Há duas semanas destacamos aqui em
nosso blog quatro artigos sobre Liturgia publicados em 2023 na Revista Atualidade
Teológica, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
Nesta postagem gostaríamos de dar continuidade à proposta com
cinco artigos sobre Liturgia publicados entre 2019 e 2023
na Revista Perspectiva Teológica, periódico quadrimestral da
Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), sediada em Belo Horizonte
(MG).
Primeiramente destacamos os três artigos publicados no vol.
55, n. 3, referente aos meses de setembro a dezembro de 2023, destacando os 60
anos da Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a sagrada Liturgia do
Concílio Vaticano II.
Na sequência, de maneira retrospectiva, trazemos outros dois
artigos relacionados à Liturgia, publicados no vol. 53, n. 3 (setembro a dezembro
de 2021) e no vol. 51, n. 2 (maio a agosto de 2019).
Confira a seguir os resumos dos artigos, que podem ser acessados
na íntegra no site da Revista:
O valor permanente de uma reforma para a nova
evangelização: A Constituição Sacrosanctum Concilium
e a reforma litúrgica 60 anos depois
Padre Washington Paranhos, SJ (Doutor em Teologia pela Pontifícia
Universidade Salesiana de Roma)
A 60 anos da promulgação da Sacrosanctum Concilium,
parece-nos que podemos assinalar uma mudança de perspectiva em curso: da
atenção à “reforma” da Liturgia à Liturgia como “forma” de renovação da vida da
Igreja. Este é o objetivo deste estudo. Na primeira fase, o foco estava
inteiramente na Liturgia como um objeto a ser reformado: um objeto ao qual se
devia atribuir significado, um objeto a ser embelezado, ser purificado e
retirado a poeira, do qual precisava retirar as incrustações para fazê-lo
brilhar, mas ainda assim permanece um objeto. A reforma litúrgica foi entendida
como: a Liturgia a ser reformada. A atenção hoje, por sua vez, parece-nos mais
orientada para a Liturgia como fonte de renovação da vida da Igreja. Ora, se a Liturgia
se tornou fonte, ela não seria mais apenas objeto, como antes; ela se tornaria,
agora, “lugar vital”, entendido como fonte propulsora e critério de verificação
da renovação da vida da Igreja. Inicialmente trataremos brevemente da
pré-história da reforma litúrgica, para depois falar da Constituição litúrgica
e do seu fundamento, da sua aplicação e dos litígios que dela decorreram. A
Igreja se constitui enquanto tal pelo fato de tomar forma a partir da
celebração, do dom recebido. Deste modo, a Sacrosantum Concilium, mais
do que um manual para reformar os ritos, revelou-se uma carta magna, capaz de
inspirar a renovação e a reforma da Igreja.
Entre a Tradição e as Sagradas Escrituras: A Liturgia como
norma da vida da Igreja
Padre
Creômenes Tenório Maciel, SJ (Doutor em Teologia pelo Institut Catholique
de Paris e em Ciências da Religião pela Universidade Católica de Pernambuco)
Se a relação entre a Liturgia, a Tradição e as Sagradas
Escrituras é verdadeiramente estruturante, como preconiza Sacrosanctum
Concilium, não confere à Liturgia, no ato celebrativo, uma densidade
estruturante e normativa à vida eclesial? Como fundamento dessa hipótese se
encontram duas ideias: primeiro, de que Tradição e Escrituras são como fontes,
ou melhor, uma única fonte que irriga a Liturgia e lhe dá um tipo de autoridade
com força de “lei”; segundo, de que o Concílio Vaticano II buscou, para além da
elaboração de novas regras de culto, propor um “novo” paradigma para se
conceber a relação entre Tradição, Escrituras e Liturgia. O presente estudo
buscará, pois, compreender a Tradição e as Escrituras como princípios
teológicos que interlaçam Sacrosanctum Concilium e as demais Constituições
conciliares, ora em consonância, ora em dissonância, e como isso possibilita
pensar teologicamente o caráter central e instituinte da Liturgia na vida da
Igreja a partir do Vaticano II.
