No dia 11 de novembro de 2023 o Papa Francisco proferiu um discurso no II Encontro Internacional de Reitores e Agentes Pastorais de Santuários, encontro promovido pelo Dicastério para a Evangelização (Seção para as questões fundamentais da evangelização no mundo) em preparação ao Jubileu de 2025.
Papa Francisco
Discurso aos participantes do II Encontro Internacional de Reitores e Agentes Pastorais de Santuários
Sala Paulo VI
Sábado, 11 de novembro de 2023
Caros amigos, bom dia!
Eu vos acolho por
ocasião do vosso II Encontro Internacional, porque conheceis bem minha atenção pela
vida dos Santuários. Agradeço a Dom Rino Fisichella por esta iniciativa e pelo
empenho do Dicastério na pastoral dos Santuários. São lugares especiais, onde o
santo povo fiel de Deus acorre para rezar, para ser consolado e para olhar com
maior confiança para o futuro.
Vamos ao Santuário,
antes de tudo, para rezar. Da nossa parte é necessário que permaneça sempre
viva a preocupação de que os nossos Santuários sejam realmente lugares
privilegiados de oração. Sei com quanto cuidado se celebra ali a santa
Eucaristia e quanto empenho é dedicado ao Sacramento da Reconciliação.
Recomendo-vos que haja um bom discernimento na escolha dos sacerdotes para as
Confissões, para que quem se apresenta ao confessionário atraído pela
misericórdia do Pai não encontre obstáculos para viver uma plena reconciliação.
O Sacramento da Reconciliação é perdoar, sempre, perdoar. Não pode acontecer,
especialmente nos Santuários, que se encontrem obstáculos, porque nesse Sacramento,
por sua própria natureza, a misericórdia de Deus pede ser expressa de modo
superabundante. Assim justamente o percebem os fiéis: como lugar especial onde
encontrar a graça de Deus. Perdoai sempre como perdoa o Pai. Perdoar.
Na história de todo Santuário é fácil tocar com a mão a fé
do nosso povo fiel, que se mantém viva e alimentada com a oração, em primeiro lugar
o Rosário, que ajuda a rezar através da meditação dos mistérios da vida de
Jesus e da Virgem Maria. Entrar espiritualmente nesses mistérios, sentindo-se
parte viva de tudo o que constitui nossa história da salvação, é um empenho
doce, que dá sabor de Evangelho à vida quotidiana.
É importante que nos Santuários se dedique particular
atenção à adoração. Nós perdemos um pouco o senso da adoração, devemos recuperá-lo.
Talvez devamos reconhecer que o ambiente e a atmosfera das nossas igrejas nem
sempre convida ao recolhimento e à adoração. Favorecer nos peregrinos a experiência
do silêncio contemplativo - e não é fácil -, do silêncio adorador, significa ajudá-los
a fixar o olhar no essencial da fé. A adoração não é um afastar-se da vida;
antes, é o espaço para dar sentido a tudo, para receber o dom do amor de Deus para
poder testemunhá-lo na caridade fraterna. Nós devemos nos questionar: “E eu, sou
habituado à oração de adoração?”. É importante responder.
Vamos ao Santuário também para ser consolados. O
mistério da consolação. Quantas pessoas vêm porque carregam no espírito e no
corpo um fardo, uma dor, uma preocupação! A doença de uma pessoa amada, a perda
de um familiar, tantas situações da vida são muitas vezes causa de solidão e de
tristeza, que são depositadas no altar e esperam uma resposta. A consolação não
é uma ideia abstrata, nem é feita antes de tudo de palavras, mas de uma
proximidade compassiva e terna, que compreende a dor e o sofrimento. Este é o
estilo de Deus: próximo, compassivo e terno. Assim é o Senhor. Consolar equivale
a tornar tangível a misericórdia de Deus; por isso o serviço da consolação não
pode faltar em nossos Santuários. Os responsáveis pelo Santuário devem fazer
suas as palavras do Apóstolo: «Ele nos consola em todas as nossas aflições,
para que, com a consolação que nós mesmos recebemos de Deus, possamos consolar
os que se acham em toda e qualquer aflição» (2Cor 1,4). Uma, duas,
três, quatro vezes em duas linhas a palavra consolação ou consolar:
é denso este texto de Paulo. Posso ser sinal eficaz de consolação na medida em
que experimentei em primeira pessoa o ser consolado pelo sofrimento salvífico
de Jesus e n’Ele encontrei refúgio. Não esqueçais. Na nossa história, cada um
de nós há momentos difíceis, ruins, nos quais o Senhor nos consolou. Não
esqueçais isso. Recordar a própria experiência de consolação nos ajudará a consolar
os outros. E essa experiência passa através da maternidade de Maria, a “Consoladora”
por excelência. Que nos nossos Santuários superabundem a consolação e a
misericórdia!
Por fim, vamos ao Santuário para olhar para o futuro com
maior confiança. O peregrino tem necessidade de esperança. Ele a busca no
próprio gesto da peregrinação: põe-se a caminho em busca de uma meta segura a ser
atingida. Pede esperança com a sua oração, porque sabe que só uma fé simples e
humilde pode obter a graça que necessita. Por isso é importante que, retornando
para casa, se sinta saciado e cheio de serenidade porque depositou em Deus a
sua confiança. Nos nossos Santuários se dá muita atenção à acolhida - por favor,
não esqueçais disso: acolher bem os peregrinos -, e é justo que seja assim. Ao
mesmo tempo, porém, é preciso prestar o mesmo cuidado pastoral no momento em
que os peregrinos deixam o Santuário para retornar à sua vida quotidiana: que
recebam palavras e sinais de esperança, de modo que a peregrinação realizada alcance
seu pleno significado.
Eu quis que o próximo ano, em preparação ao Jubileu de 2025,
fosse inteiramente dedicado à oração. Em breve serão publicados os Subsídios,
que poderão ajudar a redescobrir a centralidade da oração. Eu os recomendo:
serão uma boa leitura, que estimulará a rezar com simplicidade e segundo o
coração de Cristo. Renovemos todos os dias a alegria e o empenho de sermos homens
e mulheres de oração. Oração do coração, não como papagaios. Não. Do coração.
Que as palavras ditas venham do coração. Vós, nos Santuários, o fareis de acordo
com a espiritualidade típica que os caracteriza.
De todos os Santuários se eleve um canto de ação de graças
ao Senhor pelas maravilhas que Ele realiza também em nossos dias. E se implore
a intercessão da Mãe de Deus para que, nesse tempo tão conturbado, tantos
irmãos e irmãs nossos que sofrem possam reencontrar a paz e a esperança.
Eu vos acompanho com a minha bênção. E vos peço, por favor,
nos vossos Santuários, que lembreis de rezar também por mim. Obrigado.
Tradução nossa do original italiano. Fonte: Santa Sé.
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