Viagem Apostólica à Turquia e ao Líbano
Encontro Ecumênico de Oração no 1700º Aniversário do I Concílio de Niceia
Discurso do Papa Leão XIV
Escavações arqueológicas da Basílica de São Neófito em Iznik (Turquia)
Sexta-feira, 28 de novembro de 2025
Queridos irmãos e irmãs!
Em uma época,
em muitos aspectos, dramática, na qual as pessoas estão sujeitas a inúmeras
ameaças à sua própria dignidade, o 1700º aniversário do Primeiro Concílio de
Niceia é uma ocasião preciosa para nos perguntarmos quem é Jesus Cristo na vida
dos homens e mulheres de hoje e quem é Ele para cada um de nós.
Esta questão
interpela particularmente os cristãos, que correm o risco de reduzir Jesus
Cristo a uma espécie de líder carismático ou super-homem, uma deturpação que
acaba por conduzir à tristeza e à confusão (cf. Homilia na Missa Pro Ecclesia, 09 de maio de 2025). Ário, ao negar a divindade de
Cristo, reduziu-o a um simples intermediário entre Deus e os seres humanos,
ignorando a realidade da Encarnação, de modo que o divino e o humano
permaneceram irremediavelmente separados. Mas se Deus não se fez homem, como
podem os mortais participar da sua vida imortal? Era isto que estava em jogo em
Niceia e está em jogo hoje: a fé no Deus que, em Jesus Cristo, se fez como nós
para nos tornar «participantes da natureza divina» (2Pd 1,4; cf.
Santo Irineu, Adversus haereses, III, 19; Santo Atanásio, De
Incarnatione, 54, 3).
Esta
confissão de fé cristológica é de fundamental importância no caminho que os
cristãos estão percorrendo rumo à plena comunhão: ela é partilhada,
efetivamente, por todas as Igrejas e Comunidades cristãs no mundo, inclusive
aquelas que, por várias razões, não utilizam o Credo Niceno-Constantinopolitano
nas suas Liturgias. Com efeito, a fé «em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito
de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos... consubstancial ao Pai»
(Credo Niceno) é um vínculo profundo que já une todos os cristãos. Nesse
sentido, para citar Santo Agostinho, também no âmbito ecumênico podemos dizer
que «embora nós, cristãos, sejamos muitos, no único Cristo somos um» (Exposição
sobre o Salmo 127). Partindo da consciência de que já nos
encontramos unidos por este vínculo profundo - através de um caminho de adesão
cada vez mais total à Palavra de Deus revelada em Jesus Cristo e sob a direção
do Espírito Santo, no amor recíproco e no diálogo - somos todos convidados a
superar o escândalo das divisões infelizmente ainda existentes e a alimentar o
anseio em busca da unidade, pela qual o Senhor Jesus rezou e deu a sua vida.
Quanto mais nós cristãos estivermos reconciliados, tanto mais poderemos dar um
testemunho crível do Evangelho de Jesus Cristo, que é anúncio de esperança para
todos, mensagem de paz e de fraternidade universal que ultrapassa as fronteiras
das nossas comunidades e nações (cf. Francisco, Discurso aos
participantes na Sessão Plenária do Pontifício Conselho para a Promoção da
Unidade dos Cristãos, 06 de maio de 2022).
A
reconciliação é hoje um apelo que vem da humanidade inteira, afligida por
conflitos e violência. O desejo de plena comunhão entre todos os que creem em
Jesus Cristo é sempre acompanhado pela busca da fraternidade entre todos os
seres humanos. No Credo Niceno professamos a nossa fé «em um só Deus, Pai
todo-poderoso»; no entanto, não seria possível invocar Deus como Pai se
recusássemos reconhecer os outros homens e mulheres como irmãos e irmãs, também
eles criados à imagem de Deus (cf. Concílio Ecumênico Vaticano II,
Declaração Nostra aetate, n. 5). Existe uma fraternidade e
sororidade universal, que não depende da etnia, nacionalidade, religião ou
opinião. Por sua natureza, as religiões são depositárias dessa verdade e
deveriam encorajar as pessoas, os grupos humanos e os povos a reconhecê-la e a
praticá-la (cf. Discurso na Conclusão do Encontro Internacional
da Paz, 28 de outubro de 2025). O uso da religião para justificar a guerra
e a violência, assim como qualquer forma de fundamentalismo e fanatismo, deve
ser rejeitado com veemência, enquanto os caminhos a seguir são os do encontro
fraterno, do diálogo e da colaboração.
Estou
profundamente grato a Sua Santidade, o Patriarca Bartolomeu, que, com grande
sabedoria e visão, decidiu comemorar conjuntamente o 1700º aniversário do
Concílio de Niceia precisamente no local onde foi celebrado; e agradeço
calorosamente aos líderes das Igrejas e aos representantes das Comunhões
Cristãs Mundiais que aceitaram o convite para participar neste evento. Que Deus
Pai, todo-poderoso e misericordioso, ouça a fervorosa oração que hoje lhe
dirigimos e conceda que este importante aniversário traga frutos abundantes de
reconciliação, unidade e paz.
Fonte: Santa Sé.


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