Recentemente destacamos aqui em nosso blog cinco trabalhos acadêmicos sobre Liturgia defendidos durante o ano de 2022 na Universidade
Católica Portuguesa (UCP), instituição fundada em 1967 com sedes em Lisboa,
Braga, Porto e Viseu.
Nesta postagem gostaríamos de dar continuidade à proposta de
maneira “retrospectiva”, destacando cinco Dissertações de Mestrado sobre
Liturgia, Sacramentos e arte sacra defendidas nessa Universidade lusitana nos anos de 2020 e 2021.
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Seguem os resumos dos trabalhos, que podem ser acessados na
íntegra no site da UCP, conforme os links a seguir:
O Altar: Que lugar, que presença? - Espacialidade
litúrgica e renovação eclesial pós-conciliar
Autor:
Carlos Alexandre Alves Pinto
Orientador:
Paulo Fernando de Oliveira Fontes
Dissertação
de Mestrado (2020), 204 páginas
O
presente trabalho procura investigar o lugar e presença do Altar no espaço
litúrgico e o seu papel na comunidade crente, sob o processo da renovação
eclesial pós-conciliar. Tal objetivo implica uma (re)leitura das etapas do Movimento
Litúrgico pré-conciliar, dos documentos conciliares e papais, bem como do
próprio ritual da dedicação do Altar. Verificamos a necessidade de uma
renovação no modo de fazer a Liturgia de então. É na práxis litúrgica que nos
deparamos com o mistério que no Altar se realiza - Cristo morto e ressuscitado.
Neste processo, pudemos redescobrir a necessidade de compreender a dimensão
simbólica e sacral das realidades que compõem a Liturgia. Reconhecendo a
renovação eclesiológica - Igreja, Corpo Místico de Cristo, Povo de Deus,
Sacramento de Salvação, Comunhão - percebemos a necessidade de aproximar a
gestualidade litúrgico-simbólica da comunidade crente. Partindo daqui,
compreendemos o convite conciliar a uma nobre simplicidade no modo de fazer e
agir em Igreja e no espaço igreja. Este indicativo, ampliado além das artes,
manifesta um caminho da procura da verdade, onde a ação litúrgica e vida do
homem tocam a presença de Deus. Esta linha de investigação está plasmada na
primeira do presente trabalho.
Na
segunda parte, fomos conduzidos por um conjunto de três autores: Romano
Guardini, Frédéric Debuyst e Jean-Yves Hameline. A partir dos seus textos sobre
o Altar, colocamos no centro da reflexão a nossa questão - O Altar: que lugar,
que presença? Neles encontramos a intuição da necessidade de um caminho
antropológico ritual. De fato, a experiência fenomenológica conduz a uma
compreensão de que o espaço arquitetônico-artístico-litúrgico não pode ser
compreendido como um conjunto de normas, mas deve permitir introduzir-nos no
Mistério Pascal de Cristo. Ele é a verdadeira arquitetura do espaço litúrgico.
Com estes autores aprendemos a olhar o Altar, a Liturgia, sob outro prisma. A
ele só se acede se estiver sedimentado o caminho feito pela Igreja e pela
Tradição. Com estes autores somos postos diante das realidades simbólicas que o
Altar deverá condensar pela sua forma e posicionamento espacial no quadro da Liturgia
católica.
A
terceira parte integra dois momentos. A construção de uma gramática de leitura
com base no percurso feito e a aplicação da mesma a três casos de estudo. O
primeiro momento procura construir um instrumento que permita focar a nossa
atenção naquilo que não deve ser descurado ao pensar-se e analisar-se o Altar.
A gramática é composta por dois ramos: função e forma. Com eles o nosso olhar
foca-se nas questões da funcionalidade litúrgica, na sua carga simbólica e, por
outro lado, na forma do Altar. Esta concentra a nossa atenção nas realidades
mais formais resultantes do entendimento teológico-litúrgico que o Altar é e
contém, remetendo para os parâmetros mencionados: linguagem, escala, proporção
e orientação. O segundo momento revela-se como um exercício prático aplicando a
gramática de leitura a três casos de igrejas existentes na Diocese de Lisboa.
