São Leão Magno
Sermão 92
De
acordo com o trabalho de cada um, tal será o seu lucro
Diz o Senhor: Se a vossa justiça não for maior que a
justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus.
Esta superioridade de nossa virtude há de consistir em que a misericórdia triunfe sobre o juízo. E, em verdade, o mais justo e
adequado é que a criatura, feita à imagem e semelhança de Deus, imite ao seu
Criador, que estabeleceu a reparação e a santificação dos crentes no perdão dos
pecados, prescindindo da severidade do castigo e de qualquer suplício. Desta
forma faz com que de réus nos convertamos em inocentes e que a abolição do
pecado em nós fosse a origem das virtudes.
A virtude cristã
pode superar a dos escribas e fariseus não pela supressão da Lei, mas por não
entendê-la em um sentido material (não espiritual). Por isto, o Senhor, ao
ensinar aos seus discípulos a maneira de jejuar, disse-lhes: Quando jejuardes, não andeis cabisbaixos,
como os hipócritas, que desfiguram o seu rosto para mostrar que jejuam.
Asseguro-vos, já receberam a sua recompensa. Que recompensa, senão a
recompensa do louvor dos homens? Pelo desejo deste louvor se exibe muitas vezes
uma aparência de virtude e se ambiciona uma fama traiçoeira, sem nenhum
interesse pela retidão interior; assim, aquilo que não é mais do que maldade
escondida se compraz na falsa apreciação dos homens.
Aquele que ama a
Deus se contenta em lhe agradar, porque o maior prêmio que podemos desejar é o
próprio amor. O amor, de fato, vem de Deus, de tal maneira que Deus mesmo é o
amor. A alma piedosa e íntegra busca n’Ele a sua plenitude e não deseja outo
deleite. Porque é uma grande verdade aquilo que diz o Senhor: Onde está o teu tesouro, ali está o teu
coração. O tesouro do homem vem a ser como a reunião dos frutos recolhidos
com o seu esforço. O que alguém semeia,
isso mesmo colherá, e qual seja o trabalho de cada um, tal será o seu
lucro; e onde o coração colocar o seu deleite, ali fica reduzia a sua
solicitude. Mas assim como há muitos tipos de riquezas e diversos objetos de
prazer, o tesouro de cada um vem determinado pela tendência de seu desejo, e se
este desejo se limita aos bens terrenos, não encontrará neles a felicidade, mas
a infelicidade.
Mas aqueles que
colocam o seu coração nas coisas do céu, não nas da terra, e sua atenção nas
coisas eternas, não nas efêmeras, alcançarão uma riqueza incorruptível e
escondida, aquela à qual o profeta se refere quando diz: A sabedoria e o conhecimento serão o seu refúgio salvador, o temor do
Senhor será o seu tesouro. Esta sabedoria divina faz que, com o auxílio de
Deus, os próprios bens materiais se convertam em celestiais, quando muitos
convertem as suas riquezas, seja legalmente herdadas ou adquiridas de outro
modo, em instrumentos de bondade.
Os que repartem
o que lhes sobra para sustento dos pobres ganham com isso uma riqueza que não
perece; aquilo que deram em esmolas não é de forma alguma um desperdício; estes
podem em justiça ter o seu coração onde está o seu tesouro, já que tiveram o
acerto de negociar com suas riquezas sem temor de perdê-las.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
137-139. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
Confira também uma homilia de São Doroteu de Gaza para este domingo clicando aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário