sexta-feira, 17 de maio de 2024

Guia para as grandes celebrações

“Vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas” (Ap 7,9).

Daqui alguns dias celebraremos a Solenidade de Corpus Christi, na qual em muitos lugares se realizam grandes celebrações (por exemplo, a nível diocesano). Portanto, aproveitamos a ocasião para resgatar o “Guia para as grandes celebrações” publicado pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos há 10 anos, em junho de 2014.

A partir da experiência da Santa Sé com as celebrações presididas pelo Papa, tanto em Roma como em suas Viagens Apostólicas, além de outros grandes eventos (Jornadas Mundiais da Juventude, Encontros Mundiais das Famílias, Congressos Eucarísticos Internacionais...), o Guia traz sugestões práticas para as grandes celebrações, que podem ser aplicadas conforme as circunstâncias.

Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos
Guia para as grandes celebrações

A reflexão sobre a necessária atenção a se prestar às celebrações litúrgicas especiais nas quais, além de um elevado número de fiéis, há também muitos sacerdotes concelebrantes, tinha sido programada pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos na sequência da consideração sobre esse tema que emergiu no Sínodo dos Bispos de 2005 e que foi retomado no n. 61 da Exortação Apostólica Sacramentum Charitatis do Papa Bento XVI.
Ouvido o parecer de consultores e peritos, bem como de Organismos da Sé Apostólica implicados na matéria, publicou-se uma primeira contribuição sobre o assunto, intitulada “As grandes celebrações: Uma reflexão em curso” em Notitiae 43 (2007), pp. 535-542.

Missa de envio da Jornada Mundial da Juventude
(Rio de Janeiro - 2013)

A atenção ao tema prosseguiu, resultando na elaboração do presente “Guia para as grandes celebrações que se tornou público nas páginas de Notitiae. O texto, submetido em várias ocasiões ao exame dos Membros do Dicastério, obteve parecer positivo dos Padres na Reunião Ordinária de 22 de novembro de 2013 e recebeu o beneplácito do Papa Francisco na audiência concedida ao Cardeal Prefeito em 07 de junho de 2014.
Esta Congregação deseja que o Guia, no qual se recordam critérios, indicações e sugestões presentes nas normas vigentes, contribua de modo eficaz para a diligente preparação e frutuosa celebração dos santos mistérios em circunstâncias particulares, caracterizadas pelo elevado número de sacerdotes e fiéis leigos participantes.

Da Sede da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, 13 de junho de 2014, Memória de Santo Antônio, Presbítero e Doutor da Igreja.

Cardeal Antonio Cañizares Llovera, Prefeito
Dom Arthur Roche, Secretário

Introdução

Importância, problemática, responsabilidade

1. Contemplando a realidade que nos rodeia, com as suas luzes e sombras, vemos “a necessidade de redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo” (Bento XVI, Motu proprio Porta fidei, n. 2). E a Liturgia é o lugar privilegiado do encontro com Cristo, vivente na Igreja. Neste sentido, também as grandes celebrações assumiram um papel específico.

2. O Sínodo dos Bispos celebrado em outubro de 2005 fez emergir a questão das grandes concelebrações, caracterizadas pela participação de muitos sacerdotes e de numerosos fiéis [1]. A Exortação Apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis do Papa Bento XVI (22 de fevereiro de 2007), retomou esse tema, mostrando valores e limites (cf. n. 61).
O presente “Guia oferece indicações e sugestões para ajudar os Bispos a preparar e regular nas suas Dioceses as grandes celebrações, para que se tornem momentos de evangelização, testemunho missionário e experiência de Igreja.

