Viagem Apostólica à Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura
Santa Missa
Homilia do Papa Francisco
Estádio “Sir John Guise” (Port Moresby, Papua Nova Guiné)
Domingo, 08 de setembro de 2024
Observação:
Foi celebrada a Missa do XXIII Domingo do Tempo Comum (Ano C).
A primeira palavra que o Senhor nos dirige hoje é: «Criai ânimo,
não tenhais medo!» (Is 35,4). O profeta Isaías di-lo a todos os que
sentem o coração perturbado. Deste modo, ele encoraja o seu povo e convida-o,
mesmo no meio de dificuldades e sofrimentos, a olhar para o alto, para um
horizonte de esperança e futuro: Deus vem salvar-nos, Ele virá e, nesse dia, «se
abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos» (v. 5).
Esta profecia cumpre-se em Jesus. Na narração de São Marcos (Mc
7,31-37) são sublinhados particularmente dois aspectos: a distância do homem
surdo e a proximidade de Jesus. Detenhamo-nos sobre estes
dois elementos essenciais.
A distância do surdo. Este homem encontra-se em uma zona
geográfica que, hoje em dia, chamaríamos “periferia”. O território da Decápole
situa-se para lá do Jordão, longe do centro religioso de Jerusalém. Porém,
aquele homem surdo experimenta outro tipo de distância: está longe de Deus,
está longe dos homens, porque não tem a possibilidade de se comunicar. É surdo
e, portanto, não pode ouvir os outros; é mudo e, por conseguinte, não pode
falar com os demais. Este homem está separado do mundo e isolado, é prisioneiro
da sua surdez e da sua mudez, devido às quais não pode abrir-se aos outros para
se comunicar.
Porém, podemos interpretar esta condição de surdo-mudo em outro
sentido, porque pode acontecer-nos ficar afastados da comunhão e da amizade com
Deus e os irmãos quando, mais do que os ouvidos e a língua, for o coração a
fechar-se. Há uma surdez interior e uma mudez do coração que dependem de tudo
aquilo que nos encerra em nós mesmos, impede a relação com Deus e nos fecha aos
outros: egoísmo, indiferença, medo de arriscar e de comprometer-se,
ressentimento, ódio, e a lista poderia continuar. Tudo isto afasta-nos de Deus,
dos irmãos e também de nós mesmos; e afasta-nos da alegria de viver.
Face a esta distância, irmãos e irmãs, Deus responde com o oposto,
com a proximidade de Jesus. No seu Filho Ele quer mostrar,
primeiramente, que é o Deus próximo, compassivo, solícito com a nossa vida,
vencedor de todas as distâncias. E, efetivamente, no trecho do Evangelho, vemos
Jesus dirigir-se a esses territórios periféricos, saindo da Judeia, para ir ao encontro
dos pagãos (v. 31).
Com a sua proximidade, Jesus cura a mudez e a surdez do homem:
quando nos sentimos distantes, ou escolhemos manter-nos à distância - de Deus,
dos irmãos, daqueles que são diferentes de nós - então fechamo-nos,
encerramo-nos em nós mesmos e acabamos por girar apenas em torno do nosso “eu”,
surdos à Palavra de Deus e ao grito do próximo e, por conseguinte, incapazes de
falar com Deus e com o próximo.
E vós, irmãos e irmãs que habitais esta terra tão distante, talvez
tenhais a ideia de estar separados, separados do Senhor, separados dos outros
homens, e isso não é verdade. Vós estais unidos, unidos no Espírito Santo,
unidos no Senhor! E o Senhor diz a cada um de vós: «Abre-te!». É isto o mais
importante: abrirmo-nos a Deus, abrirmo-nos aos irmãos,
abrirmo-nos ao Evangelho e fazer dele a bússola da nossa vida.
Também a vós, hoje, o Senhor diz: “Coragem, não temais, povo
papuano! Abre-te! Abre-te à alegria do Evangelho, abre-te ao encontro com Deus,
abre-te ao amor dos irmãos”. Que nenhum de nós fique surdo e mudo perante este
convite. E que o Bem-aventurado João Mazzucconi vos acompanhe neste caminho:
ele, no meio de tanto desconforto e hostilidade, trouxe Cristo para o meio de
vós, para que ninguém fique surdo diante da alegre Mensagem da salvação, e em
todos a língua possa se soltar para cantar o amor de Deus. Que o mesmo
aconteça, hoje, também convosco!
Fonte: Santa Sé.
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