Missa em sufrágio do Papa Francisco e dos Cardeais e Bispos falecidos durante o ano
Homilia do Papa Leão XIV
Basílica de São Pedro
Segunda-feira, 03 de novembro de 2025
Leituras: Dn 12,1-3; Sl 41-42; 1Ts 4,13-18; Lc 24,13-35.
Caríssimos irmãos Cardeais e Bispos,
Queridos irmãos e irmãs!
Hoje renovamos a bela tradição, por ocasião
da Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, de celebrar a Eucaristia em
sufrágio dos Cardeais e Bispos que nos deixaram durante o ano que passou, e com
grande afeto a oferecemos pela alma eleita do Papa Francisco, que
faleceu depois de ter aberto a Porta Santa e concedido a Roma e
ao mundo a Bênção pascal. Graças ao Jubileu, esta celebração - para mim a
primeira - adquire um sabor característico: o sabor da esperança cristã.
A Palavra de Deus que ouvimos ilumina-nos.
Em primeiro lugar, o faz com uma grande imagem bíblica que, poderíamos dizer,
resume o sentido de todo este Ano Santo: a narração lucana dos discípulos
de Emaús (Lc 24,13-35). Nela está representada de forma plástica a
peregrinação da esperança, que passa pelo encontro com Cristo Ressuscitado. O
ponto de partida é a experiência da morte, e na sua forma pior: a morte
violenta que mata o inocente e deixa assim desanimados, desencorajados,
desesperados. Quantas pessoas - quantos “pequeninos”! - também nos nossos dias
sofrem o trauma dessa morte assustadora porque desfigurada pelo pecado. Por essa
morte não podemos e não devemos dizer “louvado sejas”, porque Deus Pai não a
quer e enviou o seu Filho ao mundo para nos libertar dela. Está escrito: Cristo
tinha de sofrer estas dores para entrar na sua glória (cf. Lc 24,26) e dar-nos a vida eterna. Só Ele pode levar
sobre si e dentro de si esta morte corrupta sem ser corrompido por ela. Só Ele
tem palavras de vida eterna (cf. Jo 6,68) - confessamo-lo
com trepidação aqui, ao lado do túmulo de São Pedro - e estas palavras têm o
poder de reacender a fé e a esperança nos nossos corações (cf. Lc 24,32).
Quando Jesus toma o pão nas suas mãos que
foram pregadas na cruz, pronuncia a bênção, o parte e o oferece, os olhos dos
discípulos se abrem, a fé floresce nos seus corações e, com a fé, uma nova esperança.
Sim! Já não é a esperança que tinham antes e que perderam. É uma nova
realidade, um dom, uma graça do Ressuscitado: é a esperança pascal.
Assim como a vida de Jesus Ressuscitado já
não é a de antes, mas é absolutamente nova, criada pelo Pai com o poder do
Espírito, assim também a esperança do cristão não é a esperança humana, não é
nem a dos gregos nem a dos judeus, não se baseia na sabedoria dos filósofos nem
na justiça que deriva da lei, mas única e totalmente no fato de que o
Crucificado ressuscitou e apareceu a Simão (cf. Lc 24,34),
às mulheres e aos outros discípulos. É uma esperança que não olha para o
horizonte terreno, mas para além dele, olha para Deus, para
aquela altura e profundidade de onde surgiu o Sol que veio iluminar aqueles que
estão nas trevas e na sombra da morte (cf. Lc 1,78-79).
Então, sim, podemos cantar: «Louvado sejas,
meu Senhor, por nossa irmã, a morte corporal» (São Francisco de Assis, Cântico
das criaturas). O amor de Cristo Crucificado e Ressuscitado transfigurou a
morte: de inimiga, tornou-a irmã, suavizou-a. E diante dela, «não estamos
tristes como os outros, que não têm esperança» (1Ts 4,13). Estamos
tristes, certamente, quando uma pessoa querida nos deixa. Ficamos
escandalizados quando um ser humano, especialmente uma criança, um “pequenino”,
um frágil, é arrancado por uma doença ou, pior ainda, pela violência dos
homens. Como cristãos, somos chamados a carregar com Cristo o peso dessas
cruzes. Mas não estamos tristes como aqueles que não têm esperança, porque nem a
morte mais trágica pode impedir o nosso Senhor de acolher nos seus braços a
nossa alma e transformar o nosso corpo mortal, até o mais desfigurado, à imagem
do seu corpo glorioso (cf. Fl 3,21).
Por isso, os cristãos não chamam os lugares
de sepultura “necrópoles”, ou seja, “cidades dos mortos”, mas “cemitérios”, que
significa literalmente “dormitórios”, lugares onde se descansa, à espera da
ressurreição. Como profetiza o salmista: «Eu tranquilo vou deitar-me e na paz
logo adormeço, pois só vós, ó Senhor Deus, dais segurança à minha vida!» (Sl 4,9).
Caríssimos, o amado Papa
Francisco e os irmãos Cardeais e Bispos pelos quais hoje oferecemos o
Sacrifício eucarístico viveram, testemunharam e ensinaram essa nova esperança
pascal. O Senhor os chamou e os constituiu pastores na sua Igreja e, com o seu
ministério, eles - para usar a linguagem do Livro de Daniel -
«conduziram muitos à justiça» (cf. Dn 12,3), ou seja, nos guiaram
pelo caminho do Evangelho com a sabedoria que vem de Cristo, que se tornou para
nós sabedoria, justiça, santificação e redenção (cf. 1Cor 1,30).
Que as suas almas sejam lavadas de qualquer mancha e que eles brilhem como
estrelas no céu (cf. Dn 12,3). E a nós, ainda
peregrinos na terra, chegue no silêncio da oração o seu encorajamento
espiritual: «Espera em Deus! Louvarei novamente o meu Deus Salvador!» (Sl 42,5).
Fonte: Santa Sé.


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