No domingo, 23 de novembro de 2025, Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo, celebramos a nível diocesano a 40ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
Confira a seguir a Mensagem do Papa Leão XIV para a ocasião, com o tema «Vós também haveis de dar testemunho, porque estais comigo» (Jo 15,27), dando início ao caminho rumo à próxima edição internacional da JMJ, que terá lugar em Seul (Coreia do Sul), de 03 a 08 de agosto de 2027, com o tema «Tende coragem: Eu venci o mundo!» (Jo 16,33).
40ª Jornada Mundial da Juventude
Mensagem do Papa Leão XIV
23 de novembro de 2025
«Vós também haveis de dar testemunho, porque estais comigo» (Jo 15,27)
Queridos jovens,
Ao iniciar
esta primeira mensagem que vos dirijo, desejo em primeiro lugar dizer-vos
obrigado! Obrigado pela alegria que transmitistes quando viestes a Roma para o vosso Jubileu e obrigado também a todos os jovens que, de oração, se uniram a
nós a partir de todas as partes do mundo. Foi um evento precioso para renovar o
entusiasmo da fé e partilhar a esperança que arde nos nossos corações! Por
isso, façamos com que o encontro jubilar não seja um momento isolado, mas assinale,
em cada um de vós, um passo em frente na vida cristã e um forte encorajamento a
perseverar no testemunho da fé.
![]() |
| O Papa com os jovens durante o seu Jubileu |
É
precisamente esta dinâmica que está no centro da próxima Jornada Mundial da
Juventude, que celebraremos a 23 de novembro, Domingo de Cristo Rei, e que terá
como tema «Vós também haveis de dar testemunho, porque estais comigo»
(Jo 15,27). Com a força do Espírito Santo, como peregrinos de
esperança, preparemo-nos para ser testemunhas corajosas de Cristo. Comecemos,
portanto, a partir de agora, um caminho que nos guiará até à edição
internacional da JMJ de 2027 em Seul. Nesta perspectiva, gostaria de me deter
em dois aspectos do testemunho: a nossa amizade com Jesus, que recebemos de
Deus como dom; e o empenho de cada um na sociedade, como construtores da paz.
Amigos, portanto, testemunhas
O testemunho
cristão nasce da amizade com o Senhor, Crucificado e Ressuscitado para a
salvação de todos. Não se confunde com uma propaganda ideológica, mas é um
verdadeiro princípio de transformação interior e de sensibilização social.
Jesus quis chamar “amigos” aos discípulos a quem deu a conhecer o Reino de Deus
e a quem pediu que ficassem com Ele, para formar a sua comunidade e para enviá-los
a proclamar o Evangelho (cf. Jo 15,15.27). Quando Jesus
nos diz «Dai testemunho», está assegurando-nos que nos considera seus amigos.
Só Ele conhece plenamente quem somos e porque estamos aqui: conhece o coração
de cada um de vós, jovens, a vossa indignação diante de discriminações e
injustiças, o vosso desejo de verdade e beleza, de alegria e paz; com a sua
amizade, Ele vos escuta, vos motiva e vos guia, chamando cada um de vós a uma
vida nova.
O olhar de
Jesus, que quer sempre e somente o nosso bem, nos precede (cf. Mc 10,21).
Ele não nos quer como servos, nem como “militantes” de um partido: chama-nos a
estar com Ele como amigos, para que a nossa vida seja renovada. E o testemunho
deriva espontaneamente da alegre novidade desta amizade. É uma amizade única,
que nos dá a comunhão com Deus; uma amizade fiel, que nos faz descobrir a nossa
própria dignidade e a dos outros; uma amizade eterna, que nem mesmo a morte
pode destruir, porque tem a sua origem no Crucificado Ressuscitado.