Cada uma apresenta aspectos da procura da verdade entre arquitetura e renovação
eclesial e litúrgica. São todas igrejas matrizes, pois quisemos focar a nossa
observação de altares em contexto de comunidade paroquial. Correndo o risco de
melhores exemplos terem ficado de fora, julgamos que estes exemplos manifestam
a vontade eclesial de construir com e para o homem do seu tempo. Cada um destes
espaços revela a seu modo a experiência do Altar como lugar de encontro e da
presença do Deus que se faz presente. A resposta à presença e lugar acontece
quando o crente acolhe o Mistério Pascal. Na expressão de São Cirilo de
Alexandria, o Altar é Cristo, é uma pessoa. Ele tem uma história, uma vida, um
desejo. Na medida em que o crente se deixar tocar pelo mistério que no Altar
tem lugar, compreenderá qual a verdadeira presença e lugar que este objeto
deverá permitir manifestar.
A beleza e o ícone como mistagogia no pensamento de Paul
Evdokimov
Autor:
Vicente Sacramento de Sousa Coelho
Orientador:
António Manuel Alves Martins
Dissertação
de Mestrado (2020), 89 páginas
A
beleza e o ícone são brechas que abrem para o mistério, para o infinito e,
acima de tudo, para o eterno. É nesta dinâmica que abordamos o tema da beleza e
do ícone como mistagogia no pensamento de Paul Evdokimov. Ao longo da obra El
arte del Icono: Teología de la beleza, Evdokimov procura reavivar no
pensamento dos nossos contemporâneos a ideia de que a beleza da criação, do homem
e da arte têm a sua origem em Deus, que é a fonte de todas as belezas. No
primeiro capítulo apresentamos uma curta introdução à teologia da beleza de
Paul Evdokimov; no segundo capítulo, analisamos a teologia e a espiritualidade
do ícone na visão de Paul Evdokimov e no terceiro capítulo abordamos a
iconografia como catequese mistagógica. Assim sendo, a nossa reflexão sobre
estas questões conclui que a beleza e o ícone são lugares da epifania, ou seja,
lugares onde podemos encontrar Deus. Por meio da matéria veneramos e adoramos o
Criador. O mistério da Encarnação confirma que a matéria é um lugar teofânico.
Em suma, evidenciamos ao longo do texto que a beleza e o ícone são autênticas
mistagogias que nos aproximam do Mistério que é Belo, Bom e Verdadeiro
Capítulos:
1.
Introdução à teologia da beleza de Paul Evdokimov
2.
Teologia e espiritualidade do ícone em Paul Evdokimov
3.
Iconografia como catequese mistagógica
Anúncio e memória da Ressurreição: O lugar da proclamação
da Palavra de Deus - Iconografia e iconologia
Autor:
Hugo Joel Pereira Cunha
Orientador:
Bernardino Ferreira da Costa
Dissertação
de Mestrado (2021), 110 páginas
A
Palavra de Deus é parte integrante da vida da Igreja. Nas celebrações
litúrgicas, o seu anúncio foi se revestindo de uma dignidade própria, que se
reflete nos ritos, principalmente na proclamação do Evangelho, e no lugar da sua
proclamação, o ambão. Com a valorização da pregação e a exaltação da presença
real de Cristo nas espécies eucarísticas, esta parte da Eucaristia foi perdendo
a sua importância, levando ao progressivo desaparecimento do ambão. Graças ao
Movimento Litúrgico, haverá uma maior percepção da importância da Liturgia da
Palavra, abrindo caminho para a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II. Esta
reforma repôs a Liturgia da Palavra como uma das partes indispensáveis da
celebração da Eucaristia, formando um único ato de culto com a Liturgia
Eucarística. A reforma do Lecionário permitiu oferecer aos fiéis os tesouros da
Bíblia de forma mais abundante. Este contexto contribuiu para o ressurgimento e
redescoberta do ambão, não apenas como lugar funcional, mas como verdadeiro
polo do espaço litúrgico, o lugar do anúncio da Ressurreição. Por isso mesmo,
apresenta um valor simbólico e uma iconografia e iconologia pascal que nos
“fala” para lá das celebrações litúrgicas.
