sexta-feira, 28 de março de 2025

Raniero Cantalamessa: Oriente e Ocidente (2)

Neste ano de 2025, no qual as Igrejas do Oriente e do Ocidente celebram os 1700 anos do I Concílio de Niceia (325), recordamos as quatro meditações sobre a teologia do Oriente e do Ocidente proferidas pelo Padre Raniero Cantalamessa, então Pregador da Casa Pontifícia, durante a Quaresma de 2015.

Confira nesta postagem a segunda meditação, sobre o mistério da Pessoa de Cristo:

Padre Raniero Cantalamessa, OFMCap
III pregação de Quaresma
13 de março de 2015
Oriente e Ocidente perante o mistério da Pessoa de Cristo

1. Paulo e João: o Cristo visto de dois ângulos

Em nosso esforço de compartilhar os tesouros espirituais do Oriente e do Ocidente, vamos refletir hoje sobre a fé comum em Jesus Cristo. Tentemos fazê-lo como quem fala de alguém presente, não de um ausente. Se não fosse pelo nosso “peso” humano, que nos atrapalha, deveríamos pensar que, toda vez que pronunciamos o nome de Jesus, Ele se sente chamado pelo nome e se volta para nos olhar. Hoje também Ele está aqui conosco e escuta o que diremos d’Ele (esperemos que com indulgência).

Cristo Pantocrator
(Catedral de Cefalù, Itália)

Comecemos pelas raízes bíblicas da “questão Jesus”. No Novo Testamento vemos delinear-se duas vias de expressão do mistério de Cristo. A primeira delas é a de São Paulo. Resumamos os traços peculiares dessa linha, os traços que a tornarão modelo e arquétipo cristológico no desenvolvimento do pensamento cristão. Esta linha:
- Parte da humanidade para alcançar a divindade de Cristo; parte da história para atingir a pré-existência; é, portanto, um caminho ascendente; segue a ordem do manifestar-se de Cristo, a ordem em que os homens o conheceram, não a ordem do ser;
- Parte da dualidade de Cristo (carne e espírito) para chegar à unidade do sujeito “Jesus Cristo, nosso Senhor”;
- Tem no centro o Mistério Pascal, o operatum, mais do que a pessoa de Cristo. O grande marco entre as duas fases da existência de Cristo é a Ressurreição dos mortos.

Para nos convencermos de que esta consideração é acertada, basta reler a densíssima passagem, uma espécie de credo embrionário, com que o Apóstolo começa a Carta aos Romanos. O mistério de Cristo é assim resumido: “Descendente de Davi segundo a carne, autenticado como Filho de Deus com poder, pelo Espírito de santidade que o ressuscitou dos mortos, Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 1,3-4).

Solenidade da Anunciação do Senhor em Nazaré (2025)

No dia 25 de março de 2025 o Patriarca Latino de Jerusalém, Cardeal Pierbattista Pizzaballa, presidiu a Missa da Solenidade da Anunciação do Senhor na igreja superior da Basílica da Anunciação em Nazaré.

No final da Missa teve lugar a tradicional procissão “em memória da Encarnação do Verbo de Deus” (Memoria Verbi Dei Incarnationis) ao redor da abertura sobre a igreja inferior, com a leitura de três trechos do Evangelho, a oração do Ângelus e a bênção.

Nessa procissão, além do Livro dos Evangelhos, foi conduzida uma rocha da gruta da Anunciação em um relicário.

Procissão de entrada

Incensação
Ritos iniciais

quarta-feira, 26 de março de 2025

Catequese do Papa João Paulo II sobre as Indulgências

Após as duas Catequeses sobre o sacramento da Reconciliação proferidas em setembro de 1999 em preparação para o Grande Jubileu do Ano 2000, trazemos uma Catequese do Papa São João Paulo II sobre as indulgências, tema diretamente ligado a esse sacramento e particularmente atual neste Jubileu 2025:

João Paulo II
Audiência Geral
Quarta-feira, 29 de setembro de 1999
O dom da indulgência

1. Em íntima conexão com o sacramento da Penitência apresenta-se à nossa reflexão um tema que tem particular relação com a celebração do Jubileu: refiro-me ao dom da indulgência, que no ano jubilar é oferecido com particular abundância, como é previsto na Bula Incarnationis mysterium e nas disposições anexas da Penitenciaria Apostólica.

