IX Dia Mundial dos Pobres
Jubileu dos Pobres
Homilia do Papa Leão XIV
Basílica de São Pedro
Domingo, 16 de novembro de 2025
Foi celebrada a Missa do XXXIII Domingo do Tempo Comum (Ano C).
Queridos irmãos e irmãs,
Nos últimos domingos do Ano Litúrgico somos
convidados a olhar para a história nos seus desfechos finais. Na 1ª leitura (Ml
3,19-20a) o profeta Malaquias vislumbra na chegada do “dia do Senhor” a entrada
em um novo tempo. Este é descrito como o tempo de Deus, em que, como um
amanhecer que faz surgir um sol de justiça, as esperanças dos pobres e dos
humildes receberão do Senhor uma resposta final e definitiva, e serão
erradicadas, queimadas como se fossem palha, as obras dos ímpios e a sua
injustiça, sobretudo em detrimento dos indefesos e dos pobres.
Como sabemos, esse sol de justiça que surge
é o próprio Jesus. O dia do Senhor, com efeito, não é apenas o último dia da
história, mas é o Reino que se aproxima de cada homem no Filho de Deus que vem.
No Evangelho (Lc 21,5-19), usando a típica linguagem
apocalíptica de seu tempo, Jesus anuncia e inaugura esse Reino: na realidade,
Ele mesmo é o senhorio de Deus que se faz presente em meio aos acontecimentos
dramáticos da história. Por isso, eles não devem assustar o discípulo, mas
torná-lo ainda mais perseverante no testemunho e consciente de que a promessa
de Jesus é sempre viva e fiel: «Não perdereis um só fio de cabelo da vossa
cabeça» (v. 18).
Irmãos e irmãs, esta é a esperança à qual nos
ancoramos, mesmo diante das vicissitudes nem sempre felizes da vida. Ainda
hoje, «a Igreja prossegue a sua peregrinação no meio das perseguições do mundo
e das consolações de Deus, anunciando a Cruz e a Morte do Senhor até que Ele
venha» (Lumen gentium, n.
8). E onde todas as esperanças humanas parecem esgotar-se torna-se ainda mais
firme a única certeza, mais estável do que o céu e a terra, de que o Senhor não
deixará que se perca nem um só fio de cabelo da nossa cabeça.
Deus não nos deixa sozinhos nas
perseguições, nos sofrimentos, nas dificuldades e nas opressões da vida e da
sociedade. Ele manifesta-se como Aquele que toma partido por nós. Toda a
Escritura é atravessada por este fio condutor que narra um Deus que está sempre
do lado dos mais frágeis, dos órfãos, dos estrangeiros e das viúvas (cf. Dt 10,17-19). E a proximidade de Deus atinge o ápice
do amor em seu filho Jesus: por isso a presença e a palavra de Cristo tornam-se
júbilo e jubileu para os mais necessitados, pois Ele veio para anunciar aos
pobres a boa-nova e proclamar o ano da graça do Senhor (cf. Lc 4,18-19).
Também nós participamos desse ano de graça,
de modo especial precisamente hoje, ao celebrarmos o Jubileu dos Pobres neste
seu Dia Mundial. Toda a Igreja exulta e se alegra, e em primeiro lugar a vós,
queridos irmãos e irmãs, desejo transmitir com força as palavras irrevogáveis
do próprio Senhor Jesus: «Dilexi te - Eu te amei» (Ap 3,9).
Sim, diante da nossa pobreza e pequenez, Deus nos olha como ninguém mais e nos
ama com amor eterno. E a sua Igreja, ainda hoje, talvez especialmente neste
nosso tempo tão ferido por antigas e novas pobrezas, quer ser «mãe dos pobres,
lugar de acolhimento e justiça» (Exortação Apostólic. Dilexi te, n.
39).
Quantas pobrezas oprimem o nosso mundo!
