“Vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas” (Ap 7,9).
Daqui alguns dias celebraremos a Solenidade de Corpus
Christi, na qual em muitos lugares se realizam grandes celebrações (por
exemplo, a nível diocesano). Portanto, aproveitamos a ocasião para resgatar o “Guia
para as grandes celebrações” publicado pela Congregação para o Culto
Divino e a Disciplina dos Sacramentos há 10 anos, em junho de 2014.
A partir da experiência da Santa Sé com as
celebrações presididas pelo Papa, tanto em Roma como em suas Viagens
Apostólicas, além de outros grandes eventos (Jornadas Mundiais da Juventude,
Encontros Mundiais das Famílias, Congressos Eucarísticos Internacionais...), o Guia
traz sugestões práticas para as grandes celebrações, que podem ser aplicadas conforme
as circunstâncias.
Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos
Guia para as grandes celebrações
A reflexão sobre a necessária atenção a se prestar às
celebrações litúrgicas especiais nas quais, além de um elevado número de fiéis,
há também muitos sacerdotes concelebrantes, tinha sido programada pela
Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos na sequência da consideração
sobre esse tema que emergiu no Sínodo dos Bispos de 2005 e que foi retomado no
n. 61 da Exortação Apostólica Sacramentum Charitatis do Papa Bento XVI.
Ouvido o parecer de consultores e peritos, bem como
de Organismos da Sé Apostólica implicados na matéria, publicou-se uma primeira
contribuição sobre o assunto, intitulada “As grandes celebrações: Uma
reflexão em curso” em Notitiae 43 (2007), pp. 535-542.
Missa de envio da Jornada Mundial da Juventude (Rio de Janeiro - 2013) |
A atenção ao tema prosseguiu, resultando na
elaboração do presente “Guia para as grandes celebrações” que se
tornou público nas páginas de Notitiae. O texto, submetido em várias ocasiões
ao exame dos Membros do Dicastério, obteve parecer positivo dos Padres na
Reunião Ordinária de 22 de novembro de 2013 e recebeu o beneplácito do Papa
Francisco na audiência concedida ao Cardeal Prefeito em 07 de junho de 2014.
Esta Congregação deseja que o Guia, no qual
se recordam critérios, indicações e sugestões presentes nas normas vigentes,
contribua de modo eficaz para a diligente preparação e frutuosa celebração dos
santos mistérios em circunstâncias particulares, caracterizadas pelo elevado número
de sacerdotes e fiéis leigos participantes.
Da Sede da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, 13 de junho de 2014, Memória de Santo Antônio, Presbítero e Doutor da Igreja.
Cardeal Antonio Cañizares Llovera, Prefeito
Dom Arthur Roche, Secretário
Introdução
Importância, problemática, responsabilidade
1. Contemplando a realidade que nos rodeia,
com as suas luzes e sombras, vemos “a necessidade de redescobrir o
caminho da fé para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o
renovado entusiasmo do encontro com Cristo” (Bento XVI, Motu proprio Porta
fidei, n. 2). E a Liturgia é o lugar privilegiado do encontro com
Cristo, vivente na Igreja. Neste sentido, também as grandes celebrações assumiram
um papel específico.
2. O Sínodo dos Bispos celebrado em
outubro de 2005 fez emergir a questão das grandes concelebrações,
caracterizadas pela participação de muitos sacerdotes e de numerosos fiéis [1].
A Exortação Apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis do Papa Bento
XVI (22 de fevereiro de 2007), retomou esse tema, mostrando valores e limites (cf.
n. 61).
O presente “Guia” oferece indicações
e sugestões para ajudar os Bispos a preparar e regular nas suas Dioceses as
grandes celebrações, para que se tornem momentos de evangelização, testemunho
missionário e experiência de Igreja.
Capítulo I: O cuidado da participação
3. O Concílio Vaticano II pôs uma particular
ênfase na participação ativa, plena e frutuosa de todo o Povo de Deus na Liturgia
(cf. Constituição Sacrosanctum Concilium, nn.14.30-32.48). Como é
natural, também nas grandes celebrações deve ser considerada a qualidade da
participação, a partir da maior consciência do mistério celebrado e da sua
relação com a existência quotidiana (cf. Constituição Lumen Gentium,
n. 10; Catecismo da Igreja Católica, n. 1142).
