Papa Francisco
Mensagem para o Dia Mundial das Missões de 2018
21 de outubro de 2018
«Juntamente com os jovens,
levemos o Evangelho a todos»
Queridos jovens, juntamente
convosco desejo refletir sobre a missão que Jesus nos confiou. Apesar de me
dirigir a vós, pretendo incluir todos os cristãos, que vivem na Igreja a
aventura da sua existência como filhos de Deus. O que me impele a falar a
todos, dialogando convosco, é a certeza de que a fé cristã permanece sempre
jovem, quando se abre à missão que Cristo nos confia. «A missão revigora a fé»
(Carta Enc. Redemptoris missio, 2): escrevia São João
Paulo II, um Papa que tanto amava os jovens e, a eles, muito se dedicou.
O Sínodo que celebraremos em Roma
no próximo mês de outubro, mês missionário, dá-nos oportunidade de entender
melhor, à luz da fé, aquilo que o Senhor Jesus vos quer dizer a vós, jovens, e,
através de vós, às comunidades cristãs.
A vida é uma missão
Todo o homem e
mulher é uma missão, e esta é a razão pela qual se encontra a viver
na terra. Ser atraídos e ser enviados são os dois
movimentos que o nosso coração, sobretudo quando é jovem em idade, sente como
forças interiores do amor que prometem futuro e impelem a nossa existência para
a frente. Ninguém, como os jovens, sente quanto irrompe a vida e atrai. Viver
com alegria a própria responsabilidade pelo mundo é um grande desafio. Conheço
bem as luzes e as sombras de ser jovem e, se penso na minha juventude e na
minha família, recordo a intensidade da esperança por um futuro melhor. O fato
de nos encontrarmos neste mundo sem ser por nossa decisão faz-nos intuir que há
uma iniciativa que nos antecede e faz existir. Cada um de nós é chamado a
refletir sobre esta realidade: «Eu sou uma missão nesta terra, e para
isso estou neste mundo» (Papa Francisco, Exort. Ap. Evangelii gaudium, 273).
Anunciamo-vos Jesus Cristo
A Igreja, ao anunciar aquilo que
gratuitamente recebeu (cf. Mt 10,8; At 3,6), pode partilhar
convosco, queridos jovens, o caminho e a verdade que conduzem ao sentido do
viver nesta terra. Jesus Cristo, morto e ressuscitado por nós, oferece-Se à
nossa liberdade e desafia-a a procurar, descobrir e anunciar este sentido
verdadeiro e pleno. Queridos jovens, não tenhais medo de Cristo e da sua
Igreja! Neles, está o tesouro que enche a vida de alegria. Digo-vos isto por
experiência: graças à fé, encontrei o fundamento dos meus sonhos e a força para
os realizar. Vi muitos sofrimentos, muita pobreza desfigurar o rosto de tantos
irmãos e irmãs. E todavia, para quem está com Jesus, o mal é um desafio a amar
cada vez mais. Muitos homens e mulheres, muitos jovens entregaram-se
generosamente, às vezes até ao martírio, por amor do Evangelho ao serviço dos
irmãos. A partir da cruz de Jesus, aprendemos a lógica divina da oferta de nós
mesmos (cf. 1Cor 1,17-25) como anúncio do Evangelho para a vida do
mundo (cf. Jo 3,16). Ser inflamados pelo amor de Cristo consome quem
arde e faz crescer, ilumina e aquece a quem se ama (cf. 2Cor 5,14).
Na escola dos santos, que nos abrem para os vastos horizontes de Deus,
convido-vos a perguntar a vós mesmos em cada circunstância: «Que faria Cristo
no meu lugar?»
Transmitir a fé até aos últimos confins da terra
Pelo Batismo, também vós, jovens,
sois membros vivos da Igreja e, juntos, temos a missão de levar o Evangelho a
todos. Estais a desabrochar para a vida. Crescer na graça da fé, que nos foi
transmitida pelos sacramentos da Igreja, integra-nos num fluxo de gerações de
testemunhas, onde a sabedoria daqueles que têm experiência se torna testemunho
e encorajamento para quem se abre ao futuro. E, por sua vez, a novidade dos
jovens torna-se apoio e esperança para aqueles que estão próximo da meta do seu
caminho. Na convivência das várias idades da vida, a missão da Igreja constrói
pontes intergeracionais, nas quais a fé em Deus e o amor ao próximo constituem
fatores de profunda união.