Capítulo I: O cuidado da participação

3. O Concílio Vaticano II pôs uma particular ênfase na participação ativa, plena e frutuosa de todo o Povo de Deus na Liturgia (cf. Constituição Sacrosanctum Concilium, nn.14.30-32.48). Como é natural, também nas grandes celebrações deve ser considerada a qualidade da participação, a partir da maior consciência do mistério celebrado e da sua relação com a existência quotidiana (cf. Constituição Lumen Gentium, n. 10; Catecismo da Igreja Católica, n. 1142).
Da exigência da participação ativa “não se deduz necessariamente que todos devam realizar outras coisas, em sentido material, além dos gestos e posturas corporais, como se cada um tivera que assumir, necessariamente, uma tarefa litúrgica específica” (Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Instrução Redemptionis Sacramentum, n. 40). O objetivo a ser alcançado é que todos os que participam “formem um único corpo, seja ouvindo a Palavra de Deus, seja tomando parte nas orações e no canto ou, sobretudo, na oblação comum do sacrifício e na comum participação da mesa do Senhor” (Instrução Geral do Missal Romano [IGMR], n. 96). Tal objetivo é mais difícil de alcançar no caso de uma assembleia heterogênea, não habituada a orar em conjunto, reunida em um espaço não diretamente concebido para a celebração litúrgica, composta de um número tão elevado de pessoas que não favorece a relação direta com o altar, com o ambão e com quem preside, nem facilita as habituais posições rituais (sentar-se, ajoelhar-se, movimentos processionais).
Podem contribuir monições adaptadas, para favorecer a participação interior e exterior de todos e o correto desenvolvimento dos ritos (cf. IGMR, n. 31). No presente Guia é feita menção em particular de uma monição antes da Comunhão dos fiéis.

a) A preparação remota e próxima

4. As grandes celebrações produzem maior fruto espiritual e apostólico se são apresentadas como a coroação de um programa marcado por encontros preparatórios de caráter espiritual e catequético. Neste sentido, é de grande eficácia tanto a preparação feita com grande antecipação, por exemplo a nível paroquial, como aquela feita nos últimos dias. É também decisiva a preparação imediata à celebração, que pode incluir o ensaio dos cantos, a escuta de textos apropriados, momentos de silêncio e de oração, entre os quais invocações litânicas, o Rosário ou outros piedosos exercícios.

b) Uma comunidade orante

5. A primeira exigência para uma boa celebração é que tanto os ministros ordenados como os fiéis participem dela superando a tentação do anonimato e da dispersão, ocasionados com maior facilidade pelas grandes reuniões.
A presença de numerosos fiéis é um dom de Deus, a ser devidamente valorizado. No entanto, não pode ser reduzida a uma manifestação de massa, baseada em sinais puramente exteriores: a Liturgia tem como objetivo o envolvimento de todo o povo de Deus juntamente com o recolhimento espiritual e tem necessidade de atitudes do espirito e do corpo de acordo com a dignidade dos mistérios celebrados. Com efeito, “uma celebração sacramental é um encontro dos filhos de Deus com seu Pai, em Cristo e no Espirito Santo. Este encontro, mediante ações e de palavras, se exprime como um diálogo” (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1153).

c) O espírito de conversão

6. Entre as condições pessoais que favorecem a frutuosa participação nos santos mistérios está o espírito de constante conversão, que diz respeito a todos, sacerdotes e leigos: “um coração reconciliado com Deus predispõe para a verdadeira participação” (Sacramentum Caritatis, n. 55).
Portanto, em vista das grandes celebrações, os Ordinários do lugar e, por seu encargo, os organizadores do evento, assegurem a mais ampla possibilidade e facilidade de aceder à Confissão sacramental. Recomenda-se a concreta visibilidade dos sacerdotes que confessam e a sua disponibilidade para este ministério, tanto nos dias antecedentes como na preparação imediata; segundo a disponibilidade do lugar, facilite-se a possibilidade da Confissão mesmo durante a Missa, em espaços apropriados e idôneos para o sacramento (cf. João Paulo II, Motu proprio Misericordia Dei, n. 2; Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Responsa ad dubia proposita: Notitiae, 37 [2001], 259-260).

Missa no Encontro Mundial das Famílias
(Filadélfia, EUA - 2015)

d) Meios de comunicação

7. Se a celebração se realiza em uma área vasta, será útil o uso de telões para favorecer, mesmo aos que estão mais longe, a visão do que acontece. As pessoas encarregadas da transmissão em vídeo sejam bem informadas sobre o desenvolvimento da celebração, de modo que, nos vários momentos, a atenção esteja voltada para as ações litúrgicas e para as pessoas que as realizam, bem como para os lugares de interesse, ou seja, o ambão para a Liturgia da Palavra e o altar para a Liturgia Eucarística. Evite-se distrair o olhar dos fiéis da celebração em ato, mostrando imagens inadequadas de pessoas presentes ou de realidades estranhas à celebração.

