sexta-feira, 3 de maio de 2024

Ladainha da Santa Cruz

“A Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa glória” (Gl 6,14).

No dia 03 de maio se celebram em alguns lugares festas em honra da Cruz, “eco” da antiga Festa da Invenção da Santa Cruz, que recordava a descoberta (em latim, inventio) das supostas relíquias da Cruz no início do século IV, atribuída à Imperatriz Santa Helena (†330).

Para saber mais, confira nossa postagem sobre a história da Festa da Exaltação da Santa Cruz.

Para recordar essa celebração, que neste ano de 2024 cai na sexta-feira, dia dedicado à memória da Paixão do Senhor, nesta postagem gostaríamos de resgatar a Ladainha da Santa Cruz (Litaniae de Sancta Cruce).

Glória da Cruz, “única esperança” (spes unica)

As ladainhas (em latim litania, do grego λιτή [lité], súplica), com efeito, série de invocações ou preces intercaladas por uma resposta, são formas de oração muito populares.

Além das oito Ladainhas aprovadas oficialmente pela Igreja, as únicas que podem ser entoadas nas celebrações litúrgicas - do Santíssimo Nome de Jesus; do Sagrado Coração de Jesus; do Preciosíssimo Sangue de Jesus; de Nossa Senhora; de São José; de Todos os Santos; de Jesus Cristo, Sacerdote e Vítima; e do Santíssimo Sacramento [1] -, sobretudo a partir do final da Idade Média surgiram várias outras Ladainhas a serem rezadas de maneira privada, como devoção pessoal, ou mesmo de forma comunitária, em momentos de oração fora da Liturgia (novenas, horas-santas, etc.).

É o caso da Ladainha da Santa Cruz, publicada em um célebre livro de orações editado em 1612, o Fasciculus Sacrarum Orationum et Litaniarum ad usum quotidianum Christiani hominis, ex sanctis Scripturis et Patribus collectus (Conjunto de Orações Sagradas e Ladainhas para uso quotidiano dos cristãos, extraídas das Sagradas Escrituras e dos Santos Padres). Do mesmo livro é a Ladainha para a Quaresma (Litaniae in Quadragesima), sobre a qual já falamos aqui em nosso blog.

Após as tradicionais invocações iniciais a Cristo (Kyrie eleison, Christe eleison...) e à Trindade, seguem-se 45 invocações à Santa Cruz, reunidas em nove grupos de cinco, cada um com uma resposta (defende-nos, protege-nos, salva-nos...). Essas invocações são em geral tomadas dos escritos dos Santos Padres (ex Sanctis Patribus), teólogos dos primeiros séculos do Cristianismo.

Seguem-se outras doze súplicas à Cruz para que nos livre do mal, com a resposta “libera nos Sancta Crux” (livra-nos, ó Santa Cruz), seguidas das tradicionais invocações a Cristo como Cordeiro de Deus. Concluem a Ladainha a oração do Senhor (Pai-nosso), alguns responsórios e cinco orações.

Confira a seguir o texto original da Ladainha (em latim), conforme presente no Fasciculus Sacrarum Orationum et Litaniarum, e uma tradução feita pela equipe do site do Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior, a partir da versão divulgada no site Preces Latinae, com pequenas correções feitas pelo autor desse blog.

Essa tradução, com efeito, omite algumas invocações, que acrescentamos a seguir. Além disso, se utiliza a 2ª pessoa do plural (vós) para referir-se à Cruz, que substituímos pela 2ª pessoa do singular (tu), que é a utilizada no original e em textos litúrgicos.

No futuro publicaremos uma postagem comentando as 45 invocações da Ladainha, aprofundando assim a “teologia” dessa que, de certa forma, foi a primeira devoção difundida no Brasil, “Terra de Santa Cruz”.

Essa Ladainha pode ser entoada de maneira privada, como devoção pessoal, ou em momentos de oração comunitária fora da Liturgia, na Festa da Exaltação da Santa Cruz (14 de setembro), durante a Quaresma e a Semana Santa e em outras celebrações em honra do mistério da Paixão do Senhor.

Relíquia da Cruz
(Basílica do Santo Sepulcro, Jerusalém)

 Litaniae de Sancta Cruce

Kyrie eleison. Kyrie eleison.
Christe eleison. Christe eleison.
Kyrie eleison. Kyrie eleison.

Christe, audi nos.
Christe, exaudi nos.

