segunda-feira, 17 de março de 2025

Catequeses do Papa Francisco: Vícios e virtudes 7

Prosseguindo com a postagem das Catequeses do Papa Francisco sobre os vícios e as virtudes nesta Quaresma do Ano Jubilar de 2025, confira suas meditações sobre a paciência (proferida durante a Semana Santa) e sobre a justiça, segunda das virtudes cardeais:

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 27 de março de 2024
Os vícios e as virtudes: A paciência

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
No domingo passado ouvimos a narração da Paixão do Senhor. Aos sofrimentos que padece, Jesus responde com uma virtude que, embora não esteja contemplada entre as tradicionais, é muito importante: a virtude da paciência. Trata-se de suportar o sofremos: não é por acaso que paciência tem a mesma raiz de paixão. E é precisamente na Paixão que sobressai a paciência de Cristo, que com mansidão e docilidade aceita ser preso, esbofeteado e condenado injustamente; diante de Pilatos não recrimina; suporta os insultos, os escarros e a flagelação dos soldados; suporta o peso da cruz; perdoa aqueles que o pregam no madeiro e, na cruz, não responde às provocações, mas oferece misericórdia. Esta é a paciência de Jesus! Tudo isto nos diz que a paciência de Jesus não consiste em uma resistência estoica ao sofrimento, mas é o fruto de um amor maior.

Cristo, o Bom Pastor, rodeado por virtudes
(Catedral de Dublin, Irlanda)

O Apóstolo Paulo, no chamado “hino à caridade” (cf. 1Cor 13,4-7), une estreitamente amor e paciência. Com efeito, descrevendo a primeira qualidade da caridade, recorre a uma palavra que se traduz por “magnânima”, “paciente”. A caridade é magnânima, é paciente. Ela exprime um conceito surpreendente, que aparece muitas vezes na Bíblia: Deus, perante a nossa infidelidade, mostra-se «lento para a ira» (cf. Ex 34,6; Nm 14,18): em vez de desabafar o seu desgosto pelo mal e pelo pecado do homem, revela-se maior, sempre pronto a recomeçar com uma paciência infinita. Este é, para Paulo, o primeiro traço do amor de Deus que, perante o pecado, propõe o perdão. Mas não só: é o primeiro traço de todo o grande amor, que sabe responder ao mal com o bem, que não se fecha na ira nem no desânimo, mas persevera e relança. A paciência que recomeça! Por isso, na raiz da paciência está o amor, como diz Santo Agostinho: «Uma pessoa é tanto mais forte ao suportar qualquer mal quanto maior for o amor de Deus nela» (De patientia, XVII).

Poderíamos dizer então que não há melhor testemunho do amor de Jesus do que encontrar um cristão paciente. Mas pensemos também em quantos pais e mães, trabalhadores, médicos e enfermeiros, doentes, que todos os dias, no escondimento, agraciam o mundo com uma santa paciência! Como afirma a Escritura, «é melhor a paciência do que a força de um herói» (Pr 16,32). No entanto, devemos ser honestos: muitas vezes falta-nos a paciência. No dia a dia todos somos impacientes. Precisamos dela como da “vitamina essencial” para ir em frente, mas impacientamo-nos instintivamente e respondemos o mal com o mal: é difícil manter a calma, controlar os instintos, conter as más respostas, desarmar disputas e conflitos em família, no trabalho ou na comunidade cristã. A resposta chega imediatamente, não somos capazes de ser pacientes.