Trata-se, primordialmente, de pobrezas materiais, mas também existem inúmeras
situações morais e espirituais, que muitas vezes afetam sobretudo os mais
jovens. E o drama que as atravessa todas, transversalmente, é a solidão. Ela
desafia-nos a olhar para a pobreza de forma integral, certamente porque às
vezes é necessário responder às necessidades urgentes, mas, de modo mais geral,
é uma cultura da atenção que devemos desenvolver, justamente para quebrar o
muro da solidão. Por isso queremos estar atentos ao outro, a cada um, ali onde
estamos e onde vivemos, transmitindo essa atitude já na família, para vivê-la
concretamente nos locais de trabalho e de estudo, nas diferentes comunidades,
no mundo digital, em toda parte, indo até os confins e tornando-nos testemunhas
da ternura de Deus.
Hoje o nosso estado de impotência parece ser
confirmado, em primeiro lugar, pelos cenários de guerra que infelizmente estão
presentes em várias regiões do mundo. Mas a globalização dessa impotência nasce
de uma mentira: da crença de que a história sempre foi assim e não pode mudar.
O Evangelho, de modo diverso, nos diz que é precisamente nas grandes
perturbações da história que o Senhor vem nos salvar. E nós, comunidade cristã,
devemos ser hoje sinal vivo dessa salvação no meio dos pobres.
A pobreza interpela os cristãos, e também
todos aqueles que têm funções de responsabilidade na sociedade. Exorto,
portanto, os Chefes de Estado e os Responsáveis das Nações a ouvirem o clamor
dos mais pobres. Não poderá haver paz sem justiça, e os pobres recordam-nos
isso de muitas maneiras: com a sua migração, bem como com o seu grito muitas
vezes abafado pelo mito do bem-estar e do progresso que não tem todos em conta
e que, em vez disso, esquece muitas criaturas, abandonando-as ao seu destino.
Aos agentes da caridade, aos muitos
voluntários, a todos aqueles que se ocupam de aliviar as condições dos mais
pobres, expresso a minha gratidão e, ao mesmo tempo, o meu encorajamento a
terem cada vez mais consciência crítica na sociedade. Vós sabeis bem que a
questão dos pobres remete ao essencial da nossa fé, que para nós eles são a
própria carne de Cristo e não apenas uma categoria sociológica (cf. Dilexi te, n. 110). É por isso que «a Igreja, como mãe,
caminha com os que caminham. Onde o mundo vê ameaça, ela vê filhos; onde se
erguem muros, ela constrói pontes» (ibid., n. 75).
Comprometamo-nos todos. Como escreve o Apóstolo
Paulo aos cristãos de Tessalônica (cf. 2Ts 3,6-13), enquanto
aguardamos o glorioso regresso do Senhor, não devemos viver uma vida voltada
para nós mesmos e em um intimismo religioso que se traduz no descompromisso
para com os outros e a história. Pelo contrário, buscar o Reino de Deus implica
o desejo de transformar a convivência humana em um espaço de fraternidade e
dignidade para todos, sem excluir ninguém. Está sempre à espreita o perigo de
viver como viajantes distraídos, indiferentes ao destino final e
desinteressados por aqueles que partilham o caminho conosco.
Neste Jubileu dos Pobres deixemo-nos
inspirar pelo testemunho dos Santos e das Santas que serviram Cristo nos mais
necessitados e o seguiram no caminho da pequenez e do despojamento. Em
particular, gostaria de propor novamente a figura de São Bento José Labre, que
com a sua vida de “vagabundo de Deus” tem as características para ser o
padroeiro de todos os pobres sem-teto. Que a Virgem Maria, que no Magnificat
continua a nos recordar as escolhas de Deus e se faz voz dos que não têm voz,
nos ajude a entrar na nova lógica do Reino, para que na nossa vida de cristãos
esteja sempre presente o amor de Deus que acolhe, perdoa, cuida das feridas,
consola e cura.
Fonte: Santa Sé.


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