A Revista Eclesiástica Brasileira (REB),
publicação quadrimestral do Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ),
dedicou seu primeiro número deste ano de 2024 (v. 84, n. 327), referente
aos meses de janeiro a abril, ao tema da “Liturgia do Povo de Deus”.
Propomos a seguir os resumos dos sete artigos que integram
o “dossiê” da Revista, publicados por ocasião dos 60 anos da Constituição sobrea sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium. Após uma inscrição gratuita, os
artigos podem ser acessados na íntegra no site da Revista.
Vale dizer que a indicação desses textos não implica que
concordamos necessariamente com o seu conteúdo. Esta postagem serve mais como
convite à reflexão.
Liturgia num mundo em mudança: Reflexões pastorais
Padre Paolo Cugini, Doutor em Teologia pela Faculdade Teológica
da Emilia Romagna, Bolonha (Itália)
O objetivo deste artigo é apresentar a forma como a Igreja
deveria celebrar os Sacramentos e, de modo especial, a Eucaristia, à luz das
indicações do Evangelho e do Concílio Vaticano II. A partir de uma adesão mais
atenta ao Evangelho, a Liturgia é percebida como uma reprodução dos traços da
humanidade de Jesus, que se torna ponto de passagem para o encontro com Deus.
Esta consciência permite-nos olhar para o passado e captar as deturpações que
acompanharam a história da Liturgia condicionando a espiritualidade dos fiéis.
Em particular é dada atenção ao Concílio de Trento como ponto de chegada de um
caminho histórico, que passa de uma visão comunitária da Eucaristia, de acordo
com os dados bíblicos, a uma visão mais devocional e íntima. Nesta perspectiva
histórica, é possível compreender o grande trabalho realizado pelo Concílio
Vaticano II para recuperar os dados bíblicos e patrísticos para lançar as bases
da reforma litúrgica. No último capítulo, são levados em consideração os
documentos elaborados por ocasião do Sínodo sobre a Amazônia, para propor um
caminho de renovação litúrgica atento ao tema da inculturação.
A Tradição segundo Walter Kasper
Padre Matheus da Silva Bernardes, Doutor em Teologia pela
Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE) - Belo Horizonte
O dossiê deste número da REB é dedicado à Liturgia e à sua
reforma. É proposta, porém, a reflexão sobre um tema alinhado com ele: a
Tradição. Inaugurada pelo Vaticano II, a reforma da Liturgia é um processo que
tem sido conduzido pelos Papas: merece destaque Paulo VI e seu compromisso com
o Concílio. Francisco, com Desiderio Desideravi, ressalta que o processo
não pode dar-se por encerrado; diante de reações contrárias, salientou que
somente os livros litúrgicos publicados por Paulo VI e João Paulo II expressam
a lex orandi do Rito Romano (Traditionis Custodes, n. 01). Aqui,
encaixa-se esta pesquisa: os contrários à reforma da Liturgia apresentam-se
como tradicionalistas, mas o que entendem por Tradição? Walter Kasper elaborou
um estudo sobre a Tradição na escola romana e mostrou que, já no século XIX, a
noção não está presa ao que passou, mas aponta ao futuro. O objetivo deste
trabalho é resgatar o estudo do autor e confirmar que o apelo dos
tradicionalistas não corresponde à compreensão da Tradição.
Teologia litúrgica de Ione Buyst
Padre Joaquim Fonseca, OFM, Doutor em Teologia pela PUC-SP
No ensejo da comemoração dos 60 anos da promulgação da Constituição sobre a sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium e da recém-publicada Carta Apostólica Desiderio Desideravi
sobre a formação litúrgica do povo de Deus do Papa Francisco, o texto apresenta
alguns apontamentos sobre a vida e a obra da conceituada teóloga liturgista
Ione Buyst. Desde sua chegada ao Brasil, em 1964, ela tem-se dedicado à
teologia e à pastoral litúrgica. O presente estudo consta de duas partes: a
primeira se ocupa de uma breve biografia de Ione Buyst; a segunda, de sua
teologia litúrgica. Aqui, em grandes linhas, serão destacadas a importância
dessa teóloga liturgista em sua incansável busca por uma ciência litúrgica para
o Brasil e América Latina. Nessa abordagem, serão tecidas algumas considerações
relacionadas ao âmbito metodológico desenvolvido por ela, ou seja, a
implementação de uma ciência litúrgica que se aprende a partir da
experiência/vivência ritual.
