Há três anos, em 2021, destacamos aqui em nosso blog cinco Dissertações de Mestrado do Programa de Estudos Pós-Graduados em Teologia da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
As cinco Dissertações, defendidas entre 2017 e 2019, orientadas
pelo Padre Valeriano dos Santos Costa, Doutor em Teologia pelo
Pontifício Instituto Santo Anselmo (Roma), propunham um diálogo entre a
Liturgia e o pensamento do sociólogo polonês Zygmunt Bauman (†2017).
Nesta postagem gostaríamos de dar continuidade à proposta
destacando cinco trabalhos acadêmicos (duas Dissertações de Mestrado e três
Teses de Doutorado) defendidos na PUC-SP em 2023, propondo um diálogo
entre a Liturgia e o pensamento do filósofo espanhol Xavier Zubiri (†1983)
nos 40 anos da sua morte.
Xavier Zubiri (†1983) |
Já em 2021, com efeito, o Padre Valeriano havia orientado uma Dissertação relacionando a música litúrgica com o pensamento zubiriano, particularmente
com seu conceito de “inteligência senciente”, que busca um equilíbrio
entre razão e sentidos, evitando assim que a Liturgia caia nos extremos do racionalismo
e do sentimentalismo.
Seguem os resumos das Dissertações e Teses, que podem ser
acessadas na íntegra no site da PUC-SP, conforme os links abaixo:
A
dimensão mística da Liturgia no horizonte da metafísica zubiriana
Jucilei
Lima da Silva
Orientador:
Valeriano dos Santos Costa
Dissertação
de Mestrado (junho de 2023), 117 páginas
O
objetivo deste trabalho é descrever uma dimensão da Liturgia, que dissemos mística
e como o humano em sua constitutividade experiencia tal dimensão. E, como
implicações, procura descrever numa linguagem mística teológica os
desdobramentos na vida diária do cristão que podem e devem ocorrer ao
experienciar tão grande realidade, tudo isso à luz da metafísica do filósofo
espanhol Xavier Zubiri. Para tal tarefa será utilizado o método de natureza
exploratória, que possibilita uma aproximação tanto do entendimento de Liturgia
como do pensamento de Zubiri. Isso leva a constatar que, graças ao caráter
humano de inteligência senciente, ela pode atualizar formalmente a coisa real
como realidade na intelecção. A coisa fica atual, é um estar, e porque está o
humano dá-se conta dela. A coisa está formalmente como realidade na
inteligência senciente, que sente tal realidade.
Capítulos:
1.
Horizonte da metafísica zubiriana
2.
Dimensão mística da Liturgia
3.
Dimensão mística da Liturgia e inteligência senciente: Implicações para vivência
prática
A
estrutura dinâmica da Liturgia à luz do realismo zubiriano e do n. 9 da Redemptionis
Sacramentum
João
José Bezerra
Orientador:
Valeriano dos Santos Costa
Tese
de Doutorado (junho de 2023), 199 páginas
A
presente tese tem como objeto a estrutura dinâmica da Liturgia à luz do
pensamento do filósofo basco Xavier Zubiri (1898-1983) e da Instrução Redemptionis
Sacramentum, escrita a pedido do Papa João Paulo II no ano de 2004. Após um
ano da publicação da Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia (17 de abril
de 2003), o Papa João Paulo II solicitou ao Dicastério para o Culto Divino e a
Disciplina dos Sacramentos uma Instrução de cunho normativo para dirimir os
abusos recorrentes durante a celebração da Santíssima Eucaristia, o que não era
a primeira preocupação da Carta Encíclica a não ser seu conteúdo
teológico-pastoral, apesar de tratar de alguns pontos acerca do perigo que os
abusos perpetrados podem oferecer não somente à celebração dos outros
