VIAGEM
APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO SRI LANKA E ÀS FILIPINAS
(12-19 DE JANEIRO DE 2015)
(12-19 DE JANEIRO DE 2015)
SANTA
MISSA E CANONIZAÇÃO DO BEATO JOSÉ VAZ
HOMILIA
DO SANTO PADRE
Galle
Face Green, Colombo, Sri Lanka
Quarta-feira, 14 de Janeiro de 2015
Quarta-feira, 14 de Janeiro de 2015
«Todos
os confins da terra verão a salvação do nosso Deus» (Is 52,
10).
Esta
é a magnífica profecia que ouvimos na primeira leitura de hoje. Isaías prediz o
anúncio do Evangelho de Jesus Cristo até aos confins da terra. Esta profecia
tem um significado especial para nós, que celebramos a canonização do grande
missionário do Evangelho, São José Vaz. Ele, como tantos outros missionários na
história da Igreja, respondeu à ordem dada pelo Senhor ressuscitado para fazer
discípulos de todas as nações (cf. Mt 28, 19). Com as suas
palavras e, o mais importante, com o exemplo da sua vida, conduziu o povo desta
nação à fé que nos concede «parte na herança com todos os santificados»
(Act 20, 32).
Em
São José, vemos um sinal eloquente da bondade e do amor de Deus pelo povo do
Sri Lanka. Mas, nele, vemos também um estímulo para perseverar no caminho do
Evangelho a fim de crescermos nós próprios em santidade e testemunharmos a
mensagem evangélica de reconciliação à qual dedicou a sua vida.
Padre
do Oratório, José Vaz deixa Goa, sua terra natal, e chega a este país movido
apenas pelo zelo missionário e por um grande amor a estes povos. Por causa da
perseguição religiosa em acto, vestia-se como um mendigo, cumpria os seus
deveres sacerdotais encontrando secretamente os fiéis, muitas vezes durante a
noite. Os seus esforços deram energia espiritual e moral à população católica
assediada. Sentia uma ânsia particular de servir os doentes e atribulados. O
seu ministério em favor dos enfermos, durante uma epidemia de varíola em Kandy,
foi tão apreciado pelo rei, que lhe foi concedida maior liberdade de
ministério. A partir de Kandy, pôde alcançar outras partes da ilha. Deixou-se
consumir pelo trabalho missionário e morreu, exausto, aos cinquenta e nove anos
de idade, venerado pela sua santidade.
São
José Vaz continua a ser um exemplo e um mestre por muitas razões, mas gostaria
de focalizar três.
Antes
de mais nada, foi um sacerdote exemplar. Hoje temos aqui connosco muitos
sacerdotes, religiosos e religiosas, que, como ele, estão consagrados ao
serviço do Evangelho de Deus e do próximo. Encorajo cada um de vós a olhar para
São José como para um guia seguro. Ensina-nos a sair para as periferias, a fim
de tornar Jesus Cristo conhecido e amado por toda a parte. Ele é também um
exemplo de sofrimento paciente por causa do Evangelho, de obediência aos
superiores, de solícito cuidado pela Igreja de Deus (cf. Act 20,
28). Como nós, São José viveu num período de transformações rápidas e
profundas; os católicos eram uma minoria e, com frequência, dividida no seu
seio; havia hostilidade ocasional, e até mesmo perseguição, dos de fora. Apesar
disso, ele, permanecendo constantemente unido ao Senhor crucificado na oração,
foi capaz de se tornar para todos um ícone vivo do amor misericordioso e
reconciliador de Deus.
Em
segundo lugar, São José mostrou-nos a importância de transcender as divisões
religiosas no serviço da paz. O seu amor indiviso a Deus abriu-o ao amor do
próximo; gastou o seu ministério em favor dos necessitados, sem olhar quem
fosse e onde estivesse. O seu exemplo continua a inspirar hoje a Igreja no Sri
Lanka, a qual, de bom grado e generosamente, serve todos os membros da
sociedade. Não faz distinção de raça, credo, tribo, condição social ou
religião, no serviço que proporciona através das suas escolas, hospitais,
clínicas e muitas outras obras de caridade. Nada mais pede do que liberdade
para exercer a sua missão. A liberdade religiosa é um direito humano
fundamental. Cada indivíduo deve ser livre de procurar, sozinho ou associado
com outros, a verdade, livre de expressar abertamente as suas convicções
religiosas, livre de intimidações e constrições externas. Como nos ensina a
vida de José Vaz, a autêntica adoração de Deus leva, não à discriminação, ao
ódio e à violência, mas ao respeito pela sacralidade da vida, ao respeito pela
dignidade e a liberdade dos outros e a um solícito compromisso em prol do
bem-estar de todos.
Finalmente,
São José oferece-nos um exemplo de zelo missionário. Embora tenha partido para
o Ceilão a fim de assistir e apoiar a comunidade católica, na sua caridade
evangélica ele veio para todos. Deixando para trás a sua casa, a sua família, o
conforto dos lugares que lhe eram familiares, respondeu à chamada para ir mais
longe, para falar de Cristo onde quer que se encontrasse. São José sabia como
oferecer a verdade e a beleza do Evangelho num contexto plurirreligioso, com
respeito, dedicação, perseverança e humildade. Este é, também hoje, o caminho
para os seguidores de Jesus. Somos chamados a ir mais longe com o mesmo zelo,
com a mesma coragem de São José, mas também com a sua sensibilidade, com o seu
respeito pelos outros, com a sua ânsia de partilhar com eles a palavra da graça
(cf. Act 20, 32) que tem o poder de os edificar. Somos
chamados a ser discípulos missionários.
Amados
irmãos e irmãs, rezo para que, seguindo o exemplo de São José Vaz, os cristãos
desta nação possam ser confirmados na fé e dar uma contribuição ainda maior
para a paz, a justiça e a reconciliação na sociedade srilanquesa. Isto é o que
Cristo espera de vós. Isto é o que São José vos ensina. Isto é o que a Igreja
precisa de vós. Confio-vos todos à intercessão do nosso novo Santo, para que,
em união com toda a Igreja espalhada pelo mundo inteiro, possais cantar um
cântico novo ao Senhor e proclamar a sua glória até aos confins do mundo.
Porque o Senhor é grande e digno de todo o louvor (cf. Sal 96/95,
4). Amen.
Fonte: Santa Sé
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