segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Ângelus: Festa da Sagrada Família - Ano B

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 31 de dezembro de 2023

Caros irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje celebramos a Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José. O Evangelho mostra-a no templo de Jerusalém, para a apresentação do Menino ao Senhor (Lc 2,22-40). Chega ao templo onde leva como presente a mais humilde e simples das ofertas entre as previstas, testemunhando a sua pobreza. Por fim, Maria recebe uma profecia: «Uma espada transpassará a tua alma» (v. 35). Chegam na pobreza e partem com uma carga de sofrimento. Isto é surpreendente: como é que a Família de Jesus, a única família da história que pode se orgulhar da presença de Deus na carne, em vez de ser rica é pobre! Em vez de ser facilitada, parece ser dificultada! Em vez de estar livre de trabalhos, está mergulhada em grandes dores!

O que diz isto às nossas famílias, este modo de viver, a história da Sagrada Família, pobre, impedida, com grandes dores? Diz-nos uma coisa muito bonita: Deus, que muitas vezes imaginamos estar para além dos problemas, veio habitar a nossa vida com os seus problemas. Salvou-nos desta forma: não veio como adulto, mas como uma criança muito pequena; viveu em uma família, filho de uma mãe e de um pai; passou a maior parte do seu tempo nela, crescendo, aprendendo, em uma vida feita de quotidianidade, de escondimento e de silêncio. E não evitou as dificuldades, pelo contrário, escolheu uma família, uma família “perita em sofrimento”, e diz às nossas famílias: “Se estais em dificuldade, Eu sei o que sentis, também passei por isso: a minha mãe, o meu pai e Eu passamos por isso; dizei-o também à vossa família: não estais sós!”.

José e Maria «estavam admirados com as coisas que se diziam de Jesus» (v. 33), porque não pensavam que o velho Simeão e a profetisa Ana estivessem ali para dizer estas coisas. Ficaram maravilhados. E hoje quero deter-me sobre isto: sobre a capacidade de admiração. A capacidade de admiração é um segredo para nos darmos bem na família. Não nos habituarmos à normalidade das coisas. Saber, antes de tudo, maravilhar-se com Deus, que nos acompanha. E depois, maravilharmo-nos em família. Penso que é bom, no casal, saber maravilhar-se com o cônjuge, por exemplo, pegando-lhe na mão e olhando-o nos olhos, à noite, durante alguns momentos, com ternura: a maravilha leva-nos à ternura, sempre. A ternura no casamento é bela. E depois, maravilhar-se com o milagre da vida, dos filhos, encontrar tempo para brincar com eles e para ouvi-los. Pergunto-vos, pais e mães: encontrais tempo para brincar com os vossos filhos? Para os levar a passear? Ontem atendi uma pessoa ao telefone e perguntei-lhe: “Onde estás?” - “Estou na praça, levei os meus filhos a passear”. Esta é uma bonita paternidade e maternidade. E depois, maravilharmo-nos com a sabedoria dos avós. Muitas vezes, excluímos da vida os avós. Não, os avós são fontes de sabedoria. Aprendamos a maravilhar-nos com a sabedoria dos avós, com a sua história. Avós que restituem a vida ao essencial. E no final admirar-se com a sua própria história de amor - cada um de nós tem a sua: o Senhor fez-nos caminhar no amor, maravilhar-se com isso. A nossa vida tem certamente os seus aspectos negativos, mas admirar-se também com a bondade de Deus que caminha conosco, mesmo que sejamos tão inexperientes.

Que Maria, Rainha da família, nos ajude a admirar-nos: peçamos hoje a graça da admiração. Que Nossa Senhora nos ajude a maravilhar-nos todos os dias com a bondade e a sabermos ensinar aos outros a beleza da admiração.


Fonte: Santa Sé.

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