação, da criação à redenção, do êxodo
à Aliança no Sinai, da antiga à nova e eterna Aliança. Nesta Noite Santa cumpre-se
o eterno projeto de Deus sobre a história do homem e do cosmo.
4. Na Vigília Pascal, mãe de todas as vigílias, todo homem
pode reconhecer também a própria história pessoal de salvação, que tem seu
ponto fundamental no renascimento em Cristo através do Batismo.
Esta é, de modo particular, a vossa experiência, caríssimos irmãos
e irmãs, que daqui a pouco recebereis os Sacramentos da Iniciação Cristã:
Batismo, Crisma e Eucaristia.
Sois de diversos países do mundo: Japão, China, Camarões,
Albânia e Itália.
A variedade das vossas nações de origem evidencia a
universalidade da salvação trazida por Cristo. Daqui a pouco, caríssimos,
sereis inseridos na intimidade do mistério do amor de Deus, Pai e Filho e
Espírito Santo. Possa a vossa existência se tornar um canto de louvor à
Santíssima Trindade e um testemunho de amor sem fronteiras.
5. “Ecce lignum Crucis, in quo salus mundi pependit:
venite adoremus!”. Assim cantou ontem a Igreja, mostrando o madeiro da Cruz
“do qual pendeu o Cristo, Salvador do mundo”. “Foi crucificado, morto e
sepultado”, recitamos no Credo.
O sepulcro! Eis o lugar onde o depositaram (cf. Mc 16,6).
Ali está espiritualmente presente toda a Comunidade eclesial de cada canto da
terra. Nós também estamos ali com as três mulheres que vão ao sepulcro antes da
aurora, para ungir o corpo sem vida de Jesus (cf. Mc 16,1-2).
Sua pressa é a nossa pressa. Com elas, descobrimos que a enorme pedra sepulcral
foi retirada e o corpo já não se encontra ali. “Não está aqui”, anuncia o anjo
(v. 6), mostrando o sepulcro vazio e as faixas fúnebres no chão. “A morte já
não tem poder sobre Ele” (Rm 6,9).
Cristo ressuscitou! Anuncia, no fim desta noite de Páscoa, a
Igreja, que ontem tinha proclamado a morte de Cristo sobre a Cruz. É anúncio de
verdade e de vida.
“Surrexit Dominus de sepulchro, qui pro nobis pependit in
ligno. Alleluia!”. Ressuscitou do sepulcro o Senhor que por nós foi pregado
na cruz.
Sim, Cristo verdadeiramente ressuscitou e nós somos
testemunhas.
Gritamo-lo ao mundo, para que a nossa alegria chegue a
muitos outros corações, acendendo neles a luz da esperança que não decepciona (cf.
Rm 5,5).
Cristo ressuscitou! Aleluia!
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Cristo Ressuscitado (Jerzy Duda-Gracz) |
Fonte: Santa Sé (com pequenas correções do autor deste blog).
Confira também:
Domingo de Ramos: Homilia (2000)
Missa Crismal: Homilia (2000)
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