sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Homilia do Papa na Missa com os idosos

SANTA MISSA COM OS IDOSOS
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Praça de São Pedro
Domingo, 28 de Setembro de 2014

O Evangelho que ouvimos, hoje acolhemo-lo como Evangelho do encontro entre os jovens e os idosos: um encontro cheio de alegria, de fé e de sabedoria.
Maria é jovem, muito jovem. Isabel é idosa, mas foi nela que se manifestou a misericórdia de Deus e, há seis meses, juntamente com o marido Zacarias, está à espera de um filho.
Também nesta circunstância, Maria nos indica o caminho: ir ao encontro da idosa parente, permanecer com ela, certamente para a ajudar, mas inclusive e principalmente para aprender dela, que é idosa, uma sabedoria de vida.
Com uma variedade de expressões, na primeira Leitura volta a ressoar o quarto mandamento: «Honra o teu pai e a tua mãe, para que os teus dias se prolonguem sobre a terra que te dá o Senhor, teu Deus» (Êx 20, 12). Não há futuro para o povo sem este encontro entre as gerações, sem que os filhos recebam com reconhecimento o testemunho da vida das mãos dos próprios pais. E no contexto deste reconhecimento por aqueles que te transmitiram a vida encontra-se também o reconhecimento pelo Pai que está nos Céus.
Por vezes há gerações de jovens que, devido a complexas razões históricas e culturais, vivem de maneira mais vigorosa a necessidade de se tornarem independentes dos pais, quase de se «libertarem» da herança da geração precedente. É como um momento de adolescência rebelde. Contudo, se tal encontro não for recuperado, se não se encontrar um equilíbrio renovado e fecundo entre as gerações, derivará um grave empobrecimento para o povo, e a liberdade que predomina na sociedade será uma liberdade falsa, que praticamente sempre se transforma em autoritarismo.
É a mesma mensagem que nos transmite a exortação do apóstolo Paulo, dirigida a Timóteo e, através dele, à comunidade cristã. Jesus não aboliu a lei da família e da passagem entre as gerações, mas levou-a a cumprimento. O Senhor formou uma nova família, na qual sobre os laços de sangue prevalece a relação com Ele, o cumprimento da vontade de Deus Pai. Contudo, o amor a Jesus e ao Pai leva à realização do amor pelos pais, pelos irmãos, pelos avós, renovando assim os relacionamentos familiares com a linfa do Evangelho e do Espírito Santo. E assim são Paulo recomenda a Timóteo, que é pastor e portanto pai da comunidade, que tenha respeito pelos idosos e pelos familiares, enquanto o exorta a fazê-lo com atitude filial: o ancião «come se fosse o teu pai» e «as mulheres idosas como mães» (cf. 1 Tm 5, 1). O chefe da comunidade não está dispensado desta vontade de Deus mas, ao contrário, a caridade de Cristo impele-o a agir com um amor maior. Como a Virgem Maria que, embora se tenha tornado a Mãe do Messias, se sente estimulada pelo amor de Deus, que nela se encarna, a ir depressa visitar a sua idosa parente.
Então, voltemos a este «ícone» repleto de alegria e de esperança, cheio de fé e de caridade. Podemos pensar que, permanecendo na casa de Isabel, a Virgem Maria terá ouvido a sua parente e o marido Zacarias rezar com as palavras do Salmo responsorial de hoje: «Sois Vós, ó meu Deus, a minha esperança. Senhor, desde a juventude Vós sois a minha confiança... Na minha velhice não me rejeiteis, ao declinar das minhas forças não me abandoneis... Quando vier a velhice e até os cabelos brancos, ó Deus, não me abandoneis, a fim de que eu anuncie à geração presente a força do vosso braço e o vosso poder à geração vindoura» (Sl 71 [70], 5.9.18). A jovem Maria ouvia e meditava tudo no seu coração. A sabedoria de Isabel e Zacarias enriqueceu a sua jovem alma; não eram peritos em maternidade e paternidade, porque também para eles era a primeira gravidez, mas eram peritos na fé, peritos em Deus, peritos naquela esperança que vem dele: é disto que o mundo tem necessidade, em todos os tempos. Maria soube ouvir aqueles pais idosos e cheios de enlevo, valorizando a sua sabedoria, que foi preciosa para ela, no seu caminho de mulher, de esposa e de mãe.
É assim que a Virgem Maria nos indica o caminho: a vereda do encontro entre os jovens e os idosos. O futuro de um povo pressupõe, necessariamente, este encontro: os jovens infundem a força para levar o povo a caminhar, enquanto os idosos fortalecem este vigor com a memória e com a sabedoria popular.


Fonte: Santa Sé

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