Capítulo II: Premissas e contexto

a) A escolha de um tipo adequado de celebração

8. A celebração da Missa supõe e exige que todos os que se reúnem em nome do Senhor possam sentir-se parte de uma assembleia orante concreta e os sacerdotes concelebrantes possam exprimir o necessário vínculo ao altar.
Por isso, em algumas ocasiões convém avaliar a oportunidade da Missa ou se não é preferível, dadas as condições, optar por outra celebração litúrgica ou oração. Reuniões de ressonância nacional e internacional podem encontrar idônea expressão de oração também na Liturgia das Horas, em uma Celebração da Palavra de Deus, em uma solene procissão, exposição e bênção com o Santíssimo Sacramento, em uma vigília de oração, como acontece em célebres santuários, especialmente se não é um dia de preceito.
A decisão compete ao Bispo diocesano, ouvido o parecer da Conferência Episcopal para encontros nacionais, ou do Organismo competente no caso de encontros internacionais.

b) A concelebração eucarística

9. Se for escolhida a Missa, deve ser considerada com objetividade a admissão dos sacerdotes à concelebração. O seu alto valor, especialmente quando é o Bispo diocesano a presidir, rodeado do seu presbitério e dos diáconos (cf. Sacrosanctum Concilium, n. 57; Presbyterorum Ordinis, n. 7; IGMR, nn. 199.203), deve ter em conta também que “podem verificar-se problemas quanto à expressão sensível da unidade do presbitério, especialmente na Oração Eucarística” (Sacramentum Caritatis, n. 61). Muitas vezes o elevado número de concelebrantes não permite que lhes seja atribuído um lugar próximo ao altar, ficando tão distantes que causa perplexidade sua relação com ele [2].
Segundo a norma do direito, compete ao Bispo regular a disciplina da concelebração na sua Diocese (cf. Sacramentum Caritatis, n. 57, § 2º, 1; IGMR, n. 202). Portanto, depois de atenta avaliação, para não prejudicar o significado da concelebração eucarística, convém que o número dos concelebrantes seja adequado às capacidades do presbitério ou da área equivalente. Um critério possível parece ser o de admitir uma representação significativa de concelebrantes [3]. Para os outros sacerdotes sugere-se prever concelebrações em igrejas e lugares diversos, em tempos adequados do dia (cf. IGMR, n. 201).

c) Liturgia e beleza

10. Para que os sinais resplandeçam pela sua nobre simplicidade (cf. Sacramentum Caritatis, n. 34), é necessário cuidar a disposição do espaço e a decoração dos lugares. A simplicidade não deve degenerar no empobrecimento dos sinais (cf. João Paulo II, Carta Apostólica Vicesimus quintus annus, n. 10).
Para não dispersar o olhar dos fiéis, mas orientá-lo para os mistérios da fé que, celebrados no tempo, nos fazem saborear antecipadamente a Liturgia eterna, são muito úteis as santas imagens, entre as quais especialmente a figura do Pantocrator ou do Senhor na glória. Sejam valorizadas também as imagens sacras veneradas naquele lugar, caras à piedade popular (cf. IGMR, n. 318).
Cuide-se a beleza dos paramentos e das alfaias, para que alimentem a admiração pelo mistério de Deus (cf. Sacramentum Caritatis, n. 41). Caso as vestes e os vasos sagrados sejam fabricados especificamente para aquela ocasião, tenham-se presentes, quanto à matéria e forma, as indicações gerais (cf. IGMR, nn. 325-347; Redemptionis Sacramentum, n. 117).

d) O sentido do mistério de Deus

11. Mesmo em uma grande celebração deve transparecer o sentido do culto litúrgico. Portanto, sejam cuidadas as expressões de adoração e de consciente reconhecimento da presença e da ação de Deus.
O desenvolvimento ritual deve ter em conta a verdade dos sinais, gestos, movimentos, e o seu significado e impacto para uma vasta assembleia. A mesma ação assume valores comunicativos particulares conforme se realiza em uma igreja paroquial, em uma catedral ou em um espaço que reúne uma multidão de pessoas.

