Neste ano de 2023 foram duas as meditações de Advento do Cardeal Raniero Cantalamessa, Pregador da Casa Pontifícia, dedicadas a João Batista e à Virgem Maria, “figuras-modelo” desse tempo litúrgico.
Cardeal Raniero Cantalamessa, OFMCap
II Pregação de Advento
22 de dezembro de 2023
“Bem-aventurada aquela que acreditou”
Depois
do Precursor João Batista, hoje nos deixamos conduzir pela Mãe de
Jesus para “entrarmos” no mistério do Natal. No Evangelho do próximo domingo, o
IV do Advento, ouviremos a narrativa da Anunciação (Lc 1,26-38). Ela
nos recorda como Maria concebeu e deu à luz o Cristo e como podemos concebê-lo e
dá-lo à luz também nós mediante a fé. Referindo-se a este momento, Isabel,
pouco depois, exclamará: “Bem-aventurada aquela que acreditou” (Lc
1,45).
Repetiu-se,
infelizmente, acerca da fé de Maria, o que acontecera com a pessoa de Jesus.
Como os hereges arianos buscavam qualquer pretexto para pôr em dúvida a plena
divindade de Cristo, os Padres da Igreja, para lhes tirar qualquer apoio, às
vezes deram uma explicação “pedagógica” de todos aqueles textos do Evangelho
que pareciam admitir um progresso de Jesus no conhecimento da vontade do Pai e
na obediência a ela. Um destes textos era o da Carta aos Hebreus,
segundo a qual Jesus “aprendeu o que significa a obediência, por aquilo que
sofreu” (Hb 5,8); outro, a oração de Jesus no Getsêmani. Em Jesus, tudo
devia ser dado e perfeito em princípio. Como bons gregos, pensavam que o tornar-se não
pode incidir sobre o ser das coisas.
Algo
de semelhante, eu dizia, se repetiu, tacitamente, para a fé de Maria. Dava-se
por pressuposto que ela tivesse cumprido o seu ato de fé no momento da Anunciação
e nele tivesse permanecido estável por toda a vida, como quem, com a sua voz,
alcançou de uma vez a nota mais aguda e a mantém interruptamente por todo o
resto do canto. Dava-se uma explicação reconfortante de todas as palavras que
pareciam dizer o contrário.
O
dom que o Espírito Santo deu à Igreja, com a renovação da Mariologia, foi a
descoberta de uma dimensão nova da fé de Maria. A Mãe de Deus - afirmou o
Concílio Vaticano II - “avançou pelo caminho da fé” (Lumen Gentium, n.
58). Não acreditou de uma vez por todas, mas caminhou na fé e progrediu nela. A
afirmação foi retomada e tornada mais explícita por São João Paulo II na
Encíclica Redemptoris Mater: “As
palavras de Isabel - ‘Bem-aventurada aquela que acreditou’ - não se aplicam
apenas àquele momento particular da Anunciação. Esta representa, sem dúvida, o
momento culminante da fé de Maria na expectação de Cristo, mas é também o ponto
de partida, no qual se inicia todo o seu caminho para Deus, toda a
sua caminhada de fé” (Redemptoris Mater, n. 14).
Neste
caminho, Maria chegou, escrevia o Papa, até a “noite da fé” (ibid., n.
17). São conhecidas e repedidas as palavras de Santo Agostinho sobre a fé de
Maria: “A Virgem Maria deu à luz crendo, aquele que tinha concebido crendo (“quem
credendo peperit, credendo concepit”) [1]. Depois que o anjo tinha falado,
ela, cheia de fé, concebendo Cristo no coração antes que no ventre,
respondeu: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc
1,38).
Devemos
completar a lista do que aconteceu depois da Anunciação e do Natal: pela fé,
Maria apresentou o Menino no templo; pela fé o seguiu, mantendo-se à parte, em
sua vida pública; pela fé esteve sob a Cruz; pela fé aguardou a sua Ressurreição.
Reflitamos
sobre alguns momentos do caminho de fé da Mãe de Deus. Há fatos aparentemente
contrastantes que Maria confronta dentro de si, sem compreender. É “o Filho de
Deus” e deita em uma manjedoura! Ela conserva tudo em seu coração e deixa que
fermente à espera. Ouvirá a profecia de Simeão e logo se dará conta do quanto
era verdadeira! Todos os altos e baixos da vida do Filho, todas as
incompreensões, as progressivas deserções ao seu redor, tiveram uma profunda repercussão
em seu coração de Mãe. Começa a fazer experiência dolorosa disso na perda de
Jesus no templo: “‘Por que me procuráveis?’. Eles, porém, não entenderam...” (Lc
2,49-50).
