Há cerca de um ano o Papa Francisco (†2025) publicou uma
Carta exortando as Igrejas particulares (Dioceses, Prelazias...) a recordar os
próprios Santos, Beatos, Veneráveis e Servos de Deus no dia 09 de novembro.
Não se trata de uma nova celebração litúrgica: nesse dia,
com efeito, celebramos a Festa da Dedicação da Basílica do Latrão, a Catedral
de Roma [1]. A proposta é de caráter pastoral: após a celebração da Solenidade de Todos os Santos no dia 01 de novembro (em alguns lugares transferida para o domingo seguinte), as Igrejas particulares são convidadas a dar a conhecer os próprios
filhos que se destacaram por sua fidelidade a Cristo.
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| Cristo e Santas Mulheres (Santuário Nacional de Aparecida) |
Confira a Carta do falecido Pontífice na íntegra:
Papa Francisco
Carta sobre a memória nas Igrejas particulares dos próprios Santos, Beatos, Veneráveis e Servos de Deus
Com a Exortação Apostólica Gaudete et exsultate (2018)
eu quis voltar a propor aos fiéis discípulos de Cristo no mundo contemporâneo a
vocação universal à santidade. Ela está no centro do ensinamento
do Concílio Vaticano II, recordando que «todos os que creem em Cristo,
seja qual for o seu estado ou condição, são chamados à plenitude da vida cristã
e à perfeição da caridade» (Lumen gentium, n. 40). Portanto, todos são
chamados a acolher o amor de Deus, que «foi derramado em nossos corações pelo
Espírito Santo» (Rm 5,5). Com efeito, a santidade, mais do que ser
fruto do esforço humano, consiste em dar espaço à ação de Deus.
Cada um pode reconhecer muitas pessoas que encontrou ao
longo do caminho como testemunhas das virtudes cristãs, especialmente da fé, da
esperança e da caridade: cônjuges que viveram fielmente o seu amor abrindo-se à
vida; homens e mulheres que, nas suas várias ocupações de trabalho, sustentaram
as suas famílias e cooperaram na difusão do Reino de Deus; adolescentes e
jovens que seguiram Jesus com entusiasmo; pastores que, mediante o seu
ministério, infundiram os dons da graça sobre o povo santo de Deus; religiosos
e religiosas que, vivendo os conselhos evangélicos, foram imagens vivas de
Cristo esposo. Não podemos esquecer os pobres, os doentes e os sofredores que,
na sua fragilidade, encontraram apoio no divino Mestre. Trata-se daquela
santidade “quotidiana” e “da porta ao lado” da qual sempre foi rica a Igreja
espalhada pelo mundo.
Somos chamados a nos deixar estimular por estes modelos de
santidade, entre os quais sobressaem, em primeiro lugar, os Mártires que
derramaram o seu sangue por Cristo e aqueles que foram beatificados e
canonizados para ser exemplos de vida cristã e nossos intercessores. Pensemos
depois nos Veneráveis, homens e mulheres cujo exercício heroico da virtude foi
reconhecido; naqueles que, em circunstâncias singulares, fizeram da sua vida
uma oferenda de amor ao Senhor e aos irmãos, bem como nos Servos de Deus cujas
Causas de Beatificação e Canonização estão em curso. Estes processos mostram
como o testemunho de santidade está presente também no nosso tempo, no qual brilham
como estrelas (cf. Fl 2,15) as grandes testemunhas da
fé, que marcaram a experiência das Igrejas particulares e, ao mesmo tempo,
fecundaram a história. Todos eles são nossos amigos, nossos companheiros de
caminho, que nos ajudam a realizar plenamente a nossa vocação batismal,
mostrando-nos o rosto mais belo da Igreja, que é santa e mãe dos Santos.
No decurso do Ano Litúrgico a Igreja honra publicamente, em
datas e formas determinadas, os Santos e os Beatos. No entanto, parece-me
importante que todas as Igrejas particulares recordem em uma única data os
Santos e Beatos, bem como os Veneráveis e Servos de Deus, dos respectivos
territórios. Não se trata de inserir uma nova memória no calendário litúrgico,
mas de promover com iniciativas apropriadas fora da Liturgia, ou de recordar dentro
dela (por exemplo na homilia ou em outro momento considerado oportuno), aquelas
figuras que caracterizaram o percurso cristão e a espiritualidade locais.
Portanto, exorto as Igrejas particulares, a partir do próximo Jubileu de 2025,
a recordar e honrar estas figuras de santidade todos os anos no dia 09 de
novembro, Festa da Dedicação da Basílica do Latrão.
Isto permitirá a cada Comunidade diocesana redescobrir ou
perpetuar a memória de extraordinários discípulos de Cristo que deixaram um
sinal vivo da presença do Senhor Ressuscitado e continuam a ser hoje guias
seguros no nosso caminho comum rumo a Deus, amparando-nos e apoiando-nos. Para
tal finalidade, as Conferências Episcopais poderão eventualmente elaborar e
propor indicações pastorais e diretrizes.
Que os Santos, nos quais resplandecem as maravilhas da
multiforme graça divina, nos estimulem a uma comunhão mais íntima com Deus e
nos inspirem o desejo da cidade futura para cantar com eles os louvores do
Altíssimo.
Roma, São João do Latrão, 09 de novembro de 2024, Festa da
Dedicação da Basílica do Latrão.
FRANCISCO
Fonte: Santa Sé.
Nota:
[1] Algumas Dioceses mais antigas, ademais, já possuem uma
celebração em honra dos seus Santos no início de novembro. Na própria Diocese
de Roma, por exemplo, se celebra a Memória de “Todos os Santos da Igreja de
Roma” no dia 08 de novembro; no mesmo dia o Patriarcado Latino de Jerusalém
celebra a Festa de “Todos os Santos da Igreja de Jerusalém”. No futuro
pretendemos falar mais sobre essas e outras celebrações análogas aqui no blog.
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