VIAGEM
APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO SRI LANKA E ÀS FILIPINAS
(12-19 DE JANEIRO DE 2015)
(12-19 DE JANEIRO DE 2015)
ENCONTRO
COM OS JOVENS
DISCURSO
DO SANTO PADRE
Universidade
de São Tomás, Manila
Domingo, 18 de Janeiro de 2015
Domingo, 18 de Janeiro de 2015
Começo
por uma notícia triste. Ontem, quando estava prestes a principiar a Missa, caiu
uma das torres e atingiu uma jovem, que morreu. O seu nome é Cristal. Ela
trabalhou na organização daquela Missa. Tinha 27 anos, era jovem como vós e
trabalhava para uma associação. Era uma voluntária. Queria que nós todos juntos
– vós, jovens como ela – rezássemos em silêncio por um minuto e depois
invocássemos a nossa Mãe do Céu.
[Silêncio.
Ave Maria…].
Façamos
uma oração também por seu pai e sua mãe. Era filha única. A sua mãe está em
viagem de Hong Kong, enquanto o pai já chegou a Manila e espera a esposa.
É
uma alegria para mim estar hoje convosco. Saúdo cordialmente a cada um de vós e
agradeço a todos aqueles que tornaram possível este encontro. Durante a minha
visita às Filipinas, senti uma vontade particular de me encontrar convosco,
queridos jovens, para vos escutar e falar. Desejo exprimir o amor e a esperança
que a Igreja tem por vós. A minha intenção é encorajar-vos, como cidadãos
cristãos deste país, na oferta de vós mesmos feita com entusiasmo e honestidade
para o grande compromisso de renovar a vossa sociedade e contribuir para a
construção de um mundo melhor.
De
modo especial, agradeço aos jovens que me dirigiram palavras de boas-vindas:
Jun, Leandro e Rikki. Muito obrigado!
Um
aparte… sobre a reduzida representação das mulheres. Demasiado pouco! As
mulheres têm muito a dizer-nos na sociedade actual. Às vezes somos demasiado
machistas, e não deixamos espaço à mulher. Mas a mulher sabe ver as coisas com
olhos diferentes dos homens. A mulher sabe fazer perguntas que nós, homens, não
conseguimos compreender. Senão vede… Ela [indica Glyzelle] fez hoje a
única pergunta que não tem resposta. E não lhe vinham as palavras, teve de a
dizer com as lágrimas. Assim, quando vier o próximo Papa a Manila, que haja
mais mulheres!
Agradeço-te,
Jun, que apresentaste com tanta coragem a tua experiência. Como disse antes, o
núcleo da tua pergunta quase não tem resposta. Somente quando formos capazes de
chorar sobre as coisas que vós vivestes, é que podemos compreender qualquer
coisa e dar alguma resposta. A grande pergunta que se põe a todos: Porque
sofrem as crianças? Porque sofrem as crianças? Precisamente quando o coração
consegue pôr a si mesmo a pergunta e chorar, então podemos compreender qualquer
coisa. Há uma compaixão mundana que para nada serve! Uma compaixão que, no
máximo, nos leva a meter a mão na carteira e dar uma moeda. Se esta tivesse
sido a compaixão de Cristo, teria passado, teria curado três ou quatro pessoas
e teria regressado ao Pai. Somente quando Cristo chorou e foi capaz de chorar é
que compreendeu os nossos dramas.
Queridos
moços e moças, no mundo de hoje falta o pranto! Choram os marginalizados,
choram aqueles que são postos de lado, choram os desprezados, mas aqueles de
nós que levamos uma vida sem grandes necessidades não sabemos chorar. Certas
realidades da vida só se vêem com os olhos limpos pelas lágrimas. Convido cada
um de vós a perguntar-se: Aprendi eu a chorar? Quando vejo uma criança faminta,
uma criança drogada pela estrada, uma criança sem casa, uma criança abandonada,
uma criança abusada, uma criança usada como escravo pela sociedade? Oh! O meu
não passa do pranto caprichoso de quem chora porque quereria ter mais alguma
coisa? Esta é a primeira coisa que vos queria dizer: aprendamos a chorar, como
ela [Glyzelle] nos ensinou hoje. Não esqueçamos este testemunho. A grande
pergunta – porque sofrem as crianças? – foi feita por ela a chorar e a grande
resposta que lhe podemos dar todos nós é aprender a chorar.
