quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Homilia do Papa: Solenidade de Todos os Santos (2025)

Solenidade de Todos os Santos
Proclamação de São John Henry Newman como «Doutor da Igreja»
Jubileu do Mundo da Educação
Homilia do Papa Leão XIV
Praça de São Pedro
Sábado, 01 de novembro de 2025

Nesta Solenidade de Todos os Santos é uma grande alegria inscrever São John Henry Newman entre os Doutores da Igreja e, ao mesmo tempo, por ocasião do Jubileu do Mundo Educativo, nomeá-lo co-padroeiro, com Santo Tomás de Aquino, de todos os que participam no processo educativo. A imponente estatura cultural e espiritual de Newman servirá de inspiração para as novas gerações com o coração sedento de infinito, disponíveis a realizar, através da pesquisa e do conhecimento, aquela viagem que, como diziam os antigos, nos faz passar per aspera ad astra, ou seja, através das asperezas até os astros.


Com efeito, a vida dos Santos testemunha-nos que é possível viver com paixão no meio da complexidade do tempo presente, sem deixar de lado o mandato apostólico: brilhar «como astros no mundo» (Fl 2,15). Nesta solene ocasião desejo repetir aos educadores e às instituições educativas: “Brilhai hoje como astros no mundo”, graças à autenticidade do vosso empenho na busca conjunta da verdade, na sua partilha coerente e generosa, através do serviço aos jovens, em particular aos pobres, e na experiência quotidiana de que «o amor cristão é profético, realiza milagres» (Exortação Apostólica Dilexi te, n. 120).

O Jubileu é uma peregrinação na esperança e todos vós, no vasto campo da educação, sabeis bem quanto a esperança é uma semente indispensável! Quando penso nas escolas e nas universidades vejo-as como laboratórios de profecia, onde a esperança é vivida e continuamente narrada e reproposta.

Este é também o sentido do Evangelho das Bem-aventuranças hoje proclamado (Mt 5,1-12a). As Bem-aventuranças trazem consigo uma nova interpretação da realidade. São o caminho e a mensagem de Jesus educador. À primeira vista parece impossível declarar bem-aventurados os pobres, aqueles que têm fome e sede de justiça, os perseguidos ou os que promovem a paz. Mas o que parece inconcebível na gramática do mundo enche-se de sentido e luz na proximidade do Reino de Deus. Nos Santos constatamos este Reino que se aproxima e se torna atual entre nós. Com razão São Mateus apresenta as Bem-aventuranças como um ensinamento, representando Jesus como Mestre que transmite uma nova visão das coisas e cuja perspectiva coincide com o seu caminho. Porém, as Bem-aventuranças não são um ensinamento entre tantos: são o ensinamento por excelência. Da mesma forma, o Senhor Jesus não é um entre tantos mestres, é o Mestre por excelência. Mais ainda, é o Educador por excelência. Nós, seus discípulos, encontramo-nos na sua escola, aprendendo a descobrir na sua vida, ou seja, no caminho por Ele percorrido, um horizonte de sentido capaz de iluminar todas as formas de conhecimento. Possam sempre as nossas escolas e universidades ser lugares da escuta e da prática do Evangelho!

Os desafios atuais podem parecer, às vezes, superiores às nossas forças, mas não é assim. Não permitamos que o pessimismo nos vença! Recordo o que sublinhou o meu Predecessor, o Papa Francisco, no seu discurso à primeira Assembleia Plenária do Dicastério para a Cultura e a Educação: devemos trabalhar juntos para libertar a humanidade da escuridão do niilismo que a rodeia e que é, talvez, a doença mais perigosa da cultura contemporânea, pois ameaça «anular» a esperança (Discurso, 21 de novembro de 2024). A referência à noite que nos rodeia recorda-nos um dos textos mais conhecidos de São John Henry, o hino Lead, kindly light (Guia-me, luz gentil). Nessa linda oração percebemos que estamos longe de casa, que temos pés vacilantes, que não conseguimos decifrar claramente o horizonte. Mas nada disso nos detém, porque encontramos o nosso Guia: «Guia-me, Luz gentil... a noite é escura e estou distante de casa. Conduz-me Tu, sempre avante» - «Lead, kindly Light. The night is dark and I am far from home. Lead Thou me on!».