Da exigência da participação ativa “não se deduz
necessariamente que todos devam realizar outras coisas, em sentido material,
além dos gestos e posturas corporais, como se cada um tivera que assumir,
necessariamente, uma tarefa litúrgica específica” (Congregação para o Culto
Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Instrução Redemptionis Sacramentum,
n. 40). O objetivo a ser alcançado é que todos os que participam “formem um único
corpo, seja ouvindo a Palavra de Deus, seja tomando parte nas orações e no canto
ou, sobretudo, na oblação comum do sacrifício e na comum participação da mesa
do Senhor” (Instrução Geral do Missal Romano [IGMR], n. 96). Tal objetivo
é mais difícil de alcançar no caso de uma assembleia heterogênea, não habituada
a orar em conjunto, reunida em um espaço não diretamente concebido para a celebração
litúrgica, composta de um número tão elevado de pessoas que não favorece a relação
direta com o altar, com o ambão e com quem preside, nem facilita as habituais
posições rituais (sentar-se, ajoelhar-se, movimentos processionais).
Podem contribuir monições adaptadas, para favorecer
a participação interior e exterior de todos e o correto desenvolvimento dos
ritos (cf. IGMR, n. 31). No presente Guia é feita menção em
particular de uma monição antes da Comunhão dos fiéis.
a) A preparação remota e próxima
4. As grandes celebrações produzem
maior fruto espiritual e apostólico se são apresentadas como a coroação de um programa
marcado por encontros preparatórios de caráter espiritual e catequético. Neste
sentido, é de grande eficácia tanto a preparação feita com grande antecipação,
por exemplo a nível paroquial, como aquela feita nos últimos dias. É também
decisiva a preparação imediata à celebração, que pode incluir o ensaio dos cantos,
a escuta de textos apropriados, momentos de silêncio e de oração, entre os
quais invocações litânicas, o Rosário ou outros piedosos exercícios.
b) Uma comunidade orante
5. A primeira exigência para uma boa
celebração é que tanto os ministros ordenados como os fiéis participem dela
superando a tentação do anonimato e da dispersão, ocasionados com maior facilidade
pelas grandes reuniões.
A presença de numerosos fiéis é um dom de Deus, a
ser devidamente valorizado. No entanto, não pode ser reduzida a uma manifestação
de massa, baseada em sinais puramente exteriores: a Liturgia tem como objetivo
o envolvimento de todo o povo de Deus juntamente com o recolhimento espiritual
e tem necessidade de atitudes do espirito e do corpo de acordo com a dignidade
dos mistérios celebrados. Com efeito, “uma celebração sacramental é um encontro
dos filhos de Deus com seu Pai, em Cristo e no Espirito Santo. Este encontro,
mediante ações e de palavras, se exprime como um diálogo” (cf. Catecismo
da Igreja Católica, n. 1153).
c) O espírito de conversão
6. Entre as condições pessoais que
favorecem a frutuosa participação nos santos mistérios está o espírito de
constante conversão, que diz respeito a todos, sacerdotes e leigos: “um coração
reconciliado com Deus predispõe para a verdadeira participação” (Sacramentum
Caritatis, n. 55).
Portanto, em vista das grandes celebrações, os
Ordinários do lugar e, por seu encargo, os organizadores do evento, assegurem a
mais ampla possibilidade e facilidade de aceder à Confissão sacramental. Recomenda-se
a concreta visibilidade dos sacerdotes que confessam e a sua disponibilidade
para este ministério, tanto nos dias antecedentes como na preparação imediata;
segundo a disponibilidade do lugar, facilite-se a possibilidade da Confissão
mesmo durante a Missa, em espaços apropriados e idôneos para o sacramento (cf.
João Paulo II, Motu proprio Misericordia Dei, n. 2; Congregação
para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Responsa ad dubia
proposita: Notitiae, 37 [2001], 259-260).
Missa no Encontro Mundial das Famílias (Filadélfia, EUA - 2015) |
d) Meios de comunicação
7. Se a celebração se realiza em uma área vasta, será útil o uso de telões para favorecer, mesmo aos que estão mais longe, a visão do que acontece. As pessoas encarregadas da transmissão em vídeo sejam bem informadas sobre o desenvolvimento da celebração, de modo que, nos vários momentos, a atenção esteja voltada para as ações litúrgicas e para as pessoas que as realizam, bem como para os lugares de interesse, ou seja, o ambão para a Liturgia da Palavra e o altar para a Liturgia Eucarística. Evite-se distrair o olhar dos fiéis da celebração em ato, mostrando imagens inadequadas de pessoas presentes ou de realidades estranhas à celebração.
