quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Leitura litúrgica da Carta aos Efésios (5)

“Entoai juntos salmos, hinos e cânticos inspirados; cantai e celebrai o Senhor de todo o vosso coração” (Ef 5,19).

Nas postagens anteriores da nossa série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura começamos a analisar a presença da Carta de São Paulo aos Efésios (Ef) nas celebrações do Rito Romano.

Após uma breve introdução, analisamos sua leitura sob o critério da composição harmônica (sintonia com o tempo ou a festa litúrgica). Para acessar, clique aqui: 1ª parte / 2ª parte / 3ª parte / 4ª parte.

Agora nos cabe contemplar outro critério de seleção dos textos bíblicos: a leitura semicontínua.

Pregação de Paulo em Éfeso (At 19)
(Eustache Le Sueur)

3. Leitura litúrgica da Carta aos Efésios: Leitura semicontínua

Conforme o n. 66 do Elenco das Leituras da Missa (ELM), a leitura semicontínua consiste na proclamação dos principais textos de um livro na sequência, oferecendo aos fiéis um contato mais amplo com a Palavra de Deus [1].

a) Celebração Eucarística

Na Celebração Eucarística, as Cartas Paulinas são lidas sob esse critério tanto nos domingos quanto nos dias de semana do Tempo Comum (cf. ELM, nn. 107.110) [2].

Primeiramente a Carta aos Efésios é lida de maneira semicontínua como 2ª leitura da Missa em sete domingos, do XV ao XXI Domingo do Tempo Comum do Ano B, entre a Segunda Carta aos Coríntios e a Carta de Tiago:
XV Domingo: Ef 1,3-14 (forma breve: Ef 1,3-10);
XVI Domingo: Ef 2,13-18;
XVII Domingo: Ef 4,1-6;
XVIII Domingo: Ef 4,17.20-24;
XIX Domingo: Ef 4,30–5,2;
XX Domingo: Ef 5,15-20;
XXI Domingo: Ef 5,21-32 [3].

Nos dias de semana do Tempo Comum, por sua vez, a Carta é lida por duas semanas: da quinta-feira da XXVIII semana à quinta-feira da XXX semana do Tempo Comum no ano par, entre outros dois escritos paulinos: a Carta aos Gálatas e a Carta aos Filipenses.

Nessas duas semanas a Carta aos Efésios é lida praticamente na íntegra, sendo omitidas apenas algumas partes da seção parenética que já foram lidas nos domingos ou em outras celebrações. A leitura está organizada da seguinte forma:

I Domingo do Advento em Milão (2024)

Na tarde do domingo, 17 de novembro de 2024, o Arcebispo de Milão (Itália), Dom Mario Enrico Delpini, presidiu a Santa Missa do I Domingo do Advento no Duomo de Milão (Catedral Metropolitana da Natividade da Bem-aventurada Virgem Maria).

No Rito Ambrosiano, próprio dessa Arquidiocese, o Advento possui seis domingos (diferentemente do Rito Romano, com quatro domingos).

Nessa ocasião entrou em vigor a 2ª edição do Missal Ambrosiano (Messale Ambrosiano), sobre o qual falaremos futuramente aqui no blog, destacando suas particularidades, tanto na Celebração Eucarística como no Ano Litúrgico.

Procissão de entrada
Diácono com o novo Missal Ambrosiano
O Arcebispo apresenta o Missal
Oração do dia (Coleta)
Veneração do Livro dos Evangelhos

terça-feira, 19 de novembro de 2024

Ângelus: XXXIII Domingo do Tempo Comum - Ano B

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 17 de novembro de 2024

Queridos irmãos e irmãs, bom domingo!
No Evangelho da Liturgia de hoje Jesus descreve uma grande tribulação: «O sol vai se escurecer, e a lua não brilhará mais» (Mc 13,24). Perante este sofrimento, muitos poderiam pensar no fim do mundo, mas o Senhor aproveita a ocasião para nos oferecer uma chave de leitura diferente, dizendo: «O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão» (v. 31).

Podemos deter-nos nesta expressão: o que passa e o que permanece.

Antes de tudo, o que passa. Em algumas circunstâncias da nossa vida, quando atravessamos uma crise ou vivemos algum fracasso, bem como quando vemos à nossa volta a dor causada pelas guerras, pelas violências, pelas calamidades naturais, temos a sensação de que tudo caminha para o fim e sentimos que até as coisas mais belas passam. Porém, as crises e os fracassos, ainda que dolorosos, são importantes, porque nos ensinam a dar a devida importância a cada coisa, a não apegar o nosso coração às realidades deste mundo, porque estas passarão: estão destinadas a ser passageiras.

Ao mesmo tempo, Jesus fala do que permanece. Tudo passa, mas as suas palavras não passarão: as palavras de Jesus permanecem eternamente. Assim, convida-nos a confiar no Evangelho, que contém uma promessa de salvação e de eternidade, e a deixar de viver sob a angústia da morte. Com efeito, enquanto tudo passa, Cristo permanece. N’Ele, em Cristo, encontraremos um dia as coisas e as pessoas que passaram e nos acompanharam na existência terrena. À luz desta promessa de ressurreição, cada realidade adquire um novo significado: tudo morre e também nós morreremos um dia, mas não perderemos nada do que construímos e amamos, porque a morte será o início de uma vida nova.

