Na quarta-feira, 07 de maio de 2025, terá início o Conclave para a eleição do 267º Bispo de Roma, convocado após a
morte do Papa Francisco no dia 21 de abril.
O Conclave (do latim cum clave,
“com chave”), com efeito, é o processo através do qual os Cardeais elegem o Romano
Pontífice, conforme as normas estabelecidas pela Constituição Apostólica Universi
Dominici gregis (1996) promulgada por São João Paulo II e atualizadas por
Bento XVI, sobretudo através do Motu proprio Normas nonullas (2013).
A preparação do Conclave
Após a morte do Papa coube ao
Decano do Colégio Cardinalício (Giovanni Battista Re) convocar todos os
Cardeais a Roma para as Congregações Gerais, reuniões que em um primeiro
momento decidiram algumas questões relacionadas ao funeral do Pontífice, como a
transladação do corpo à Basílica de São Pedro e a Missa Exequial, seguida do
sepultamento na Basílica de Santa Maria Maior.
O Camerlengo da Santa Igreja Romana
(Cardeal Kevin Joseph Farrell), por sua vez, é o encarregado da administração
interina da Santa Sé. Coube a ele primeiramente constatar oficialmente a morte
do Papa e lacrar suas habitações.
Com a Missa Exequial no sábado, dia
26 de abril, tiveram início os Novendiales, nove dias de Missas em
sufrágio pela alma do Papa falecido, que concluíram no domingo, dia 04 de maio.
Durante os Novendiales
prosseguiram as Congregações Gerais, nas quais os Cardeais discutiram vários
temas relacionados à missão da Igreja e estabeleceram a data para o início do
Conclave (entre 15 e 20 dias após o início da Sede Vacante).
O início do Conclave
Antes do início do Conclave os Cardeais
eleitores (com menos de 80 anos) devem ocupar um quarto na Casa Santa Marta (Domus
Sanctae Marthae), construída em 1996 justamente para acolher os Cardeais
durante o Conclave. Uma vez hospedados na Casa Santa Marta os eleitores ficam
isolados do mundo exterior, evitando assim influências externas na eleição.
Saiba quem são os 133 Cardeais eleitores neste Conclave de 2025 clicando aqui.
Na manhã da quarta-feira, 07 de
maio de 2025, o Cardeal Decano presidirá na Basílica de São Pedro a Missa Pro eligendo
Romano Pontifice (Pela eleição do Romano Pontífice).
Na tarde do mesmo dia os 133 Cardeais
eleitores se reunirão na Capela Paulina do Palácio Apostólico, revestidos com
suas vestes corais, para a entrada no Conclave e o juramento, conforme estabelece o Ordo
Rituum Conclavis.
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Cardeais reunidos na Capela Paulina |
Esse momento deveria ser presidido pelo Decano, mas, uma vez que este possui mais de 80 anos e, portanto, não é mais eleitor, será substituído pelo primeiro dos Cardeais eleitores segundo a ordem de precedência (no caso, o Cardeal Pietro Parolin).
Após uma monição introdutória, os Cardeais se dirigem em procissão até a Capela Sistina, local das votações, segundo a ordem de precedência (Cardeais Diáconos, Presbíteros e Bispos), enquanto se entoa a Ladainha de Todos os Santos.
Quando todos tomaram seus lugares
na Capela Sistina entoa-se o hino Veni, Creator Spiritus (Ó vinde,
Espírito Criador), após o qual o Cardeal que preside o Conclave recita uma
oração.
Em seguida, todos recitam o
juramento de observar as normas do Conclave, sobretudo em relação ao sigilo. Cada
um dos eleitores, então, confirma o juramento tocando o Livro dos Evangelhos
exposto no centro da Capela e recitando uma breve fórmula.
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Juramento sobre o Livro dos Evangelhos |
Após todos os eleitores prestarem seu
juramento sobre o Evangeliário, o Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias
(Dom Diego Giovanni Ravelli) recita a célebre fórmula “Extra omnes” (“Todos
fora!”), após a qual todos, exceto os eleitores, deixam a Capela e o Mestre das
Celebrações fecha a porta.
Além dos eleitores, permanecem na
Capela em um primeiro momento o Mestre das Celebrações e um clérigo escolhido
pelos Cardeais para proferir uma meditação antes da eleição, que geralmente é
um Cardeal não eleitor (com mais de 80 anos). Neste Conclave de 2025 o
escolhido foi o Cardeal Raniero Cantalamessa, Pregador Emérito da Casa
Pontifícia.
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Extra omnes |
Concluída a meditação, o Mestre das
Celebrações e o Pregador deixam a Capela e a porta é fechada pelo último dos
Cardeais Diáconos (George Jacob Koovakad). Se não há nenhum impedimento, tem
início o primeiro escrutínio (eleição).