sacramentos e sacramentais mas, principalmente, no que toca a celebração do
santo sacrifício do altar. Tanto a Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia
como a Instrução Redemptionis Sacramentum recuperam e direcionam todos
os que tomam parte desse mistério pela fé, sejam os fiéis ou aqueles que
presidem, a redescobrir, compreender melhor e celebrar o seu verdadeiro
fundamento, que é o Mistério Pascal de Cristo. Tanto a Carta Encíclica como a Instrução
apontam para o “ofuscamento” e para a perda da noção dessa profunda realidade e
seu dinamismo próprio. Os abusos perpetrados dentro da Sagrada Liturgia, seja
no momento da celebração dos sacramentais da Igreja, dos sacramentos,
principalmente, no que se refere ao sacrifício do altar, na tentativa de
dinamizar e tornar mais atraente para os fiéis as celebrações da Igreja,
demonstram claramente que é de máxima urgência recuperar a verdadeira noção da
realidade da Liturgia da Igreja e somente assim será possível entender e
celebrar com admiração e respeito que o mistério da nossa fé exige. É nesse
sentido que o pensamento filosófico de Xavier Zubiri se torna relevante para
nossa pesquisa. Para ele a noção de realidade não é fruto de afirmações
conceituais ou de ideias que podemos ter de alguma coisa real. Os conceitos e
as ideias são momentos posteriores. O primeiro momento é a “nua realidade”,
apreendida como ela é em e si mesma em todas as suas notas e estruturas que
pouco a pouco, através do sentir senciente, passo a individuar
intelectivamente. Aqui o sentir não é uma mera “captação” de dados que algo
real possa vir a oferecer, mas se constitui o momento primordial do movimento
intelectivo até a plena constituição da realidade sentida. No entanto, a
realidade não é o que posso conceituar como se pensava na filosofia clássica,
mas algo que se sente e ao mesmo tempo intelige. Somente a partir desse momento
unitário de sentir inteligindo que se pode obter o conceito ou a ideia de algo
o que pode se alterar na medida que sinto e intelijo outras notas. Por assim,
dizer a realidade não é algo pronto e acabado, mas realidade em construção (realitas
in essendo). Essa nova via de entendimento da realidade para a reflexão
teológica na busca de uma interface se torna uma via noológica necessária e um
“feixo” de luz para o entendimento da realidade da Sagrada Liturgia. O
pensamento zubiriano nos leva a compreender a realidade da Liturgia, não como
algo pronto e acabado, ou como algo rígido e fixo que basta a mera observação
de rubricas e normas, mas trata-se de uma realidade dinâmica que se “faz e
perfaz” em e por si mesma sem precisar de qualquer adendo desnecessário. Em um
segundo momento nos leva a compreender que a realidade da Liturgia não é
conceito ou alguma ideia sobre a graça de Deus ou sobre a presença de Deus, mas
ali está a realidade “nua e crua” e que pode ser sentida e inteligida progressivamente
através da apreensão primordial de realidade. Em um terceiro momento que ao
apresentar o sentir senciente enquanto processo do sentir humano demonstrando
seu momento primordial e seus modos ulteriores nos mostra que o ser humano está
profundamente implicado em sua totalidade constitutiva no conhecimento de toda
e qualquer realidade. Não um passivo, mas consciente, ativo e piedoso frente a
qualquer realidade que se impõe sobre ele, principalmente, a realidade da
Sagrada Liturgia em todo seu dinamismo estrutural, ritus et preces.
Capítulos:
1.
O realismo zubiriano
2.
A estrutura da Liturgia
3.