No
Evangelho, Jesus chorou, chorou pelo amigo morto. Chorou no seu coração por
aquela família que perdeu a filha. Chorou no seu coração, quando viu aquela
pobre mãe viúva que levava o seu filho ao cemitério. Comoveu-Se e chorou no seu
coração, quando viu a multidão como ovelhas sem pastor. Se vós não aprenderdes
a chorar, não sois bons cristãos. E este é um desafio. Jun lançou-nos este
desafio. E quando nos fizerem a pergunta «porque sofrem as crianças, porque
acontece isto ou aquilo de trágico na vida», que a nossa resposta seja o
silêncio ou a palavra que nasce das lágrimas? Sede corajosos, não tenhais medo
de chorar.
A
seguir veio Leandro Santos. Fez perguntas sobre o mundo da informação. Hoje,
com tantos mass-media, estamos superinformados: será mal isto? Não.
Isto é bom e ajuda, mas corremos o perigo de viver acumulando informações. E
temos tantas informações, mas talvez não saibamos o que fazer com elas.
Corremos o risco de nos tornarmos «jovens-museu» e não jovens sapientes.
Poder-me-íeis pedir: Padre, como se chega a ser sapiente? E este é outro
desafio: o desafio do amor. Qual é o assunto mais importante que é preciso
aprender na universidade? Qual é o mais importante que se deve aprender na
vida? Aprender a amar! E este é o desafio que o dia de hoje vos põe: aprender a
amar! Não só acumular informações, sem saber o que fazer delas. É um museu.
Mas, através do amor, fazer com que esta informação seja fecunda. Com este
objectivo, o Evangelho propõe-nos um caminho sereno, tranquilo: usar as três
linguagens, ou seja, a linguagem da mente, a linguagem do coração e a linguagem
das mãos. E usar estas três linguagens de forma harmoniosa: aquilo que pensas,
isso mesmo sentes e realizas. A tua informação desce ao coração, comove-o e
realiza-se. E isto harmoniosamente: pensar o que se sente e o que se faz.
Sentir aquilo que penso e faço; fazer o que penso e sinto. As três linguagens.
Sois capazes de repetir, em voz alta, as três linguagens?
O
verdadeiro amor é amar e deixar-me amar. É mais difícil deixar-me amar do que
amar. Por isso é tão difícil chegar ao perfeito amor de Deus, porque podemos
amá-Lo, mas o importante é deixar-se amar por Ele. O verdadeiro amor é abrir-se
a este amor que nos precede e gera surpresa. Se tudo o que possuís é
informação, toda a informação, estais fechados às surpresas; o amor abre-te às
surpresas: o amor é sempre uma surpresa, porque pressupõe um diálogo a dois.
Entre quem ama e quem é amado. E nós dizemos que Deus é o Deus das surpresas,
porque Ele nos amou primeiro e espera-nos com uma surpresa. Deus
surpreende-nos... Deixemo-nos surpreender por Deus! E não tenhamos a psicologia
do computador: crer que sabe tudo. Isto que quer dizer? Um átimo e o computador
dá-te todas as respostas, nenhuma surpresa. No desafio do amor, Deus
manifesta-Se com surpresas. Pensemos em São Mateus… Era um bom homem de
negócios; mas traía a sua pátria porque recolhia os impostos dos judeus para os
dar aos romanos. Enfim, estava cheio de dinheiro e recebia os impostos. Passa
Jesus, fixa-o e diz-lhe: «Segue-Me!» Aqueles que estavam com Jesus, dizem:
Chama este que é um traidor, um vilão? Ele vive agarrado ao dinheiro... Mas a
surpresa de ser amado vence-o e ele segue Jesus. Naquela manhã, quando se
despedia da esposa, nunca teria pensado que iria voltar sem dinheiro e com
pressa para dizer à sua esposa que preparasse um banquete. O banquete para
Aquele que o tinha amado primeiro; que o havia surpreendido com algo mais
importante do que todo o dinheiro que ele tinha.