Sacrosanctum Concilium e os Sacramentos
Padre Luis Felipe Marques, OFMConv (Doutor em Teologia dos Sacramentos
pelo Pontifício Instituto Santo Anselmo de Roma)
Na sacramentalidade da ação ritual, manifestação da ação de
Cristo e da ação da Igreja, os homens glorificam a Deus e se santificam. Fiel à
Tradição, o Concílio Vaticano II revisou, adaptou e restaurou à prática dos
sacramentos a partir da redescoberta da Teologia da Liturgia. Com essa reflexão
queremos contextualizar a compreensão que o Vaticano II tem da Teologia dos Sacramentos.
O objetivo principal do Concílio foi mostrar que a celebração litúrgica é uma
experiência de comunidade e de encontro com Deus nos ritos e nas preces da
celebração. É no rito celebrado e participado que se realiza uma profunda e
complexa inteligência do mistério.
A regra litúrgica e o jogo simbólico
Padre
Creômenes Tenório Maciel, SJ
As normas da Liturgia foram constantemente compreendidas a
partir de um horizonte jurídico englobado pelo Direito Canônico positivo, e
isso sem necessariamente considerar o enraizamento das normas na complexa
realidade humana. A partir de alguns estudos feitos por C. Lévi-Strauss, J.
Henriot, E. Fink, R. Caillois, C. Duflo, E. Ortigues, R. Guardini, H. Küng,
L-M. Chauvet, e M. Brulin sobre o jogo e o símbolo, este artigo busca mostrar
que, ultrapassando os limites estabelecidos pelo direito, a regra da Liturgia é
profundamente enraizada em princípios partilhados ao mesmo tempo pelas ciências
sociais e a teologia. A abordagem desta problemática, além de contribuir na
reflexão sobre o fundamento do caráter jurídico das práticas litúrgicas, pode
ajudar a reconhecer a vida litúrgica como fonte de suas normas.
Migrações: Liturgia, humanidade e hospitalidade
Padre Washington Paranhos, SJ
As migrações internacionais e as várias abordagens
constituem o contexto da nossa pesquisa. Interessa-nos entender com qual
pensamento e com qual prática a Igreja se aproxima das migrações. Trata-se, na
verdade, de se perguntar: qual teologia, qual missão e qual pastoral a Igreja
propõe e promove no campo da mobilidade humana? A missão e a pastoral são
obviamente uma direta consequência do pensamento, da teologia que inspira toda
intervenção pastoral. Por isso, o nosso objetivo principal é o de encontrar a
definição de uma teologia que seja mais adequada para nutrir e inspirar a
missão e a pastoral da Igreja entre os migrantes. Acreditamos, mas obviamente
devemos encontrar fundamentação, que a pergunta por qual teologia encontre a
sua resposta exatamente na “estranheza” do migrante, hoje um emblema paradigmático
do outro como outro. Disso vem a necessidade de demonstrar que o reconhecimento
do migrante como outro, como estrangeiro, está na base de todo discurso sobre
migrações e é contribuição importante para a sua gestão. Mas não só. O
reconhecimento do migrante enquanto migrante é a revelação da nossa verdade
antropológica e, ao mesmo tempo, da nossa verdade teológica. Diríamos que a
pretensão do estudo é abrir a janela “migrações” como um “espaço” que nos
permite falar de Deus e do homem, da Igreja e do mundo. Não apenas nos permite
falar de Deus, mas de falar com Deus e de encontrá-lo no rosto do irmão
migrante, com o qual o próprio Cristo se identifica: “Eu era estrangeiro e me
acolhestes” (Mt 25,35). Em um segundo momento, faremos uma reflexão sobre
o dado litúrgico-celebrativo e a questão das migrações. A ideia é pensar uma Liturgia
mais humana e hospitaleira.
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