Repropor a prática e o estudo da Liturgia hoje
A
realidade sacramental da Liturgia à luz do realismo zubiriano: Análise
da atualidade de Cristo, de sua Morte e Ressurreição, na celebração dos
sacramentos e na vida
Marcos
Vieira das Neves
Orientador:
Valeriano dos Santos Costa
Tese
de Doutorado (2023), 257 páginas
Esta
pesquisa sobre a realidade sacramental da Liturgia à luz do realismo zubiriano
- análise da atualidade de Cristo, de sua Morte e Ressurreição na celebração
dos Sacramentos e na vida - tem por objetivo abordar a Liturgia enquanto
realidade, na qual as ações de Cristo são atualizadas, tanto na celebração dos
Sacramentos quanto na vida dos cristãos. Tal pesquisa se justifica, porque além
de partir da compreensão teológica da Liturgia do Concílio Vaticano II, a
apresenta como atualização das ações de Cristo, não mero sinal que remeteria a
outra realidade; as ações litúrgicas são verdadeiramente reais e incorporam o
homem em Cristo, fazendo dele um cristão, um “outro cristo” no mundo. Tendo
como alicerce teórico-metodológico a análise das obras de Zubiri, especialmente
a Trilogia da Inteligência Senciente e a Trilogia teologal, e de
inúmeros comentadores, trabalhamos a hipótese a partir do seu pensamento de que
a realidade sacramental da Liturgia é precisamente sacramental, porque não
indica arbitrariamente algo, mas é ação do próprio Cristo, especialmente de sua
ação suprema, sua Páscoa. Enquanto resultados, verificamos que o realismo
zubiriano proporciona um embasamento teórico inestimável para a reflexão teológica
e oferece um avanço para a Teologia litúrgica. O arcabouço dado por sua
Filosofia nos permite pensar o homem e a realidade sacramental da Liturgia
desde a unidade estrutural entre o sentir e o inteligir, entre o in se
do homem e seu ser no mundo, que é diretamente relacionado com as coisas reais
do mundo. Assim, agir, inteligir, julgar, conceber, pensar a realidade
sacramental da Liturgia revelam a realidade do próprio Cristo atualizada ao
homem e ao mundo. Desse modo, o pensamento zubiriano enriquece a noção de
sacramentalidade proporcionado pelo Concílio e ilumina uma nova forma de ver
que na Liturgia: Deus se atualiza na ação litúrgica e, por isso, a salvação na
Liturgia é real. Como locus privilegiado, no qual o homem experiencia
sua religação com o fundamento da realidade, ou seja, com Deus, na Liturgia a
plasmação do homem em Cristo é real. Por fim, verificamos a relevância e a
atualidade de nossa pesquisa sobre a realidade sacramental da Liturgia à luz do
pensamento zubiriano dentro do itinerário eclesiológico de Francisco - para tal
retomamos alguns elementos da “Igreja de Francisco” para estabelecer um diálogo
com o pensamento de Zubiri. Assim, sua Filosofia pode contribuir para o avanço
da Teologia litúrgica em uma “Igreja em saída”. Pela realidade sacramental da
Liturgia, compreendida desde o realismo zubiriano, o homem é religado a Deus, plasmado
em Cristo, feito “outro cristo”, enfim, dei-formado.
Capítulos:
1.
A realidade sacramental da Liturgia e o realismo de Xavier Zubiri
2.
A realidade sacramental da Liturgia
3.
Perspectivas da nova visão de Liturgia para a Igreja em saída
O
silêncio como realidade litúrgico-sacramental: Análise no horizonte da
metafísica zubiriana
Rodrigo
José Arnoso Santos
Orientador:
Valeriano dos Santos Costa
Tese
de Doutorado (outubro de 2023), 310 páginas
Em
tempos hodiernos o tema do silêncio vem ocupando as pautas das pesquisas
desenvolvidas pelas mais diversas Ciências que procuram estudar o ser humano.