É tarefa da educação oferecer esta Luz gentil àqueles que, de outra forma, poderiam permanecer aprisionados pelas sombras particularmente insidiosas do pessimismo e do medo. Por isso gostaria de vos dizer: desarmemos as falsas razões da resignação e da impotência e façamos circular no mundo contemporâneo as grandes razões da esperança. Contemplemos e apontemos constelações que transmitam luz e orientação neste tempo presente, obscurecido por tantas injustiças e incertezas. Portanto, encorajo-vos a fazer das escolas, das universidades e de todas as realidades educativas, mesmo informais e de rua, limiares de uma civilização de diálogo e paz. Através das vossas vidas, deixai transparecer aquela «multidão imensa» - da qual nos fala o Livro do Apocalipse na Liturgia de hoje - «de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar» e que estava «de pé diante do Cordeiro» (Ap 7,9).

No texto bíblico, um dos anciãos, observando a multidão, pergunta: «Quem são esses? De onde vieram?» (v. 13). A esse respeito, também no âmbito educativo, o olhar cristão se fixa naqueles «que vieram da grande tribulação» (v. 14), reconhecendo neles os rostos de tantos irmãos e irmãs de todas as línguas e culturas, que através da porta estreita de Jesus entraram na vida em plenitude. Devemos, então, perguntar-nos de novo: «Os menos dotados não são seres humanos? Os mais fracos não têm nossa mesma dignidade? Aqueles que nasceram com menos possibilidades valem menos como seres humanos e devem limitar-se apenas a sobreviver? A resposta que damos a estas perguntas determina o valor das nossas sociedades e dela também depende o nosso futuro» (Dilexi te, n. 95). Desta resposta - acrescentemos - depende também a qualidade evangélica da nossa educação.

Neste sentido, entre a duradoura herança de São John Henry Newman encontram-se alguns contributos muito significativos para a teoria e a prática da educação. Escreveu ele: «Deus criou-me para lhe prestar um serviço específico. Confiou-me uma tarefa que não confiou a outros. Tenho uma missão: talvez não chegue a conhecê-la nesta vida, mas ela me será revelada na vida futura» (Meditações e Devoções, III, I, 2). Nessas palavras encontramos expresso, de um modo esplêndido, o mistério da dignidade de cada pessoa humana e também o da variedade dos dons distribuídos por Deus.

A vida ilumina-se não porque somos ricos, bonitos ou poderosos. Ela ilumina-se quando uma pessoa descobre dentro de si esta verdade: sou chamado por Deus, tenho uma vocação, tenho uma missão, a minha vida serve para algo maior que eu mesmo! Cada criatura tem uma função a desempenhar. O contributo que cada um tem para oferecer é de um valor único, e a tarefa das comunidades educativas é encorajar e valorizar este contributo. Não esqueçamos: no centro dos percursos educativos não devem estar indivíduos abstratos, mas pessoas de carne e osso, especialmente aquelas que parecem não render, segundo os parâmetros de uma economia que exclui e mata. Somos chamados a formar pessoas, para que brilhem como astros em toda a sua dignidade.

Portanto, podemos afirmar que a educação, na perspectiva cristã, ajuda todos a se tornarem santos. Nada menos do que isso. O Papa Bento XVI, por ocasião da sua Viagem Apostólica à Grã-Bretanha em setembro de 2010, durante a qual beatificou John Henry Newman, convidou os jovens a se tornarem santos com estas palavras: «O que Deus mais deseja para cada um de vós é que vos torneis santos. Ele vos ama muito mais do que podeis imaginar, e deseja o máximo para vós» (Discurso aos estudantes, 17 de setembro de 2010). Trata-se do chamado universal à santidade que o Concílio Vaticano II fez parte essencial da sua mensagem (cf. Lumen gentium, capítulo V). A santidade é proposta a todos, sem exceção, como um caminho pessoal e comunitário delineado pelas Bem-aventuranças.

Rezo para que a educação católica ajude cada um a descobrir a sua vocação à santidade. Santo Agostinho, que São John Henry Newman tanto apreciava, disse uma vez que todos nós somos companheiros de estudo com um único Mestre, cuja escola se encontra na terra, mas cuja cátedra está no céu (cf. Sermão 292,1).


Fonte: Santa Sé.

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