Capítulo II: Premissas e contexto
a) A escolha de um tipo adequado de celebração
8. A celebração da Missa supõe e
exige que todos os que se reúnem em nome do Senhor possam sentir-se parte de
uma assembleia orante concreta e os sacerdotes concelebrantes possam exprimir o
necessário vínculo ao altar.
Por isso, em algumas ocasiões convém avaliar a
oportunidade da Missa ou se não é preferível, dadas as condições, optar por
outra celebração litúrgica ou oração. Reuniões de ressonância nacional e
internacional podem encontrar idônea expressão de oração também na Liturgia das
Horas, em uma Celebração da Palavra de Deus, em uma solene procissão, exposição
e bênção com o Santíssimo Sacramento, em uma vigília de oração, como acontece
em célebres santuários, especialmente se não é um dia de preceito.
A decisão compete ao Bispo diocesano, ouvido o
parecer da Conferência Episcopal para encontros nacionais, ou do Organismo
competente no caso de encontros internacionais.
b) A concelebração eucarística
9. Se for escolhida a Missa, deve ser
considerada com objetividade a admissão dos sacerdotes à concelebração. O seu
alto valor, especialmente quando é o Bispo diocesano a presidir, rodeado do seu
presbitério e dos diáconos (cf. Sacrosanctum Concilium, n. 57; Presbyterorum
Ordinis, n. 7; IGMR, nn. 199.203), deve ter em conta também que “podem
verificar-se problemas quanto à expressão sensível da unidade do presbitério,
especialmente na Oração Eucarística” (Sacramentum Caritatis, n. 61). Muitas
vezes o elevado número de concelebrantes não permite que lhes seja atribuído um
lugar próximo ao altar, ficando tão distantes que causa perplexidade sua relação
com ele [2].
Segundo a norma do direito, compete ao Bispo
regular a disciplina da concelebração na sua Diocese (cf. Sacramentum
Caritatis, n. 57, § 2º, 1; IGMR, n. 202). Portanto, depois de atenta
avaliação, para não prejudicar o significado da concelebração eucarística,
convém que o número dos concelebrantes seja adequado às capacidades do
presbitério ou da área equivalente. Um critério possível parece ser o de
admitir uma representação significativa de concelebrantes [3]. Para os outros
sacerdotes sugere-se prever concelebrações em igrejas e lugares diversos, em tempos
adequados do dia (cf. IGMR, n. 201).
c) Liturgia e beleza
10. Para que os sinais resplandeçam
pela sua nobre simplicidade (cf. Sacramentum Caritatis, n. 34), é
necessário cuidar a disposição do espaço e a decoração dos lugares. A
simplicidade não deve degenerar no empobrecimento dos sinais (cf. João
Paulo II, Carta Apostólica Vicesimus quintus annus, n. 10).
Para não dispersar o olhar dos fiéis, mas orientá-lo para os mistérios da fé que, celebrados no tempo, nos fazem saborear antecipadamente a Liturgia eterna, são muito úteis as santas imagens, entre as quais especialmente a figura do Pantocrator ou do Senhor na glória. Sejam valorizadas também as imagens sacras veneradas naquele lugar, caras à piedade popular (cf. IGMR, n. 318).
Cuide-se a beleza dos paramentos e das alfaias, para
que alimentem a admiração pelo mistério de Deus (cf. Sacramentum Caritatis,
n. 41). Caso as vestes e os vasos sagrados sejam fabricados especificamente para
aquela ocasião, tenham-se presentes, quanto à matéria e forma, as indicações
gerais (cf. IGMR, nn. 325-347; Redemptionis Sacramentum, n. 117).
d) O sentido do mistério de Deus
11. Mesmo em uma grande
celebração deve transparecer o sentido do culto litúrgico. Portanto, sejam cuidadas
as expressões de adoração e de consciente reconhecimento da presença e da ação
de Deus.