Irmãos e irmãs, mesmo nas tribulações, nas crises, nos fracassos, o Evangelho convida-nos a olhar a vida e a história sem medo de perder o que acaba, mas com alegria pelo que permanece. Não esqueçamos que Deus prepara para nós um futuro de vida e de alegria.

E então perguntemo-nos: estamos apegados às coisas da terra, que passam, que passam depressa, ou às palavras do Senhor, que permanecem e nos guiam para a eternidade? Façamo-nos esta pergunta, por favor. Isso nos ajudará.

E rezemos à Virgem Santa, que se confiou totalmente à Palavra de Deus, para que ela interceda por nós.

Juízo final (Basílica de São Marcos, Veneza)

Fonte: Santa Sé.

Missa do XXXIII Domingo do Tempo Comum no Vaticano (2024)

No dia 17 de novembro de 2024 o Papa Francisco presidiu sem celebrar a Santa Missa do XXXIII Domingo do Tempo Comum (Ano B) na Basílica de São Pedro por ocasião do VIII Dia Mundial dos Pobres.

A Liturgia Eucarística, por sua vez, foi celebrada por Dom Rino Fisichella, Pró-Prefeito do Dicastério para a Evangelização (1ª seção), assistido pelo Monsenhor Massimiliano Matteo Boiardi.

O Santo Padre foi assistido por Dom Diego Giovanni Ravelli e pelo Monsenhor Didier Jean-Jacques Bouable. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Procissão de entrada
Incensação

Ritos iniciais
Liturgia da Palavra

Homilia do Papa: XXXIII Domingo do Tempo Comum - Ano B

Santa Missa no VIII Dia Mundial dos Pobres
Homilia do Papa Francisco
Basílica de São Pedro
Domingo, 17 de novembro de 2024

As palavras que acabamos de escutar poderiam suscitar em nós sentimentos de angústia. Na realidade, são um grande anúncio de esperança. Concretamente, se por um lado Jesus parece descrever o estado de espírito daqueles que viram a destruição de Jerusalém e pensam que o fim chegou, anuncia, ao mesmo tempo, algo de extraordinário: é na hora da escuridão e da desolação, quando tudo parece desmoronar-se, que Deus vem, que Deus se aproxima, que Deus nos reúne para nos salvar.

Jesus convida-nos a ter um olhar mais aguçado, a ter olhos capazes de “ler por dentro” os acontecimentos da história, para descobrir que, mesmo na angústia dos nossos corações e do nosso tempo, há uma esperança inabalável que resplandece. Por isso, neste Dia Mundial dos Pobres, detenhamo-nos precisamente sobre estas duas realidades: a angústia e a esperança, que sempre duelam entre si na arena do nosso coração.


Primeiramente, a angústia. É um sentimento generalizado na nossa época, na qual a comunicação social amplifica os problemas e as feridas, tornando o mundo mais inseguro e o futuro mais incerto. Também o Evangelho de hoje inicia com um quadro que projeta no cosmos a tribulação do povo, e o faz com uma linguagem apocalíptica: «O sol vai se escurecer, e a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu» (Mc 13,24-25) e assim por diante.

Se o nosso olhar se detém apenas na crônica dos acontecimentos, dentro de nós a angústia ganha terreno. Verdadeiramente também hoje vemos o sol escurecer e a lua apagar-se, vemos a fome e a carestia que oprimem tantos irmãos e irmãs, vemos os horrores da guerra e a morte de inocentes; e, perante este cenário, corremos o risco de afundarmos no desânimo e não percebermos a presença de Deus no drama da história. Assim, condenamo-nos à impotência: vemos crescer à nossa volta a injustiça que causa a dor dos pobres, mas juntamo-nos à corrente resignada daqueles que, por comodismo ou por preguiça, pensam que “o mundo é assim mesmo” e que “não há nada que eu possa fazer”. Desse modo, até a própria fé cristã é reduzida a uma devoção inócua, que não incomoda os poderes deste mundo e não gera um compromisso concreto de caridade. E enquanto uma parte do mundo é condenada a viver à margem da história, enquanto crescem as desigualdades e a economia penaliza os mais fracos, enquanto a sociedade se consagra à idolatria do dinheiro e do consumo, acontece então que os pobres e os excluídos não podem fazer outra coisa senão continuar a esperar (cf. Exortação Apostólica Evangelii gaudium, n. 54).

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Leitura litúrgica da Carta aos Efésios (4)

“Revesti o homem novo, criado à imagem de Deus” (Ef 4,24).

Nas postagens anteriores desta série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura iniciamos um estudo sobre a presença da Carta de São Paulo aos Efésios (Ef) nas celebrações do Rito Romano.