Enfim,
há a Cruz. Está lá, impotente diante do martírio do Filho, mas consente ao amor.
É uma réplica do drama de Abraão, mas quão imensamente mais exigente! Com
Abraão, Deus se detém no último momento, com ela não. Aceita que o Filho seja
imolado, entrega-O ao Pai, com o coração dilacerado, mas de pé, forte pela sua
fé inabalável. É aqui que a voz de Maria alcança a nota mais alta. De Maria,
deve-se dizer com maior razão o que o Apóstolo diz de Abraão: esperando contra
toda esperança, Maria acreditou e, assim, tornou-se mãe de muitos povos (cf.
Rm 4,18).
Houve
um tempo em que a grandeza de Maria era vista sobretudo nos privilégios que alguns
se empenhavam em multiplicar, com o resultado de distanciá-la, ao invés de
“associá-la” a Cristo, o qual se fizera “em tudo semelhante a nós”, nada
excluído, nem mesmo a tentação, mas somente o pecado (cf. Hb 4,15). O
Concílio nos orientou a ver a sua grandeza sobretudo na sua fé, esperança e
caridade. Afirma a Lumen gentium: “Concebendo,
gerando e alimentando a Cristo, apresentando-O ao Pai no templo, padecendo com
Ele quando agonizava na cruz, cooperou de modo singular, com a sua fé,
esperança e ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a
vida sobrenatural. É por esta razão nossa mãe na ordem da graça” (Lumen
gentium, n. 61).
“Acreditemos também nós!”
A
renovação da Mariologia operada pelo Vaticano II deve muito (talvez o
essencial) a Santo Agostinho. Foi a sua autoridade que impulsionou alguns
teólogos e depois a assembleia conciliar a inserir o discurso sobre Maria
dentro da Constituição sobre a Igreja, a Lumen gentium, ao invés de
fazer um discurso à parte sobre ela. Partindo do princípio de que “o todo é
superior à parte”, Agostinho escrevera: “Santa
é Maria, bem-aventurada é Maria, mas mais importante é a Igreja do que a Virgem
Maria. Por quê? Porque Maria é uma parte da Igreja, um membro santo, excelente,
superior a todos os demais, mas um membro de todo o corpo. Se é um membro de
todo o corpo, sem dúvida mais importante do que um membro é o corpo” [2].
Também é o mesmo Santo Agostinho a nos sugerir a resolução a se tomar após termos repercorrido brevemente o caminho de fé da Mãe de Deus. Ao final do seu discurso sobre a fé de Maria, ele dirige aos seus ouvintes uma vibrante exortação que vale também para nós: “Maria acreditou, e o que acreditou se cumpriu nela. Acreditemos também nós, para que o que se cumpriu nela possa se cumprir também em nós!” [3].
Virgem Maria com o Menino Jesus (Abside da Basílica de Santa Sofia em Constantinopla) |
O
IV centenário do nascimento de Blaise Pascal - que o Santo Padre quis recordar
à Igreja com a sua Carta Apostólica [Sublimitas et miseria hominis] de
19 de junho passado - nos ajuda a dar um conteúdo atual à exortação:
“Acreditemos também nós”. Entre os “Pensamentos” mais famosos de Pascal,
há o seguinte: “Le
coeur a ses raisons que la raison ne connaît point” - “O coração tem suas
razões, que a razão não conhece” (...). “C’est le coeur qui sent Dieu
et non la raison” - “O coração, e não a razão, sente Deus” [4]. Assim é a
fé: Deus sentido pelo coração e não pela razão.
Esta
afirmação é ousada, mas tem o mais fidedigno fundamento possível, o da Sagrada
Escritura! O Apóstolo Paulo conhece e usa frequentemente a palavra nous, que
corresponde ao moderno conceito de mente, inteligência ou razão; mas, falando
da fé, não diz “mente creditur”, com a mente se crê; diz “corde
creditur” (kardia gar pisteùetai), com o coração se crê (Rm
10,19).