Deixa-te
surpreender pelo amor de Deus! Não tenhas medo das surpresas, que te agitam,
põem em crise, mas de novo te colocam em caminho. O verdadeiro amor impele-te a
gastar a vida, mesmo a risco de ficares com as mãos vazias. Pensemos em São
Francisco: deixou tudo, morreu com as mãos vazias, mas com o coração cheio.
Estais
de acordo? Não jovens de museu, mas jovens sapientes. Para ser sapientes, usai
as três linguagens: pensar bem, sentir bem e fazer bem. E para ser sapientes,
deixai-vos surpreender pelo amor de Deus! Ide e gastai a vida!
Obrigado
pela tua contribuição de hoje!
Quem
veio com um bom programa para nos ajudar a ver que podemos fazer na vida, foi
Rikki. Contou todas as actividades, tudo aquilo que fazem, tudo o que querem
fazer. Obrigado, Rikki! Obrigado pelo que fazeis, tu e os teus companheiros.
Mas, quero fazer-te uma pergunta: Tu e os teus amigos estais comprometidos em
dar – dais, dais, dais, ajudais... –, mas deixais também que vos dêem? Responde
no teu coração. No Evangelho, que há pouco ouvimos, há uma frase que, para mim,
é a mais importante de todas. O Evangelho diz que Jesus fitou o olhar naquele
jovem e o amou (cf. Mc 10, 21). Quando alguém vê o grupo de
Rikki e os seus companheiros, gosta muito deles porque fazem coisas muito boas,
mas a frase mais importante que Jesus diz é: «Falta-te apenas uma coisa» (Mc 10,
21). Cada um de nós ouça em silêncio esta frase de Jesus: «Falta-te apenas uma
coisa».
Que
me falta? A todos aqueles que Jesus ama muito porque dão muito aos outros, eu
pergunto: Deixais vós que os demais vos dêem outras riquezas que vós não
tendes? Os saduceus, os doutores da Lei do tempo de Jesus davam muito ao povo,
davam a Lei, ensinavam, mas nunca deixaram que o povo lhes desse qualquer
coisa. Teve que vir Jesus para Se deixar comover pelo povo. Quantos jovens como
vós, que estão aqui, sabem dar, mas não são igualmente capazes de receber!
«Falta-te
apenas uma coisa». Isto é o que nos falta: aprender a mendigar daqueles a quem
damos. Isto não é fácil de compreender: aprender a mendigar. Aprender a receber
da humildade daqueles a quem ajudamos. Aprender a ser evangelizados pelos
pobres. As pessoas que ajudamos – pobres, doentes, órfãos… – têm tanto para nos
dar. Faço-me mendigo e peço também isto? Ou então sinto-me auto-suficiente e
sei apenas dar? Vós que viveis dando sempre e julgais que de nada precisais,
sabeis que sois verdadeiramente pobres? Sabeis que tendes uma grande pobreza e
precisais de receber? Deixas-te ajudar pelos pobres, pelos doentes e por
aqueles que ajudas? Isto é o que ajuda a amadurecer os jovens comprometidos
como Rikki no trabalho de dar aos outros: aprender a estender a mão a partir da
sua miséria.
Há
alguns pontos que eu tinha preparado. O primeiro, que já disse, é aprender a
amar e deixar-se amar. É o desafio da integridade moral.
Temos
outro desafio, que é cuidar do meio ambiente. Isto não se deve apenas ao facto
de que o vosso país, mais do que outros, corre o risco de ser seriamente
afectado pelas alterações climáticas.
E,
finalmente, há o desafio dos pobres. Amar os pobres. Os vossos Bispos querem
que vos preocupeis com os pobres, sobretudo neste «Ano dos pobres». Vós pensais
nos pobres? Sentis com os pobres? Fazeis algo pelos pobres? E pedis aos pobres
para vos darem aquela sabedoria que eles possuem? Isto é o que eu vos queria
dizer. Perdoai-me porque não li quase nada do que tinha preparado. Mas há uma
expressão que me consola um pouco: «A realidade é superior à ideia». E a
realidade que apresentastes, a realidade que sois é superior a todas as
respostas que eu tinha preparado. Obrigado!
(Este é o discurso improvisado pelo Santo Padre. Leia também o discurso que havia sido preparado no site da Santa Sé)
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