segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Catequeses do Papa Francisco: Vícios e virtudes 3

Nesta terceira parte das Catequeses do Papa Francisco sobre os vícios e as virtudes que estamos publicando em preparação para a Quaresma deste Ano Jubilar de 2025, confira as meditações sobre os vícios da avareza e da ira:

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 24 de janeiro de 2024
Os vícios e as virtudes (5): A avareza

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Dando continuidade às Catequeses sobre os vícios e as virtudes, hoje falamos da avareza, ou seja, daquela forma de apego ao dinheiro que impede que o homem seja generoso.

Não é um pecado que diz respeito unicamente às pessoas que possuem grandes bens, mas é um vício transversal, que muitas vezes não tem nada a ver com o saldo da conta bancária. É uma doença do coração, não da carteira. 

Os sete pecados capitais
(Fabio Fabbi)

As análises que os Padres do deserto fizeram sobre este mal demonstraram como a avareza podia apoderar-se até de monges que, depois de ter renunciado a enormes heranças, na solidão da sua cela apegaram-se a objetos de pouco valor: não os emprestavam, não os compartilhavam e muito menos estavam dispostos a doá-los. Um apego a coisas pequenas que tira a liberdade. Aqueles objetos tornaram-se para eles uma espécie de fetiche, do qual era impossível desligar-se. Uma espécie de regressão à idade das crianças, que se agarram ao brinquedo, repetindo: “É meu, é meu!”. Nesta reivindicação aninha-se uma relação doentia com a realidade, que pode levar a formas de apropriação compulsiva ou de acumulação patológica.

Para curar esta doença os monges propunham um método drástico, mas deveras eficaz: a meditação sobre a morte. Por mais que uma pessoa acumule bens neste mundo, de uma coisa estamos absolutamente certos: que eles não caberão no caixão. Não podemos levar os bens conosco! Eis que se revela a insensatez deste vício. O vínculo de posse que construímos com as coisas é apenas aparente, pois não somos donos do mundo: na verdade, esta terra que amamos não é nossa, e nos movemos nela como forasteiros e peregrinos (cf. Lv 25,23).

Estas simples considerações levam-nos a intuir a loucura da avareza, mas também a sua razão mais recôndita. Ela é uma tentativa de exorcizar o medo da morte: procura seguranças que na realidade se desfazem no exato momento em que nos agarramos a elas. Recordai a parábola daquele homem insensato, cujo campo tinha oferecido uma colheita tão abundante que, por isso, se deixa embalar por pensamentos sobre o modo como ampliar o seu armazém para aí colocar toda a safra. Aquele homem calculou tudo, programou o futuro. No entanto, não teve em consideração a variável mais segura da vida: a morte. Diz o Evangelho: «Insensato! Ainda nesta noite pedirão de volta a tua vida. E o que tu acumulaste, para quem ficará?» (Lc 12,20).

Em outros casos são os ladrões que nos prestam este serviço. Inclusive nos Evangelhos eles são citados várias vezes e, embora as suas ações sejam censuráveis, podem tornar-se uma admoestação salutar. Assim prega Jesus no Sermão da Montanha: «Não junteis tesouros aqui na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e os ladrões assaltam e roubam. Ao contrário, juntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça e a ferrugem destroem, nem os ladrões assaltam e roubam» (Mt 6,19-20). Ainda nas narrações dos Padres do deserto conta-se a vicissitude de um ladrão que surpreende o monge durante o sono, roubando-lhe os poucos bens que guardava na cela. Quando acorda, sem se perturbar com o que tinha acontecido, o monge põe-se no encalço do ladrão e, quando o encontra, em vez de reclamar os bens roubados, entrega-lhe as poucas coisas que lhe restam, dizendo: “Esqueceste de pegar isto!”.

Irmãos e irmãs, podemos ser senhores dos bens que possuímos, mas muitas vezes acontece o contrário: são eles que acabam por nos possuir. Alguns ricos já não são livres, nem sequer têm tempo para descansar, devem estar atentos porque a acumulação de bens também exige a sua guarda. Estão sempre ansiosos, porque um patrimônio se constrói com muito suor, mas pode desaparecer em um instante. Esquecem-se da pregação evangélica, que não afirma que as riquezas em si são um pecado, mas certamente constituem uma responsabilidade. Deus não é pobre: é o Senhor de tudo, mas - escreve São Paulo - «de rico que era, tornou-se pobre por causa de vós, para que vos torneis ricos, por sua pobreza» (2Cor 8,9).

É isto que o avarento não compreende. Podia ser motivo de bênção para muitos, mas, ao contrário, acabou no beco sem saída da infelicidade. E a vida do avarento é terrível. Lembro-me do caso de um senhor que conheci na outra Diocese, um homem muito rico, que tinha a mãe doente. Um de cada vez, os irmãos tomavam conta da mãe, e de manhã a mãe comia um iogurte. Aquele senhor dava-lhe metade de manhã, para lhe dar a outra metade à tarde e poupar meio iogurte. É assim a avareza, é assim o apego aos bens. Depois, aquele senhor morreu e o comentário das pessoas que foram ao velório foi este: “Mas vê-se que este homem não leva nada consigo, deixou tudo”. E depois, com um pouco de zombaria, diziam: “Não, não podiam fechar o caixão porque queria levar tudo consigo”. É isto que, da avareza, leva os outros a rir: que no fim devemos dar o nosso corpo e a nossa alma ao Senhor, deixando tudo. Tenhamos cuidado! E sejamos generosos, generosos com todos e generosos com aqueles que mais precisam de nós.

