São Basílio Magno
Sermão sobre o jejum
Corre
com alegria ao dom do jejum
Perfuma a cabeça e lava o rosto. Estas
palavras da santa Escritura chamam tua atenção a um sentido misterioso. Aquele
que foi ungido, ungiu; e o que foi lavado, lavou. Translada este preceito ao
teu interior. Lava tua alma das repugnantes manchas do pecado; unge tua cabeça
com o perfume da santidade para que acompanhes a Cristo, e com esta disposição
inicie o jejum. Não mudes o tom de teu rosto como fazem os hipócritas; e fique
sabendo que a cor de teu rosto se muda quando o afeito interior cobre-se por um
hábito exterior simulado, e se cobre com a mentira como com um véu espesso.
O hipócrita vem
a ser como um cômico que representa outras pessoas: algumas vezes representa
ser um senhor, quando não é mais que um vil criado; outras de ser um rei
poderoso, não passando de um desprezível servo. De tal forma que na vida
presente, como em uma farsa, muitos passam por uma representação aparente de
teatro, porque ocultam uma coisa em seu coração e manifestam outra em seu
semblante. Por isso, não mudes o teu rosto; apresenta-te como és na realidade,
e não te desfigure em um exterior triste e melancólico, colocando toda a tua
glória em que te considerem um homem sóbrio e comedido.
A verdade é que
aquela prática não deixa nada de útil, porque se revelou como trombeta; nem se
tira fruto algum daquele jejum, porque se faz apenas para pública ostentação.
Aquelas obras que geram reputação entre os homens de nada servem para o século
vindouro, porque terminam com a recomendação e louvor dos outros homens.
Portanto, corre com alegria ao dom do jejum. O jejum é um dom, que, apesar de
ser muito antigo, nem se deteriora, nem envelhece, mas sempre rejuvenesce com
um vigor perpétuo e contínuo.
Pensas que eu
conto a antiguidade do jejum desde que a lei começou? Pois saiba que o jejum é
ainda mais antigo que ela. Pensas um pouco, e verás que é verdade o que te
digo... O jejum não é nenhuma invenção nova, mas um tesouro que nos guardaram
os antigos, e deles chegou até nós. Tudo aquilo que possui em si a recomendação
da antiguidade, ao mesmo tempo é digno de veneração. Venera, pois, e reverencia
as cinzas e a antiguidade do jejum. Ele é tão antigo quanto o primeiro homem,
porque no paraíso o jejum foi promulgado.
O primeiro
preceito que teve Adão foi este: Da
árvore da ciência do bem e do mal não comereis. Estas palavras, não comereis, expressam uma rigorosa lei
de jejum e de abstinência. Se Eva houvesse observado o jejum da árvore, não
teríamos necessidade do jejum atual, porque os
sãos não necessitam de médico, mas os enfermos. Pelo pecado todos fomos
feridos: esforcemo-nos, portanto, pela penitência. Porém, é penitência vã e
infrutuosa a que não vai acompanhada pelo jejum. A terra maldita não produzirá senão espinhos e abrolhos. Está
ordenado que vivas em penitência, e que não te entregues às delícias. Satisfaz,
pois, a Deus com o jejum.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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