Neste ano de 2025, no qual as Igrejas do Oriente e do Ocidente celebram os 1700 anos do I Concílio de Niceia (325), recordamos as quatro meditações sobre a teologia do Oriente e do Ocidente proferidas pelo Padre Raniero Cantalamessa, então Pregador da Casa Pontifícia, durante a Quaresma de 2015.
Confira nesta postagem a segunda meditação, sobre o mistério da Pessoa de Cristo:
Padre Raniero Cantalamessa, OFMCap
III pregação de Quaresma
13 de março de 2015
Oriente e Ocidente perante o mistério da Pessoa de Cristo
1. Paulo e João: o Cristo visto de dois ângulos
Em nosso esforço de
compartilhar os tesouros espirituais do Oriente e do Ocidente, vamos refletir hoje
sobre a fé comum em Jesus Cristo. Tentemos fazê-lo como quem fala de alguém presente,
não de um ausente. Se não fosse pelo nosso “peso” humano, que nos atrapalha,
deveríamos pensar que, toda vez que pronunciamos o nome de Jesus, Ele se sente
chamado pelo nome e se volta para nos olhar. Hoje também Ele está aqui conosco
e escuta o que diremos d’Ele (esperemos que com indulgência).
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Cristo Pantocrator (Catedral de Cefalù, Itália) |
Comecemos pelas raízes
bíblicas da “questão Jesus”. No Novo Testamento vemos delinear-se duas vias de
expressão do mistério de Cristo. A primeira delas é a de São Paulo. Resumamos
os traços peculiares dessa linha, os traços que a tornarão modelo e arquétipo
cristológico no desenvolvimento do pensamento cristão. Esta linha:
- Parte da humanidade para alcançar a divindade de Cristo; parte da história para
atingir a pré-existência; é, portanto, um caminho ascendente; segue a ordem do manifestar-se de Cristo, a ordem em que os homens o
conheceram, não a ordem do ser;
- Parte da dualidade de Cristo (carne e espírito) para
chegar à unidade do sujeito “Jesus Cristo, nosso
Senhor”;
- Tem no centro o Mistério Pascal, o operatum, mais do que a
pessoa de Cristo. O grande marco entre as duas fases da existência de Cristo é
a Ressurreição dos mortos.
Para nos convencermos de que
esta consideração é acertada, basta reler a densíssima passagem, uma espécie de
credo embrionário, com que o Apóstolo começa a Carta aos Romanos. O
mistério de Cristo é assim resumido: “Descendente de Davi segundo a carne, autenticado
como Filho de Deus com poder, pelo Espírito de santidade que o ressuscitou dos
mortos, Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 1,3-4).