Nesta Solenidade da Epifania do Senhor recordamos as duas meditações proferidas pelo Papa São João Paulo II (†2005) há 25 anos, no dia 06 de janeiro do ano 2000: a Homilia na Missa com Ordenações Episcopais e a meditação durante a oração do Ângelus.
Solenidade da Epifania do Senhor
Santa Missa com Ordenações Episcopais
Homilia do Papa João Paulo II
Basílica Vaticana
06 de janeiro de 2000
1. “Levanta-te,
acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória
do Senhor” (Is 60,1).
O
profeta Isaías dirige o olhar para o futuro. Ele não contempla o futuro
profano. Iluminado pelo Espírito, volta o seu olhar para a plenitude
dos tempos, para a realização do desígnio de Deus no tempo messiânico.
O
oráculo que o profeta pronuncia refere-se à Cidade santa, que ele vê
resplandecente de luz: “Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens
escuras cobrem os povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se
manifesta sobre ti” (v. 2). Foi precisamente isto que aconteceu com a
Encarnação do Verbo de Deus. Com Ele, “a luz da verdade, vindo ao mundo, ilumina
todo ser humano” (Jo 1,9). Afinal, o destino de cada um é decidido
tendo como base a aceitação ou a rejeição desta luz: com efeito, nela reside a
vida dos homens (cf. Jo 1,4).
2.
A luz que apareceu no Natal alarga hoje a amplitude do seu raio: é a
luz da Epifania de Deus. Já não são apenas os pastores de Belém que a veem
e a seguem, mas também os Magos que, tendo partido do Oriente,
chegaram a Jerusalém para adorar o Rei que tinha nascido (cf. Mt 2,1-2).
Com os Magos estão as nações, que iniciam o seu caminho em direção
à Luz divina.
Hoje,
ao escutar a sua descrição contida no Evangelho de Mateus, a Igreja
celebra esta Epifania salvífica. A célebre narração dos Magos, vindos do
Oriente em busca d’Aquele que devia nascer, inspirou desde sempre também a
piedade popular, tornando-se um elemento tradicional do presépio.
A
Epifania é um evento e, ao mesmo tempo, um símbolo. O evento é descrito de
maneira pormenorizada pelo evangelista. O significado simbólico, ao contrário,
foi descoberto de modo gradual, à medida que o acontecimento se tornava objeto
de meditação e de celebração litúrgica por parte da Igreja.
3.
Após dois mil anos, onde quer que se celebre a Epifania, a comunidade eclesial
haure desta preciosa tradição litúrgica e espiritual elementos de reflexão
sempre novos.
Aqui
em Roma, segundo um costume ao qual quis permanecer fiel desde o início do meu
Pontificado, celebramos este mistério consagrando alguns Bispos. Esta tradição
possui a sua intrínseca eloquência teológica e pastoral, e é com alegria que
hoje a introduzimos no terceiro milênio.
Caríssimos
irmãos que daqui a pouco sereis consagrados, vós provindes de diversas nações e
representais a universalidade da Igreja que adora o Verbo encarnado para a
nossa salvação. Cumprem-se assim as palavras do Salmo responsorial: “As
nações de toda a terra, hão de adorar-vos, ó Senhor”.
4.
A nossa assembleia litúrgica exprime de modo singular esta índole católica da
Igreja, graças também a vós, estimados Bispos eleitos. De fato, em torno de vós
reúnem-se idealmente os fiéis das várias partes do mundo, para as quais sois
enviados como sucessores dos Apóstolos.
(...)
Recordai-vos constantemente da graça deste dia da Epifania! A luz de Cristo
brilhe sempre nos vossos corações e no vosso ministério pastoral.
5.
A Liturgia hodierna exorta-nos à alegria. Há motivo para isto: a luz, que
brilhou com a estrela do Natal para guiar os Magos do Oriente até Belém
continua a orientar pelo mesmo caminho os povos e as nações do mundo inteiro.
Damos
graças pelos homens e mulheres que percorreram este caminho de fé ao longo dos
últimos dois mil anos. Louvamos a Cristo, “Lumen gentium”, que os
guiou e continua a orientar os povos que caminham na história!
A
Ele, Senhor do tempo, Deus de Deus, Luz da Luz, dirijamos com confiança a nossa
súplica. O seu astro, a estrela da Epifania, não cesse de brilhar nos nossos
corações, indicando aos homens e povos do terceiro milênio o caminho da
verdade, do amor e da paz. Amém!
Solenidade da Epifania do Senhor
Papa João Paulo II
Ângelus
Quinta-feira, 06 de janeiro de 2000
Caríssimos irmãos e irmãs,
1.
O Evangelho de hoje fala dos Magos do Oriente que, guiados por uma estrela,
foram a Belém para adorar Jesus. É a Epifania de Cristo, ou seja, a sua
manifestação aos povos. O Messias nasce da estirpe de Davi, levando à plena
realização as promessas dos profetas, mas a sua mensagem de salvação é
universal: glória de Israel e luz para todos os povos (cf. Lc 2,32).
Portanto,
a Solenidade hodierna põe em evidência a vocação universal da Igreja, chamada a
refletir no seu rosto a luz do Senhor. Neste contexto litúrgico e espiritual,
hoje de manhã conferi a Ordenação a doze Bispos de vários países do mundo. Ao
renovar-lhes os meus mais ardentes votos, convido-vos a rezar para que, no seu
ministério, eles sejam sempre autênticas testemunhas do Evangelho, sábios e
generosos guias do Povo de Deus.
2.
O meu pensamento dirige-se agora para o Oriente cristão, onde vivem e proclamam
o Evangelho os meus irmãos na fé, os Patriarcas das Igrejas Ortodoxas: em
Constantinopla, Antioquia, Jerusalém, Moscou, Romênia, Geórgia e em todas as
terras onde estas Igrejas cantam os louvores do Verbo de Deus que se fez homem.
Gostaria de citá-las uma por uma, exprimindo ardentes votos para que a luz de
Cristo, cujo nascimento elas celebram neste período, lhes dê em abundância tudo
aquilo que pode fortalecer a proclamação do único Evangelho da salvação.
Às
Igrejas Ortodoxas e às Igrejas Católicas Orientais, que amanhã celebram o
nascimento de Cristo, desejo um feliz Natal com as palavras de um tropárion
que elas conhecem muito bem: “A vossa natividade, ó Cristo nosso Deus, fez
surgir no mundo a luz da verdade... Guiados por uma estrela foram adorar-vos,
Sol de justiça, e reconhecer-vos, Aurora celeste. Ó Senhor, glória a vós”.
3.
Ao pensar em todas as Igrejas do Oriente cristão, apresento-lhes os meus votos
de prosperidade e alegria. Faço-o ao participar espiritualmente no cântico das
suas Liturgias e ao compartilhar os inúmeros dons que o Senhor derramou nas
suas tradições, enriquecendo a Igreja de Cristo.
No
início deste novo ano, enquanto vivemos intensamente o Grande Jubileu,
confiamos a Maria, “Estrela da manhã”, a missão evangelizadora da Igreja
e o caminho dos cristãos rumo à plena unidade querida pelo nosso Redentor.
Adoração dos magos (Santuário de São João Paulo II, Cracóvia) |
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