Concluindo a retrospectiva das homilias do Papa Bento XVI (†2022) na Semana Santa de 2011, trazemos aqui sua Mensagem Urbi et Orbi (À Cidade e ao Mundo) no Domingo de Páscoa:
Papa Bento XVI
Mensagem Urbi et Orbi de Páscoa
Sacada Central da Basílica Vaticana
Domingo, 24 de abril de 2011
«In Resurrectione tua, Christe, coeli et terra laetentur» - «Na vossa Ressurreição, ó Cristo, alegrem-se os céus e a terra» (Liturgia das Horas).
Amados irmãos e irmãs de Roma e do mundo inteiro!
A manhã de
Páscoa trouxe-nos este anúncio antigo e sempre novo: Cristo ressuscitou! O eco
deste acontecimento, que partiu de Jerusalém há vinte séculos, continua a
ressoar na Igreja, que traz viva no coração a fé vibrante de Maria, a Mãe de
Jesus, a fé de Madalena e das primeiras mulheres que viram o sepulcro vazio, a
fé de Pedro e dos outros Apóstolos.
Até hoje - mesmo
na nossa era de comunicações supertecnológicas - a fé dos cristãos se assenta
naquele anúncio, no testemunho daquelas irmãs e irmãos que viram, primeiro, a
pedra removida e o túmulo vazio e, depois, os misteriosos mensageiros que
atestavam que Jesus, o Crucificado, ressuscitara; em seguida, o Mestre e Senhor
em pessoa, vivo e palpável, apareceu a Maria Madalena, aos dois discípulos de
Emaús e, finalmente, aos onze, reunidos no Cenáculo (cf. Mc 16,9-14).
A Ressurreição
de Cristo não é fruto de uma especulação, de uma experiência mística: é um
acontecimento, que ultrapassa certamente a história, mas verifica-se em um
momento concreto da história e deixa nela uma marca indelével. A luz, que
encandeou os guardas de sentinela ao sepulcro de Jesus, atravessou o tempo e o
espaço. É uma luz diferente, divina, que fendeu as trevas da morte e trouxe ao
mundo o esplendor de Deus, o esplendor da Verdade e do Bem.
Tal como os
raios do sol, na primavera, fazem brotar e desabrochar os rebentos nos ramos
das árvores, assim também a irradiação que emana da Ressurreição de Cristo dá
força e significado a cada esperança humana, a cada expectativa, desejo,
projeto. Por isso, hoje, o universo inteiro se alegra, implicado na primavera
da humanidade, que se faz intérprete do tácito hino de louvor da criação. O
aleluia pascal, que ressoa na Igreja peregrina no mundo, exprime a exultação
silenciosa do universo e sobretudo o anseio de cada alma humana aberta
sinceramente a Deus, mais ainda, agradecida pela sua infinita bondade, beleza e
verdade.
«Na vossa Ressurreição,
ó Cristo, alegrem-se os céus e a terra». A este convite ao louvor, que hoje se
eleva do coração da Igreja, os «céus» respondem plenamente: as multidões dos
anjos, dos santos e dos beatos unem-se unânimes à nossa exultação. No céu, tudo
é paz e alegria. Mas, infelizmente, não é assim sobre a terra! Aqui, neste
nosso mundo, o aleluia pascal contrasta ainda com os lamentos e gritos que
provêm de tantas situações dolorosas: miséria, fome, doenças, guerras,
violências. E todavia foi por isto mesmo que Cristo morreu e ressuscitou! Ele
morreu também por causa dos nossos pecados de hoje, e também para a redenção da
nossa história de hoje Ele ressuscitou. Por isso, esta minha mensagem quer
chegar a todos e, como anúncio profético, sobretudo aos povos e às comunidades
que estão sofrendo uma hora de paixão, para que Cristo Ressuscitado lhes abra o
caminho da liberdade, da justiça e da paz.
Possa alegrar-se
aquela Terra Santa que, primeiro, foi inundada pela luz do Ressuscitado. O
fulgor de Cristo chegue também aos povos do Oriente Médio para que a luz da paz
e da dignidade humana vença as trevas da divisão, do ódio e das violências. Na
Líbia, que as armas cedam o lugar à diplomacia e ao diálogo e se favoreça, na
situação atual de conflito, o acesso das ajudas humanitárias a quantos sofrem
as consequências da luta. Nos países do Norte da África e do Oriente Médio que
todos os cidadãos - e de modo particular os jovens - se esforcem por promover o
bem comum e construir um sociedade onde a pobreza seja vencida e cada decisão
política seja inspirada pelo respeito da pessoa humana. A tantos prófugos e refugiados
que provêm de diversos países africanos e se vêm forçados a deixar os afetos
dos seus entes mais queridos chegue a solidariedade de todos; os homens de boa
vontade sintam-se inspirados a abrir o coração ao acolhimento, para que se
torne possível, de maneira solidária e concorde, acudir às necessidades
prementes de tantos irmãos; a quantos se prodigalizam com generosos esforços e
dão exemplares testemunhos nesta linha chegue o nosso conforto e apreço.
Possa
recompor-se a convivência civil entre as populações da Costa do Marfim, onde é
urgente empreender um caminho de reconciliação e perdão, para curar as feridas
profundas causadas pelas recentes violências. Possa encontrar consolação e
esperança a terra do Japão, enquanto enfrenta as dramáticas consequências do
recente terremoto, e os demais países que, nos meses passados, foram provados
por calamidades naturais que semearam sofrimento e angústia.
Alegrem-se os
céus e a terra pelo testemunho de quantos sofrem contrariedades ou mesmo
perseguições pela sua fé no Senhor Jesus. O anúncio da sua Ressurreição
vitoriosa neles infunda coragem e confiança.
Queridos irmãos
e irmãs! Cristo Ressuscitado caminha à nossa frente para os novos céus e a nova
terra (cf. Ap 21,1), onde finalmente viveremos todos como uma única
família, filhos do mesmo Pai. Ele está conosco até ao fim dos tempos. Sigamos
as suas pegadas, neste mundo ferido, cantando o aleluia. No nosso coração, há
alegria e sofrimento; na nossa face, sorrisos e lágrimas. A nossa realidade
terrena é assim. Mas Cristo ressuscitou, está vivo e caminha conosco. Por isso,
cantamos e caminhamos, fiéis ao nosso compromisso neste mundo, com o olhar
voltado para o céu.
Boa Páscoa a
todos!
Fonte: Santa Sé.
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