O desenvolvimento ritual deve ter em conta a
verdade dos sinais, gestos, movimentos, e o seu significado e impacto para uma
vasta assembleia. A mesma ação assume valores comunicativos particulares conforme
se realiza em uma igreja paroquial, em uma catedral ou em um espaço que reúne
uma multidão de pessoas.
e) O canto e a língua
12. Se o canto, sinal da
alegria do coração, tem a função de favorecer a união dos fiéis reunidos em
assembleia, isto é particularmente verdadeiro nas grandes celebrações, nas quais
é mais difícil exprimir a unidade da fé, da oração e dos sentimentos (cf.
IGMR, nn. 39.47; Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos
Sacramentos, Instrução Liturgiam authenticam, n. 108).
Embora tendo em conta diferentes orientações e tradições
louváveis, o canto gregoriano, próprio da Liturgia romana, conserva inalterado
o seu valor (Sacramentum Caritatis, n. 116; IGMR, n. 41). Não se devem excluir
outros gêneros de canto, desde que correspondam ao espírito da ação litúrgica e
favoreçam a participação de todos (cf. IGMR, n. 41).
A preparação da assembleia para o canto, os coros
que a sustentam, um cantor que guia o canto, o uso de refrãos, têm um papel
importante, assim como o mestre de coro, que deve conhecer as normas da
disciplina litúrgica (cf. Cerimonial dos Bispos, n. 39; IGMR, n.
104). Pode ser útil a referência ao repertório Iubilate Deo e aos repertórios
nacionais ou diocesanos devidamente aprovados (Liturgiam authenticam, n.
108).
A experiência aconselha que todos possam ter à
disposição um livreto para acompanhar também os cantos.
Em uma celebração de caráter internacional, para
melhor exprimir a unidade e a universalidade da Igreja, pode conceder-se mais
amplo espaço à língua latina e adotar diversas línguas para os cantos, as
leituras bíblicas e as intenções da oração universal (cf. Sacramentum
Caritatis, n. 62); nesse caso, os livretos ofereçam as oportunas traduções.
f) O silêncio
13. Nos tempos previstos
respeite-se o silêncio sagrado, que é parte da própria Liturgia. O seu
significado varia conforme o lugar que ocupa em cada celebração (cf.
IGMR. nn. 45.56.88). A tradição litúrgica testemunha que é uma forma de participação
eficaz e profunda. Também nas grandes assembleias é particularmente relevante o
valor do silêncio.
Antes do início da celebração se pode chamar a
atenção para a sua importância, convidar as pessoas a não aplaudir, não tirar
fotografias nem agitar bandeiras.
Missa no Congresso Eucarístico Internacional (Budapeste, Hungria - 2021) |
g) As vestes litúrgicas
14. Se as pessoas e as funções não são claramente distinguíveis através das vestes, é fácil gerar confusão de papéis. Por isso é necessário que cada ministro ordenado endosse sua veste própria (cf. IGMR, nn. 337-338; Cerimonial dos Bispos, nn. 56-62).
Mesmo quando os concelebrantes são numerosos, é louvável fazer o possível para que cada um possa endossar a casula, tendo presente que pode ser sempre de cor branca (cf. IGMR, n. 209; Redemptionis Sacramentum, n. 124). Os outros ministros, no que diz respeito às vestes litúrgicas, atenham-se aos legítimos costumes do lugar.
Capítulo III: Os espaços e a ministerialidade
a) As celebrações ao ar livre ou em lugares não sagrados
15. O caráter sagrado da ação litúrgica
comporta um aspecto particularmente importante: a gestão do espaço onde ela se
desenvolve, o qual deve ser estudado em referência às normas gerais (cf.
IGMR, nn. 295-310).
Se a celebração acontece ao ar livre, é oportuno
que a assembleia se reúna, o quanto possível, em um espaço bem delimitado.
Assim é acentuada a dimensão sacra e a visibilidade da comunidade reunida em
oração.
O lugar seja escolhido com atenção, tendo presente que
o espaço aberto ou aquele normalmente destinado a outros usos não se adapta,
por sua natureza, à ação sagrada e não é fácil criar um ambiente de oração. Um
lugar habitualmente destinado a outros encontros e eventos específicos, por
exemplo, esportivos, não é o mais adequado, por causa das distrações que, mesmo
inconscientemente, pode provocar nos fiéis.
A escolha, depois de convenientes avaliações, é de
responsabilidade do Bispo do lugar.