Após uma breve introdução, analisamos sua leitura sob o critério da composição harmônica (sintonia com o tempo ou a festa litúrgica), como indicado no Elenco das Leituras da Missa (n. 66) [1], na Celebração Eucarística, nos demais Sacramentos e nos Sacramentais.  Para acessar, clique aqui: 1ª parte / 2ª parte / 3ª parte.

Nesta postagem concluiremos esse percurso com a Liturgia das Horas (LH).

Ruínas da cidade de Éfeso

2. Leitura litúrgica da Carta aos Efésios: Composição harmônica

d) Liturgia das Horas

Em relação à leitura de Efésios em composição harmônica na Liturgia das Horas, é preciso distinguir entre leituras longas, proferidas no Ofício das Leituras, e leituras breves, proferidas nas outras horas (Laudes, Hora Média e Vésperas).

Iniciamos com as leituras longas do nosso escrito, que são seis:

- Ofício das Leituras da Festa da Sagrada Família (Domingo após o Natal): Ef 5,21–6,4 [2]. Enquanto na Missa da Festa se lê o “código doméstico” de Colossenses, como vimos em postagens anteriores, na LH se lê o “código doméstico” de Efésios.

- Ofício das Leituras da Solenidade da Ascensão do Senhor: Ef 4,1-24 [3], recordando o “duplo movimento” de Cristo: “Ele subiu! Que significa isso, senão que Ele desceu também às profundezas da terra! Aquele que desceu é o mesmo que subiu mais alto do que todos os céus, a fim de encher o universo” (vv. 9-10).

- Ofício das Leituras da Solenidade da Assunção da Virgem Maria (15 de agosto): Ef 1,16–2,10 [4], sobre a obra salvífica do Senhor: “Deus nos ressuscitou com Cristo e nos fez sentar nos céus em virtude de nossa união com Jesus Cristo” (v. 6).

- Ofício das Leituras das Festas dos Evangelistas São Marcos (25 de abril) e São Mateus, Apóstolo (21 de setembro): Ef 4,1-16 [5], perícope que atesta a diversidade de ministérios, incluindo os “apóstolos” e “evangelistas”.

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Ângelus: XXXII Domingo do Tempo Comum - Ano B

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 10 de novembro de 2024

Queridos irmãos e irmãs, bom domingo!
Hoje o Evangelho da Liturgia (Mc 12,38-44) fala-nos de Jesus que, no templo de Jerusalém, denuncia diante do povo a atitude hipócrita de alguns escribas (vv. 38-40).

A estes últimos era confiado um papel importante na comunidade de Israel: liam, transcreviam e interpretavam as Escrituras. Por isso eram tidos em grande estima e o povo prestava-lhes reverência.

Mas, para além das aparências, o seu comportamento não correspondia muitas vezes ao que ensinavam. Não eram coerentes. De fato, alguns, valendo-se do prestígio e do poder que possuíam, olhavam para os outros “de cima” - o que é muito feio, olhar para o outro de cima para baixo -, assumiam ares de superioridade e, escondendo-se atrás de uma fachada de fingida respeitabilidade e legalismo, arrogavam-se privilégios e chegavam ao ponto de cometer roubos em detrimento dos mais fracos, como as viúvas (v. 40). Em vez de usarem o papel de que foram investidos para servir os outros, fizeram dele um instrumento de arrogância e de manipulação. E aconteceu que até a oração, para eles, corria o risco de deixar de ser um momento de encontro com o Senhor para se tornar uma ocasião de ostentação de respeitabilidade e de piedade fingida, útil para atrair a atenção das pessoas e obter aprovação (ibid.). Recordemos o que Jesus diz sobre a oração do publicano e do fariseu (cf. Lc 18,9-14).

Eles - não todos - comportavam-se como pessoas corruptas, alimentando um sistema social e religioso no qual era normal favorecer-se em detrimento dos outros, sobretudo dos mais indefesos, cometendo injustiças e garantindo-se a impunidade.

Destas pessoas, Jesus recomenda que nos afastemos, que tenhamos “cuidado” (v. 38), que não as imitemos. Pelo contrário, com a sua palavra e o seu exemplo, como sabemos, Ele ensina coisas muito diferentes sobre a autoridade. Fala dela em termos de abnegação e de serviço humilde (cf. Mc 10,42-45), de ternura materna e paterna para com as pessoas (Lc 11,11-13), sobretudo as mais necessitadas (Lc 10,25-37). Convida quem está investido dela a olhar para os outros, a partir da sua posição de poder, não para humilhá-los, mas para elevá-los, dando-lhes esperança e ajuda.

Assim, irmãos e irmãs, podemos nos interrogar: como me comporto nas minhas áreas de responsabilidade? Procedo com humildade ou orgulho-me da minha posição? Sou generoso e respeito as pessoas ou trato-as de forma rude e autoritária? E com os mais frágeis, estou ao lado deles, inclino-me para ajudá-los a se levantar?

A Virgem Maria nos ajude a lutar contra a tentação da hipocrisia em nós - Jesus diz-lhes “hipócritas”, a hipocrisia é uma grande tentação - e nos ajude a fazer o bem sem aparecer e com simplicidade.

Jesus adverte contra os “doutores da Lei”
(James Tissot)

Fonte: Santa Sé.