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 31 de janeiro de 2024
Os vícios e as virtudes (6): A ira

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Nestas semanas abordamos o tema dos vícios e das virtudes, e hoje refletimos sobre o vício da ira. Trata-se de um vício particularmente tenebroso, e talvez seja o mais simples de identificar do ponto de vista físico. A pessoa dominada pela ira tem dificuldade de esconder este ímpeto: reconhecemo-lo pelos movimentos do seu corpo, pela agressividade, pela respiração ofegante, pelo olhar sombrio e carrancudo.

Na sua manifestação mais penetrante, a ira é um vício que não dá tréguas. Se nasce de uma injustiça sofrida (ou assim considerada), muitas vezes não se desencadeia contra o culpado, mas contra o primeiro desventurado. Há homens que reprimem a ira no lugar de trabalho, demonstrando-se calmos e tranquilos, mas, quando chegam em casa, tornam-se insuportáveis para a esposa e os filhos. A ira é um vício desenfreado: é capaz de tirar o sono e de nos levar a contínuas maquinações na mente, sem conseguir encontrar uma barreira aos raciocínios e aos pensamentos.

A ira é um vício destrutivo das relações humanas. Exprime a incapacidade de aceitar a diversidade do outro, especialmente quando as suas escolhas de vida divergem das nossas. Não se limita aos comportamentos errados de uma pessoa, mas lança tudo no caldeirão: é o outro, o outro tal como ele é, o outro enquanto tal que provoca a raiva e o ressentimento. Começa-se a detestar o tom da sua voz, os gestos banais do dia-a-dia, os seus modos de raciocinar e de sentir.

Quando a relação chega a este nível de degeneração, já se perdeu a lucidez. A ira faz perder a lucidez. Pois às vezes uma das características da ira é a de não conseguir atenuar-se com o tempo. Nesses casos, até a distância e o silêncio, em vez de acalmar o peso dos desentendimentos, o aumentam. É por este motivo que o Apóstolo Paulo recomenda aos cristãos que enfrentem imediatamente o problema e busquem a reconciliação: «Que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento» (Ef 4,26). É importante que tudo se dissolva imediatamente, antes que o sol se ponha. Se durante o dia pode surgir algum desentendimento, e duas pessoas já não conseguirem compreender-se, sentindo-se repentinamente distantes, a noite não deve ser confiada ao diabo. O vício nos manteria acordados na escuridão, a remoer as nossas razões e os erros indescritíveis, que nunca são nossos, sempre do outro. É assim: quando uma pessoa é dominada pela ira, diz sempre que o problema é do outro; nunca é capaz de reconhecer os próprios defeitos, as próprias falhas.

No “Pai-nosso” Jesus nos faz rezar pelas nossas relações humanas, que são um terreno minado: um plano que nunca está em perfeito equilíbrio. Na vida lidamos com quem nos ofende, com devedores que estão em falta conosco; assim como nós certamente nem sempre amamos todos na medida certa. A alguém não restituímos o amor que lhe era devido. Somos todos pecadores, todos, e todos temos a conta no vermelho: não o esqueçamos! Por isso todos devemos aprender a perdoar para ser perdoados. Os homens não permanecem juntos se não se exercitarem também na arte do perdão, na medida do que for humanamente possível. O que impede a ira é a benevolência, a abertura de coração, a mansidão, a paciência.

Mas, a respeito da ira, há uma última coisa a dizer. É um vício terrível, dizia-se, está na origem de guerras e violências. O prefácio da Ilíada descreve “a ira de Aquiles”, que será causa de “lutos infinitos”. Porém, nem tudo o que nasce da ira está errado. Os antigos estavam bem conscientes de que em nós subsiste uma parte irascível, que não pode nem deve ser negada. As paixões são, em certa medida, inconscientes: acontecem, são experiências da vida. Não somos responsáveis pelo nascimento da ira, mas sempre pelo seu desenvolvimento. E às vezes é bom que a ira seja desabafada de maneira correta. Se uma pessoa nunca se irasse, se não se indignasse diante de uma injustiça, se não sentisse tremer algo nas suas entranhas perante a opressão de uma pessoa frágil, então isto significaria que aquela pessoa não é humana, e muito menos cristã.

Existe a santa indignação, que não é a ira, mas sim um movimento interior, a santa indignação. Jesus conheceu-a várias vezes na sua vida (cf. Mc 3,5): nunca respondeu ao mal com o mal, mas na sua alma teve esse sentimento e, no caso dos mercadores do Templo, realizou uma ação forte e profética, ditada não pela ira, mas pelo zelo pela casa do Senhor (cf. Mt 21,12-13). Devemos distinguir bem: uma coisa é o zelo, a santa indignação; outra é a ira, que é má.

Compete a nós, com a ajuda do Espírito Santo, encontrar a medida certa das paixões, educá-las adequadamente, a fim de que se voltem para o bem, não para o mal.

A avareza e a ira
(Alexander Daniloff)

Fonte: Santa Sé (24 de janeiro / 31 de janeiro). 

Confira também nossa postagem sobre os sete salmos penitenciais, relacionados aos sete pecados capitais.

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