16. Nesse espaço, “disponham-se
os lugares dos fiéis com todo o cuidado, de sorte que possam participar
devidamente das ações sagradas com os olhos e o espírito” (IGMR, n. 311). Os
lugares sejam dispostos de modo que seja fácil dirigir-se para receber a
Sagrada Comunhão. Tenha-se cuidado também de que os fiéis possam não apenas
ver, mas também ouvir comodamente (cf. ibid.). Portanto, para favorecer
a participação, prepare-se, com a colaboração de peritos, um adequado sistema de
amplificação sonora.
17. Se necessário, disponha-se
de lugares adequados (capelas) para conservar o Santíssimo Sacramento, em vista
da distribuição da Comunhão e para a reserva das hóstias consagradas que
sobrarem. Convirá encontrar uma proporção adequada entre o número dos fiéis
presentes e os lugares onde conservar, distribuir e reservar as hóstias consagradas
(como orientação, poderia ser uma capela eucarística para cada três mil fiéis).
b) O altar
18. Pela sua importância, sendo
o lugar do sacrifício e a mesa do Senhor, o altar, com a sua cruz (cf. IGMR,
n. 296), seja colocado de modo que “seja de fato o centro para onde espontaneamente
se volte a atenção de toda a assembleia dos fiéis” (ibid., n. 299). Assim
se garante a orientação da assembleia, que nas grandes celebrações pode facilmente
se perder.
Portanto, sejam bem ponderadas as dimensões do
altar, a sua elevação e a qualidade da iluminação. É útil que, para realçá-lo visivelmente
de longe, possua uma cobertura ou baldaquino, adequado também para proteger da
chuva ou do sol; as suas dimensões, todavia, não devem ser obstáculo para a
visão e a captação televisiva.
O altar deve ser único. Por isso, deve-se absolutamente
evitar a multiplicação de altares ou mesas em torno dos quais agrupar os
concelebrantes. Evite-se também o prolongamento exagerado da mesa no espaço,
para dispor ao redor os numerosos concelebrantes, impedindo a visão do altar pelos
fiéis.
c) O presbitério
19. No caso das grandes
celebrações, muitas vezes é necessário “criar” o presbitério, que deve ser
pensado e preparado como previsto nas normas (cf. IGMR, nn. 295-310). É
importante levar em consideração a proporção entre o presbitério e os outros espaços
ocupados pela schola [grupo dos cantores] (cf. ibid., n.
312) e pelos fiéis, pois a sistematização do conjunto deve refletir que “o povo
de Deus que se reúne para a Missa constitui uma assembleia orgânica e hierárquica”
(ibid., n. 294).
No presbitério sejam colocados os assentos para os
sacerdotes concelebrantes (cf. ibid., n. 310). Se a celebração se
realiza ao ar livre, por exemplo, em um adro ou uma praça, delimite-se uma área
em que os sacerdotes possam encontrar lugar comodamente, para tornar visível a unidade.
Também se prevejam aí, se for possível, lugares para os sacerdotes que não
concelebram, presentes com o hábito coral (cf. ibid., nn. 114.310).
Não é conveniente que participem na Missa, quanto ao aspecto externo, à maneira
dos fiéis leigos (cf. Redemptionis Sacramentum, nn. 113.128).
d) O ambão
20. Associado com o presbitério, em
relação visível e decorativa com o altar e a sede, o ambão é o lugar onde,
através das Sagradas Escrituras, ressoa a Palavra que Deus dirige à assembleia
reunida, para conduzi-la à Comunhão eucarística.
Portanto, especialmente nessas grandes celebrações,
o ambão seja elevado e bem visível, proporcional à vastidão do espaço, de
dimensões suficientemente amplas para se poder realizar solenemente a proclamação
do Evangelho. Seja disposto de modo que, durante a Liturgia da Palavra, a
assembleia dirija espontaneamente a atenção para ele, e que os ministros
ordenados e os leitores possam ser comodamente vistos e ouvidos por todos (cf.
IGMR, n. 309).
É indispensável que as monições, comentários,
avisos e direção do canto se façam de outro lugar, distinto do ambão, visível,
mas discreto, e fora do presbitério (cf. ibid.).
e) A sede
21. Lugar onde quem preside
realiza importantes funções ao longo da celebração, a sede tem um local definido
no presbitério. Bem visível aos fiéis, com alguma relação com os
concelebrantes, quanto à forma e decoração, seja ligada com o altar e o ambão.
Próximo da sede, a serviço de quem preside,
disponham-se os bancos dos diáconos. De modo mais discreto, haja assentos para
os outros ministros (cf. IGMR, n. 310).
Missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude (Lisboa, Portugal - 2023) |
f) A schola
22. Tendo em conta o espaço onde se celebra, a schola ou grupo dos cantores “deve ser colocado tal forma que se manifeste claramente sua natureza, isto é, que faz parte da assembleia dos fiéis, na qual desempenha uma função particular” (IGMR, n. 312). Portanto, não ocupando um lugar no presbitério nem em concorrência com ele, é conveniente que os membros da schola olhem para o altar e não para os outros fiéis. Assim se favorece “a execução do seu ministério litúrgico” (cf. ibid.) e é facilitada a todos a participação plena na Missa.
Capítulo IV: Os momentos da celebração
a) Antes da celebração
23. Na preparação imediata para
a celebração recomenda-se aos fiéis e sacerdotes o recolhimento (cf. IGMR,
n. 45). Para garanti-lo, mesmo quando os concelebrantes são numerosos, é
conveniente dispor de ambientes adequados onde possam endossar as vestes o
celebrante principal, os Bispos concelebrantes, os presbíteros concelebrantes, ajudados
pelos diáconos e pelos ministrantes.
b) Ritos iniciais
24. Dado que nas grandes
celebrações a entrada dos concelebrantes requer tempo, a maioria deles pode tomar
lugar ordenada e discretamente antes do início da celebração.
A procissão de entrada seja sempre aberta pelo
turiferário, os ministros com a cruz e as velas acesas e o diácono com o
Evangeliário (cf. Cerimonial dos Bispos, n. 128).
A incensação do altar e da cruz no início da
celebração (cf. IGMR, n. 276; Cerimonial dos Bispos, n. 131) não
deve ser descuidada, porque, juntamente com o canto, ajuda, nestas grandes
celebrações, a criar um ambiente de oração comum. Em espaços abertos, é
necessário cuidar ainda mais a verdade dos sinais.
Depois da saudação litúrgica, o Bispo do lugar ou o
seu delegado pode dirigir breves palavras de acolhimento, seguidas pelo ato
penitenciai. Os ritos iniciais não são o momento para os discursos das
autoridades civis, que podem ter lugar antes ou depois da celebração.
c) Liturgia da Palavra
25. Dado que “a Liturgia da
Palavra deve ser celebrada de tal modo que favoreça a meditação” (IGMR, n. 56),
as leituras sejam proclamadas sem pressa, para que todos possam escutar e
compreender a Palavra do Senhor. Tenha-se presente que, em grandes assembleias,
o som demora a chegar aos lugares mais afastados. Muito eficazes são os breves
momentos de silêncio, pois permitem meditar o que foi escutado (cf. n.
45). Os leitores, portanto, sejam escolhidos com muito cuidado.
A procissão com o Evangeliário seja realizada com
grande solenidade (cf. ibid., n. 175), manifestando assim a
particular reverência reservada ao Evangelho (cf. ibid., n. 134),
e que sua escuta constitui o ápice da Liturgia da Palavra (cf. Elenco
das Leituras da Missa, n. 13). Convém valorizar com o canto a proclamação
do Evangelho (cf. Bento XVI, Exortação Apostólica pós-sinodal Verbum Domini,
n. 67).
As grandes celebrações são um caso em que a sede
parece ser o lugar mais adequado para a homilia (cf. IGMR, n. 136). No
fim dessa, é conveniente observar um momento de silêncio (cf. ibid.,
nn. 56.66.136).
d) Apresentação dos dons
26. O gesto de levar os dons ao
altar por parte dos fiéis (cf. IGMR, n. 73) “não necessita ser
enfatizado com descabidas complicações para ser vivido no seu significado
autêntico” (Sacramentum Caritatis, n. 47). Nas grandes celebrações sejam
apresentados apenas os dons que constituem a matéria do sacrifício e aqueles destinados
à caridade. Tenha-se presente que o acréscimo de explicações na apresentação
dos dons não favorece o sentido litúrgico deste momento.
Tenha-se o cuidado para que a quantidade de pão e de
vinho a consagrar corresponda ao número dos participantes e dos concelebrantes.
Os dons eucarísticos sejam dispostos sobre o altar.
