quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A casula

A casula (do latim casulla, pequena casa), também chamada de planeta (derivação de paenula, manto de viagem romano) é uma veste da cor litúrgica do ofício celebrado, paramento próprio dos sacerdotes (presbíteros e bispos) para a Celebração Eucarística.
Casula gótica
Esta veste em sua origem era comum a todos os ministros, tornando-se exclusiva aos sacerdotes somente no século IX. Desenvolveram-se a partir de então dois modelos: a casula gótica (século IX), que é mais ampla e feita de tecidos mais leves; e a casula romana (século XVI), mais estreita e de tecidos mais pesados. Ainda que a reforma conciliar tenha difundido o uso da casula gótica, os dois modelos podem e devem ser igualmente utilizados.

Casula romana
Independente do modelo, a casula caracteriza-se por possuir uma faixa larga ou galão central. Nas casulas romanas, geralmente a faixa posterior toma a forma de uma cruz. Em algumas das casulas góticas adota-se uma cruz estilizada, denominada “trífida”.

Esta preocupação em ligar o símbolo da cruz à casula leva-nos ao seu duplo significado: o jugo suave da cruz que o sacerdote coloca sobre os ombros durante a Santa Missa e o amor de Deus, manifestado no sacrifício de Cristo, que envolve toda a humanidade, representada pelo sacerdote.

Casula gótica ornada com a cruz trífida
O uso da casula atualmente pelos sacerdotes obedece a seguinte regra:

“A não ser que se disponha de outro modo, a veste própria do sacerdote celebrante, tanto na Missa como em outras ações sagradas em conexão direta com ela, é a casula ou planeta sobre a alva e a estola” (IGMR n. 337).

Papa Francisco com casula gótica em Santa Missa com Ordenações (2013)
A partir desta normativa, entende-se o uso da casula como obrigatório em todas as Missas. Note-se que a IGMR permitia omitir a dalmática em celebrações menos solenes, mas com a casula o mesmo não acontece. Além da Missa, utiliza-se obrigatoriamente a casula em celebrações a ela ligadas, ou seja, na Celebração da Paixão do Senhor na Sexta-feira Santa e nos Sacramentos e Sacramentais celebrados dentro da Missa.

A única exceção prescrita é quando se dispõe de outro modo, isto é, quando o próprio Missal prescreve expressamente a substituição da casula pelo pluvial, como veremos na postagem dedicada a este paramento. Note-se também que o uso da casula não dispensa do uso da estola, como infelizmente pensam muitos sacerdotes.

Dom Keller com casula romana na Celebração da Paixão (nota-se a estola soba casula)

Há ainda uma exceção prescrita pelo Missal para o caso das concelebrações:

“Se houver motivo justo, como, por exemplo, grande número de concelebrantes e escassez de paramentos, podem os concelebrantes, exceto sempre o celebrante principal, dispensar a casula ou planeta, e usar apenas a estola sobre a alva” (IGMR, n. 209).

Por fim, cumpre dizer que a casula é entregue ao sacerdote, juntamente com a estola, na Missa de sua Ordenação Presbiteral, logo após a oração consecratória.

Neo-sacerdotes recebem a casula em sua Ordenação (2012)

30 comentários:

  1. André

    Parabéns pelas últimas postagens sobre os paramentos.
    Uma questão: o termo planeta (pianeta em italiano) não se refere exclusivamente à casula romana? Muitos autores colocam como casula (para a gótica) e planeta (para a romana) e me parece que a IGMR acompanha esta linha ao falar de casula ou planeta para o sacerdote.

    Sidnei

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    1. Sidnei,

      De fato convencionou-se chamar a casula romana de planeta. Porém,ambos os termos podem ser empregados para ambos os modelos de casula. O Missal utiliza dois termos não para evidenciar uma distinção, mas para afirmar a existência de dois termos para o mesmo paramento.

      Grato pela participação. Continue nos acompanhando.

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  2. Dom Keller está enganado ao usar esse tipo de mitra simplex com detalhes dourados. É de direito apenas do Papa

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    1. Sim, embora não esteja especificado no Cerimonial dos Bispos, o uso dos detalhes dourados na mitra simples costuma-se reservar ao Papa. Dom Keller ganhou esta mitra e a usou nesta celebração, removendo posteriormente as faixas douradas.

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  3. Ola, gostaria de saber sobre aquela estólida que chamam de galão ou escapulário sobre a túnica ai pergunto: fica dispensado o uso da estola?

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    1. Em nossa postagem sobre a estola, recordamos que estes formatos não são adequados. Para o Rito Romano, sempre deve-se usar a estola diante do peito e sobre ela a casula.

      http://pilulasliturgicas.blogspot.com.br/2013/08/a-estola.html

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  4. muito bacana as informações, sou apaixonado por paramentos. Texto bastante simples e didático. Parabéns a todos.

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  5. Boa tarde!
    Gostaria de saber se frei pode usar casula?

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    1. Os livros litúrgicos nunca fazem distinção entre sacerdotes do clero diocesano e de congregações religiosas. Sendo sacerdote, o uso da casula na Missa não é apenas permitido, é obrigatório.

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  6. Uma pessoa que estudou teologia mas não seguiu os procedimentos religiosos para se tornar padre pode usar casula ou batina ?