Pater de caelis, Deus, miserere nobis.
Fili, Redemptor mundi, Deus,
Spiritus Sancte, Deus,
Sancta Trinitas, unus Deus,

Crux, specula Patriarcharum et Prophetarum, defende nos.
Praeconium Apostolorum,
Corona Martyrum,
Gaudium Sacerdotum,
Gloriatio Virginum,

quinta-feira, 2 de maio de 2024

Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio: Jesus Cristo 42

A quarta seção das Catequeses de São João Paulo II sobre a missão de Jesus Cristo, centrada no mistério do seu sacrifício, foi subdivida em três partes. Confira a seguir o início da 1ª parte, sobre o sentido e valor da Morte de Cristo (nn. 64-70).

Para acessar a postagem com a Introdução e o índice das Catequeses sobre o Creio do Papa polonês, clique aqui.

Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio
CREIO EM JESUS CRISTO

IV. O sacrifício de Jesus Cristo
A. Sentido e valor da Morte de Cristo

64. Cristo, modelo do amor perfeito que atinge seu ápice no sacrifício da cruz
João Paulo II - 31 de agosto de 1988

1. A união filial de Jesus com o Pai se expressa no perfeito amor, que Ele constituiu como mandamento principal do Evangelho: “Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento. Este é o maior e o primeiro mandamento” (Mt 22,37s). Como sabemos, a esse mandamento Jesus une um segundo, “semelhante ao primeiro”: o do amor ao próximo (cf. Mt 22,39). E Ele mesmo se propõe como exemplo desse amor: “Eu vos dou um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13,34). Ele ensina e entrega aos seus seguidores um amor exemplificado no modelo do seu amor.

A este amor podem ser certamente aplicadas as qualidades da caridade (do amor) enumeradas por São Paulo: “O amor é paciente, é benigno; não é invejoso, não é presunçoso nem arrogante... não é interesseiro... não leva em conta o mal sofrido... se alegra com a verdade. Tudo sofre... tudo suporta” (1Cor 13,4-7). Quando, na sua Carta, o Apóstolo apresentava aos seus destinatários de Corinto tal imagem da caridade evangélica, sua mente e seu coração certamente estavam impregnados pelo pensamento do amor de Cristo, para o qual desejava orientar a vida das comunidades cristãs, de modo que o seu “hino da caridade” pode ser considerado um comentário ao mandamento de amar segundo o modelo de Cristo-Amor (como dirá, tantos séculos depois, Santa Catarina de Siena): “Como Eu vos amei” (Jo 13,34).

Última Ceia (Antoni Estruch)
Note-se a sombra de Cristo, prefigurando a Paixão

São Paulo destaca em outros textos que o ápice desse amor é o sacrifício da cruz: “Sede, pois, imitadores de Deus como filhos queridos. Caminhai no amor, como Cristo também nos amou e se entregou a Deus por nós como oferenda e sacrifício” (Ef 5,1-2).
Para nós resulta agora instrutivo, construtivo e consolador considerar essas qualidades do amor de Cristo.

quarta-feira, 1 de maio de 2024

Leitura litúrgica do Livro de Zacarias 9–14

“Exulta, cidade de Sião! Rejubila, cidade de Jerusalém. Eis que teu rei vem ao teu encontro” (Zc 9,9).

Em uma postagem anterior da nossa série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura vimos que o Livro de Zacarias (Zc) é na verdade formado por duas obras de épocas diferentes: os capítulos 1–8, cuja presença na Liturgia analisamos na referida postagem, e os capítulos 9–14, que serão o conteúdo deste breve estudo.

1. Breve introdução ao Livro de Zacarias 9–14

Como vimos, os capítulos 1–8 são a obra do “Proto-Zacarias” (Primeiro Zacarias), contemporâneo do profeta Ageu, cuja preocupação central é a reconstrução do Templo de Jerusalém (520-518 a. C.).

Os capítulos 9–14, por sua vez, integram a obra do “Dêutero-Zacarias” (Segundo Zacarias), um profeta anônimo, cuja datação é incerta. A maioria dos estudiosos o situa no final do século IV a. C., no contexto das conquistas de Alexandre Magno da Macedônia. Isto faria do Dêutero-Zacarias o último dos profetas do Antigo Testamento.

Profeta Zacarias
(Michelangelo - Capela Sistina)

Embora alguns temas do Proto-Zacarias sejam retomados, como a aliança ou as promessas de abundância, desaparece aqui a preocupação central com o Templo e nenhum personagem é nomeado (como Zorobabel ou Josué, referidos diversas vezes nos capítulos 1–8).