Se, dada à quantidade, não é possível, alguns presbíteros não concelebrantes,
diáconos ou acólitos instituídos, com os cibórios [âmbulas] nas mãos,
coloquem-se - antes da apresentação dos dons - junto do altar, sem, porém, impedir
os concelebrantes ou ocultar a visão do altar aos fiéis.
e) Oração Eucarística
27. Para facilitar a
participação pessoal de todos os concelebrantes, convém que cada um disponha de
um subsídio para a Oração Eucarística. As partes proferidas conjuntamente pelos
concelebrantes, “sobretudo as palavras da consagração, que todos devem expressar,
quando forem recitadas, sejam ditas em voz baixa, de modo que se ouça
claramente a voz do celebrante principal” (IGMR, n. 218). Nas grandes celebrações
convém que estas partes sejam cantadas (cf. ibid.), pois, além de
destacar o caráter sagrado da oração, se favorece assim a sincronia das palavras.
O elevado número de concelebrantes aconselha a
limitar movimentos que distraiam tanto os sacerdotes como os fiéis.
No momento da consagração os cibórios devem estar
descobertos. A adoração por parte dos fiéis é favorecida através de especificas
manifestações de reverência pela Eucaristia, como ajoelhar-se, se possível, a
incensação das sagradas espécies, o som da campainha (cf. ibid.,
n. 150). Em alguns lugares, a importância do momento é destacada pelo uso de
velas levadas por ministros que se colocam diante do altar.
f) Rito da paz
28. Convém, particularmente em
grandes celebrações, que o rito da paz seja um gesto moderado, de modo que “cada
um dê a paz de maneira sóbria apenas aos que lhe estão mais próximos” (cf.
IGMR, n. 82). A sobriedade do gesto não tira nada do seu alto valor e ajuda a
manter o clima de oração antes da Comunhão.
Missa do Domingo de Páscoa no Vaticano (2024) |
g) Comunhão dos concelebrantes
29. É importante prever bem a Comunhão dos concelebrantes, que requer uma cuidadosa preparação e atenção. Realize-se “de acordo com as normas prescritas nos livros litúrgicos, utilizando sempre hóstias consagradas na mesma Missa e recebendo todos os concelebrantes a Comunhão sob as duas espécies” (Redemptionis Sacramentum, n. 98). Os concelebrantes comunguem antes de se dirigirem a distribuir a Comunhão aos fiéis.
Se o grande número de concelebrantes os impede de poder comungar no altar, dirijam-se a lugares previamente dispostos para comungar com calma e piedade. Em uma igreja ampla, tais lugares podem ser as capelas laterais, enquanto em espaços abertos devem preparar-se lugares visíveis e reconhecíveis facilmente pelos concelebrantes. Nestes lugares, sobre uma ampla mesa, disponham-se sobre um ou mais corporais o cálice ou os cálices junto às patenas com as hóstias. Se isto for muito difícil, os concelebrantes permaneçam no seu lugar e comunguem do Corpo e do Sangue do Senhor que lhes são apresentados por diáconos ou por alguns concelebrantes. Deve prestar-se a máxima atenção para evitar que hóstias ou gotas do Sangue do Senhor caiam por terra.
Terminada a distribuição da Comunhão aos concelebrantes, tenha-se o cuidado de consumir imediata e totalmente o vinho consagrado restante, e de levar as hóstias consagradas que sobraram aos lugares destinados à conservação e guarda da Eucaristia (cf. IGMR, n. 163).
h) Comunhão dos fiéis
30. Antes do início do canto da
Comunhão, tendo presente as situações heterogêneas dos presentes, seja pela
pertença ou não à Igreja Católica, seja pelas disposições pessoais (cf. Sacramentum
Caritatis, n. 50; Catecismo da Igreja Católica, n. 1385), é
conveniente que, com uma monição adequada, se recordem as atitudes de adoração
e de respeito pelo Sacramento e as condições para receber a Comunhão [4]; podem
indicar-se também os lugares e as modalidades previstas para a distribuição da
Comunhão.
Embora seja recomendável que a Comunhão se faça com
hóstias consagradas na própria celebração (cf. IGMR, n. 85), por motivos
compreensíveis, nas grandes celebrações pode ser oportuna também a Comunhão com
a distribuição de hóstias já consagradas, neste caso conservadas em cibórios
devidamente guardados em tabernáculos seguros e de dimensões suficientes,
colocados em capelas ou lugares idôneos a tal fim.