Deus
“é sentido pelo coração e não pela razão”, como afirma Pascal, pelo simples
motivo de que “Deus é amor” (1Jo 4,8.16) e o amor não se percebe com o
intelecto, mas com o coração. É verdade que Deus é também verdade - “Deus é
luz”, escreve João também em sua Primeira Carta (1Jo 1,5) - e a
verdade se percebe com o intelecto; mas, enquanto o amor supõe o conhecimento,
o conhecimento não supõe necessariamente o amor. Não se pode amar sem conhecer,
mas se pode conhecer sem amar! Bem o sabe uma civilização como a nossa,
orgulhosa de ter inventado a inteligência artificial, mas tão pobre de amor e
compaixão.
Não
são, infelizmente, “as razões do coração” de Pascal que plasmaram o pensar
laico e teológico dos últimos três séculos, mas sim o “penso, logo existo” (cogito
ergo sum) do seu compatriota René Descartes, ainda que contra a intenção
deste, que era e permaneceu sempre um piedoso cristão e um fiel (lembro de ter
lido o seu nome na lista dos peregrinos famosos ao Santuário de Nossa Senhora
de Loreto).
A
consequência foi que o racionalismo dominou e ditou a norma, antes de chegar ao
atual niilismo. Todos os discursos e debates que se fazem, também hoje, vertem
sobre “fé e razão”, jamais, pelo que eu saiba, sobre “fé e coração”, ou “fé e
vontade”. O próprio Pascal, contudo, em outro dos seus Pensamentos,
afirma que a fé é clara o bastante para quem quer crer, e
bastante obscura para quem não quer crer [5].
Ela, em outras palavras, é uma questão de vontade, mais do que de razão e
intelecto.
Gostaria,
neste ponto, de acenar a uma segunda lição deixada a nós por Pascal e que o
Santo Padre evidencia fortemente em sua Carta Apostólica: a centralidade de
Cristo para a fé cristã: “Conhecemos Deus - escreve o filósofo - apenas por
meio de Jesus Cristo. Sem este mediador, está excluída qualquer comunicação com
Deus” [6]. E, no chamado Memorial, eco de
uma memorável noite de luz, ele exclama: “O Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó,
não dos filósofos nem dos eruditos... é encontrado apenas pelas vias ensinadas
pelo Evangelho”.
Pascal
é frequentemente citado a propósito do “risco calculado”, ou da aposta
vantajosa. Na incerteza, escreve, aposte na existência de Deus, pois “se
vencer, você venceu tudo, se perder, não perdeu nada”: “Si vous gagnez, vous
gagnez tout; si vous perdez, vous ne perdez rien” [7].
Mas o verdadeiro risco da fé - também ele sabe disso - é outro: é aquele de pôr
Jesus Cristo entre parênteses. Um risco de longa data! Repensemos sobre o que
aconteceu em Atenas, na ocasião do memorável discurso proferido pelo Apóstolo
Paulo no Areópago (At 17,16-33).
O
Apóstolo começa falando do Deus único que criou o universo e à cuja “linhagem”
pertencemos (v. 28). Os presentes captam a alusão ao verso de um poeta seu e o
acompanham com atenção. Mas eis que Paulo chega ao ponto. Fala de um homem que
Deus designou como juiz universal, dando prova disso ao ressuscitá-lo dos
mortos. Acabou o encanto! “Quando ouviram falar da ressurreição dos mortos,
alguns zombavam. Outros diziam: ‘A respeito disso, te ouviremos em outra
ocasião’” (v. 32).
O
que foi que os perturbou tanto? Certo, a ideia da ressurreição dos mortos, tão
contrária ao que, no mesmo lugar, ensinara Platão: o corpo é “a tumba da alma”,
não vale a pena carregá-lo também após a morte. Mas talvez lhes tenha
desconcertado ainda mais o fato de fazer o destino da humanidade depender de um
único evento histórico e de um homem concreto. Um século depois, o filósofo
platônico Celso jogará à face dos cristãos os motivos do escândalo dos gregos:
“Filho de Deus um homem que viveu há poucos anos? Alguém de ontem ou anteontem?
Um homem nascido de uma pobre fiandeira em um vilarejo da Judeia?” [8].
O verdadeiro risco da fé é aquele de se escandalizar com a humanidade e a humildade de Cristo. Foi o maior obstáculo que Agostinho teve que superar para aderir à fé: “Não sendo humilde, eu não conseguia aceitar como meu Deus o humilde Jesus”, escreve nas Confissões [9]. Jesus falara da possibilidade de “se escandalizar” por causa dele, em razão da sua distância da ideia que os homens tinham feito do Messias, e concluíra dizendo: “E bem-aventurado quem não se escandaliza por causa de mim!” (Mt 11,2-6).
