Jubileu das Famílias, das Crianças, dos Avós e dos Idosos
Homilia do Papa Leão XIV
Praça de São Pedro
Domingo, 01 de junho de 2025
Foi celebrada a Missa do VII Domingo da Páscoa (Ano C) com suas leituras.
O Evangelho que acaba de ser proclamado
(Jo 17,20-26) mostra-nos Jesus rezando por nós na Última Ceia: o
Verbo de Deus, feito homem, já perto do fim da sua vida terrena, pensa em nós,
seus irmãos, tornando-se bênção, súplica e louvor ao Pai, com a força do
Espírito Santo. E também nós, ao entrarmos na oração de Jesus cheios de
admiração e confiança, somos envolvidos pelo seu próprio amor em um grande
projeto, que diz respeito a toda a humanidade.
Cristo pede, com efeito, que todos sejamos
«um» (v. 21). Trata-se do maior bem que possa ser desejado, porque esta união
universal realiza entre as criaturas a comunhão eterna de amor na qual se
identifica o próprio Deus, como Pai que dá a vida, Filho que a recebe e
Espírito que a partilha.
O Senhor não quer que nos juntemos em uma
massa indistinta, como um bloco sem nome, apenas com o fim de estarmos unidos,
mas deseja que sejamos um: «como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti, para que
eles estejam em Nós» (v. 21). A unidade pela qual Jesus reza é, portanto, uma
comunhão fundada no mesmo amor com que Deus ama, do qual provêm a vida e a
salvação. E como tal é, primeiramente, um dom que Jesus vem trazer. É, portanto,
a partir do seu coração de homem que o Filho de Deus se dirige ao Pai dizendo:
«Eu neles e Tu em mim, para que assim eles cheguem à unidade perfeita e o mundo
reconheça que Tu me enviaste e os amaste, como amaste a mim» (v. 23).
Ouçamos com admiração estas palavras: Jesus
está revelando-nos que Deus nos ama como ama a si mesmo. O Pai não nos ama
menos do que ama o seu Filho Único, isto é, infinitamente. Deus não ama menos,
porque ama antes, ama por primeiro! O próprio Cristo testemunha isso quando diz
que o Pai o amou «antes da fundação do universo» (v. 24). E é exatamente assim:
na sua misericórdia, Deus sempre quis atrair todos os homens para si, e é a sua
vida, entregue por nós em Cristo, que nos faz um, que nos une uns aos outros.
Ouvir hoje esse Evangelho, durante o Jubileu
das Famílias, das Crianças, dos Avós e dos Idosos, enche-nos de alegria.
Caríssimos, recebemos a vida antes de a
termos desejado. Como ensinou o Papa Francisco, «todos os homens são filhos,
mas nenhum de nós escolheu nascer» (Ângelus, 01 de janeiro de 2025). E
não só. Assim que nascemos, tivemos necessidade dos outros para viver, já que
sozinhos não teríamos conseguido: foi outra pessoa que nos ajudou, cuidando de
nós, do nosso corpo e do nosso espírito. Assim sendo, todos nós vivemos graças
a uma relação, ou seja, a um vínculo livre e libertador de humanidade e de
cuidado recíproco.
É verdade que às vezes essa humanidade é
traída. Por exemplo, cada vez que se invoca a liberdade não para dar a vida,
mas para tirá-la; não para socorrer, mas para ofender. No entanto, mesmo diante
do mal, que cria discórdia e mata, Jesus continua a interceder por nós junto ao
Pai, e a sua oração age como um bálsamo nas nossas feridas, tornando-se para
todos um anúncio de perdão e reconciliação. Essa oração do Senhor dá sentido
pleno aos momentos luminosos do nosso querer bem aos outros, como pais, avós,
filhos e filhas. E é isso que queremos anunciar ao mundo: estamos aqui para
sermos “um”, como o Senhor nos quer “um”, nas nossas famílias e onde quer que
vivamos, trabalhemos e estudemos: diferentes, mas um; muitos, mas um; sempre,
em todas as circunstâncias e em todas as etapas da vida.