A estes lugares, ou ao longo dos corredores que
delimitam os setores, se dirijam os fiéis que desejam receber a Comunhão.
Os ministros que distribuem a Comunhão devem ser
reconhecíveis. Um modo, em linha com a tradição, é que os acompanhe uma pessoa
- um coroinha ou ministrante - que leve um guarda-chuva adequado ou outro sinal
como, por exemplo, uma vela acesa.
Se é sempre louvável o uso da patena, o é especialmente
nestas circunstâncias em que a distribuição é mais complexa (Redemptionis
Sacramentum, n. 93), recorrendo eventualmente a idôneas tampas dos cibórios.
Prevejam-se e sejam indicados os lugares específicos em que podem comungar
pessoas com necessidades particulares (por exemplo, os celíacos).
O Bispo do lugar, tendo presente eventuais riscos
que podem verificar-se nestas grandes assembleias, poderá decidir se é oportuno
aplicar o que está previsto no n. 92 da Instrução Redemptionis Sacramentum,
de modo que a Comunhão seja distribuída somente na boca.
As hóstias que sobraram no fim da Comunhão sejam levadas
com dignidade aos lugares da reserva eucarística, entregando os cibórios; aí
deve haver todo o necessário para a purificação dos vasos sagrados e dos dedos.
Conclusão
31. O Concilio Vaticano II
iniciou os seus trabalhos refletindo sobre a sagrada Liturgia. Deste modo,
colocou-se inequivocamente em destaque o primado de Deus, o verdadeiro
protagonista da celebração litúrgica da Igreja. Quando é a orientação para Deus
não é o fundamento, tudo o mais perde a sua orientação. O objetivo do presente “Guia
para as grandes celebrações”, com indicações e sugestões práticas, não é
outro que ajudar a preparar devidamente e a viver frutuosamente as grandes celebrações
litúrgicas.
Sirva-nos de exemplo a Bem-aventurada Virgem Maria,
imagem da Igreja em oração. “A beleza da Liturgia celeste, que deve refletir-se
também nas nossas assembleias, encontra nela um espelho fiel. Dela devemos
aprender a tornar-nos pessoas eucarísticas e eclesiais para podermos também nós,
segundo a palavra de São Paulo, apresentar-nos ‘imaculados’ perante o Senhor, tal
como Ele nos quis desde o princípio (cf. Cl 1,22; Ef 1,4)” (Sacramentum
Caritatis, n. 96).
Notas:
[1] cf. XI Assembleia Geral Ordinária do
Sínodo dos Bispos, Eucaristia: Fonte e ápice da vida e da missão da Igreja.
Elenco final de proposições, n. 37: “Os Padres sinodais reconhecem o
alto valor das concelebrações, especialmente aquelas presididas pelo Bispo
com o seu presbitério, os diáconos e os fiéis. Pede-se aos organismos
competentes, porém, que estudem melhor a práxis da concelebração quando o número
dos celebrantes é muito elevado”.
[2] “O número dos concelebrantes, define-se em cada
caso, tendo em conta quer a igreja quer o altar onde se realiza a
concelebração, de modo que os concelebrantes possam rodear o altar, ainda que
nem todos possam tocar diretamente a mesa” (Sagrada Congregação dos Ritos, Ritus
servandus in concelebratione Missae et Ritus communionis sob utraque specie,
editio typica, 1966, n. 4).
[3] cf. Cerimonial dos Bispos, n.
274: “Para que se exprima o melhor possível esta unidade do presbitério, procure
o Bispo que estejam presentes presbíteros concelebrantes vindos das diversas
regiões da diocese”.
[4] “Às vezes acontece que os fiéis se aproximem da mesa sagrada em massa e sem o devido discernimento. É tarefa dos pastores corrigir com prudência e firmeza tal abuso. Além disso, onde se celebra a Missa para uma grande multidão ou, por exemplo, nas grandes cidades, é preciso vigiar para que, por falta de conhecimento, não recebam a sagrada Comunhão os não católicos e até mesmo os não cristãos, sem ter em conta o Magistério da Igreja em âmbito doutrinal e disciplinar. Cabe aos pastores advertir os presentes, no momento oportuno, sobre a verdade e a disciplina que deve ser observada rigorosamente” (Redemptionis Sacramentum, nn. 83-84).
Tradução nossa a partir do original italiano. Fonte: Santa Sé.
Nenhum comentário:
Postar um comentário