Missa com os estudantes das Universidades Pontifícias
Homilia do Papa Leão XIV
Basílica de São Pedro
Segunda-feira, 27 de outubro de 2025
Foi celebrada a Missa votiva do Espírito Santo com as leituras do dia (segunda-feira da XXX semana do Tempo Comum, ano ímpar).
Queridos irmãos e queridas irmãs,
Estar neste lugar, durante o Ano Jubilar, é
um dom que não pode ser considerado dado adquirido, sobretudo porque a
peregrinação para atravessar a Porta Santa nos lembra que a vida é viva somente
se estiver a caminho, se souber fazer algumas “passagens”, ou seja, se for
capaz de fazer a Páscoa.
Desse modo, é bonito pensar que ao celebrar
o Jubileu nestes meses, a Igreja experimenta este estar a caminho, lembrando-se
de que precisa constantemente se converter, que precisa seguir Jesus sem
hesitações e sem a tentação de querer ultrapassá-lo, que precisa sempre da
Páscoa, isto é, de “passar” da escravidão à liberdade, da morte à vida. Espero
que cada um de vós sinta sobre si o dom desta esperança e que o Jubileu seja
uma ocasião através da qual a vossa vida possa recomeçar.
No entanto, hoje gostaria de me dirigir a
vós que fazeis parte das instituições universitárias e àqueles que, a vários
títulos, se dedicam ao estudo, ao ensino e à investigação. Que graça pode tocar
a vida de um estudante, de um investigador, de um estudioso? Gostaria de
responder assim a esta pergunta: a graça de uma visão de conjunto, uma visão
capaz de captar o horizonte, de ir além.
Podemos tirar essa sugestão precisamente da passagem
do Evangelho que acaba de proclamada (Lc 13,10-17), na qual nos é apresentada
a imagem de uma mulher encurvada que, curada por Jesus, pode finalmente receber
a graça de um novo olhar, um olhar mais amplo. A condição de ignorância, que
muitas vezes está ligada ao fechamento e à falta de inquietação espiritual e
intelectual, assemelha-se à condição desta mulher: ela está toda curvada,
dobrada sobre si mesma, e por isso lhe é impossível olhar além de si. Quando o
ser humano é incapaz de ver além de si mesmo, da sua experiência, das próprias
ideias e convicções, dos próprios esquemas, então permanece prisioneiro,
escravo, incapaz de amadurecer um juízo próprio.
Tal como a mulher encurvada do Evangelho, o
risco é sempre o de ficarmos prisioneiros de um olhar centrado em nós mesmos.
Na realidade, porém, muitas coisas que importam na vida - podemos dizer, as
coisas fundamentais - não as damos a nós mesmos: recebemo-las dos outros. Elas
chegam até nós e acolhemo-las dos mestres, dos encontros, das experiências da
vida. E esta é uma experiência de graça, porque cura os nossos fechamentos em
nós mesmos. Trata-se de uma verdadeira cura que, tal como acontece com a mulher
do Evangelho, nos permite voltar a ter uma posição vertical perante as coisas e
a vida e vê-las em um horizonte mais amplo. Esta mulher curada obtém esperança,
porque pode finalmente levantar o olhar e ver algo diferente, ver de uma
maneira nova. Isto acontece especialmente quando encontramos Cristo na nossa
vida: abrimo-nos a uma verdade capaz de mudar a vida, de nos distrair de nós
mesmos, de nos tirar dos nossos fechamentos.
Quem estuda eleva-se, amplia os seus
horizontes e as suas perspectivas, para recuperar um olhar que não se fixa
apenas no chão, mas é capaz de olhar para o alto: para Deus, para os outros,
para o mistério da vida. Esta é a graça do estudante, do investigador, do
estudioso: receber um olhar amplo, que sabe ir longe, que não simplifica as
questões, que não teme as perguntas, que vence a preguiça intelectual e, assim,
derrota também a atrofia espiritual.
Recordemos sempre: a espiritualidade precisa
deste olhar, para o qual o estudo da teologia, da filosofia e de outras
disciplinas contribuem de maneira especial. Hoje nos tornamos especialistas em
detalhes infinitesimais da realidade, mas somos incapazes de ter novamente uma
visão de conjunto, uma visão que una as coisas através de um significado maior
e mais profundo. Ao contrário, a experiência cristã quer ensinar-nos a olhar
para a vida e a realidade com um olhar unificador, capaz de abraçar tudo,
rejeitando qualquer lógica de parcialidade.
Com efeito, vos exorto - vós, estudantes, e
todos aqueles que se dedicam à investigação e ao ensino - a não esquecer que a
Igreja de hoje e de amanhã precisa desta visão unificadora. E olhando para o
exemplo de homens e mulheres como Agostinho, Tomás de Aquino, Teresa de Ávila,
Edith Stein e muitos outros - que souberam integrar a investigação na sua vida
e no seu caminho espiritual - também nós somos chamados a levar adiante o
trabalho intelectual e a busca da verdade sem separá-los da vida. É importante
cultivar esta unidade, para que o que se faz nas salas de aula da universidade
e nos ambientes educativos de todos os níveis e graus não permaneça um
exercício intelectual abstrato, mas se torne uma realidade capaz de transformar
a vida, de nos fazer aprofundar a nossa relação com Cristo, de compreender
melhor o mistério da Igreja e de nos tornar testemunhas audazes do Evangelho na
sociedade.
Caríssimos, ao estudo, à investigação e ao
ensino está associada uma importante tarefa educativa e gostaria de exortar as
Universidades a abraçarem com paixão e empenho esta vocação. Educar
assemelha-se ao milagre narrado por este Evangelho, porque o gesto de quem
educa significa levantar o outro, colocá-lo de pé como Jesus faz com esta
mulher encurvada, ajudá-lo a ser ele mesmo e a amadurecer uma consciência e um
pensamento crítico autônomos. As Universidades Pontifícias devem poder
continuar este gesto de Jesus. Trata-se de um verdadeiro ato de amor, porque há
uma caridade que passa precisamente pelo alfabeto do estudo, do conhecimento,
da busca sincera do que é verdadeiro e por aquilo que vale a pena viver. Saciar
a fome de verdade e de sentido é uma tarefa necessária, porque sem verdade e
significados autênticos pode-se cair-se no vazio e até morrer.
Neste caminho, cada um pode também encontrar
o maior dom de todos: saber que não está sozinho e que pertence a alguém, como
afirma o Apóstolo Paulo: «Todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de
Deus são filhos de Deus. De fato, vós não recebestes um espírito de escravos, para
recairdes no medo, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, no qual todos
nós clamamos: Abbá, ó Pai!» (Rm 8,14-15). Portanto, o que recebemos
enquanto buscamos a verdade e nos dedicamos ao estudo ajuda-nos a descobrir que
não somos criaturas lançadas por acaso no mundo, mas pertencemos a alguém que
nos ama e que tem um projeto de amor para a nossa vida.
Queridos irmãos e queridas irmãs, convosco
peço ao Senhor que a experiência de estudo e investigação na aventura
universitária que estais vivendo vos torne capazes deste novo olhar; que o
percurso acadêmico vos ajude a saber dizer, contar, aprofundar e anunciar as
razões da esperança que há em nós (cf. 1Pd 3,15); que a
universidade vos forme para serdes homens e mulheres que nunca vos curvais
sobre vós mesmos, mas que permaneceis sempre de pé, capazes de viver e levar
aos lugares onde ireis a alegria e a consolação do Evangelho.
A Virgem Maria, Sede da Sabedoria, vos
acompanhe e interceda por vós.
Fonte: Santa Sé.


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