Caríssimos, se nos amarmos assim, sobre o
fundamento de Cristo, que é «o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim» (cf. Ap 22,13), seremos sinal de paz para todos na
sociedade e no mundo. E não esqueçamos: das famílias nasce o futuro dos povos.
Nas últimas décadas recebemos um sinal que
nos enche de alegria e, ao mesmo tempo, nos faz refletir: refiro-me à
Beatificação e Canonização de casais, não separadamente, mas juntos, enquanto
casais. Penso em Luís e Zélia Martin, pais de Santa Teresinha do Menino Jesus;
como também os Beatos Luís e Maria Beltrame Quattrocchi, cuja vida familiar
transcorreu em Roma no século passado. E não nos esqueçamos da família polonesa Ulma: pais e filhos unidos no amor e no martírio. Eu dizia que se trata de um
sinal que faz pensar, pois a Igreja, apresentando-os como testemunhos
exemplares dos cônjuges, diz-nos realmente que o mundo de hoje precisa da
aliança conjugal para conhecer e acolher o amor de Deus e superar, com a sua
força que une e reconcilia, as forças que desagregam as relações e as
sociedades.
Por isso, digo a vós, esposos, com o coração
cheio de gratidão e esperança: o matrimônio não é um ideal, mas a regra do
verdadeiro amor entre o homem e a mulher; amor total, fiel, fecundo (cf. São Paulo VI, Encíclica Humanae vitae, n. 9). Esse mesmo
amor, ao transformar-vos em uma só carne, torna-vos capazes de, à imagem de
Deus, doar a vida.
Portanto, encorajo-vos a ser exemplos de
coerência para os vossos filhos, comportando-vos como quereis que eles se
comportem, educando-os para a liberdade através da obediência, procurando
sempre os meios para aumentar o bem que existe neles. E vós, filhos, sede
gratos aos vossos pais: dizer “obrigado” pelo dom da vida e pelos dons que
recebemos todos os dias é a primeira forma de honrar o pai e a mãe (cf. Ex 20,12). Por fim, a vós, queridos avós e idosos,
recomendo que cuideis daqueles que amais, com sabedoria e compaixão, com a
humildade e a paciência que os anos ensinam.
Na família, a fé é transmitida, de geração
em geração, juntamente com a vida: é partilhada como o alimento da mesa e os
afetos do coração. Isso torna-a um lugar privilegiado para encontrar Jesus, que
nos ama e quer sempre o nosso bem.
Gostaria de acrescentar uma última coisa. A
oração do Filho de Deus, que nos infunde esperança ao longo do caminho,
lembra-nos também que um dia seremos todos uno unum (cf. Santo Agostinho, Enarrationes in Psalmos, 127): um só no
único Salvador, abraçados pelo amor eterno de Deus. Não somente nós, mas também
os pais e mães, os avôs e avós, os irmãos, irmãs e filhos que já nos precederam
na luz da Páscoa eterna e que sentimos presentes aqui, junto a nós, neste
momento de festa.
Regina Coeli no final da celebração
No final dessa Eucaristia, dirijo uma
saudação calorosa a todos vós, participantes do Jubileu das Famílias, das
Crianças, dos Avós e dos Idosos! Viestes de todas as partes do mundo, com
delegações de 131 países.
Estou feliz por receber tantas crianças, que
reavivam a nossa esperança! Saúdo as famílias, pequenas igrejas domésticas,
onde o Evangelho é acolhido e transmitido. A família - dizia São João
Paulo II - tem origem no amor com que o Criador abraça o mundo criado
(Carta Gratissimam sane, n. 2). Que a fé, a esperança e a caridade
cresçam sempre nas nossas famílias. Uma saudação especial aos avós e aos
idosos. Vós sois o modelo genuíno de fé e inspiração para as jovens gerações.
Obrigado por terem vindo!
(...)
Fonte: Santa Sé (Homilia / Regina Coeli).
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