Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos
Homilia do Papa Leão XIV
Cemitério de Verano, Roma
Domingo, 02 de novembro de 2025
Leituras: Is 25,6a.7-9; Sl 24(25); Rm 8,14-23; Mt 25,31-46.
Queridos irmãos e irmãs,
Reunimo-nos neste lugar para celebrar a Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, em particular aqueles que estão aqui sepultados e,
com carinho especial, os nossos entes queridos. Eles nos deixaram no dia da sua
morte, mas os trazemos sempre conosco na memória do coração. E esta memória
permanece viva, todos os dias, em tudo o que vivemos. Frequentemente
encontramos algo que nos faz lembrar deles, imagens que nos remetem para o que
vivemos com eles. Tantos lugares, e até mesmo os aromas das nossas casas, nos
falam daqueles que amamos e que nos deixaram, mantendo viva em nós a sua
memória.
Porém, hoje não estamos aqui simplesmente
para lembrar aqueles que já partiram deste mundo. A fé cristã, fundada na
Páscoa de Cristo, ajuda-nos a viver a memória não apenas como uma lembrança do
passado, mas sobretudo como uma esperança futura. Não se trata tanto de olhar
para trás; trata-se antes de olhar para a frente, para a meta do nosso caminho,
para o porto seguro que Deus nos prometeu, para a festa sem fim que nos espera.
Lá, em torno do Senhor Ressuscitado e dos nossos, saborearemos a alegria do banquete
eterno. Naquele dia - ouvimos na leitura do profeta Isaías - «o Senhor dos
exércitos dará́ neste monte [o monte Sião], para todos os povos, um banquete de
ricas iguarias... Eliminará para sempre a morte» (Is 25,6.8).
Esta “esperança futura” anima a nossa
memória e a nossa oração no dia de hoje. Não se trata de uma ilusão que serve
para aplacar a dor da separação das pessoas amadas, nem de um simples otimismo
humano. É a esperança fundada na Ressurreição de Jesus, que venceu a morte e
abriu, também a nós, a passagem para a plenitude da vida. Ele - como recordei
em uma Catequese recente - é «o ponto de chegada do nosso caminho. Sem o seu
amor, a viagem da vida se tornaria um perambular sem meta, um erro trágico com
um destino fracassado... O Ressuscitado garante a meta, conduz-nos para casa,
onde somos esperados, amados, salvos» (Audiência Geral, 15 de outubro de
2025).
E esta meta final, o banquete em torno do
qual o Senhor nos reunirá, será um encontro de amor. Por amor, Deus nos criou;
no amor do seu Filho, Ele nos salva da morte; na alegria do amor com Ele e com
os nossos, Ele deseja que vivamos para sempre. Por isso mesmo, só quando
vivemos no amor e praticamos o amor uns para com os outros, em particular para
com os mais fracos e os mais pobres, caminhamos em direção à meta e a antecipamos,
em um vínculo inquebrantável com aqueles que nos precederam. Com efeito, Jesus
convida-nos com estas palavras: «Eu estava com fome e me destes de comer;
estava com sede e me destes de beber; era estrangeiro e me recebestes em casa;
estava nu e me vestistes; estava doente e cuidastes de mim; estava na prisão e
fostes me visitar» (Mt 25,35-36).
A caridade vence a morte. Na caridade, Deus nos
reunirá com nossos entes queridos. Se caminhamos na caridade, a nossa vida
torna-se uma oração que se eleva ao Céu e nos une aos defuntos, aproxima-nos
deles, esperando reencontrá-los na alegria da eternidade.
Queridos irmãos e irmãs, enquanto a dor da
ausência de quem já não está entre nós permanece gravada nos nossos corações,
confiemo-nos à esperança que não decepciona (cf. Rm 5,5);
olhemos para Cristo Ressuscitado e pensemos nos nossos falecidos revestidos já
da sua luz; deixemos ressoar em nós a promessa da vida eterna que o Senhor nos
faz. Ele aniquilará a morte para sempre. Ele a venceu para sempre, abrindo uma
passagem de vida eterna - isto é, fazendo Páscoa - no túnel da morte, para que,
unidos a Ele, também nós possamos entrar nele e atravessá-lo.
Ele espera por nós e, quando o encontrarmos,
no final desta vida terrena, nos alegraremos com Ele e com os nossos entes queridos
que nos precederam. Que esta promessa nos sustente, enxugue as nossas lágrimas
e volte o nosso olhar para a frente, para aquela esperança futura que não
morre.
Fonte: Santa Sé.


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