terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Ângelus do Papa: II Domingo depois do Natal 2015

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 04 de janeiro de 2015

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Que bonito domingo nos concede o ano novo! Que lindo dia!

Diz São João no Evangelho que lemos hoje: «Nele [no Verbo] estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la. (...) [Ele] era a luz de verdade, que, vindo ao mundo, ilumina todo ser humano» (Jo 1,4-5.9). Os homens falam muito sobre a luz, mas com frequência preferem a tranquilidade enganadora das trevas. Nós falamos tanto de paz, mas muitas vezes recorremos à guerra ou então escolhemos o silêncio cúmplice, ou nada fazemos de concreto para construir a paz. Com efeito, diz São João: «Veio para o que era seu, mas os seus não O acolheram» (v. 11); porque «este é o julgamento: a luz - Jesus - veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz, pois as suas obras eram más. Porquanto todo aquele que faz o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas» (Jo 3,19-20). Assim se afirma no Evangelho de São João. O coração do homem pode rejeitar a luz e preferir as trevas, porque a luz revela as suas obras más. Quem comete o mal odeia a luz. Quem faz o mal odeia a paz.

Há poucos dias começamos o ano novo no nome da Mãe de Deus, celebrando o Dia Mundial da Paz sobre o tema: «Já não escravos, mas irmãos». Os meus votos são para que se supere a exploração do homem por parte do homem. Esta exploração é um flagelo social que mortifica as relações interpessoais e impede uma vida de comunhão caracterizada pelo respeito, pela justiça e pela caridade. Cada homem e cada povo têm fome e sede de paz; portanto, é necessário e urgente construir a paz!

A paz não é apenas ausência de guerra, mas uma condição geral na qual a pessoa humana está em harmonia consigo mesma, em sintonia com a natureza e com os outros. Esta é a paz. No entanto, fazer calar as armas e apagar os focos de guerra permanece a condição inevitável para dar início a um caminho que leva ao alcance da paz nos seus diferentes aspectos. Penso nos conflitos que ainda ensanguentam demasiadas regiões do planeta, nas tensões no seio das famílias e das comunidades - mas em quantas famílias, em quantas comunidades, até paroquiais, existe a guerra! Penso também nos fortes contrastes nas nossas cidades e nos nossos povoados, entre grupos de diversas proveniências culturais, étnicas e religiosas! Não obstante qualquer aparência contrária, devemos convencer-nos que a concórdia é sempre possível, a qualquer nível e em cada situação. Sem propósitos e projetos de paz não há porvir! Sem paz não há futuro!

No Antigo Testamento, Deus fez uma promessa. Dizia o profeta Isaías: «Das suas espadas forjarão relhas de arado, e das suas lanças, foices. Uma nação não levantará a espada contra a outra, e não se arrastarão mais para a guerra» (Is 2,4). Isto é bonito! A paz é anunciada, como dom especial de Deus, no nascimento do Redentor: «Paz na terra aos homens por Ele amados» (Lc 2,14). Esta dádiva deve ser implorada incessantemente na oração. Recordemos aqui na praça aquele cartaz: «Na raiz da paz está a oração». Este dom deve ser implorado e recebido cada dia com comprometimento, nas situações em que nos encontrarmos. No alvorecer de um novo ano, todos nós somos chamados a reacender no coração um impulso de esperança, que deve traduzir-se em obras de paz concretas. «Tu não estás de acordo com aquela pessoa? Faz a paz!». «Em casa? Faz a paz!». «Na tua comunidade? Faz a paz!». «No teu trabalho? Faz a paz!». Obras de paz, de reconciliação e de fraternidade. Cada um de nós deve realizar gestos de fraternidade a favor do próximo, especialmente daqueles que são provados por tensões familiares ou por desavenças de vários tipos. Estes pequenos gestos têm um grande valor: podem ser sementes que dão esperança, podem abrir caminhos e perspectivas de paz.

Agora, invoquemos Maria, Rainha da Paz! Ela, durante a sua vida terrena, conheceu não poucas dificuldades, ligadas ao cansaço quotidiano da existência. Mas nunca perdeu a paz do coração, fruto do abandono confiante à misericórdia de Deus. A Maria, nossa terna Mãe, peçamos que indique ao mundo inteiro o caminho seguro do amor e da paz!

Adoração dos pastores (Johann Josef Karl Henrici)

Fonte: Santa Sé.

Após o Ângelus o Papa anunciou a celebração de um Consistório para a criação de 20 novos Cardeais (15 eleitores e cinco não-eleitores) a ser celebrado no dia 14 de fevereiro de 2015.

Observação: No Brasil celebramos neste domingo a Solenidade da Epifania do Senhor, transferida do dia 06 de janeiro.

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