A Liturgia como ação simbólico-ritual: Desde uma nova
visão da sacramentalidade
Padre Marcos Vieira das Neves, Doutor em Teologia pela
PUC-SP
Padre Luis Felipe Carneiro Marques, OFMConv, Doutor em
Teologia Sacramental pelo Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo, Roma (Itália)
Dentro da perspectiva proporcionada pelo Concílio Vaticano
II, especialmente pelas Constituições Sacrosanctum Concilium e Lumen
Gentium, podemos falar de uma nova visão da sacramentalidade. Sacramentum
não é só uma expressão que comporta sete gestos rituais da Igreja, torna-se
noção central para expressar a realidade de Deus no mundo. Até mais, os sete
Sacramentos passam a ser compreendidos dentro de uma estrutura sacramental da
realidade que não só remete ao divino, mas sustenta sua presença real e eficaz
no mundo. Desde essa nova visão da sacramentalidade, recolhemos neste breve
texto três noções fundamentais para a compreensão da Liturgia: ação, símbolo e
rito, as quais enriquecem o logos sobre a Liturgia e permitem superar a
tendência rubricista, sem desconhecer, porém, a riqueza do rito. Como método,
realizamos uma ampla revisão bibliográfica de autores contemporâneos.
A luz e a hipóstase na tradição ortodoxa grega
Tatiana Oliveira Ribeiro, Doutora em Letras Clássicas pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Padre Henrique Fortuna Cairus (Patriarcado Ecumênico de
Constantinopla), Doutor em Letras Clássicas pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro
Este artigo tem como objetivo tornar pública uma parte da
pesquisa acerca do conceito de ‘luz’ na tradição teológica e, sobretudo,
litúrgica da Igreja Ortodoxa de tradição grega, a partir de sua representação
do conceito de ‘hipóstase’. Tendo como ponto de partida a interpretação da
expressão ‘luz de luz’ [φῶς ἐκ φωτός (phôs ek photós)] do texto do
Símbolo Niceno-Constantinopolitano, o artigo apresenta uma proposta de
interpretação do conceito de ‘representação’, para esse caso específico,
baseada na ideia de apomímesis, e aplica tal conceito a uma leitura do lugar da
‘luz’ nas Escrituras, na Patrologia e nas Liturgias orientais gregas.
“Como havemos de cantar nossos cantos ao Senhor?”: Uma
leitura do Salmo 136(137) com frutos para a Liturgia
José Reinaldo Felipe Martins Filho, Doutor em Ciências da
Religião pela PUC-Goiás
Daniel Carvalho da Silva, Doutorando em Ciências da Religião
pela PUC-Goiás
O presente estudo analisa o Salmo 136(137) a partir de uma
leitura litúrgica. Trilhando os passos da revisão bibliográfica, o artigo toma
o próprio Salmo como um rito litúrgico celebrado pelo povo judaico saudoso de
seu Templo no contexto do exílio babilônico. Na sequência, consideramos, em
progressão histórica, a oração do Salmo feita por Cristo e pelos cristãos, com
o objetivo de identificar nele possíveis norteadores para a ação litúrgica das
comunidades católicas. A investigação, considerando os destaques
antropológicos, teológicos e éticos identificados no texto, concluiu que cantar
ao Senhor é ação de um corpo comunitário, feito como prolongamento da oração de
Cristo por meio da Igreja, e que exige um comprometimento sócio-histórico capaz
de preservar a memória da fidelidade divina mesmo em situações de sofrimento, a
fim de que todos possam confiar-se à justiça de Deus, implorando e trabalhando para
que ela se instaure no mundo.
A dimensão mistagógica do presbítero na Iniciação à Vida Cristã
Padre Abimar Oliveira de Moraes, Doutor em Teologia Pastoral
e Catequética pela Pontifícia Universidade Salesiana, Roma (Itália)
Padre Wagner Francisco de Sousa Carvalho, Doutorando em
Teologia pela PUC-Rio
Objetiva-se nesse artigo refletir sobre como a dimensão
mistagógica do presbítero na Iniciação à Vida Cristã é importante no cenário
pastoral atual, sobretudo, nas relações entre catequese e Liturgia; o mesmo
situa-se dentro de uma concepção ministerial, onde o ministério do presbítero
deve ser vivido como ministério de síntese e não síntese dos ministérios.
Portanto, sua ação não é limitante e clericalizante, mas condicionante, que
favorece a partir do seu agir as diversas iniciativas. Neste sentido, a
reflexão reconhece e indica três formas importantes de sua atuação: a primeira
é na “pastoral” querigmática como forma de ajudar a suscitar o encontro com
Jesus Ressuscitado. Nessa “pastoral”, o presbítero deve não somente falar sobre
Cristo, mas de certo modo fazê-lo ser visto; a segunda é na “pastoral”
mistagógica, cuja função do presbítero é tornar familiar a passagem dos sinais
visíveis aos mistérios invisíveis, evitando apresentar o mystérion sem
fazer referência aos sinais; terceira e última é reconhecer a assembleia litúrgica
como sujeito e destinatário da catequese. Nessa, o presbítero deve reconhecer
sua atuação mistagógica com aqueles que frequentam regularmente a comunidade,
os já batizados, que, porém, não vivem as exigências do Batismo e, finalmente,
com aqueles que não conhecem Jesus Cristo.
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