domingo, 5 de janeiro de 2025

Homilia do Papa João Paulo II: Epifania do Senhor (2000)

Nesta Solenidade da Epifania do Senhor recordamos as duas meditações proferidas pelo Papa São João Paulo II (†2005) há 25 anos, no dia 06 de janeiro do ano 2000: a Homilia na Missa com Ordenações Episcopais e a meditação durante a oração do Ângelus.

Solenidade da Epifania do Senhor
Santa Missa com Ordenações Episcopais
Homilia do Papa João Paulo II
Basílica Vaticana
06 de janeiro de 2000

1. “Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor” (Is 60,1).
O profeta Isaías dirige o olhar para o futuro. Ele não contempla o futuro profano. Iluminado pelo Espírito, volta o seu olhar para a plenitude dos tempos, para a realização do desígnio de Deus no tempo messiânico.
O oráculo que o profeta pronuncia refere-se à Cidade santa, que ele vê resplandecente de luz: “Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti” (v. 2). Foi precisamente isto que aconteceu com a Encarnação do Verbo de Deus. Com Ele, “a luz da verdade, vindo ao mundo, ilumina todo ser humano” (Jo 1,9). Afinal, o destino de cada um é decidido tendo como base a aceitação ou a rejeição desta luz: com efeito, nela reside a vida dos homens (cf. Jo 1,4).


2. A luz que apareceu no Natal alarga hoje a amplitude do seu raio: é a luz da Epifania de Deus. Já não são apenas os pastores de Belém que a veem e a seguem, mas também os Magos que, tendo partido do Oriente, chegaram a Jerusalém para adorar o Rei que tinha nascido (cf. Mt 2,1-2). Com os Magos estão as nações, que iniciam o seu caminho em direção à Luz divina.
Hoje, ao escutar a sua descrição contida no Evangelho de Mateus, a Igreja celebra esta Epifania salvífica. A célebre narração dos Magos, vindos do Oriente em busca d’Aquele que devia nascer, inspirou desde sempre também a piedade popular, tornando-se um elemento tradicional do presépio.
A Epifania é um evento e, ao mesmo tempo, um símbolo. O evento é descrito de maneira pormenorizada pelo evangelista. O significado simbólico, ao contrário, foi descoberto de modo gradual, à medida que o acontecimento se tornava objeto de meditação e de celebração litúrgica por parte da Igreja.

3. Após dois mil anos, onde quer que se celebre a Epifania, a comunidade eclesial haure desta preciosa tradição litúrgica e espiritual elementos de reflexão sempre novos.
Aqui em Roma, segundo um costume ao qual quis permanecer fiel desde o início do meu Pontificado, celebramos este mistério consagrando alguns Bispos. Esta tradição possui a sua intrínseca eloquência teológica e pastoral, e é com alegria que hoje a introduzimos no terceiro milênio.
Caríssimos irmãos que daqui a pouco sereis consagrados, vós provindes de diversas nações e representais a universalidade da Igreja que adora o Verbo encarnado para a nossa salvação. Cumprem-se assim as palavras do Salmo responsorial: “As nações de toda a terra, hão de adorar-vos, ó Senhor”.

4. A nossa assembleia litúrgica exprime de modo singular esta índole católica da Igreja, graças também a vós, estimados Bispos eleitos. De fato, em torno de vós reúnem-se idealmente os fiéis das várias partes do mundo, para as quais sois enviados como sucessores dos Apóstolos.
(...) Recordai-vos constantemente da graça deste dia da Epifania! A luz de Cristo brilhe sempre nos vossos corações e no vosso ministério pastoral.

5. A Liturgia hodierna exorta-nos à alegria. Há motivo para isto: a luz, que brilhou com a estrela do Natal para guiar os Magos do Oriente até Belém continua a orientar pelo mesmo caminho os povos e as nações do mundo inteiro.
Damos graças pelos homens e mulheres que percorreram este caminho de fé ao longo dos últimos dois mil anos. Louvamos a Cristo, “Lumen gentium”, que os guiou e continua a orientar os povos que caminham na história!
A Ele, Senhor do tempo, Deus de Deus, Luz da Luz, dirijamos com confiança a nossa súplica. O seu astro, a estrela da Epifania, não cesse de brilhar nos nossos corações, indicando aos homens e povos do terceiro milênio o caminho da verdade, do amor e da paz. Amém!

Solenidade da Epifania do Senhor
Papa João Paulo II
Ângelus
Quinta-feira, 06 de janeiro de 2000

Caríssimos irmãos e irmãs,
1. O Evangelho de hoje fala dos Magos do Oriente que, guiados por uma estrela, foram a Belém para adorar Jesus. É a Epifania de Cristo, ou seja, a sua manifestação aos povos. O Messias nasce da estirpe de Davi, levando à plena realização as promessas dos profetas, mas a sua mensagem de salvação é universal: glória de Israel e luz para todos os povos (cf. Lc 2,32).
Portanto, a Solenidade hodierna põe em evidência a vocação universal da Igreja, chamada a refletir no seu rosto a luz do Senhor. Neste contexto litúrgico e espiritual, hoje de manhã conferi a Ordenação a doze Bispos de vários países do mundo. Ao renovar-lhes os meus mais ardentes votos, convido-vos a rezar para que, no seu ministério, eles sejam sempre autênticas testemunhas do Evangelho, sábios e generosos guias do Povo de Deus.

2. O meu pensamento dirige-se agora para o Oriente cristão, onde vivem e proclamam o Evangelho os meus irmãos na fé, os Patriarcas das Igrejas Ortodoxas: em Constantinopla, Antioquia, Jerusalém, Moscou, Romênia, Geórgia e em todas as terras onde estas Igrejas cantam os louvores do Verbo de Deus que se fez homem. Gostaria de citá-las uma por uma, exprimindo ardentes votos para que a luz de Cristo, cujo nascimento elas celebram neste período, lhes dê em abundância tudo aquilo que pode fortalecer a proclamação do único Evangelho da salvação.
Às Igrejas Ortodoxas e às Igrejas Católicas Orientais, que amanhã celebram o nascimento de Cristo, desejo um feliz Natal com as palavras de um tropárion que elas conhecem muito bem: “A vossa natividade, ó Cristo nosso Deus, fez surgir no mundo a luz da verdade... Guiados por uma estrela foram adorar-vos, Sol de justiça, e reconhecer-vos, Aurora celeste. Ó Senhor, glória a vós”.

3. Ao pensar em todas as Igrejas do Oriente cristão, apresento-lhes os meus votos de prosperidade e alegria. Faço-o ao participar espiritualmente no cântico das suas Liturgias e ao compartilhar os inúmeros dons que o Senhor derramou nas suas tradições, enriquecendo a Igreja de Cristo.
No início deste novo ano, enquanto vivemos intensamente o Grande Jubileu, confiamos a Maria, “Estrela da manhã”, a missão evangelizadora da Igreja e o caminho dos cristãos rumo à plena unidade querida pelo nosso Redentor.

Adoração dos magos
(Santuário de São João Paulo II, Cracóvia)

Fonte: Santa Sé (Homilia / Ângelus).

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