terça-feira, 3 de outubro de 2023

Homilia do Papa: Vigília de oração pelo Sínodo dos Bispos

Vigília Ecumênica de Oração na intenção da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos
Homilia do Papa Francisco
Praça de São Pedro
Sábado, 30 de setembro de 2023

«Togheter» - «Juntos», como a comunidade cristã das origens no dia do Pentecostes, como um único rebanho, amado e reunido por um só Pastor, Jesus. Como a grande multidão do Apocalipse, estamos aqui, irmãos e irmãs «de todas as nações, tribos, povos e línguas» (Ap 7,9), vindos de comunidades e países diferentes, filhas e filhos do mesmo Pai, animados pelo Espírito recebido no Batismo, chamados à mesma esperança (cf. Ef 4,4-5).

Obrigado pela vossa presença. Obrigado à Comunidade de Taizé por esta iniciativa. Saúdo com grande afeto aos hierarcas das Igrejas, aos líderes e às delegações das diferentes tradições cristãs, e saúdo a todos vós, especialmente aos jovens: obrigado! Obrigado por terem vindo rezar por nós e conosco, em Roma, antes da Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, nas vésperas do retiro espiritual que a precede. «Syn-odos»: caminhamos juntos, não só os católicos, mas todos os cristãos, o povo inteiro dos batizados, todo o Povo de Deus, porque «só o conjunto pode ser a unidade de todos» (P. A. Möhler, Symbolik oder Darstellung der dogmatischen Gegensätze der Katholiken und Protestanten nach ihren öffentlichen Bekenntnisschnften, II, Köln-Olten, 1961, 698).


Como a grande multidão do Apocalipse, rezamos em silêncio, ouvindo um grande «silêncio» (Ap 8,1). E o silêncio é importante, é forte: pode expressar uma dor indescritível frente às desgraças, mas também, nos momentos de alegria, um júbilo que transcende as palavras. Por isso quero refletir brevemente convosco sobre a sua importância na vida do crente, na vida da Igreja e no caminho de unidade dos cristãos. A importância do silêncio.

Em primeiro lugar, o silêncio é essencial na vida do crente. De fato, aparece no início e no fim da existência terrena de Cristo. O Verbo, a Palavra do Pai, fez-se «silêncio» na manjedoura e na cruz, na noite do Nascimento e na da Páscoa. Nesta tarde nós, cristãos, permanecemos em silêncio diante do Crucifixo de São Damião, como discípulos à escuta diante da cruz, que é a cátedra do Mestre. O nosso não foi um silêncio vazio, mas um momento cheio de fé, expectativa e disponibilidade. Em um mundo cheio de ruído, já não estamos habituados ao silêncio; antes, às vezes temos dificuldade em suportá-lo, porque nos coloca diante de Deus e de nós próprios. Contudo, está na base da palavra e da vida. São Paulo diz que o mistério do Verbo Encarnado «foi mantido em silêncio por tempos eternos» (Rm 16,25), ensinando-nos que o silêncio guarda o mistério, como Abraão guardava a Aliança, como Maria guardava no ventre e meditava no coração a vida do seu Filho (cf. Lc 1,31; 2,19.51). Aliás, a verdade não necessita de gritos violentos para chegar ao coração dos homens. Deus não gosta de pregões e gritarias, de bisbilhotice e tumulto; Deus prefere antes, como fez com Elias, falar no «murmúrio de uma brisa suave» (1Rs 19,12), em um «fio de silêncio ressonante». E assim também nós, como Abraão, como Elias, como Maria, precisamos nos libertar de muitos ruídos para ouvir a sua voz. Pois é só no nosso silêncio que ressoa a sua Palavra.

Em segundo lugar, o silêncio é essencial na vida da Igreja. Os Atos dos Apóstolos dizem que, depois do discurso de Pedro no Concílio de Jerusalém, «toda a assembleia ficou em silêncio» (At 15,12), preparando-se para acolher o testemunho de Paulo e Barnabé sobre os sinais e maravilhas que Deus realizara no meio das nações. E isto recorda-nos que o silêncio, na comunidade eclesial, torna possível a comunicação fraterna, na qual o Espírito Santo harmoniza os pontos de vista, porque Ele é a harmonia. Ser sinodais significa acolhermo-nos uns aos outros assim, cientes de que todos temos algo para testemunhar e aprender, colocando-nos juntos à escuta do «Espírito da Verdade» (Jo 14,17) para conhecermos o que Ele «diz às Igrejas» (Ap 2,7). E o silêncio permite precisamente o discernimento, através da escuta atenta dos «gemidos inefáveis» (Rm 8,26) do Espírito que ecoam, muitas vezes escondidos, no Povo de Deus. Por isso peçamos ao Espírito o dom da escuta para os participantes no Sínodo: «escuta de Deus, até ouvir com Ele o grito do povo; escuta do povo, até respirar nele a vontade a que Deus nos chama» (Discurso na Vigília de Oração pelo Sínodo sobre a Família, 04 de outubro de 2014).

E finalmente, em terceiro lugar, o silêncio é essencial no caminho de unidade dos cristãos. Na verdade, é fundamental para a oração, da qual começa o ecumenismo e sem a qual este é estéril. De fato, Jesus rezou pelos seus discípulos para que «sejam todos um só» (Jo 17,21). O silêncio feito oração permite-nos acolher o dom da unidade «como Cristo a quer», «com os meios que Ele quer» (P. Couturier, Oração pela unidade), não como fruto autônomo dos nossos esforços e segundo critérios puramente humanos. Quanto mais nos dirigimos juntos ao Senhor na oração, mais sentimos que é Ele quem nos purifica e nos une para além das diferenças. A unidade dos cristãos cresce no silêncio diante da cruz, precisamente como as sementes que receberemos e que representam os diversos dons concedidos pelo Espírito Santo às várias tradições: a nós cabe-nos a tarefa de semeá-las, na certeza de que, o crescimento, só Deus o dá (cf. 1Cor 3,6). Elas serão um sinal para nós, chamados por nossa vez a morrer silenciosamente para o egoísmo a fim de crescermos, pela ação do Espírito Santo, na comunhão com Deus e na fraternidade entre nós.

Por isso, irmãos e irmãs, na oração comum, peçamos para aprender de novo a fazer silêncio: para ouvir a voz do Pai, o chamamento de Jesus e o gemido do Espírito. Peçamos que o Sínodo seja kairós de fraternidade, um lugar onde o Espírito Santo purifique a Igreja das murmurações, das ideologias e das polarizações. Enquanto nos encaminhamos para o importante aniversário do grande Concílio de Niceia (325-2025), peçamos para saber adorar unidos e em silêncio, como os Magos, o mistério de Deus feito homem, certos de que quanto mais estivermos próximo de Cristo, tanto mais unidos estaremos entre nós. E assim como os sábios do Oriente foram conduzidos a Belém por uma estrela, assim também a luz celeste nos guie para o nosso único Senhor e para a unidade pela qual Ele rezou. Irmãos e irmãs, caminhemos juntos, desejosos de encontrá-lo, adorá-lo e anunciá-lo para que «o mundo creia» (Jo 17,21).


Fonte: Santa Sé.

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