segunda-feira, 5 de maio de 2025

Como funciona o Conclave (2025)

Na quarta-feira, 07 de maio de 2025, terá início o Conclave para a eleição do 267º Bispo de Roma, convocado após a morte do Papa Francisco no dia 21 de abril.

O Conclave (do latim cum clave, “com chave”), com efeito, é o processo através do qual os Cardeais elegem o Romano Pontífice, conforme as normas estabelecidas pela Constituição Apostólica Universi Dominici gregis (1996) promulgada por São João Paulo II e atualizadas por Bento XVI, sobretudo através do Motu proprio Normas nonullas (2013).


A preparação do Conclave

Após a morte do Papa coube ao Decano do Colégio Cardinalício (Giovanni Battista Re) convocar todos os Cardeais a Roma para as Congregações Gerais, reuniões que em um primeiro momento decidiram algumas questões relacionadas ao funeral do Pontífice, como a transladação do corpo à Basílica de São Pedro e a Missa Exequial, seguida do sepultamento na Basílica de Santa Maria Maior.

O Camerlengo da Santa Igreja Romana (Cardeal Kevin Joseph Farrell), por sua vez, é o encarregado da administração interina da Santa Sé. Coube a ele primeiramente constatar oficialmente a morte do Papa e lacrar suas habitações.

Com a Missa Exequial no sábado, dia 26 de abril, tiveram início os Novendiales, nove dias de Missas em sufrágio pela alma do Papa falecido, que concluíram no domingo, dia 04 de maio.

Durante os Novendiales prosseguiram as Congregações Gerais, nas quais os Cardeais discutiram vários temas relacionados à missão da Igreja e estabeleceram a data para o início do Conclave (entre 15 e 20 dias após o início da Sede Vacante).

Casa Santa Marta vista da Basílica de São Pedro

O início do Conclave

Antes do início do Conclave os Cardeais eleitores (com menos de 80 anos) devem ocupar um quarto na Casa Santa Marta (Domus Sanctae Marthae), construída em 1996 justamente para acolher os Cardeais durante o Conclave. Uma vez hospedados na Casa Santa Marta os eleitores ficam isolados do mundo exterior, evitando assim influências externas na eleição.

Saiba quem são os 133 Cardeais eleitores neste Conclave de 2025 clicando aqui.

Na manhã da quarta-feira, 07 de maio de 2025, o Cardeal Decano presidirá na Basílica de São Pedro a Missa Pro eligendo Romano Pontifice (Pela eleição do Romano Pontífice).

Na tarde do mesmo dia os 133 Cardeais eleitores se reunirão na Capela Paulina do Palácio Apostólico, revestidos com suas vestes corais, para a entrada no Conclave e o juramento, conforme estabelece o Ordo Rituum Conclavis.

Cardeais reunidos na Capela Paulina

Esse momento deveria ser presidido pelo Decano, mas, uma vez que este possui mais de 80 anos e, portanto, não é mais eleitor, será substituído pelo primeiro dos Cardeais eleitores segundo a ordem de precedência (no caso, o Cardeal Pietro Parolin).

Após uma monição introdutória, os Cardeais se dirigem em procissão até a Capela Sistina, local das votações, segundo a ordem de precedência (Cardeais Diáconos, Presbíteros e Bispos), enquanto se entoa a Ladainha de Todos os Santos.

Procissão

Quando todos tomaram seus lugares na Capela Sistina entoa-se o hino Veni, Creator Spiritus (Ó vinde, Espírito Criador), após o qual o Cardeal que preside o Conclave recita uma oração.

Em seguida, todos recitam o juramento de observar as normas do Conclave, sobretudo em relação ao sigilo. Cada um dos eleitores, então, confirma o juramento tocando o Livro dos Evangelhos exposto no centro da Capela e recitando uma breve fórmula.

Juramento sobre o Livro dos Evangelhos

Após todos os eleitores prestarem seu juramento sobre o Evangeliário, o Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias (Dom Diego Giovanni Ravelli) recita a célebre fórmula “Extra omnes” (“Todos fora!”), após a qual todos, exceto os eleitores, deixam a Capela e o Mestre das Celebrações fecha a porta.