Trata-se de um tema delicado, sobre o qual não faltaram incompreensões históricas, que incidiram negativamente na própria comunhão entre os cristãos. No atual contexto ecumênico a Igreja sente a exigência de que esta antiga prática, entendida como expressão significativa da misericórdia de Deus, seja bem compreendida e acolhida. De fato, a experiência atesta como às vezes nos aproximamos das indulgências com atitudes superficiais, que acabam por prejudicar o dom de Deus, lançando sombra sobre as próprias verdades e valores propostos pelo ensinamento da Igreja.


2. O ponto de partida para compreender a indulgência é a abundância da misericórdia de Deus, manifestada na cruz de Cristo. Jesus crucificado é a grande “indulgência” que o Pai ofereceu à humanidade, através do perdão das culpas e da possibilidade da vida filial (cf. Jo 1,12-13) no Espírito Santo (cf. Gl 4,6; Rm 5,5; 8,15-16).

Este dom, no entanto, na lógica da aliança que é o coração de toda a economia da salvação, não nos atinge sem a nossa aceitação e a nossa correspondência.

segunda-feira, 24 de março de 2025

Catequeses do Papa Francisco: Vícios e virtudes 8

Nesta postagem da série de Catequeses do Papa Francisco sobre os vícios e as virtudes publicadas aqui no blog durante a Quaresma do Ano Jubilar de 2025 trazemos as meditações sobre as duas últimas virtudes cardeais: a fortaleza e a temperança.

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 10 de abril de 2024
Os vícios e as virtudes (14): A fortaleza

Caríssimos irmãos e irmãs, bom dia!
A Catequese de hoje é dedicada à terceira das virtudes cardeais, ou seja, à fortaleza. Comecemos pela descrição dada pelo Catecismo da Igreja Católica: «A fortaleza é a virtude moral que, no meio das dificuldades, assegura a firmeza e a constância na busca do bem. Torna firme a decisão de resistir às tentações e de superar os obstáculos na vida moral. A virtude da fortaleza dá capacidade para vencer o medo, até da morte, e enfrentar a provação e as perseguições» (n. 1808). Isto diz o Catecismo da Igreja Católica sobre a virtude da fortaleza.

A sabedoria expulsa os vícios do jardim das virtudes
(Andrea Mantegna)

Eis, pois, a mais “combativa” das virtudes. Enquanto a primeira das virtudes cardeais, isto é, a prudência, estava principalmente associada à razão do homem, e a justiça encontrava a sua morada na vontade, esta terceira virtude, a fortaleza, é frequentemente ligada pelos autores escolásticos àquilo que os antigos chamavam o “apetite irascível”. O pensamento antigo não imaginava um homem desprovido de paixões: seria uma pedra. E as paixões não são necessariamente o resíduo de um pecado; mas devem ser educadas, devem ser orientadas, devem ser purificadas com a água do Batismo, ou melhor, com o fogo do Espírito Santo. O cristão sem coragem, que não inclina as próprias forças para o bem, que não incomoda ninguém, é um cristão inútil. Pensemos nisto! Jesus não é um Deus diáfano e asséptico, que desconhece as emoções humanas. Pelo contrário. Perante a morte do amigo Lázaro, desata em lágrimas; e em algumas das suas expressões transparece o seu espírito apaixonado, como quando diz: «Vim lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já se tivesse aceso!» (Lc 12,49); e diante do comércio no templo, reage vigorosamente (cf. Mt 21,12-13). Jesus tinha paixão!

sábado, 22 de março de 2025

Solenidade de São José em Cracóvia (2025)

Na Arquidiocese de Cracóvia (Polônia) a Solenidade de São José, Esposo da Bem-aventurada Virgem Maria, no dia 19 de março de 2025, foi marcada por duas Missas presididas pelo Arcebispo, Dom Marek Jędraszewski:

Pela manhã o Arcebispo celebrou a Missa no Santuário de São José na rua Poseslka em Cracóvia, junto ao Mosteiro das Irmãs Bernardinas (ramo da Ordem Franciscana próprio da Polônia). À tarde, por sua vez, celebrou a Missa no Santuário de São José “Protetor de Cracóvia” na rua Rakowicka, sob responsabilidade dos Carmelitas Descalços.