No capítulos do Dêutero-Zacarias predominam os oráculos sobre a vinda do Messias, com frequentes referências a outros textos do Antigo Testamento (AT), sobretudo aos “profetas maiores” (Isaías, Jeremias e Ezequiel) e aos Salmos.

Podemos dividir esses capítulos em duas partes bem definidas (a ponto de alguns estudiosos defenderem que a segunda parte seria obra de um “terceiro-Zacarias”):

1ª parte: Zc 9–11:
a) Zc 9,1–10,2: o Messias humilde e pacífico contrapõe-se às nações estrangeiras em guerra;
b) Zc 10,3–11,3: espécie de “novo êxodo”, com um desfile jubiloso diante do qual caem as nações inimigas, representadas pelo Egito e pela Assíria;
c) Zc 11,4-17: acusação contra os maus pastores (Deus “quebra” sua aliança com eles).

2ª parte: Zc 12–14:
a) Zc 12–13: Deus promete proteger Jerusalém dos seus inimigos e o povo se purifica de seus pecados;
b) Zc 14: combate escatológico e vitória definitiva do Senhor.

Na primeira parte predomina a poesia e há várias referências geográficas, enquanto a segunda parte é em prosa e localizada em Jerusalém.

O tema da escatologia é bastante presente na obra, sobretudo na segunda parte, onde se repete 17 vezes a fórmula escatológica: “Naquele dia acontecerá...”. Utilizam-se também muitas imagens simbólicas, próprias da literatura apocalíptica.

Se no Proto-Zacarias tínhamos o Templo como centro, o Dêutero-Zacarias gira em torno da cidade de Jerusalém: sua purificação em Zc 13,1-2 pode ser considerada o centro da obra. A partir dela o Reino de Deus se estende por toda a terra.

As referências ao Messias, apresentado como rei, pastor e servo, tornaram este escrito um dos mais citados no Novo Testamento.

Para saber mais, confira a bibliografia indicada no final da postagem.

2. Leitura litúrgica de Zacarias 9–14: Composição harmônica

Não obstante sua presença relativamente “modesta” nas celebrações litúrgicas, analisaremos a leitura de Zacarias 9–14 seguindo os dois critérios de seleção dos textos indicados no n. 66 do Elenco das Leituras da Missa (ELM): a composição harmônica e a leitura semicontínua [1].

Começamos por suas leituras em composição harmônica, isto é, quando a escolha do texto se dá em sintonia com o tempo ou festa litúrgica.

Entrada messiânica de Jesus em Jerusalém (cf. Zc 9,9-10)
(Hippolyte Flandrin)

a) Celebração Eucarística

Seguindo o ciclo do Ano Litúrgico, antes ainda de considerarmos as leituras propriamente ditas, cabe destacar duas antífonas tomadas do nosso livro e entoadas no Ciclo do Natal, ambas anunciando a vinda do Senhor:

terça-feira, 30 de abril de 2024

Fotos da Missa do Papa em Veneza

No dia 28 de abril de 2024 o Papa Francisco presidiu sem celebrar a Missa do V Domingo da Páscoa (Ano B) na Praça de São Marcos em Veneza durante sua visita à cidade.

A Liturgia Eucarística, por sua vez, foi celebrada pelo Patriarca de Veneza, Dom Francesco Moraglia.

O Santo Padre foi assistido por Dom Diego Giovanni Ravelli e pelo Monsenhor L'ubomir Welnitz.

Após a Missa o Papa se dirigiu à Basílica de São Marcos para venerar as relíquias do Evangelista.


O Papa aguarda o início da celebração
Incensação do altar
Sinal da cruz
Liturgia da Palavra

Homilia do Papa: Missa em Veneza

Visita a Veneza
Homilia do Papa Francisco  
Praça São Marcos, Veneza
V Domingo da Páscoa (Ano B), 28 de abril de 2024

Jesus é a videira, nós somos os ramos. E Deus, o Pai misericordioso e bom, como um agricultor paciente, nos trabalha com cuidado para que a nossa vida seja repleta de frutos. Por isso Jesus nos recomenda conservar o dom inestimável que é o vínculo com Ele, do qual dependem nossa vida e fecundidade. Ele repete com insistência: «Permanecei em mim e Eu permanecerei em vós... Aquele que permanece em mim, e Eu nele, esse produz muito fruto» (Jo 15,4-5). Só quem permanece unido a Jesus produz fruto. Detenhamo-nos sobre isso.