e) O canto e a língua

12. Se o canto, sinal da alegria do coração, tem a função de favorecer a união dos fiéis reunidos em assembleia, isto é particularmente verdadeiro nas grandes celebrações, nas quais é mais difícil exprimir a unidade da fé, da oração e dos sentimentos (cf. IGMR, nn. 39.47; Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Instrução Liturgiam authenticam, n. 108).
Embora tendo em conta diferentes orientações e tradições louváveis, o canto gregoriano, próprio da Liturgia romana, conserva inalterado o seu valor (Sacramentum Caritatis, n. 116; IGMR, n. 41). Não se devem excluir outros gêneros de canto, desde que correspondam ao espírito da ação litúrgica e favoreçam a participação de todos (cf. IGMR, n. 41).
A preparação da assembleia para o canto, os coros que a sustentam, um cantor que guia o canto, o uso de refrãos, têm um papel importante, assim como o mestre de coro, que deve conhecer as normas da disciplina litúrgica (cf. Cerimonial dos Bispos, n. 39; IGMR, n. 104). Pode ser útil a referência ao repertório Iubilate Deo e aos repertórios nacionais ou diocesanos devidamente aprovados (Liturgiam authenticam, n. 108).
A experiência aconselha que todos possam ter à disposição um livreto para acompanhar também os cantos.
Em uma celebração de caráter internacional, para melhor exprimir a unidade e a universalidade da Igreja, pode conceder-se mais amplo espaço à língua latina e adotar diversas línguas para os cantos, as leituras bíblicas e as intenções da oração universal (cf. Sacramentum Caritatis, n. 62); nesse caso, os livretos ofereçam as oportunas traduções.

f) O silêncio

13. Nos tempos previstos respeite-se o silêncio sagrado, que é parte da própria Liturgia. O seu significado varia conforme o lugar que ocupa em cada celebração (cf. IGMR. nn. 45.56.88). A tradição litúrgica testemunha que é uma forma de participação eficaz e profunda. Também nas grandes assembleias é particularmente relevante o valor do silêncio.
Antes do início da celebração se pode chamar a atenção para a sua importância, convidar as pessoas a não aplaudir, não tirar fotografias nem agitar bandeiras.

Missa no Congresso Eucarístico Internacional
(Budapeste, Hungria - 2021)

g) As vestes litúrgicas

14. Se as pessoas e as funções não são claramente distinguíveis através das vestes, é fácil gerar confusão de papéis. Por isso é necessário que cada ministro ordenado endosse sua veste própria (cf. IGMR, nn. 337-338; Cerimonial dos Bispos, nn. 56-62).
Mesmo quando os concelebrantes são numerosos, é louvável fazer o possível para que cada um possa endossar a casula, tendo presente que pode ser sempre de cor branca (cf. IGMR, n. 209; Redemptionis Sacramentum, n. 124). Os outros ministros, no que diz respeito às vestes litúrgicas, atenham-se aos legítimos costumes do lugar.

Capítulo III: Os espaços e a ministerialidade

a) As celebrações ao ar livre ou em lugares não sagrados

15. O caráter sagrado da ação litúrgica comporta um aspecto particularmente importante: a gestão do espaço onde ela se desenvolve, o qual deve ser estudado em referência às normas gerais (cf. IGMR, nn. 295-310).
Se a celebração acontece ao ar livre, é oportuno que a assembleia se reúna, o quanto possível, em um espaço bem delimitado. Assim é acentuada a dimensão sacra e a visibilidade da comunidade reunida em oração.
O lugar seja escolhido com atenção, tendo presente que o espaço aberto ou aquele normalmente destinado a outros usos não se adapta, por sua natureza, à ação sagrada e não é fácil criar um ambiente de oração. Um lugar habitualmente destinado a outros encontros e eventos específicos, por exemplo, esportivos, não é o mais adequado, por causa das distrações que, mesmo inconscientemente, pode provocar nos fiéis.
A escolha, depois de convenientes avaliações, é de responsabilidade do Bispo do lugar.