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    1. O uso da casula é restrito aos sacerdotes devidamente ordenados e que estejam em comunhão com o Bispo.
      O uso da batina é próprio dos sacerdotes e diáconos e permitido em alguns casos, com autorização do Bispo, aos seminaristas.
      Fora destes casos o uso destas vestes é proibido. Mais grave no caso da casula, pois é própria das celebrações litúrgicas: se uma pessoa não ordenada simular a presidência de um sacramento ela incorre na pena de excomunhão.

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  7. sobre o tipo de tecido a ser usado, o IGMR refere?

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    1. Sim, os nn. 343 e 344 (3ª edição) são dedicados a este assunto:

      "343. Na confecção das vestes sagradas, podem-se usar, além dos tecidos tradicionais, os materiais próprios de cada região e mesmo algumas fibras artificiais que se coadunem com a dignidade da ação sagrada e da pessoa, a juízo da Conferência dos Bispos".

      "344. Convém que a beleza e nobreza de cada vestimenta decorram não tanto da multiplicidade de ornatos, mas do material usado e da forma. Os ornatos apresentem figuras ou imagens ou então símbolos que indiquem o uso sagrado, excluindo-se os que não se prestam bem a esse uso".

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  8. Aqui na minha diocese de Roraima muitos padres e até o bispo costumam celebrar a missa sem casula, apenas colocam a estola, isso é muito grave?

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    1. Não se trata de uma falta "muito grave", embora o correto seja usar sempre a casula.
      Porém, é importante refletir se esta omissão é consciente (desprezando assim o simbolismo dos paramentos) ou apenas por falta de formação.
      Fiz missão no Pará por cerca de um ano e sei que o calor da região norte é um fator a se considerar. Porém, sempre é possível confeccionar casulas em tecidos mais leves.

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  9. André, numa Missa com sacerdote que preside e um concelebrante, o concelebrante sabe que é necessário o uso da casula e não há motivo justo para não utilizá-la, porém o sacerdote presidente não irá celebrar de casula, o que fazer? Concelebrar sem casula também? O senhor acha que seria um tipo de afronte ao celebrante principal, o concelebrante utilizar a casula?

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    1. Se o sacerdote que preside a celebração infelizmente se recusa a utilizar a casula, aquele que concelebra também não deve utilizá-la, pois a casula é a veste própria do sacerdote que preside a celebração.
      Se um concelebrante a usa e o presidente não, gera-se uma confusão sobre o ministério da presidência.

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  10. Olá,sou Rinaldo,por favor,qual o simbolismo da dalmática mitra do bispo?

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    1. Há postagens aqui no blog tanto sobre a dalmática quanto sobre a mitra:

      https://pilulasliturgicas.blogspot.com/2013/08/a-dalmatica.html

      http://pilulasliturgicas.blogspot.com/2014/09/a-mitra.html

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  11. O sacerdote pode usar a dalmática por baixo da casula Roman

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    1. Não. O Cerimonial dos Bispos (n. 56) é claro em afirmar que o uso da dalmática sob a casula é próprio do Bispo.

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  12. Fiquei confusa, o padre da minha paróquia disse que casula significa carregar a ovelha nos ombros como um bom pastor. Tirem minhas dúvida, por favor! Obrigada

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    1. Ao longo da história foram dadas diversas interpretações às vestes litúrgicas. O simbolismo da "ovelha sobre os ombros" está mais associado ao pálio, utilizado pelos Arcebispos Metropolitanos, mas também poderia ser aplicado à casula.
      Os dois simbolismos mais comuns da casula são o amor de Deus que nos envolve e o "jugo suave" da cruz (Mt 11,28-30).

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  13. Olá Sr. André! Gostaria que 9 senhor respondesse algumas perguntas sobre uma nota de rodapé que existe não 8 edição da IGRM, não sei se existe nas edições anteriores. A nota é seguinte: "A CNBB aprovou a substituição do conjunto alva e casula por túnica ampla, de cor neutra, com estola da cor do tempo ou festa".

    1- Isso significa que agora o celebrante pode ultilizar somente alva e estola?

    2- O que é túnica ampla?

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    1. No lugar de "9" leia: o
      No lugar de "não" leia: na

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    2. Sim, essa nota ao n. 342 da 3ª edição já estava presente na 2ª edição (correspondendo então ao n. 304). No Missal anterior inclusive se especificava que essa decisão foi aprovada pela XII Assembleia Geral da CNBB em 1971.
      Em geral túnica e alva são sinônimos. Essa nota, porém, parece se referir a um formato de túnica mais amplo, sem mangas, como se fosse um grande "poncho", chamada comumente de "túnica morcego".
      Essa note é bastante questionável, pois o próprio n. 342 da IGMR indica que as Conferências Episcopais devem "propor à Sé Apostólica as adaptações que correspondam às necessidades e costumes da região".
      Não está claro que a Santa Sé (através do Dicastério para o Culto Divino) tenha aprovado essa decisão. Portanto, a validade dessa orientação, a meu ver, é questionável.

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    3. Sr. André, por que falas " Não está claro que a Santa Sé... tenha aprovado essa decisão"? Por caso a Santa Sé deu algum sinal ou indício de aprovação?

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    4. A nota de rodapé diz "a CNBB aprovou". Não diz que a Santa Sé tenha aprovado. Portanto, reitero que, na minha visão, a validade dessa orientação é questionável.

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  14. Gostaria que o senhor considerasse uma coisa sobre minha primeira pergunta: aqui no meu contexto sempre se diz que túnica e alva significam a mesma coisa, ou seja, são palavras sinônimas, por isso, eu coloquei o termo "alva". Mas se não for, por favor faça a distinção.

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