sábado, 25 de janeiro de 2020

Homilia: III Domingo do Tempo Comum - Ano A

São Cesário de Arles
Sermão 114
Humilhai-vos sob a poderosíssima mão de Deus

Enquanto nos era lido o Santo Evangelho, caríssimos irmãos, nós escutamos: Convertei-vos, porque está próximo o Reino dos céus. O Reino dos céus é Cristo, de quem nos consta ser conhecedor de bons e maus, e juiz de todas as coisas. Portanto, antecipemo-nos a Deus na confissão de nosso pecado e castiguemos, antes do juízo, todos os erros da alma. Corre um grave risco quem não procura corrigir por todos os meios o pecado. Sobretudo devemos fazer penitência, sabendo como sabemos que teremos de prestar conta das causas de nossa negligência.
Reconhecei, amadíssimos, a grande piedade de nosso Deus para conosco ao querer que reparemos através da satisfação e antes do juízo a culpa do pecado cometido; pois se o justo juiz não cessa de prevenir-nos com os seus avisos, é para não ter um dia de recorrer à severidade. Não é sem motivo, amadíssimos, que Deus nos exige torrentes de lágrimas, a fim de compensar com a penitência o que perdemos pela negligência. Pois Deus bem sabe que nem sempre o homem é constante em seus propósitos: peca rotineiramente no agir e vacila no falar. Por isso lhe ensinou o caminho da penitência, a fim de que possa reconstruir o destruído e reparar o arruinado. Assim, o homem, seguro do perdão, sempre deve chorar a culpa. E mesmo quando a condição humana encontre-se exercitada por muitas dificuldades, que ninguém se desespere, porque Deus é paciente e dispensa com liberalidade a todos os enfermos os tesouros de sua misericórdia.
Porém, é possível que alguém do povo se diga: E porque hei de temer se não fiz nada mal? Escuta o que sobre este detalhe diz o Apóstolo: Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos e não somos sinceros. Que ninguém vos engane, amadíssimos: o pior dos pecados é não compreender os pecados. Porque todo aquele que reconhece os seus delitos pode reconciliar-se com Deus mediante a penitência, e não existe pecador mais digno do que aquele que crê não ter nada do que lamentar-se. Por isso, amadíssimos, vos exorto a que, conforme o que está escrito, vos humilheis sob a poderosíssima mão de Deus, e visto que ninguém está livre do pecado, ninguém se creia isento da obrigação de satisfazer. Pois já peca por presunção de inocência o que se acredita inocente. Pode alguém ser menos culpável, porém inocente? Ninguém. Certamente existe diferença entre pecador e pecador, mas ninguém está imune de culpa. Portanto, amadíssimos, os que forem réus de culpas mais graves, peçam perdão com maior confiança; e os que se mantêm isentos de faltas graves, receiem para não macularem-se, pela graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que com o Pai e o Espírito Santo vive e reina pelos séculos dos séculos. Amém.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 120-121. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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