Missa no Santuário de São José

Ritos iniciais
Homilia
Apresentação das oferendas
Consagração
Oração Eucarística

sexta-feira, 21 de março de 2025

Solenidade de São José em Nazaré (2025)

No dia 19 de março de 2025 o Custódio da Terra Santa, Padre Francesco Patton, celebrou a Missa da Solenidade de São José, Esposo da Bem-aventurada Virgem Maria, na Basílica da Anunciação em Nazaré.

Antes da Missa o Custódio rezou na vizinha igreja de São José, também conhecida como “igreja da Nutrição”. Para saber mais sobre essas duas igrejas, clique aqui.

Mosaico da Sagrada Família na igreja da Nutrição
Incensação do altar
Acolhida do Custódio na Basílica da Anunciação: Aspersão
Veneração do altar da Anunciação
Procissão de entrada

Raniero Cantalamessa: Oriente e Ocidente (1)

Neste ano de 2025 celebramos os 1700 anos do I Concílio de Niceia (325), que contou com a participação de Bispos do Oriente e do Ocidente.

Aproveitamos a ocasião para recordar as quatro meditações sobre a teologia do Oriente e do Ocidente proferidas pelo Padre Raniero Cantalamessa, então Pregador da Casa Pontifícia, durante a Quaresma de 2015 (precedidas de uma meditação sobre a Exortação Apostólica Evangelii gaudium).

Confira a seguir a primeira meditação, dedicada ao mistério da Trindade:

Padre Raniero Cantalamessa, OFMCap
II pregação de Quaresma
06 de março de 2015
Oriente e Ocidente perante o mistério da Trindade

1. Compartilhar o que nos une

A recente visita do Papa Francisco à Turquia (novembro de 2014), que terminou com o encontro com o Patriarca Ortodoxo Bartolomeu e, especialmente, a sua exortação a compartilhar plenamente a fé comum do Oriente cristão e do Ocidente latino, me convenceram da utilidade de usar as meditações quaresmais deste ano para atender esse desejo do Papa, que é desejo, também, de toda a cristandade.

Este desejo de compartilhar não é novo. O Concílio Vaticano II, na Unitatis Redintegratio, já exortava a uma especial atenção às Igrejas Orientais e às suas riquezas (n. 14). São João Paulo II, na Carta Apostólica Orientale Lumen, de 1995, escreveu: “Porque acreditamos que a venerável e antiga tradição das Igrejas Orientais é parte integrante do patrimônio da Igreja de Cristo, a primeira necessidade para os católicos é conhecê-la, a fim de poderem nutrir-se dela e favorecer, do modo possível a cada um, o processo da unidade” (n. 1).

Ícone da Trindade (detalhe)

O mesmo Santo Pontífice formulou um princípio que eu considero fundamental para o caminho da unidade: “compartilhar as muitas coisas que nos unem e que certamente são mais numerosas do que as coisas que nos dividem” (Tertio millennio adveniente, n. 16). A Ortodoxia e a Igreja Católica compartilham a mesma fé na Trindade; na Encarnação do Verbo; em Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem em uma só pessoa, que morreu e ressuscitou para a nossa salvação, que nos deu o Espírito Santo; acreditamos que a Igreja é o seu Corpo animado pelo Espírito Santo; que a Eucaristia é “fonte e ápice da vida cristã”; que Maria é a Theotokos, a Mãe de Deus; que temos como destino a vida eterna. O que pode haver de mais importante do que isto? As diferenças se manifestam na maneira de entender e de explicar alguns desses mistérios e, portanto, são secundárias, não primárias.