Pensemos na
mensagem que o Apóstolo João nos deixa no final do Quarto Evangelho: «Este é o
discípulo que dá testemunho destas coisas e que as escreveu. E nós sabemos bem
que o seu testemunho é verdadeiro» (Jo 21,24). Todo o relato
anterior é resumido como um “testemunho”, cheio de gratidão e admiração, por
parte de um discípulo que nunca diz o seu nome, mas que se define como “o
discípulo que Jesus amava”. Este título é o reflexo de uma relação: não é o
nome de um indivíduo, mas o testemunho de uma ligação pessoal com Cristo. Eis o
que verdadeiramente importa para João: ser discípulo do Senhor e sentir-se
amado por Ele. Compreendemos, então, que o testemunho cristão é fruto da
relação de fé e amor com Jesus, em quem encontramos a salvação da nossa vida. O
que escreve o Apóstolo João vale também para vós, caríssimos jovens. Sois
convidados por Cristo a segui-lo e a sentar ao seu lado, para escutar o seu
coração e partilhar de perto a sua vida! Cada um de vós é para Ele um
“discípulo amado”, e deste amor nasce a alegria do testemunho.
Outra
corajosa testemunha do Evangelho é o Precursor de Jesus, João Batista, que veio
«para dar testemunho da Luz e todos crerem por meio dele» (Jo 1,7).
Apesar de possuir grande fama entre o povo, sabia bem que era apenas uma “voz”
que indicava o Salvador: «Eis o Cordeiro de Deus» (v. 36). O seu exemplo
recorda-nos que a verdadeira testemunha não tem como objetivo ocupar o palco,
nem procura seguidores para vincular a si mesmo. A verdadeira testemunha é
humilde e interiormente livre, em primeiro lugar em relação a si mesmo, ou
seja, da pretensão de estar no centro das atenções. Por isso, é livre para
escutar, interpretar e também dizer a verdade diante de todos, mesmo dos
poderosos. De João Batista aprendemos que o testemunho cristão não é o anúncio
de nós mesmos e não celebra as nossas capacidades espirituais, intelectuais ou
morais. O verdadeiro testemunho é reconhecer e mostrar Jesus - o único que nos
salva 0 quando aparece. João o reconheceu entre os pecadores, imerso na
humanidade comum. Por isso o Papa Francisco insistiu tanto: se não
sairmos de nós mesmos e das nossas zonas de conforto, se não formos ao encontro
dos pobres e daqueles que se sentem excluídos do Reino de Deus, não encontramos
nem damos testemunho Cristo. Perdemos a doce alegria de ser evangelizados e de
evangelizar.
Caríssimos,
convido cada um de vós a continuar, na Bíblia, esta busca de amigos e
testemunhas de Jesus. Ao ler os Evangelhos, vos dareis conta de que todos
encontraram na relação intensa com Cristo o verdadeiro sentido da vida. Com
efeito, as nossas perguntas mais profundas não encontram acolhida nem respostas
ao rolar infinitamente as telas que nos prendem a atenção, deixando a mente
cansada e o coração vazio. Tais perguntas tampouco nos levam longe se as
mantivermos fechadas em nós mesmos ou em círculos muito restritos. A realização
dos nossos desejos autênticos passa sempre por sair de nós mesmos.
![]() |
| O Papa abençoa com o Livro dos Evangelhos |
Testemunhas, portanto, missionários
Desta forma,
vós, jovens, com a ajuda do Espírito Santo, podeis tornar-vos missionários de
Cristo no mundo. Muitos dos vossos coetâneos estão expostos à violência,
obrigados a pegar em armas, forçados a separar-se dos seus entes queridos, a
migrar e a fugir. A muitos falta-lhes a educação e outros bens essenciais.
Porém, todos partilham convosco a busca de sentido e a insegurança que a
acompanha, o desconforto pelas crescentes pressões sociais ou laborais, a
dificuldade de enfrentar as crises familiares, a dolorosa sensação da falta de
oportunidades, o remorso pelos erros cometidos. Vós mesmos podeis colocar-vos
ao lado de outros jovens, caminhar com eles e mostrar que Deus, em Jesus, se
aproximou de cada pessoa. Como o Papa Francisco gostava de dizer: «Cristo
mostra que Deus é proximidade, compaixão e ternura» (Encíclica Dilexit
nos, n. 35).