Além dos eleitores, permanecem na Capela em um primeiro momento o Mestre das Celebrações e um clérigo escolhido pelos Cardeais para proferir uma meditação antes da eleição, que geralmente é um Cardeal não eleitor (com mais de 80 anos). Neste Conclave de 2025 o escolhido foi o Cardeal Raniero Cantalamessa, Pregador Emérito da Casa Pontifícia.

Extra omnes

Concluída a meditação, o Mestre das Celebrações e o Pregador deixam a Capela e a porta é fechada pelo último dos Cardeais Diáconos (George Jacob Koovakad). Se não há nenhum impedimento, tem início o primeiro escrutínio (eleição).

As votações

Como estabelecido por São João Paulo II e confirmado por Bento XVI, a única forma de eleição do Papa é por escrutínio (per scrutinium), isto é, através do voto secreto por parte dos Cardeais. Para a eleição requerem-se ademais dois terços dos votos. No caso deste Conclave de 2025, com 133 eleitores, são necessários 89 votos.

Para a eleição, antes de tudo o último dos Cardeais Diáconos sorteia o nome de três Escrutinadores (responsáveis por apurar os votos), de três Revisores e, se for necessário, de três Infirmarii (responsáveis por recolher os votos de eventuais Cardeais que, por motivo de doença, permaneceram na Casa Marta).

Cada Cardeal escreve então em uma cédula de papel o nome daquele que julga dever ser eleito. Em tese podem ser votados não apenas os Cardeais eleitores, mas qualquer pessoa capaz de se tornar o Bispo de Roma. O último Papa que não era Cardeal ao ser eleito, porém, foi Urbano VI em 1378.

Capela Sistina preparada para o Conclave

Escrito o voto, o Cardeal dobra a cédula e, seguindo a ordem precedência, dirige-se à mesa diante do altar, sobre a qual encontra-se uma urna. Contemplando a pintura do Juízo Final de Michelangelo, o Cardeal recita uma breve fórmula, invocando Cristo como testemunha de que seu voto é sincero.

O Cardeal deposita então a cédula na urna e retorna ao seu lugar. Se algum Cardeal presente na Capela não puder levantar-se, um dos Escrutinadores vai até ele e recebe a cédula para depositá-la na urna. Da mesma forma, os Infirmarii, se necessário, vão à Casa Santa Marta para recolher as cédulas com os votos dos enfermos.

Quando todas as cédulas tiverem sido depositadas na urna, os Escrutinadores conferem os votos: primeiramente agitando a urna, para misturar as cédulas, e em seguida computando os votos, lendo os nomes em voz alta e anotando-os em uma ficha.

Urnas utilizadas no Conclave

Se ninguém atingiu os dois terços, o último dos Cardeais Diáconos chama à Capela o Mestre das Celebrações e o Secretário do Colégio Cardinalício (Dom Ilson de Jesus Montanari).

Os Revisores conferem a soma dos votos e recolhem as cédulas e anotações, que serão queimadas, sob a supervisão do Secretário. Como não foi eleito o Papa, queimam-se as cédulas com substâncias químicas que tornam a fumaça negra.

Fumaça negra

As votações se realizam quatro vezes por dia, duas pela manhã e duas pela tarde (exceto no primeiro dia, após o juramento, quando pode haver apenas uma votação). A queima dos votos, porém, só se faz no final da manhã e no final da tarde (exceto se o Papa é eleito na primeira votação do turno).

Fora das votações os Cardeais permanecem na Casa Santa Marta, aproveitando o tempo livre para a oração e a reflexão. Todos os dias, com efeito, eles celebram a Missa e a Liturgia das Horas.

Se após três dias de Conclave o Papa não é eleito, os escrutínios são interrompidos para uma pausa de oração, concluída com uma meditação proferida pelo primeiro dos Cardeais Diáconos (Dominique Mamberti).

Se o impasse prossegue por mais sete escrutínios, faz-se outra pausa com uma meditação do primeiro dos Cardeais Presbíteros (Vinko Puljic). Segue-se, se for o caso, outros sete escrutínios e uma nova pausa, com a meditação do primeiro dos Cardeais Bispos (Pietro Parolin).

