sábado, 7 de março de 2020

Homilia: II Domingo da Quaresma - Ano A

Santo Anastácio Sinaíta
Sermão sobre a Transfiguração do Senhor
Hoje o Senhor apareceu verdadeiramente na montanha

Hoje, no Monte Tabor, Cristo reelaborou a imagem da beleza terrestre e a transformou em ícone da beleza celestial. Por isso fica bem que eu diga: Quão terrível é este lugar! É nada menos que a casa de Deus e a porta do céu. Hoje o Tabor e o Hermon se alegraram ao mesmo tempo; eles convidaram todo o universo a alegrar-se. E as regiões de Zabulon e de Neftali se uniram à festa e dançaram sob o sol. Hoje, a Galileia e Nazaré participaram na dança e animaram a festa com coros. O Monte Tabor se alegra pela festa e atrai a criação para Deus, renovando-a.
Hoje, de fato, o Senhor apareceu verdadeiramente na montanha. Hoje a natureza humana, criada no princípio à imagem de Deus, porém obscurecida pelas figuras deformantes dos ídolos, foi transfigurada na original beleza do homem criado à imagem e semelhança de Deus. Hoje, na montanha, a natureza, que se tinha extraviado na idolatria das montanhas, foi transformada sem deixar de ser a mesma, e brilhou com a claridade resplandecente da divindade. Hoje, na montanha, aquele que estava vestido com sombrias e tristes túnicas de pele, da qual fala o Gênesis, revestiu-se da veste divina, envolvendo-se na luz como em um manto. Hoje, no Monte Tabor, apareceu misteriosamente a condição da vida futura do reino da alegria. Hoje, de maneira surpreendente, os antigos mensageiros da antiga e nova alianças se reuniram junto a Deus sobre a montanha, portadores de um mistério pleno de paradoxos. Hoje, no Monte Tabor, esboça-se o mistério da cruz que pela morte dá a vida: assim como Cristo foi crucificado entre dois homens no Monte Calvário, agora Ele se eleva com divina majestade entre Moisés e Elias. E a festa de hoje nos mostra este outro Sinai, montanha muito mais preciosa que o Sinai por suas maravilhas e seus acontecimentos: ultrapassa por sua teofania as visões divinas figurativas e obscuras.
No Sinai os símbolos foram desenhados prefigurativamente; no Tabor resplandece a verdade. Ali a obscuridade, aqui o sol; ali as trevas, aqui a nuvem luminosa; de uma parte o decálogo, e de outra o Verbo eterno superior a toda palavra. A montanha do Sinai não abriu para Moisés a terra prometida, mas o Tabor o conduziu à terra objeto da promessa.

Santo Anastácio Sinaíta

Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 59-60. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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