Por isso, esta transmissão da fé,
coração da missão da Igreja, verifica-se através do «contágio» do amor, onde a
alegria e o entusiasmo expressam o sentido reencontrado e a plenitude da vida.
A propagação da fé por atração requer corações abertos, dilatados pelo amor. Ao
amor, não se pode colocar limites: forte como a morte é o amor (cf. Ct 8,6).
E tal expansão gera o encontro, o testemunho, o anúncio; gera a partilha na
caridade com todos aqueles que, longe da fé, se mostram indiferentes e, às
vezes, impugnadores e contrários à mesma. Ambientes humanos, culturais e
religiosos ainda alheios ao Evangelho de Jesus e à presença sacramental da Igreja
constituem as periferias extremas, os «últimos confins da terra», aos quais,
desde a Páscoa de Jesus, são enviados os seus discípulos missionários, na
certeza de terem sempre com eles o seu Senhor (cf. Mt 28,20; At 1,8).
Nisto consiste o que designamos por missio
ad gentes. A periferia mais desolada da humanidade carente de Cristo é a
indiferença à fé ou mesmo o ódio contra a plenitude divina da vida. Toda a
pobreza material e espiritual, toda a discriminação de irmãos e irmãs é sempre
consequência da recusa de Deus e do seu amor.
Hoje para vós, queridos jovens, os
últimos confins da terra são muito relativos e sempre facilmente «navegáveis».
O mundo digital, as redes sociais, que nos envolvem e entrecruzam, diluem
fronteiras, cancelam margens e distâncias, reduzem as diferenças. Tudo parece
estar ao alcance da mão: tudo tão próximo e imediato... E todavia, sem o dom
que inclua as nossas vidas, poderemos ter miríades de contatos, mas nunca
estaremos imersos numa verdadeira comunhão de vida. A missão até aos últimos
confins da terra requer o dom de nós próprios na vocação que nos foi dada por
Aquele que nos colocou nesta terra (cf. Lc 9,23-25). Atrevo-me a
dizer que, para um jovem que quer seguir Cristo, o essencial é a busca e a
adesão à sua vocação.
Testemunhar o amor
Agradeço a todas as realidades
eclesiais que vos permitem encontrar, pessoalmente, Cristo vivo na sua Igreja:
as paróquias, as associações, os movimentos, as comunidades religiosas, as mais
variadas expressões de serviço missionário. Muitos jovens encontram, no
voluntariado missionário, uma forma para servir os «mais pequenos» (cf. Mt 25,40),
promovendo a dignidade humana e testemunhando a alegria de amar e ser cristão.
Estas experiências eclesiais fazem com que a formação de cada um não seja apenas
preparação para o seu bom-êxito profissional, mas desenvolva e cuide um dom do
Senhor para melhor servir aos outros. Estas louváveis formas de serviço
missionário temporâneo são um começo fecundo e, no discernimento vocacional,
podem ajudar-vos a decidir pelo dom total de vós mesmos como missionários.
De corações jovens, nasceram as
Pontifícias Obras Missionárias, para apoiar o anúncio do Evangelho a todos os
povos, contribuindo para o crescimento humano e cultural de muitas populações
sedentas de Verdade. As orações e as ajudas materiais, que generosamente são
dadas e distribuídas através das POMs, ajudam a Santa Sé a garantir que,
quantos recebem ajuda para as suas necessidades, possam, por sua vez, ser
capazes de dar testemunho no próprio ambiente. Ninguém é tão pobre que não
possa dar o que tem e, ainda antes, o que é. Apraz-me repetir a exortação que
dirigi aos jovens chilenos: «Nunca penses que não tens nada para dar, ou que
não precisas de ninguém. Muita gente precisa de ti. Pensa nisso! Cada um de vós
pense nisto no seu coração: muita gente precisa de mim» (Encontro com os jovens,
Santiago – Santuário de Maipú, 17/I/2018).
Queridos jovens, o próximo mês
missionário de outubro, em que terá lugar o Sínodo a vós dedicado, será mais
uma oportunidade para vos tornardes discípulos missionários cada vez mais
apaixonados por Jesus e pela sua missão até aos últimos confins da terra. A
Maria, Rainha dos Apóstolos, ao Santos Francisco Xavier e Teresa do Menino
Jesus, ao Beato Paulo Manna, peço que intercedam por todos nós e sempre nos
acompanhem.
Vaticano, 20 de maio - Solenidade de Pentecostes - de 2018.
FRANCISCO
Fonte: Santa Sé
Nenhum comentário:
Postar um comentário