Feitos mais sete escrutínios, se ainda há impasse, após uma pausa, na sequência se elege o Papa entre os dois nomes mais votados no escrutínio anterior. Não obstante, conforme estabelecido por Bento XVI, permanece a exigência de que o eleito receba dois terços dos votos.

Capela da Casa Santa Marta

A eleição do novo Papa

Quando alguém atinge os dois terços dos votos, o último dos Cardeais Diáconos chama à Capela o Mestre das Celebrações e o Secretário do Colégio Cardinalício. Se porventura o eleito não estiver na Capela Sistina, deve ser imediatamente chamado. A última vez que isso aconteceu, porém, foi na eleição de Adriano VI em 1522.

O Cardeal que preside o Conclave então pergunta se esse aceita a eleição como Sumo Pontífice. Se recusar, retomam-se as votações. Se aceitar, o Presidente do Conclave pergunta qual com qual nome ele deseja ser chamado.

A tradição de escolher um novo nome ao ser eleito foi iniciada por João II em 533, recordando o chamado do primeiro Bispo de Roma, Simão Pedro (cf. Mt 16,18; Jo 1,42). Nada impede, porém, que o eleito escolha o próprio nome de Batismo, embora o último Papa a fazê-lo foi Marcelo II em 1555.

Se o eleito já é Bispo, torna-se imediatamente o Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro e Sumo Pontífice da Igreja Universal. Se não é Bispo, deve receber o quanto antes a Ordenação Episcopal. A última vez que isso ocorreu foi com Gregório XVI em 1846, que embora fosse Cardeal, era um presbítero ao ser eleito.

Uma vez que o eleito aceita e escolhe seu nome, o Mestre das Celebrações redige o documento que atesta o ocorrido. Enquanto isso, os Escrutinadores queimam as cédulas e anotações com substâncias químicas que tornam a fumaça branca e tocam-se os sinos da Basílica de São Pedro, dando a conhecer ao mundo que o Papa foi eleito.

Fumaça branca

O eleito dirige-se então à Sacristia da Capela Sistina, chamada “Sala das Lágrimas”, onde, auxiliado pelo Mestre das Celebrações, endossa a veste talar branca própria do Papa.

De volta à Capela, o novo Papa é saudado pelo primeiro dos Cardeais Bispos (Pietro Parolin). Em seguida, o primeiro dos Cardeais Diáconos (Dominique Mamberti) proclama o Evangelho (Mt 16,13-19 ou Jo 21,15-17) e o primeiro dos Cardeais Presbíteros (Vinko Puljic) recita uma prece pelo Pontífice.

Os Cardeais, seguindo a ordem de precedência, aproximam-se do eleito para saudá-lo e prometer-lhe obediência. Esse momento é concluído com o canto do hino Te Deum laudamus (A vós, ó Deus, louvamos).

“Sala das Lágrimas” da Capela Sistina

Após o Te Deum, o Protodiácono (Dominique Mamberti) dirige-se ao balcão central da Basílica de São Pedro e anuncia a eleição do novo Papa com a célebre fórmula:

Annuntio vobis gaudium magnum: Habemus Papam!
Eminentissimum ac reverendissimum Dominum, Dominum [Nome], Sanctae Romanae Ecclesiae Cardinalem [Sobrenome],
Qui sibi nomen imposuit [Nome pontifício com a numeração histórica, se for o caso].

Habemus Papam

Enquanto isso, o Papa reza por alguns instantes na Capela Paulina, dirigindo-se em seguida ao balcão central da Basílica, de onde saúda os fiéis presentes na Praça de São Pedro ou que acompanham através dos meios de comunicação.

Se desejar, ele pode dirigir algumas palavras aos fiéis, antes de conceder pela primeira vez a Bênção Urbi et Orbi (À cidade e ao mundo).

Bênção Urbi et Orbi

Oração
Ó Deus, Pastor eterno, que com zelo constante governais o vosso rebanho, concedei à Igreja, em vossa imensa bondade, um pastor que vos seja agradável pela santidade e, com solicitude, sirva o vosso povo. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.
(Coleta da Missa para a eleição do Papa ou Bispo).


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