O
escândalo hoje é menos ostentado do que aquele dos areopagitas, mas não menos
presente entre os intelectuais. O efeito - mais danoso do que a rejeição - é o
silêncio sobre ele. Tenho acompanhado, na internet, muitos debates de alto
nível sobre a existência ou não de Deus: quase nunca era pronunciado neles o
nome de Jesus Cristo. Como se ele não coubesse no discurso sobre Deus!
Deve
ser este o nosso empenho principal no esforço pela evangelização. O mundo e
seus meios de comunicação - eu dizia em outra ocasião, nesta mesma sede - fazem
de tudo (e infelizmente conseguem!) para manter separado, ou silenciado, o nome
de Cristo em todo seu discurso sobre a Igreja. Nós devemos fazer de tudo para
mantê-lo obstinadamente presente. Não para nos abrigar por detrás dele e calar
nossos fracassos, mas porque é Ele “a luz dos povos” (Lc 2,32; Jo
8,12), “o nome que está acima de todo nome” (Fl 2,9), “a pedra angular” (At
4,11; 1Pd 2,4.7) do mundo e da história.
Voltar ao coração!
Voltemos,
para terminar, à palavra de Pascal sobre Deus que “se sente com o coração”. Não
mais para fazer disso objeto de considerações históricas e teológicas, mas
pessoais e práticas. Pascal foi um fervoroso discípulo de Santo Agostinho, até,
infelizmente, a compartilhar também algum excesso e erro, como aquele,
reproposto pelos jansenistas, da dupla predestinação divina, à glória ou à
danação! Também o apelo de Pascal ao coração ressoa a influência do Doutor de
Hipona. Comentando em um discurso ao povo o versículo de Isaías: “Lembrai-vos
disso e envergonhai-vos, guardai-o no coração, ó rebeldes” - “redite,
praevaricatores ad cor” - (Is 46,8, Vulgata), Santo Agostinho dizia:
“Voltai
ao vosso coração!... Voltai de vossa errância que vos levou para fora do
caminho; voltai ao Senhor. Ele está pronto. Volta antes ao teu coração, tu que
te tornaste estranho a ti mesmo, por força de ir afora: não te conheces a ti
mesmo, e buscas Aquele que te criou! Volta, volta ao coração, separa-te do
corpo... Volta ao coração: lá, examina o que talvez percebas de Deus, pois lá
se encontra a imagem de Deus; na interioridade do homem habita Cristo” [10].
O
homem envia as suas sondas até a periferia do sistema solar e além, mas ignora
o que acontece a milhares de metros sob a crosta terrestre, daí a dificuldade
em prever os terremotos. É uma imagem do que acontece no âmbito do espírito, em
nossa própria vida. Vivemos todos projetados ao exterior, ao que acontece ao
nosso redor, desatentos ao que acontece dentro de nós. O silêncio causa medo.
Greccio, 1223
No
Natal deste ano recorre o VIII centenário da primeira realização do presépio em
Greccio. É o primeiro dos três centenários franciscanos, o qual seguirão, em
2024, o dos estigmas do santo e, em 2026, o da sua morte. Também esta
circunstância pode nos ajudar a voltar ao coração. O seu primeiro biógrafo,
Tomás de Celano, refere as palavras com que o Poverello explicava a sua
iniciativa: “Quero lembrar o Menino que nasceu em Belém, os apertos que passou,
como foi posto em um presépio, e contemplar com os próprios olhos como ficou em
cima da palha, entre o boi e o burro” [11].
Infelizmente,
com o passar do tempo, o presépio se afastou daquilo que representava para
Francisco. Tornou-se, frequentemente, uma forma de arte ou de espetáculo do
qual se admira a montagem externa, mais do que o significado místico. Ainda
assim, porém, ele desempenha a sua função de sinal e seria tolo renunciar a
ele. Em nosso Ocidente multiplicam-se as iniciativas para eliminar das
solenidades natalinas toda referência evangélica e religiosa, reduzindo-o a uma
mera e simples festa humana e familiar, com tantas fábulas e personagens
inventados no lugar dos verdadeiros personagens do Natal. Alguém gostaria de
mudar até mesmo o nome da festa.