Diante de tantos ruídos que nos exercitam para a não escuta, encontramos na
sociedade contemporânea homens e mulheres que, agindo como profetas, indicam a
necessidade pela busca da ação de silenciar-se como caminho para a recuperação
de uma existência equilibrada. Entre as Ciências que se debruçam sobre esta
temática, nos deparamos com a Ciência Litúrgica, que aponta o silêncio como um
gesto crível, que auxilia na celebração e atualização do Mistério Pascal. A
vida de Cristo e de seus discípulos foi marcada por muitos momentos e gestos de
silêncio. Em diversos eventos observamos que Ele e seus seguidores se colocaram
em silêncio, a fim de ouvir a voz do Pai. Jesus ensinou aos seus o silêncio,
como via de acesso ao Mistério da Fé. Todavia, sabemos que os rumores
experimentados pela sociedade de certa forma entraram em nossas ações
litúrgicas, em nome de uma pseudoparticipação ativa, consciente, plena e
frutuosa dos cristãos nas celebrações. Desse modo, consciente do valor do silêncio
para a acolhida do Mistério Pascal, que deve guiar e envolver toda a existência
cristã, hoje as comunidades eclesiais são convidadas a entender o gesto de
silenciar-se, como espaço salutar da manifestação de Deus, em vista da busca de
uma Liturgia que se configure como fonte perene de espiritualidade. Neste
sentido, buscamos neste trabalho apresentar o silêncio como uma realidade
litúrgico-sacramental. A fim de atingir o escopo desta pesquisa, procuramos
tratar este tema à luz do pensamento metafísico de Xavier Zubiri, que nos
aponta a realidade como a fonte imediata de todo conhecimento. Somos cônscios de
que o fazer teológico hoje exige o diálogo interdisciplinar, isto é, a
capacidade, no caso de nossa pesquisa, de colar a Ciência Litúrgica em diálogo
com a Filosofia. O diálogo entre essas duas ciências nos apontará que o
silêncio, como realidade litúrgico-sacramental, só será inteligido quando a
comunidade eclesial redescobrir a força dessa ação litúrgica, que nos coloca
diante de Deus, aquele que é a Realidade fundante de toda a criação. O silêncio
na Liturgia não significa uma fuga do mundo, mas é um deixar-se envolver e
moldar pela realidade do Mistério Pascal, que não é outra do que o próprio
Cristo. O qual é continuado pelas ações dos membros da comunidade eclesial.
Capítulos:
1.
A realidade no pensamento de Xavier Zubiri
2.
A realidade sacramental
3.
O silêncio como realidade litúrgico-sacramental
Liturgia
das Horas, atualização de Cristo no ritmo do tempo: Um estudo a partir do
realismo zubiriano
Márcio
Felipe de Souza Alves
Orientador:
Valeriano dos Santos Costa
Dissertação
de Mestrado (outubro de 2023), 104 páginas
A
presente Dissertação tem como objetivo principal ressaltar que o Mistério
Pascal só pode durar se for atualizado sistematicamente, segundo tempos
determinados, como propôs a sabedoria judaica, e o Cristianismo adotou como uma
das mais importantes heranças de Israel. Nesta pesquisa, toda investigação e
sistematização de dados foram produzidos por meio de análises e aprofundamentos
bibliográficos, que nos levaram a entender como o filósofo contemporâneo Xavier
Zubiri, com sua filosofia evolucionária, compreendeu que atualizar é fazer
presente uma realidade em nossa intelecção. Pudemos concluir também que, se os
cristãos não se convencerem de que a fé também passa pelo “sentir”, será
impossível viver de tal modo que seus corações e mentes sejam atualizados no
mistério de Cristo, a partir da santificação das horas. A oração é o caminho de
resistência e resposta coerente. Além disso, não se pode esquecer que a
comunhão com Deus contribui para que o ser humano não se deixe levar pelo
relativismo, agravado por um realismo ingênuo ou inconsistente, levando-o a
acreditar que se é livre e protagonista de seu destino, enquanto se é
teleguiado pelo consumo e pela propaganda. Registra-se também que a
participação do ser humano nas ações litúrgicas contribui para que a comunidade
possa mergulhar cada vez mais no mistério de Cristo. É um resgate da dimensão Liturgia-vida
como propõe o Concílio Ecumênico Vaticano II.
Capítulos:
1.
Realismo zubiriano e a atualização do mistério de Cristo no tempo
2.
Liturgia das Horas: Oração de Cristo e da Igreja
3.
Pistas para atualizar Cristo no tempo da Igreja
Confira
também:
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