16. Nesse espaço, “disponham-se os lugares dos fiéis com todo o cuidado, de sorte que possam participar devidamente das ações sagradas com os olhos e o espírito” (IGMR, n. 311). Os lugares sejam dispostos de modo que seja fácil dirigir-se para receber a Sagrada Comunhão. Tenha-se cuidado também de que os fiéis possam não apenas ver, mas também ouvir comodamente (cf. ibid.). Portanto, para favorecer a participação, prepare-se, com a colaboração de peritos, um adequado sistema de amplificação sonora.

17. Se necessário, disponha-se de lugares adequados (capelas) para conservar o Santíssimo Sacramento, em vista da distribuição da Comunhão e para a reserva das hóstias consagradas que sobrarem. Convirá encontrar uma proporção adequada entre o número dos fiéis presentes e os lugares onde conservar, distribuir e reservar as hóstias consagradas (como orientação, poderia ser uma capela eucarística para cada três mil fiéis).

b) O altar

18. Pela sua importância, sendo o lugar do sacrifício e a mesa do Senhor, o altar, com a sua cruz (cf. IGMR, n. 296), seja colocado de modo que “seja de fato o centro para onde espontaneamente se volte a atenção de toda a assembleia dos fiéis” (ibid., n. 299). Assim se garante a orientação da assembleia, que nas grandes celebrações pode facilmente se perder.
Portanto, sejam bem ponderadas as dimensões do altar, a sua elevação e a qualidade da iluminação. É útil que, para realçá-lo visivelmente de longe, possua uma cobertura ou baldaquino, adequado também para proteger da chuva ou do sol; as suas dimensões, todavia, não devem ser obstáculo para a visão e a captação televisiva.
O altar deve ser único. Por isso, deve-se absolutamente evitar a multiplicação de altares ou mesas em torno dos quais agrupar os concelebrantes. Evite-se também o prolongamento exagerado da mesa no espaço, para dispor ao redor os numerosos concelebrantes, impedindo a visão do altar pelos fiéis.

c) O presbitério

19. No caso das grandes celebrações, muitas vezes é necessário “criar” o presbitério, que deve ser pensado e preparado como previsto nas normas (cf. IGMR, nn. 295-310). É importante levar em consideração a proporção entre o presbitério e os outros espaços ocupados pela schola [grupo dos cantores] (cf. ibid., n. 312) e pelos fiéis, pois a sistematização do conjunto deve refletir que “o povo de Deus que se reúne para a Missa constitui uma assembleia orgânica e hierárquica” (ibid., n. 294).
No presbitério sejam colocados os assentos para os sacerdotes concelebrantes (cf. ibid., n. 310). Se a celebração se realiza ao ar livre, por exemplo, em um adro ou uma praça, delimite-se uma área em que os sacerdotes possam encontrar lugar comodamente, para tornar visível a unidade. Também se prevejam aí, se for possível, lugares para os sacerdotes que não concelebram, presentes com o hábito coral (cf. ibid., nn. 114.310). Não é conveniente que participem na Missa, quanto ao aspecto externo, à maneira dos fiéis leigos (cf. Redemptionis Sacramentum, nn. 113.128).

d) O ambão

20. Associado com o presbitério, em relação visível e decorativa com o altar e a sede, o ambão é o lugar onde, através das Sagradas Escrituras, ressoa a Palavra que Deus dirige à assembleia reunida, para conduzi-la à Comunhão eucarística.
Portanto, especialmente nessas grandes celebrações, o ambão seja elevado e bem visível, proporcional à vastidão do espaço, de dimensões suficientemente amplas para se poder realizar solenemente a proclamação do Evangelho. Seja disposto de modo que, durante a Liturgia da Palavra, a assembleia dirija espontaneamente a atenção para ele, e que os ministros ordenados e os leitores possam ser comodamente vistos e ouvidos por todos (cf. IGMR, n. 309).
É indispensável que as monições, comentários, avisos e direção do canto se façam de outro lugar, distinto do ambão, visível, mas discreto, e fora do presbitério (cf. ibid.).

e) A sede

21. Lugar onde quem preside realiza importantes funções ao longo da celebração, a sede tem um local definido no presbitério. Bem visível aos fiéis, com alguma relação com os concelebrantes, quanto à forma e decoração, seja ligada com o altar e o ambão.
Próximo da sede, a serviço de quem preside, disponham-se os bancos dos diáconos. De modo mais discreto, haja assentos para os outros ministros (cf. IGMR, n. 310).

Missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude
(Lisboa, Portugal - 2023)

f) A schola

22. Tendo em conta o espaço onde se celebra, a schola ou grupo dos cantores “deve ser colocado tal forma que se manifeste claramente sua natureza, isto é, que faz parte da assembleia dos fiéis, na qual desempenha uma função particular” (IGMR, n. 312). Portanto, não ocupando um lugar no presbitério nem em concorrência com ele, é conveniente que os membros da schola olhem para o altar e não para os outros fiéis. Assim se favorece “a execução do seu ministério litúrgico” (cf. ibid.) e é facilitada a todos a participação plena na Missa.

Capítulo IV: Os momentos da celebração

a) Antes da celebração

23. Na preparação imediata para a celebração recomenda-se aos fiéis e sacerdotes o recolhimento (cf. IGMR, n. 45). Para garanti-lo, mesmo quando os concelebrantes são numerosos, é conveniente dispor de ambientes adequados onde possam endossar as vestes o celebrante principal, os Bispos concelebrantes, os presbíteros concelebrantes, ajudados pelos diáconos e pelos ministrantes.

b) Ritos iniciais

24. Dado que nas grandes celebrações a entrada dos concelebrantes requer tempo, a maioria deles pode tomar lugar ordenada e discretamente antes do início da celebração.
A procissão de entrada seja sempre aberta pelo turiferário, os ministros com a cruz e as velas acesas e o diácono com o Evangeliário (cf. Cerimonial dos Bispos, n. 128).
A incensação do altar e da cruz no início da celebração (cf. IGMR, n. 276; Cerimonial dos Bispos, n. 131) não deve ser descuidada, porque, juntamente com o canto, ajuda, nestas grandes celebrações, a criar um ambiente de oração comum. Em espaços abertos, é necessário cuidar ainda mais a verdade dos sinais.
Depois da saudação litúrgica, o Bispo do lugar ou o seu delegado pode dirigir breves palavras de acolhimento, seguidas pelo ato penitenciai. Os ritos iniciais não são o momento para os discursos das autoridades civis, que podem ter lugar antes ou depois da celebração.

c) Liturgia da Palavra

25. Dado que “a Liturgia da Palavra deve ser celebrada de tal modo que favoreça a meditação” (IGMR, n. 56), as leituras sejam proclamadas sem pressa, para que todos possam escutar e compreender a Palavra do Senhor. Tenha-se presente que, em grandes assembleias, o som demora a chegar aos lugares mais afastados. Muito eficazes são os breves momentos de silêncio, pois permitem meditar o que foi escutado (cf. n. 45). Os leitores, portanto, sejam escolhidos com muito cuidado.
A procissão com o Evangeliário seja realizada com grande solenidade (cf. ibid., n. 175), manifestando assim a particular reverência reservada ao Evangelho (cf. ibid., n. 134), e que sua escuta constitui o ápice da Liturgia da Palavra (cf. Elenco das Leituras da Missa, n. 13). Convém valorizar com o canto a proclamação do Evangelho (cf. Bento XVI, Exortação Apostólica pós-sinodal Verbum Domini, n. 67).
As grandes celebrações são um caso em que a sede parece ser o lugar mais adequado para a homilia (cf. IGMR, n. 136). No fim dessa, é conveniente observar um momento de silêncio (cf. ibid., nn. 56.66.136).

d) Apresentação dos dons

26. O gesto de levar os dons ao altar por parte dos fiéis (cf. IGMR, n. 73) “não necessita ser enfatizado com descabidas complicações para ser vivido no seu significado autêntico” (Sacramentum Caritatis, n. 47). Nas grandes celebrações sejam apresentados apenas os dons que constituem a matéria do sacrifício e aqueles destinados à caridade. Tenha-se presente que o acréscimo de explicações na apresentação dos dons não favorece o sentido litúrgico deste momento.
Tenha-se o cuidado para que a quantidade de pão e de vinho a consagrar corresponda ao número dos participantes e dos concelebrantes.
Os dons eucarísticos sejam dispostos sobre o altar. Se, dada à quantidade, não é possível, alguns presbíteros não concelebrantes, diáconos ou acólitos instituídos, com os cibórios [âmbulas] nas mãos, coloquem-se - antes da apresentação dos dons - junto do altar, sem, porém, impedir os concelebrantes ou ocultar a visão do altar aos fiéis.

