terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Ângelus: I Domingo da Quaresma - Ano B

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 18 de fevereiro de 2024

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, I Domingo da Quaresma, o Evangelho apresenta-nos Jesus tentado no deserto (Mc 1,12-15). Diz o texto: «Permaneceu quarenta dias no deserto, tentado por Satanás». Também nós, na Quaresma, somos convidados a “entrar no deserto”, isto é, no silêncio, no mundo interior, na escuta do coração, no contato com a verdade. No deserto - acrescenta o Evangelho de hoje - Cristo «estava com as feras e os anjos serviam-no» (v. 13). As feras e os anjos eram a sua companhia. Mas, em sentido simbólico, são também a nossa companhia: quando entramos no deserto interior, de fato, podemos encontrar aí feras e anjos.

Feras. Em que sentido? Na vida espiritual, podemos pensar nelas como as paixões desordenadas que dividem o coração, procurando possuí-lo. Elas sugestionam-nos, parecem seduzir-nos. Elas atraem-nos, parecem cativantes, mas, se não tomarmos cuidado, há o risco de que nos destrocem. Podemos dar nomes a estas “feras” da alma: os vários vícios, a ambição da riqueza, que nos aprisiona no cálculo e na insatisfação, a vaidade do prazer, que nos condena ao desassossego e à solidão, e ainda a avidez da fama, que gera insegurança e uma necessidade constante de confirmação e de protagonismo - não esqueçamos estas coisas que podemos encontrar dentro de nós: a ambição, a vaidade e a avidez. São como feras “selvagens” e, como tal, devem ser domadas e combatidas: caso contrário, devorarão a nossa liberdade. E a Quaresma ajuda-nos a entrar no deserto interior para corrigir estas coisas.

E depois, no deserto, estavam os anjos. Eles são os mensageiros de Deus, que nos ajudam, nos fazem bem; de fato, a sua característica, segundo o Evangelho, é o serviço (v. 13): exatamente o contrário da posse, típica das paixões. Serviço contra posse. Os espíritos angélicos suscitam os bons pensamentos e sentimentos sugeridos pelo Espírito Santo. Enquanto as tentações nos dilaceram, as boas inspirações divinas unem-nos e fazem-nos entrar na harmonia: tranquilizam o coração, incutem o gosto de Cristo, “o sabor do Céu”. E para captar a inspiração de Deus, é preciso entrar no silêncio e na oração. E a Quaresma é o tempo para fazer isto.

Podemos perguntar-nos: em primeiro lugar, quais são as paixões desordenadas, as “feras selvagens” que se agitam no meu coração? Em segundo lugar, para deixar que a voz de Deus fale ao meu coração e o mantenha no bem, penso em retirar-me um pouco para o “deserto”, procuro dedicar durante o dia um espaço para isto?

Que a Virgem Santa, que guardou a Palavra e não se deixou tocar pelas tentações do Maligno, nos ajude no nosso caminho de Quaresma.

Cristo no deserto, entre os animais e os anjos
(Moretto da Brescia)

Fonte: Santa Sé.

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