É verdade que
nem sempre é fácil dar testemunho. Nos Evangelhos encontramos frequentemente a
tensão entre a acolhida e a rejeição de Jesus: «A Luz brilhou nas trevas, mas
as trevas não a receberam» (Jo 1,5). Do mesmo modo, o
discípulo-testemunha experimenta em primeira pessoa a rejeição e, por vezes,
até a oposição violenta. O Senhor não esconde esta dolorosa realidade: «Se
perseguiram a mim, também hão de perseguir a vós» (Jo 15,20). No
entanto, ela torna-se precisamente uma ocasião para pôr em prática o mandamento
mais elevado: «Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem» (Mt 5,44).
Foi o que fizeram os mártires desde o início da Igreja.
Queridos
jovens, esta não é uma história que pertence apenas ao passado. Ainda hoje, em
tantos lugares do mundo, os cristãos e as pessoas de boa vontade sofrem
perseguição, mentiras e violência. Talvez também vós fostes tocados por esta
dolorosa experiência e tentados a reagir instintivamente, colocando-vos ao
nível de quem vos rejeitou e tomando atitudes agressivas. Lembremo-nos, porém,
do sábio conselho de São Paulo: «Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal
com o bem» (Rm 12,21).
Portanto, não
vos deixeis desanimar: como os santos, também vós sois chamados a perseverar
com esperança, sobretudo diante das dificuldades e dos obstáculos.
A fraternidade como vínculo de paz
Da amizade
com Cristo, que é dom do Espírito Santo em nós, nasce um modo de viver que traz
consigo o caráter da fraternidade. Um jovem que encontrou Cristo leva para todo
o lado o “calor” e o “sabor” da fraternidade, e quem entra em contato com ele
ou com ela é atraído para uma dimensão nova e profunda, feita de proximidade
desinteressada, de compaixão sincera e de ternura fiel. O Espírito Santo
faz-nos ver o próximo com olhos novos: no outro está um irmão, uma irmã!
O testemunho
de fraternidade e paz que a amizade com Cristo suscita em nós tira-nos da
indiferença e da preguiça espiritual, fazendo-nos ultrapassar o fechamento e a
suspeita. Além disso, une-nos uns aos outros, impelindo-nos a um empenho
conjunto, desde o voluntariado até a caridade política, para construir novas
condições de vida para todos. Não sigais aqueles que usam as palavras da fé
para dividir! Em vez disso, organizai-vos para eliminar as desigualdades e
reconciliar comunidades polarizadas e oprimidas. Portanto, queridos amigos,
escutemos a voz de Deus em nós e vençamos o nosso egoísmo, tornando-nos
operosos artesãos da paz. Então, essa paz, que é dom do Senhor Ressuscitado (cf. Jo 20,19),
se tornará visível no mundo através do testemunho comum de quem leva no coração
o seu Espírito.
Queridos
jovens, diante dos sofrimentos e das esperanças do mundo, fixemos o nosso olhar
em Jesus. Quando estava prestes a morrer na cruz, Ele entregou a Virgem Maria
como mãe a João, e este como filho a Maria. Este dom extremo de amor é para
cada discípulo, para todos nós. Convido-vos, pois, a acolher este santo vínculo
com Maria, Mãe cheia de afeto e compreensão, cultivando-o em particular com a
oração do Rosário. Assim, em todas as situações da vida, experimentaremos que
nunca estamos sozinhos, mas somos sempre filhos amados, perdoados e encorajados
por Deus. Dai testemunho de tudo isto com alegria!
Vaticano, na Memória da Bem-aventurada Virgem Maria do Rosário, 07 de outubro de 2025.



Nenhum comentário:
Postar um comentário