e) Oração Eucarística

27. Para facilitar a participação pessoal de todos os concelebrantes, convém que cada um disponha de um subsídio para a Oração Eucarística. As partes proferidas conjuntamente pelos concelebrantes, “sobretudo as palavras da consagração, que todos devem expressar, quando forem recitadas, sejam ditas em voz baixa, de modo que se ouça claramente a voz do celebrante principal” (IGMR, n. 218). Nas grandes celebrações convém que estas partes sejam cantadas (cf. ibid.), pois, além de destacar o caráter sagrado da oração, se favorece assim a sincronia das palavras.
O elevado número de concelebrantes aconselha a limitar movimentos que distraiam tanto os sacerdotes como os fiéis.
No momento da consagração os cibórios devem estar descobertos. A adoração por parte dos fiéis é favorecida através de especificas manifestações de reverência pela Eucaristia, como ajoelhar-se, se possível, a incensação das sagradas espécies, o som da campainha (cf. ibid., n. 150). Em alguns lugares, a importância do momento é destacada pelo uso de velas levadas por ministros que se colocam diante do altar.

f) Rito da paz

28. Convém, particularmente em grandes celebrações, que o rito da paz seja um gesto moderado, de modo que “cada um dê a paz de maneira sóbria apenas aos que lhe estão mais próximos” (cf. IGMR, n. 82). A sobriedade do gesto não tira nada do seu alto valor e ajuda a manter o clima de oração antes da Comunhão.

Missa do Domingo de Páscoa no Vaticano (2024)

g) Comunhão dos concelebrantes

29. É importante prever bem a Comunhão dos concelebrantes, que requer uma cuidadosa preparação e atenção. Realize-se “de acordo com as normas prescritas nos livros litúrgicos, utilizando sempre hóstias consagradas na mesma Missa e recebendo todos os concelebrantes a Comunhão sob as duas espécies” (Redemptionis Sacramentum, n. 98). Os concelebrantes comunguem antes de se dirigirem a distribuir a Comunhão aos fiéis.
Se o grande número de concelebrantes os impede de poder comungar no altar, dirijam-se a lugares previamente dispostos para comungar com calma e piedade. Em uma igreja ampla, tais lugares podem ser as capelas laterais, enquanto em espaços abertos devem preparar-se lugares visíveis e reconhecíveis facilmente pelos concelebrantes. Nestes lugares, sobre uma ampla mesa, disponham-se sobre um ou mais corporais o cálice ou os cálices junto às patenas com as hóstias. Se isto for muito difícil, os concelebrantes permaneçam no seu lugar e comunguem do Corpo e do Sangue do Senhor que lhes são apresentados por diáconos ou por alguns concelebrantes. Deve prestar-se a máxima atenção para evitar que hóstias ou gotas do Sangue do Senhor caiam por terra.
Terminada a distribuição da Comunhão aos concelebrantes, tenha-se o cuidado de consumir imediata e totalmente o vinho consagrado restante, e de levar as hóstias consagradas que sobraram aos lugares destinados à conservação e guarda da Eucaristia (cf. IGMR, n. 163).