Um
dos pretextos é favorecer, deste modo, a convivência pacífica com fiéis de
outras religiões - na prática, com os muçulmanos. Na realidade, este é o
pretexto de certo mundo laicista que não quer estes símbolos, não dos
muçulmanos. No Alcorão, há uma sura dedicada ao nascimento de
Jesus que vale a pena conhecer. Diz:
“E
quando os anjos disseram: ‘Ó Maria, por certo que Deus te anuncia o seu Verbo,
cujo nome será o Messias, Jesus [‘Isà], filho de Maria, nobre neste
mundo e no outro... Falará aos homens, ainda no berço, bem como na maturidade,
e se contará entre os virtuosos’. Perguntou: ‘Ó Senhor meu, como poderei ter um
filho, se mortal algum jamais me tocou?’. Disse-lhe o anjo: ‘Assim será, Deus
cria o que deseja, posto que quando decreta algo, diz: Seja! E é’” [12].
Uma
vez, no tempo em que, no sábado ao entardecer, eu explicava o Evangelho dominical
no programa da RAI “A Sua Immagine”, pedi que esta sura fosse
lida por um muçulmano, que se disse feliz em contribuir, desse modo, para
dissipar um equívoco que os prejudica, com o pretexto de favorecê-los. A
veneração com que o Alcorão recorda o nascimento de Jesus e o lugar que
a Virgem Maria ocupa nele teve, há alguns anos, um reconhecimento inesperado e
clamoroso. O Emir de Abu Dhabi decidiu dedicar a Mariam, Umm Eisa,
“Maria, Mãe de Jesus”, a belíssima mesquita do emirado, que antes portava o
nome do seu fundador, o Xeique Mohammad Bin Zayed.
Presépio da Praça de São Pedro 2023 (800 anos de Greccio) A imagem do Menino Jesus será deposta na Noite de Natal |
O
presépio é, portanto, uma tradição útil e bela, mas não podemos nos contentar
com os tradicionais presépios externos. Devemos montar para Jesus um presépio
diverso, um presépio do coração. “Corde creditur”: crê-se com o
coração. “Christum habitare per fidem in cordibus vestris”: que
Cristo venha habitar em vossos corações pela fé (Ef 3,17). Maria e o seu
esposo continuam, misticamente, a bater às portas, como fizeram naquela noite
em Belém. No Apocalipse, é o Ressuscitado em pessoa que diz: “Eis que
estou à porta e bato” (Ap 3,20). Abramos-lhe a porta do nosso coração.
Façamos dele um berço para o Menino Jesus. Que sinta, no frio do mundo, o calor
do nosso amor e da nossa infinita gratidão de redimidos!
Esta
não é uma bela e poética ficção; é o mais árduo projeto da vida. Em nosso
coração, de fato, há lugar para muitos hóspedes, mas apenas para um dono.
Deixar Jesus nascer significa deixar morrer o próprio “eu”, ou ao menos renovar
a decisão de não mais viver para nós mesmos, mas por Aquele que nasceu, morreu
e ressuscitou por nós (cf. Rm 14,7-9). “Onde nasce Deus, morre o homem”,
afirmou certo existencialismo ateísta. É verdade! Morre, porém, o homem velho,
corrompido e destinado, em todo caso, a terminar com a morte, e nasce o homem
novo, “criado em justiça e santidade da verdade” (Ef 4,24). É um projeto
que não terminará com o Natal, mas pode começar com ele.
Que
a Mãe de Deus, que “concebeu Cristo no seu coração antes que no seu corpo”, nos
ajude a realizar este propósito.
“Feliz
aniversário” a Jesus, e Feliz Natal a todos: Santo (e amado) Padre, Papa
Francisco, venerados Padres, irmãos e irmãs!
Notas:
[1] Agostinho, Discursos, 215,4.
[2] ibid., 72,7.
[3] ibid., 215,4.
[4] Pascal, Pensamentos, 277-278, ed. Brunschvicg.
[5] ibid., 430.
[6] ibid., 221.
[7] ibid., 233.
[8] Orígenes, Contra Celso, I, 26.28; VI, 10.
[9] Agostinho, Confissões, VII, 18,24.
[10] idem, Tratado sobre o Evangelho de João, 18,10.
[11] Tomás de Celano, Vita Prima, 84-86.
[12] Alcorão, Sura III, 45-47.
Fonte: Vatican News.
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