Capítulos:
1.
O espaço e os ritos da Liturgia da Palavra: Configurações históricas
2.
O ressurgimento do ambão na reforma litúrgica
3.
O lugar da Ressurreição de Cristo: Iconografia e iconologia do ambão
O De Sacerdotio de João Crisóstomo: Cenário in
nuce para os tria munera e suas concretizações no Magistério desde o
Concílio Vaticano II
Autor:
José Emanuel Rodrigues Félix Milheiro Amorim
Orientador:
Alexandre Freire Duarte
Dissertação
de Mestrado (2021), 130 páginas
O
De Sacerdotio é uma das obras mais conhecidas e mais amplamente
difundidas de João Crisóstomo. Sendo redigida em finais do século IV,
representa um verdadeiro legado espiritual da antiguidade cristã. Escrito
provavelmente em Antioquia da Síria, o De Sacerdotio aborda, como o nome
indica, o sacerdócio ministerial ordenado. Nele encontra-se um autêntico elogio
ao sacerdócio cristão, pautado por belíssimas e riquíssimas imagens, quer
bíblicas quer do quotidiano. Assim, partindo da vida de João Crisóstomo e da
leitura e estudo do De Sacerdotio, este trabalho procura olhar o
ministério sacerdotal ordenado propondo um cenário embrionário para os tria
munera como tripé fundamental do exercício do ministério ordenado. Neste
sentido, e depois de serem destacados os três múnus crísticos no texto de João
Crisóstomo, são realçadas as suas concretizações no Magistério relacionado com
o sacerdócio ministerial desde Concílio Vaticano II.
Capítulos:
1.
João Crisóstomo: Monge, presbítero de Antioquia e Bispo de Constantinopla
2.
O De Sacerdotio: Um legado espiritual da Antiguidade cristã
3.
O tríplice múnus de Cristo: Concretizações no De Sacerdotio e em alguns
textos do Magistério
A adoração eucarística na renovação pastoral: Contributo
para uma nova evangelização paroquial
Autor:
Gonzalo Girón Palacios
Orientador:
Teresa de Jesus Rodrigues Marques de Sousa Messias
Dissertação
de Mestrado (2021), 110 páginas
Esta
dissertação tem como objetivo principal perceber de que forma a adoração
eucarística pode contribuir para uma renovação evangelizadora da Igreja no
mundo contemporâneo. Partimos, em primeiro lugar, da fé da Igreja na presença
real de Cristo nas espécies eucarísticas, tão antiga quanto a prática da Celebração
Eucarística, centrando-nos, de forma particular, na evolução histórica da
prática adoradora da Igreja. Depois, no segundo capítulo, veremos que unida a
esta prática adoradora, junta-se a necessidade de os cristãos imitarem Cristo
na sua entrega pelo mundo e, assim, nasce o conceito de retribuição - redamatio
- onde cada um consola o seu Senhor, unindo-se a Ele, e entregando-se com Ele
pela salvação do mundo. Por fim, percebemos como a adoração eucarística, unida
à redamatio, é uma força potente de renovação da oração cristã e do seu
apostolado de tal modo que, por todo o mundo, tem renovado a pastoral das
próprias paróquias, através da adoração perpétua.
Capítulos:
1.
Origens e história do culto eucarístico
2.
Origens da espiritualidade reparadora
3.
A renovação da Igreja a partir da adoração eucarística
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