domingo, 1 de julho de 2012

A imposição do pálio

No último dia 29 de junho, Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, o Santo Padre, o Papa Bento XVI, impôs aos bispos que foram nomeados Arcebispos Metropolitanos durante o último ano o pálio, sua insígnia própria. Segundo o Cerimonial dos Bispos (n. 1149), a entrega do pálio preferencialmente seja feita na própria ordenação episcopal. Contudo, como é muito raro que um presbítero seja eleito diretamente para uma Sé Metropolitana, o Beato João Paulo II já no início de seu pontificado passou a presidir este rito na Solenidade de São Pedro e São Paulo de cada ano. E o Papa Bento XVI tem continuado esta tradição.


O pálio (do latim pallium, manto), confeccionado a partir da lã de duas ovelhas abençoadas pelo Papa na memória litúrgica de Santa Inês, consiste em duas tiras de lã ornadas de seis cruzes tecidas em negro. O Arcebispo o usa sobre os ombros, tendo uma tira pendente no peito e outra nas costas. Esta forma e a matéria do qual é feito indicam a missão de pastor do Arcebispo, que carrega a ovelha aos ombros.


Aos Arcebispos Metropolitanos (também chamados Metropolitas) é confiado o pálio para indicar sua autoridade sobre uma Arquidiocese Metropolitana. O Arcebispo torna-se solícito também para com as dioceses vizinhas, sobretudo no caso de vacância (morte ou renúncia do bispo). Por isso, o Arcebispo pode usar o pálio em todas as celebrações em que preside ou concelebra em sua Arquidiocese ou nas suas dioceses sufragâneas.

Esta insígnia também quer indicar a comunhão do Arcebispo com o Sumo Pontífice e com a Sé de Pedro. Por isso, após a confecção do pálio, este é depositado junto ao túmulo de São Pedro (abaixo do Altar da Confissão, na Basílica de São Pedro em Roma) até a Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, quando então é entregue pelo Papa aos Arcebispos. No caso de um Arcebispo que recebe o pálio fora desta celebração, seu pálio continua junto ao túmulo de Pedro até a sua entrega.

Desde o início do pontificado do Beato. João Paulo II, a entrega do pálio se fazia após a homilia. Este ano, em maior conformidade com o Cerimonial dos Bispos (n. 1152-1155), a entrega do pálio se fez já no início da celebração. Isto para que não se confunda a entrega do pálio com um ato sacramental, o qual comumente se realiza, se dentro da Missa, após a homilia.

Após a incensação do altar, os diáconos dirigem-se até junto do túmulo de S. Pedro e tomam os pálios, levando-os até junto do Santo Padre. Em seguida, o Cardeal Proto-Diácono apresenta ao Papa os Arcebispos que devem receber o pálio com estas palavras:

Beatíssimo Pai, os Reverendíssimos Padres Arcebispos aqui presentes, com reverência fiel e obediente diante de Vossa Santidade e da Sé Apostólica, pedem humildemente que Vossa Santidade lhes conceda o pálio, tomado da Confissão do Bem-aventurado Pedro, como sinal da autoridade de que os Metropolitas, em comunhão com a Igreja Romana, são investidos em suas próprias circunscrições. Os outros Padres Arcebispos recentemente promovidos a Igrejas Metropolitanas, que hoje não puderam vir a Roma, pedem humildemente poder receber o pálio, em nome e no lugar de Vossa Santidade, do representante Pontifício, cada um em sua própria Igreja Metropolitana.



Os Arcebispos proferem então, sua fórmula de juramento:

Eu, N., Arcebispo de N., serei sempre fiel e obediente ao Bem-aventurado Apóstolo Pedro, à Santa e Apostólica Igreja de Roma, a ti, Sumo Pontífice, e a teus legítimos sucessores. Assim me ajude Deus Onipotente.


Segue-se a bênção dos pálios pelo Santo Padre:

Ó Deus, Pastor eterno das almas, a ti chamaste, por meio do teu Filho Jesus Cristo, com o nome de ovelhas do rebanho os que quisestes confiar ao governo, sob a imagem do Bom Pastor, do Bem-aventurado Pedro e de seus Sucessores, infunde, pelo nosso ministério, a graça da tua bênção sobre estes pálios, escolhidos pala simbolizar a realidade da cura pastoral. Acolhe benigno a oração que humildemente te dirigimos e concede, pelos méritos e pela intercessão dos Apóstolos, àqueles que, por teu dom, endossarem estes pálios, reconhecerem-se como pastores do teu rebanho  e traduzirem na vida a realidade significada no nome. Tomem sobre si o jugo evangélico imposto sobre seus ombros, e seja para eles assim leve e suave poder preceder os outros na via dos teus mandamentos com o exemplo de uma fidelidade perseverante, até merecerem ser introduzidos na Páscoa eterna do teu reino. Por Cristo, nosso Senhor.


Abençoados os pálios, o Santo Padre recita uma vez a fórmula de imposição:

Para glória de Deus Onipotente e louvor da Bem-aventurada sempre Virgem Maria e dos Bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, para decoro das Sés a vós confiadas, como sinal do poder de metropolitas, vos entregamos o pálio tomado da Confissão do Bem-aventurado Pedro, para que o uses dentro dos limites de vossa província eclesiástica. Que este pálio seja para vós símbolo de unidade e sinal de comunhão com a Sé Apostólica; seja vínculo de caridade e estímulo à fortaleza, a fim de que no dia da vinda e da revelação do grande Deus e do príncipe dos pastores, Jesus Cristo, possam obter, com o rebanho a vós confiado, a veste da imortalidade e da glória. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

Em seguida, cada Arcebispo aproxima-se do Papa, recebe dele o pálio e é saudado com o abraço da paz. Por último, o Arcebispo Secretário da Congregação para os Bispos recebe do Santo Padre os pálios destinados aos Metropolitas ausentes. Então, a Missa inicia-se com o sinal da cruz e segue como de costume.


Por fim, outro detalhe particular desta celebração no Vaticano é a presença de um representante do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, principal igreja do Santo Sínodo das Igrejas Ortodoxas. No final da celebração, o Papa e o representante do Patriarcado rezam juntos diante do túmulo de São Pedro, expressando o desejo de diálogo ecumênico entre as igrejas irmãs (Roma e Constantinopla).


REFERÊNCIAS:

SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Cerimonial dos Bispos, Cerimonial da Igreja: Tradução portuguesa da Edição Típica. São Paulo: Paulus, 2004 (3ª edição).


Livreto da Celebração da Solenidade dos Santos Pedro e Paulo Apóstolos (29.06.2012), disponível no siteda Santa Sé.

Crédito das fotos: L'Osservatore Romano

Nota: As traduções das orações do rito de imposição do pálio foram realizadas livremente pelo autor deste blog, utilizando-se dos textos latino e italiano disponíveis no livreto da celebração. Não são traduções oficiais, mas aproximações ao sentido do texto, e portanto podem estar sujeitas a erros.

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