Jesus está para concluir a sua missão terrena. Na Última Ceia com aqueles que serão os seus Apóstolos, Ele lhes confia, junto com a Eucaristia, algumas palavras-chave. Uma delas é precisamente esta: «Permanecei», conservai vivo o vínculo comigo, permanecei unidos a mim como os ramos à videira. Usando essa imagem, Jesus retoma uma metáfora bíblica que o povo conhecia bem e que encontrava também na oração, como no Salmo que diz: «Voltai-vos para nós, Deus do universo! Olhai dos altos céus e observai. Visitai a vossa vinha e protegei-a!» (Sl 79,15). Israel é a vinha que o Senhor plantou e da qual cuidou. E quando o povo não produz os frutos de amor que o Senhor espera, o profeta Isaías formula um ato de acusação utilizando precisamente a parábola de um agricultor que cercou a sua vinha, a limpou das pedras, plantou videiras escolhidas, esperando que produzisse vinho bom, mas ela, ao contrário, só produziu uvas amargas. E o profeta conclui: «Pois bem, a vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel, e o povo de Judá, sua dileta plantação; Eu esperava deles frutos de justiça - e eis a injustiça; esperava obras de bondade - e eis a iniquidade» (Is 5,7). O próprio Jesus, retomando Isaías, conta a dramática parábola dos vinhateiros homicidas, destacando o contraste entre o trabalho paciente de Deus e a rejeição do seu povo (cf. Mt 21,33-44).


Assim, a metáfora da videira, enquanto expressa o cuidado amoroso de Deus por nós, por outro lado nos adverte, porque, se rompermos esse vínculo com o Senhor, não poderemos gerar frutos de boa vida e nós mesmos corremos o risco de nos tornarmos ramos secos. É grave isso, tornar-se ramos secos, aqueles ramos que serão jogados fora.

Irmãos e irmãs, sob o pano de fundo da imagem usada por Jesus, penso também na longa história que liga Veneza ao trabalho das videiras e à produção de vinho, no cuidado de tantos viticultores e nos numerosos vinhedos que surgiram nas ilhas da Laguna e nos jardins entre as ruas da cidade, e naqueles que empenhavam os monges na produção de vinho para as suas comunidades. A partir dessa memória, não é difícil colher a mensagem da parábola da videira e dos ramos: a fé em Jesus, o vínculo com Ele, não aprisiona a nossa liberdade, mas, ao contrário, abre-nos para receber a seiva do amor de Deus, que multiplica a nossa alegria, cuida de nós com o cuidado de um bom vinhateiro e faz nascer brotos mesmo quando o solo de nossa vida se torna árido. E tantas vezes o nosso coração se torna árido.

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Missa nos 10 anos da Canonização de São João Paulo II

No dia 27 de abril de 2024 completaram-se 10 anos da Canonização do Papa São João Paulo II (†2005), “elevado aos altares” junto com o Papa São João XXIII (†1963) no dia 27 de abril de 2014.

No Santuário de São João Paulo II em Cracóvia (Polônia) a data foi celebrada com a Santa Missa do sábado da IV semana da Páscoa presidida pelo Arcebispo, Dom Marek Jędraszewski:

Procissão de entrada

Incensação do altar
Incensação da relíquia de São João Paulo II
Evangelho

Peregrinação da Igreja Húngara a Roma

De 23 a 25 de abril de 2024 um expressivo grupo de fiéis católicos da Hungria, acompanhados por seus Bispos e sacerdotes, realizou uma peregrinação a Roma um ano após a visita do Papa Francisco ao país.

Francisco, com efeito, visitou a Hungria de 28 a 30 de abril de 2023, quase dois anos após presidir a Missa de encerramento do 52º Congresso Eucarístico Internacional em Budapeste no dia 12 de setembro de 2021.

Durante a peregrinação, os Bispos húngaros celebraram a Missa na Basílica do Latrão, a Catedral de Roma, e nas Basílicas de São Pedro e de São Paulo, “faltando” apenas a Missa na Basílica de Santa Maria Maior para completar o grupo das quatro Basílicas Maiores.

23 de abril: Terça-feira da IV semana da Páscoa

Missa presidida por Dom András Veres, Bispo de Győr e Presidente da Conferência dos Bispos Católicos Húngaros

Procissão de entrada
Evangelho
Homilia

Oração Eucarística: Epiclese