quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Ângelus do Papa: XXXIII Domingo do Tempo Comum - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 16 de novembro de 2014

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho deste domingo narra a parábola dos talentos, tirada de São Mateus (Mt 25,14-30). Fala de um homem que, antes de partir para uma viagem, convoca os seus empregados e confia-lhes o seu património em talentos, moedas antigas de enorme valor. Aquele senhor confia ao primeiro servo cinco talentos; ao segundo, dois; e ao terceiro, um. Durante a sua ausência, os três servos devem fazer frutificar esse património. O primeiro e o segundo duplicam as respectivas quantias iniciais; o terceiro, ao contrário, tendo medo de perder tudo, enterra num buraco o talento recebido. Quando o senhor volta, os primeiros dois servos recebem a recompensa, enquanto o terceiro, que restitui apenas a moeda recebida, é repreendido e até punido.

O significado disto é claro. O homem da parábola representa Jesus; os servos somos nós; e os talentos são o patrimônio que o Senhor nos confia. Qual é o patrimônio?. A sua Palavra, a Eucaristia, a fé no Pai celestial, o seu perdão... em síntese, muitas coisas, os seus bens mais preciosos. Este é o patrimônio que Ele nos confia. Que não devemos só conservar, mas também multiplicar! Enquanto, segundo o uso comum, o termo «talento» indica uma acentuada qualidade individual - por exemplo, talento na música, no desporto, etc. - na parábola os talentos representam os bens do Senhor, que Ele nos confia para os fazermos frutificar. O buraco escavado no terreno pelo «servo mau e preguiçoso» (v. 26) indica o medo do risco que bloqueia a criatividade e a fecundidade do amor. Sim, o medo dos ricos do amor bloqueia-nos! Jesus não nos pede que conservemos a sua graça num cofre! Jesus não nos pede isto, mas deseja que a utilizemos em vantagem do próximo. Todos os bens que recebemos devem, ser transmitidos aos outros, porque só assim crescem. É como se Ele nos dissesse: «Eis-te a minha misericórdia, a minha ternura, o meu perdão: toma-os e usa-os com magnanimidade». E nós, o que fazemos disto? Quem «contagiamos» com a nossa fé? Quantas pessoas encorajamos com a nossa esperança? Quanto amor compartilhamos com o nosso próximo? São perguntas que nos fará bem formular. Qualquer ambiente, até o mais distante e impraticável, pode tornar-se um lugar onde fazer frutificar os talentos. Não existem situações nem lugares fechados à presença e ao testemunho cristão. O testemunho que Jesus nos pede não é fechado, mas aberto, depende de nós.

Esta parábola anima-nos a não esconder a nossa fé nem a nossa pertença a Cristo, a não enterrar a Palavra do Evangelho, mas a fazê-la circular na nossa vida, nos relacionamentos, nas situações concretas, como uma força que põe em crise, que purifica e renova. Assim também o perdão, que o Senhor nos oferece especialmente no Sacramento da Reconciliação: não o conservemos fechado em nós mesmos, mas permitamos que ele transmita a sua força, que faça ruir aqueles muros elevados pelo nosso egoísmo, que nos leve a dar o primeiro passo nos relacionamentos bloqueados e retomar o diálogo onde já não há comunicação... E assim por diante. Devemos fazer com que estes talentos, estes presentes, estes dons que o Senhor nos concedeu cheguem aos outros, cresçam e deem fruto através do nosso testemunho.

Acho que hoje seria um bonito gesto se cada um de vós pegasse no Evangelho em casa, no Evangelho de São Mateus, capítulo 25, versículos 14-30 - Mt 25,14-30 - o lesse e meditasse um pouco: «Os talentos, as riquezas, tudo aquilo que Deus me concedeu de espiritual, de bondade, a Palavra de Deus: como levo isto a crescer nos outros? Ou limito-me a conservá-lo no cofre?».

Além disso, o Senhor não concede a todos as mesmas coisas e do mesmo modo: Ele conhece-nos pessoalmente e confia-nos aquilo que é bom para nós; mas em todos, em todos há algo de igual: uma única, imensa confiança. Deus confia em nós, Deus espera em nós! E isto é igual para todos. Não o decepcionemos! Não nos deixemos enganar pelo medo, mas retribuamos a confiança com a confiança! A Virgem Maria encarna esta atitude do modo mais excelso e completo. Ela recebeu e acolheu a dádiva mais sublime, Jesus em Pessoa e, por sua vez, ofereceu-o à humanidade com um Coração generoso. Peçamos-lhe que nos ajude a ser «servos bons e fiéis», para participarmos na «alegria de nosso Senhor».


Fonte: Santa Sé.

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