Recordemos, porém, que a paciência não é apenas uma necessidade, é uma vocação: se Cristo é paciente, o cristão é chamado a ser paciente. E isto nos faz ir contra a corrente em relação à mentalidade generalizada de hoje, na qual dominam a pressa e o “tudo já”; na qual, em vez de esperar que as situações amadureçam, pressionam-se as pessoas, esperando que mudem instantaneamente. Não esqueçamos que a pressa e a impaciência são inimigas da vida espiritual. Por quê? Deus é amor, e quem ama não se cansa, não é irascível, não impõe ultimatos; Deus é paciente, Deus sabe esperar. Pensemos na história do Pai misericordioso, que espera o filho que saiu de casa: sofre com paciência, impaciente para abraçá-lo assim que o vê regressar (cf. Lc 15,21); ou pensemos na parábola do joio e do trigo, com o Senhor que não tem pressa em extirpar o mal antes do tempo, para que nada se perca (cf. Mt 13,29-30). A paciência faz-nos salvar tudo!

Mas, irmãos e irmãs, como fazer para aumentar a paciência? Sendo ela, como ensina São Paulo, um fruto do Espírito Santo (cf. Gl 5,22), deve ser pedida precisamente ao Espírito de Cristo. Ele concede-nos a força mansa da paciência - a paciência é uma força mansa - porque «é próprio da virtude cristã não só praticar o bem, mas também saber suportar os males» (Santo Agostinho, Discursos, 46, 13). Sobretudo nestes dias, nos fará bem contemplar o Crucificado para assimilar a sua paciência. Um bom exercício é também levar-lhe as pessoas mais inoportunas, pedindo-lhe a graça de pôr em prática em relação a elas aquela obra de misericórdia tão conhecida e tão descuidada: suportar pacientemente as pessoas inoportunas. E não é fácil! Pensemos se agimos assim: suportar pacientemente as pessoas inoportunas. Comecemos pedindo para considerá-las com compaixão, com o olhar de Deus, sabendo distinguir os seus rostos dos seus erros. Temos o hábito de catalogar as pessoas pelos erros que cometem. Não, isto não é bom. Procuremos as pessoas pelos seus rostos, pelos seus corações, não pelos seus erros!

Concluindo, para cultivar a paciência, virtude que dá alento à vida, é bom ampliar o olhar. Por exemplo, não limitando o campo do mundo aos nossos problemas, como nos convida a fazer a Imitação de Cristo: «Deveis, pois, lembrar-vos dos sofrimentos mais graves dos outros, para aprender a suportar os vossos, pequenos», lembrando que «não existe coisa alguma, por menor que seja, contanto que a suportemos por amor a Deus, que passe sem recompensa diante de Deus» (Imitação de Cristo III, 19). E ainda, quando nos sentimos nas amarras da provação, como ensina Jó, é bom abrir-nos com esperança à novidade de Deus, na firme confiança de que Ele não deixa que as nossas expectativas sejam desiludidas. Paciência significa saber suportar os males.

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 03 de abril de 2024
Os vícios e as virtudes (13): A justiça

Prezados irmãos e irmãs, feliz Páscoa e bom dia!
Eis-nos na segunda virtude cardeal: hoje falaremos da justiça. É a virtude social por excelência. O Catecismo da Igreja Católica define-a assim: «A virtude moral que consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido» (n. 1807). Eis em que consiste a justiça. Muitas vezes, quando se fala de justiça, cita-se também o lema que a representa: “unicuique suum”, ou seja, “a cada um o que é seu”. É a virtude do direito, que procura regular com equidade as relações entre as pessoas.

É representada alegoricamente pela balança, dado que se propõe “acertar as contas” entre os homens, sobretudo quando elas correm o risco de ser falsificadas por algum desequilíbrio. A sua finalidade é que, em uma sociedade, cada um seja tratado de acordo com a própria dignidade. Mas já os antigos mestres ensinavam que para isto são necessárias também outras atitudes virtuosas, como a benevolência, o respeito, a gratidão, a afabilidade e a honestidade: virtudes que contribuem para a boa convivência entre as pessoas. A justiça é uma virtude para a boa convivência entre as pessoas.

