No dia 08 de fevereiro de 2024 o Papa Francisco encontrou os membros do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos reunidos em Assembleia Plenária, com o tema “Euntes parate nobis Pascha - Ide preparar-nos a Páscoa (Lc 22,8): Caminhos de formação litúrgica para ministros ordenados e fiéis leigos”.
O encontro deu continuidade à reflexão da Assembleia Plenária de 2019, igualmente dedicada ao tema da formação litúrgica, destacando também os 60 anos da Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a sagrada Liturgia, promulgada pelo Concílio Vaticano II em dezembro de 1963.
Confira a seguir o discurso do Papa Francisco aos membros do Dicastério:
Papa Francisco
Discurso aos participantes da Assembleia Plenária do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos
Sala Clementina
Quinta-feira, 08 de fevereiro de 2024
Caros irmãos e irmãs!
Encontro-vos por ocasião da vossa Assembleia Plenária. Saúdo o
Cardeal Prefeito e todos vós, Membros, Consultores e Colaboradores do Dicastério
para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
Sessenta anos depois da promulgação da Sacrosanctum Concilium
não deixam de nos entusiasmar as palavras que lemos no seu Proêmio, com as
quais os Padres declaravam a finalidade do Concílio. São objetivos que
descrevem uma precisa vontade de reforma a Igreja nas suas dimensões
fundamentais: «fomentar cada vez mais entre os fiéis a vida cristã; adaptar
melhor às necessidades do nosso tempo as instituições que podem ser modificadas;
favorecer tudo o que possa contribuir para a união de todos aqueles que creem em
Jesus Cristo; e fortalecer tudo o que possa atrair todas as pessoas ao seio da
Igreja» (n. 1). Trata-se de um trabalho de renovação espiritual, pastoral, ecumênica
e missionária. E para poder realizá-lo os Padres conciliares sabiam bem por
onde deviam começar, sabiam que deviam «providenciar, de maneira especial, a
reforma e o incremento da Liturgia» (ibid.). É como dizer: sem reforma
litúrgica não há reforma da Igreja.
Só podemos fazer tal afirmação se compreendermos o que é a Liturgia
no sentido teológico, como os primeiros números da Constituição sintetizam de maneira
admirável. Uma Igreja que não sente a paixão pelo crescimento espiritual, que
não procura falar de modo compreensível aos homens e mulheres do seu tempo, que
não se entristece pela divisão entre os cristãos, que não treme com o anseio de
anunciar Cristo às nações, é uma Igreja doente, e estes são os seus sintomas.
Toda instância de reforma da Igreja é sempre questão de fidelidade
esponsal: a Igreja Esposa será sempre mais bela quanto mais amar Cristo Esposo,
a ponto de pertencer totalmente a Ele, a ponto de conformar-se plenamente a
Ele. E, sobre isto, digo uma coisa acerca da ministerialidade da mulher. A
Igreja é mulher, a Igreja é mãe, a Igreja tem a sua figura em Maria, e a
Igreja-mulher, cuja figura é Maria, é mais do que Pedro, ou seja, é outra
coisa. Não se pode reduzir tudo à ministerialidade. A mulher em si mesma tem um
símbolo muito grande na Igreja como mulher, sem reduzi-la à ministerialidade. Por
isso eu disse que toda instância de reforma da Igreja é sempre questão de
fidelidade conjugal, porque ela é mulher. Os Padres conciliares sabiam que
deviam colocar no centro a Liturgia, porque é o lugar por excelência do
encontro com Cristo vivo. O Espírito Santo, que é o precioso dom que o próprio
Esposo, com a sua cruz, proporcionou à Esposa, torna possível aquela actuosa
participatio (participação ativa) que continuamente anima e renova a vida
batismal.
O objetivo da reforma litúrgica - no quadro mais amplo da
renovação da Igreja - é precisamente «suscitar aquela formação dos fiéis e
promover aquela ação pastoral que tem como seu ápice e sua fonte a sagrada
Liturgia» (Instrução Inter oecumenici, 26 de setembro de 1964, n. 5).
Para que tudo isto possa acontecer, portanto, é necessária a
formação litúrgica, isto é, a formação para a Liturgia e pela Liturgia,
sobre a qual estais refletindo nestes dias. Não se trata de uma especialização
para poucos expertos, mas de uma disposição interior de todo o povo de Deus.
Isto naturalmente não exclui que haja uma prioridade na formação daqueles que, em
virtude do sacramento da Ordem, são chamados a ser mistagogos, isto é, a tomar
os fiéis pela mão e acompanhá-los no conhecimento dos santos mistérios. Encorajo-vos
a prosseguir neste vosso compromisso, para que os pastores saibam conduzir o
povo à boa pastagem da celebração litúrgica, onde o anúncio de Cristo morto e
ressuscitado se torna experiência concreta da sua presença que transforma a
vida.
No espírito de colaboração sinodal entre os Dicastérios almejada na
Praedicate Evangelium (n. 8), desejo que a questão da formação litúrgica
dos ministros ordenados seja tratada também com o Dicastério para a Cultura e a
Educação, com o Dicastério para o Clero e com o Dicastério para os Institutos
de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, de modo que cada um ofereça
a própria contribuição específica. Se «a Liturgia é o cume para o qual tende a ação
da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte da qual emana toda a sua força» (Sacrosanctum
Concilium, n. 10), é preciso fazer com que também a formação dos ministros
ordenados tenha sempre mais um cunho litúrgico-sapiencial, tanto no currículo
dos estudos teológicos como na experiência de vida dos Seminários.
Por fim, enquanto preparamos novos percursos formativos para os
ministros, devemos pensar ao mesmo tempo naqueles destinados ao povo de Deus, partindo
das assembleias que se reúnem no dia do Senhor e nas festas do Ano Litúrgico: essas
constituem a primeira oportunidade concreta de formação litúrgica. E o mesmo
vale para outros momentos nos quais as pessoas participam mais nas celebrações
e na sua preparação: penso nas festas dos padroeiros ou nos Sacramentos da
iniciação cristã. Preparados com cuidado pastoral, se tornam ocasiões
favoráveis para que as pessoas possam redescobrir e aprofundar o sentido de
celebrar hoje o mistério da salvação.
«Ide preparar-nos a Páscoa» (Lc 22,8): estas palavras
de Jesus, que inspiram as vossas reflexões nestes dias, exprimem o desejo do
Senhor de reunir-nos em torno da mesa do seu Corpo e do seu Sangue. São um
imperativo que chega a nós como uma súplica amorosa: dedicar-se à formação litúrgica
significa corresponder a esse convite, para que “possamos comer a Páscoa” e
viver uma existência pascal, pessoal e comunitária.
Caros irmãos e irmãs, a vossa tarefa é grande e bela: trabalhar
para que o povo de Deus cresça na consciência e na alegria de encontrar o
Senhor celebrando dos santos mistérios e, encontrando-o, tenha vida em seu
nome. Agradeço-vos tanto pelo vosso empenho e abençoo-vos de coração. Que a
Virgem Santa vos proteja. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim.
Obrigado.
Tradução livre nossa a partir do original italiano. Fonte: Santa Sé.
Confira também:
Prefeitos da Congregação para o Culto Divino (1975-2021)
Secretários da Congregação para o Culto Divino (1975-2021)
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