sábado, 13 de março de 2021

Homilia: IV Domingo da Quaresma - Ano B

São João Crisóstomo
Sermão 11 sobre a Segunda Carta aos Coríntios
Ao que não tinha pecado, Deus o fez expiar nossos pecados

O Pai enviou ao Filho para que, em seu nome, exortasse e assumisse o ofício de embaixador frente ao gênero humano. Mas, no entanto, uma vez morto, Ele se ausentou, e nós lhe sucedemos nessa missão, e vos exortamos em seu nome e em nome do Pai. Pois o Pai admira tanto o gênero humano que lhe deu o seu Filho, mesmo sabendo que haveriam de matá-lo, e a nós nomeou apóstolos para o vosso bem. Portanto, não creiais que somos nós quem vos rogamos: é o próprio Cristo que vos roga, o mesmo Pai vos suplica através de nós.

Existe algo que possa comparar-se com tão magnífica bondade? Pois ultrajado pessoalmente como pagamento por seus inumeráveis benefícios, não só assumiu represálias, mas também nos entregou a seu Filho para reconciliar-nos com Ele. Mas aqueles que o receberam, além de não se esforçarem para congraçarem-se com Ele, ainda por cima o condenaram à morte.

Novamente enviou outros intercessores, e, depois de enviados, é Ele mesmo quem intercede por eles. E qual sua súplica? Reconciliai-vos com Deus. Ele não disse: Recuperai a graça de Deus, pois não é Ele quem causa a inimizade, mas vós; Deus realmente não provoca a inimizade. Ainda mais: vem como enviado para compreender a causa.

Ao que não tinha pecado, disse, Deus o fez expiar os nossos pecados. Mesmo que Cristo não tivesse feito nada mais além de tornar-se homem, pensa, por favor, quão agradecidos a Deus deveríamos estar por ter entregado seu Filho pela salvação daqueles que lhe cobriam de injúrias. Mas a verdade é que Ele fez muito mais, e, como se fosse pouco, ainda permitiu que o ofendido fosse crucificado pelos ofensores.

Diz o Apóstolo: Ao que não tinha pecado, mas que era a própria justiça, o fez expiar nossos pecados. Ou seja, tolerou que Ele fosse condenado como um pecador, e que morresse como um maldito: pois maldito todo aquele que pende do madeiro. Certamente era muito mais atroz morrer deste modo do que simplesmente morrer. É o que ele mesmo sugere em outro lugar: Humilhou-se até a morte, e morte de cruz. Considerai, portanto, quantos benefícios tendes recebido d’Ele.

Em consequência, se amamos a Cristo como Ele realmente merece, nós mesmos nos imporemos o castigo por nossos pecados. E não porque tenhamos um verdadeiro horror pelo inferno, mas porque nos horroriza ofender a Deus; pois isto é mais atroz que aquilo: que Deus, ofendido, aparte seu rosto de nós! Refletindo sobre estes extremos, temamos acima de tudo o pecado: pecado significa castigo, significa inferno, significa males incalculáveis. E não somente o temamos, mas fujamos dele e esforcemo-nos por agradar constantemente a Deus: isto é reinar, isto é viver, isto é possuir bens inumeráveis. Desta forma entraremos desde agora na posse do reino e dos bens futuros, bens que oxalá todos consigamos pela graça e benignidade de nosso Senhor Jesus Cristo.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 319-320. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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