Todos nós compreendemos que a justiça é fundamental para a convivência pacífica na sociedade: um mundo sem leis que respeitem os direitos seria um mundo no qual é impossível viver; seria semelhante a uma selva. Sem justiça não há paz. Sem justiça não há paz. Com efeito, se a justiça não for respeitada, geram-se conflitos. Sem justiça, consagra-se a lei da prevaricação do forte sobre os fracos, e isto não é justo!

Mas a justiça é uma virtude que age tanto no grande como no pequeno: não diz respeito apenas às salas dos tribunais, mas também à ética que distingue a nossa vida diária. Estabelece relações sinceras com os outros: atua o preceito do Evangelho, segundo o qual o falar cristão deve ser “Sim, sim”, “Não, não” - o resto vem do Maligno (Mt 5,37). As meias-verdades, os discursos subjetivos que procuram enganar o próximo, as reticências que ocultam as verdadeiras intenções não são atitudes conformes com a justiça. O homem justo é reto, simples e direto, não usa máscaras, apresenta-se como é, diz a verdade. A palavra “obrigado” está frequentemente nos seus lábios: sabe que, por mais que nos esforcemos por ser generosos, somos sempre devedores para com o próximo. Se amamos é também porque primeiro fomos amados.

Na tradição podem ser encontradas inúmeras descrições do homem justo. Vejamos algumas. O homem justo tem veneração pelas leis e as respeita, consciente de que elas constituem uma barreira que protege os indefesos da prepotência dos poderosos. O homem justo não se preocupa apenas com o seu bem-estar individual, mas deseja o bem de toda a sociedade. Por isso, não cede à tentação de pensar só em si mesmo e de cuidar dos próprios assuntos, por mais legítimos que sejam, como se fossem a única coisa que existe no mundo. A virtude da justiça torna evidente - e coloca a exigência no coração - que para mim não pode haver verdadeiro bem se não houver também o bem de todos.

Por isso, o homem justo vela sobre o próprio comportamento para não lesar os outros: quando erra, pede desculpas. O homem justo pede sempre perdão. Em certas situações chega a sacrificar um bem pessoal para colocá-lo à disposição da comunidade. Deseja uma sociedade ordenada, onde sejam as pessoas a dar brilho aos cargos, não os cargos a dar brilho às pessoas. Abomina as preferências e não troca favores. Ama a responsabilidade e é exemplar na vida e na promoção da legalidade. Com efeito, ela é o caminho para a justiça, o antídoto contra a corrupção: como é importante educar as pessoas, especialmente os jovens, na cultura da legalidade! É o caminho para prevenir o cancro da corrupção e para debelar a criminalidade, removendo o solo debaixo dos seus pés.

Além disso, o homem justo evita comportamentos nocivos como a calúnia, o falso testemunho, a fraude, a usura, a falsidade e a desonestidade. O homem justo mantém a palavra dada, devolve o que lhe foi emprestado, reconhece o salário correto a todos os operários - o homem que não reconhece o salário correto aos operários não é justo, é injusto -, tem o cuidado de não pronunciar juízos temerários em relação ao próximo, defende a reputação e o bom nome dos outros.

Nenhum de nós sabe se no nosso mundo os homens justos são numerosos ou raros como pérolas preciosas. Mas são homens que atraem a graça e as bênçãos, tanto para si como para o mundo em que vivem. Não são perdedores em comparação com aqueles “astutos e espertos”, porque, como diz a Escritura, «quem procura justiça e amor encontrará vida e glória» (Pr 21,21). Os justos não são moralistas que se revestem de censores, mas pessoas íntegras que «têm fome e sede de justiça» (Mt 5,6), sonhadores que acalentam no coração o desejo de uma fraternidade universal. E deste sonho, especialmente hoje, todos nós temos grande necessidade. Devemos ser homens e mulheres justos, e é isto que nos tornará felizes!

“A justiça e a paz se abraçarão” (Sl 84,11)
(Pompeo Batoni)

Fonte: Santa Sé (27 de março / 03 de abril).
 
Confira também uma Catequese do Papa São João Paulo II sobre a virtude da justiça. 

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