Missa no 125º aniversário da Dedicação da igreja de Santo Anselmo
Homilia do Papa Leão XIV
Igreja de Santo Anselmo no Aventino, Roma
Terça-feira, 11 de novembro de 2025
Leituras: Ez 43,1-2.4-7a; Sl 121; 1Pd 2,4-9; Mt 16,13-19.
«Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei
a minha Igreja» (Mt 16,18). Caríssimos irmãos e irmãs, ouvimos
estas palavras de Jesus ao comemorarmos o 125º aniversário da Dedicação desta
igreja, tão desejada pelo Papa Leão XIII, que incentivou a sua construção.
Nas suas intenções esta edificação,
juntamente com a do Colégio Internacional anexo, devia
contribuir para o fortalecimento da presença beneditina na Igreja e no mundo,
através de uma unidade cada vez maior no seio da Confederação
Beneditina, objetivo para o qual foi também instituído o Ofício do Abade
Primaz. Ele o fez porque estava convicto de que a vossa antiga Ordem
poderia ser de grande auxílio para o bem de todo o Povo de Deus em um tempo
repleto de desafios, como a transição do século XIX para o século XX.
De fato, o monasticismo, desde os seus
primórdios, tem sido uma realidade “de vanguarda”, inspirando homens e mulheres
corajosos a estabelecer centros de oração, trabalho e caridade nos lugares mais
remotos e inacessíveis, muitas vezes transformando áreas desoladas em terras
férteis e ricas, do ponto de vista agrícola e econômico, mas sobretudo
espiritual. Assim o mosteiro tornou-se cada vez mais um lugar de crescimento,
paz, hospitalidade e unidade, mesmo nos períodos mais sombrios da História
Também no nosso tempo não faltam desafios
para enfrentar. As mudanças repentinas a que assistimos nos provocam e
questionam, levantando problemáticas até agora inéditas. Esta celebração nos recorda
que, tal como o Apóstolo Pedro, e com ele Bento e tantos outros, também nós só
podemos responder às exigências da vocação que recebemos colocando Cristo no
centro da nossa existência e da nossa missão, começando por aquele ato de fé
que nos faz reconhecer n’Ele o Salvador e traduzindo-o em oração, estudo e
compromisso com uma vida santa.
Aqui tudo isto se realiza de diversas
formas: primeiro na Liturgia, depois na Lectio divina, na
investigação, no cuidado pastoral, com o envolvimento de monges vindos de todo
o mundo e com a abertura a clérigos, religiosos, religiosas e leigos das mais
diversas origens e condições. O mosteiro, o Ateneu, o Instituto Litúrgico, as
atividades pastorais ligadas à igreja, de acordo com os ensinamentos de São
Bento, devem, por isso, crescer cada vez mais sinergicamente como uma autêntica
«escola do serviço do Senhor» (Regra, Prólogo, 45).
Por isso, pensei no complexo em que nos
encontramos como uma realidade que deve aspirar a se tornar um coração pulsante
no grande corpo do mundo beneditino, tendo ao centro, segundo os ensinamentos
de São Bento, na igreja.
A 1ª leitura (Ez 43,1-2.4-7a)
apresentou-nos a imagem do rio que brota do Templo. Ela harmoniza-se muito bem
com a imagem do coração, que bombeia o sangue vital por todo o corpo, para que
cada membro receba alimento e força para benefício dos outros (cf. 1Cor 12,20-27); assim como com a imagem do edifício
espiritual de que nos falou a 2ª leitura (1Pd 2,4-9), fundado na
rocha sólida que é Cristo.
Na laboriosa colmeia de Santo Anselmo, que
este seja o lugar de onde tudo começa e para onde tudo regressa, a fim de
encontrar verificação, confirmação e aprofundamento diante de Deus, como
recomendou São João Paulo II durante a sua visita ao Pontifício Ateneu por
ocasião do Centenário da sua fundação. Referindo-se ao seu santo padroeiro,
disse: «Santo Anselmo recorda a todos... que o conhecimento dos mistérios
divinos não é tanto uma conquista do gênio humano, mas antes um dom que Deus
concede aos humildes e aos crentes» (Discurso, 01 de junho de 1986).
Referia-se, como foi dito, aos ensinamentos
do Doutor de Aosta, mas queremos desejar que tal seja também a mensagem
profética que desta Instituição chegue à Igreja e ao mundo, como cumprimento da
missão que todos recebemos, de ser um povo que Deus conquistou para si, para
que possamos proclamar as maravilhas d’Aquele que nos chamou das trevas para a
sua maravilhosa luz (cf. 1Pd 2,9).
A Dedicação é o momento solene na história
de um edifício sagrado, no qual ele é consagrado como ponto de encontro entre o
espaço e o tempo, entre finito e infinito, entre homem e Deus: uma porta aberta
para o eterno, na qual a alma encontra resposta à «tensão entre as
circunstâncias do momento e a luz do tempo, do horizonte mais amplo... que nos
abre para o futuro como causa final que nos atrai» (Francisco, Exortação
Apostólica Evangelii gaudium, n. 222) no encontro entre plenitude e
limite que acompanha o nosso caminho terreno.
O Concílio Vaticano II descreve tudo isto em
uma das suas mais belas páginas, quando define a Igreja como «humana e divina,
visível e dotada de realidades invisíveis, empenhada na ação e dada à
contemplação, presente no mundo, porém, como peregrina; de tal forma que nela o
humano esteja ordenado e subordinado ao divino, o visível ao invisível, a ação
à contemplação e a realidade presente à cidade futura que buscamos (cf. Hb 13,14)» (Constituição Sacrosanctum Concilium, n. 2).
É a experiência da nossa vida e da vida de
cada homem e mulher neste mundo, em busca daquela resposta última e fundamental
que “nem carne nem sangue” podem revelar, mas somente o Pai que está nos céus (cf. Mt 16,17); em última análise, necessitados de Jesus,
«o Cristo, o Filho do Deus vivo» (v. 16). Somos chamados a procurá-lo e somos
chamados a levar até Ele todos aqueles que encontramos, gratos pelos dons que
Ele nos concedeu e, sobretudo, pelo amor com que nos precedeu (cf. Rm 5,6). Este templo se tornará, então, cada vez
mais, também um lugar de alegria, no qual experimentamos a beleza de partilhar
com os outros o que recebemos gratuitamente (cf. Mt 10,8).
Fonte: Santa Sé.


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