h) Comunhão dos fiéis

30. Antes do início do canto da Comunhão, tendo presente as situações heterogêneas dos presentes, seja pela pertença ou não à Igreja Católica, seja pelas disposições pessoais (cf. Sacramentum Caritatis, n. 50; Catecismo da Igreja Católica, n. 1385), é conveniente que, com uma monição adequada, se recordem as atitudes de adoração e de respeito pelo Sacramento e as condições para receber a Comunhão [4]; podem indicar-se também os lugares e as modalidades previstas para a distribuição da Comunhão.
Embora seja recomendável que a Comunhão se faça com hóstias consagradas na própria celebração (cf. IGMR, n. 85), por motivos compreensíveis, nas grandes celebrações pode ser oportuna também a Comunhão com a distribuição de hóstias já consagradas, neste caso conservadas em cibórios devidamente guardados em tabernáculos seguros e de dimensões suficientes, colocados em capelas ou lugares idôneos a tal fim.
A estes lugares, ou ao longo dos corredores que delimitam os setores, se dirijam os fiéis que desejam receber a Comunhão.
Os ministros que distribuem a Comunhão devem ser reconhecíveis. Um modo, em linha com a tradição, é que os acompanhe uma pessoa - um coroinha ou ministrante - que leve um guarda-chuva adequado ou outro sinal como, por exemplo, uma vela acesa.
Se é sempre louvável o uso da patena, o é especialmente nestas circunstâncias em que a distribuição é mais complexa (Redemptionis Sacramentum, n. 93), recorrendo eventualmente a idôneas tampas dos cibórios. Prevejam-se e sejam indicados os lugares específicos em que podem comungar pessoas com necessidades particulares (por exemplo, os celíacos).
O Bispo do lugar, tendo presente eventuais riscos que podem verificar-se nestas grandes assembleias, poderá decidir se é oportuno aplicar o que está previsto no n. 92 da Instrução Redemptionis Sacramentum, de modo que a Comunhão seja distribuída somente na boca.
As hóstias que sobraram no fim da Comunhão sejam levadas com dignidade aos lugares da reserva eucarística, entregando os cibórios; aí deve haver todo o necessário para a purificação dos vasos sagrados e dos dedos.

Conclusão

31. O Concilio Vaticano II iniciou os seus trabalhos refletindo sobre a sagrada Liturgia. Deste modo, colocou-se inequivocamente em destaque o primado de Deus, o verdadeiro protagonista da celebração litúrgica da Igreja. Quando é a orientação para Deus não é o fundamento, tudo o mais perde a sua orientação. O objetivo do presente “Guia para as grandes celebrações”, com indicações e sugestões práticas, não é outro que ajudar a preparar devidamente e a viver frutuosamente as grandes celebrações litúrgicas.
Sirva-nos de exemplo a Bem-aventurada Virgem Maria, imagem da Igreja em oração. “A beleza da Liturgia celeste, que deve refletir-se também nas nossas assembleias, encontra nela um espelho fiel. Dela devemos aprender a tornar-nos pessoas eucarísticas e eclesiais para podermos também nós, segundo a palavra de São Paulo, apresentar-nos ‘imaculados’ perante o Senhor, tal como Ele nos quis desde o princípio (cf. Cl 1,22; Ef 1,4)” (Sacramentum Caritatis, n. 96).


Notas:

[1] cf. XI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, Eucaristia: Fonte e ápice da vida e da missão da Igreja. Elenco final de proposições, n. 37: “Os Padres sinodais reconhecem o alto valor das concelebrações, especialmente aquelas presididas pelo Bispo com o seu presbitério, os diáconos e os fiéis. Pede-se aos organismos competentes, porém, que estudem melhor a práxis da concelebração quando o número dos celebrantes é muito elevado”.

[2] “O número dos concelebrantes, define-se em cada caso, tendo em conta quer a igreja quer o altar onde se realiza a concelebração, de modo que os concelebrantes possam rodear o altar, ainda que nem todos possam tocar diretamente a mesa” (Sagrada Congregação dos Ritos, Ritus servandus in concelebratione Missae et Ritus communionis sob utraque specie, editio typica, 1966, n. 4).

[3] cf. Cerimonial dos Bispos, n. 274: “Para que se exprima o melhor possível esta unidade do presbitério, procure o Bispo que estejam presentes presbíteros concelebrantes vindos das diversas regiões da diocese”.

[4] “Às vezes acontece que os fiéis se aproximem da mesa sagrada em massa e sem o devido discernimento. É tarefa dos pastores corrigir com prudência e firmeza tal abuso. Além disso, onde se celebra a Missa para uma grande multidão ou, por exemplo, nas grandes cidades, é preciso vigiar para que, por falta de conhecimento, não recebam a sagrada Comunhão os não católicos e até mesmo os não cristãos, sem ter em conta o Magistério da Igreja em âmbito doutrinal e disciplinar. Cabe aos pastores advertir os presentes, no momento oportuno, sobre a verdade e a disciplina que deve ser observada rigorosamente” (Redemptionis Sacramentum, nn. 83-84).

Tradução nossa a partir do original italiano. Fonte: Santa Sé.

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