As votações
Como estabelecido por São João
Paulo II e confirmado por Bento XVI, a única forma de eleição do Papa é por
escrutínio (per scrutinium), isto é, através do voto secreto
por parte dos Cardeais. Para a eleição requerem-se ademais dois terços dos
votos. No caso deste Conclave de 2025, com 133 eleitores, são necessários 89
votos.
Para a eleição, antes de tudo o
último dos Cardeais Diáconos sorteia o nome de três Escrutinadores
(responsáveis por apurar os votos), de três Revisores e, se for necessário, de três
Infirmarii (responsáveis por recolher os votos de eventuais Cardeais
que, por motivo de doença, permaneceram na Casa Marta).
Cada Cardeal escreve então em uma
cédula de papel o nome daquele que julga dever ser eleito. Em tese podem ser
votados não apenas os Cardeais eleitores, mas qualquer pessoa capaz de se
tornar o Bispo de Roma. O último Papa que não era Cardeal ao ser eleito, porém, foi Urbano VI
em 1378.
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Capela Sistina preparada para o Conclave |
Escrito o voto, o Cardeal dobra a
cédula e, seguindo a ordem precedência, dirige-se à mesa diante do altar, sobre
a qual encontra-se uma urna. Contemplando a pintura do Juízo Final de Michelangelo, o Cardeal recita uma breve fórmula, invocando Cristo como
testemunha de que seu voto é sincero.
O Cardeal deposita então a cédula na
urna e retorna ao seu lugar. Se algum Cardeal presente na Capela não puder
levantar-se, um dos Escrutinadores vai até ele e recebe a cédula para
depositá-la na urna. Da mesma forma, os Infirmarii, se necessário, vão à
Casa Santa Marta para recolher as cédulas com os votos dos enfermos.
Quando todas as cédulas tiverem
sido depositadas na urna, os Escrutinadores conferem os votos: primeiramente
agitando a urna, para misturar as cédulas, e em seguida computando os votos, lendo
os nomes em voz alta e anotando-os em uma ficha.
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Urnas utilizadas no Conclave |
Se ninguém atingiu os dois terços,
o último dos Cardeais Diáconos chama à Capela o Mestre das Celebrações e o
Secretário do Colégio Cardinalício (Dom Ilson de Jesus Montanari).
Os Revisores conferem a soma dos
votos e recolhem as cédulas e anotações, que serão queimadas, sob a supervisão do Secretário. Como não foi eleito o Papa, queimam-se
as cédulas com substâncias químicas que tornam a fumaça negra.
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Fumaça negra |
As votações se realizam quatro
vezes por dia, duas pela manhã e duas pela tarde (exceto no primeiro dia, após
o juramento, quando pode haver apenas uma votação). A queima dos votos, porém,
só se faz no final da manhã e no final da tarde (exceto se o Papa é eleito na
primeira votação do turno).
Fora das votações os Cardeais permanecem
na Casa Santa Marta, aproveitando o tempo livre para a oração e a reflexão.
Todos os dias, com efeito, eles celebram a Missa e a Liturgia das Horas.
Se após três dias de Conclave o Papa não é eleito, os escrutínios são interrompidos para uma pausa de oração, concluída com uma meditação proferida pelo primeiro dos Cardeais Diáconos (Dominique Mamberti).
Se o impasse prossegue por mais sete escrutínios, faz-se outra pausa com uma meditação do primeiro dos Cardeais Presbíteros (Vinko Puljic). Segue-se, se for o caso, outros sete escrutínios e uma nova pausa, com a meditação do primeiro dos Cardeais Bispos (Pietro Parolin).
Feitos mais sete escrutínios, se ainda há impasse, após uma pausa, na sequência se elege o Papa entre os dois nomes mais votados no escrutínio anterior. Não obstante, conforme estabelecido por Bento XVI, permanece a exigência de que o eleito receba dois terços dos votos.
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Capela da Casa Santa Marta |
A eleição do novo Papa
Quando alguém atinge os dois terços
dos votos, o último dos Cardeais Diáconos chama à Capela o Mestre das
Celebrações e o Secretário do Colégio Cardinalício. Se porventura o eleito não
estiver na Capela Sistina, deve ser imediatamente chamado. A última vez que
isso aconteceu, porém, foi na eleição de Adriano VI em 1522.
O Cardeal que preside o Conclave então
pergunta se esse aceita a eleição como Sumo Pontífice. Se recusar, retomam-se
as votações. Se aceitar, o Presidente do Conclave pergunta qual com qual nome
ele deseja ser chamado.
A tradição de escolher um novo nome
ao ser eleito foi iniciada por João II em 533, recordando o chamado do primeiro
Bispo de Roma, Simão Pedro (cf. Mt 16,18; Jo 1,42). Nada impede,
porém, que o eleito escolha o próprio nome de Batismo, embora o último Papa a fazê-lo
foi Marcelo II em 1555.
Se o eleito já é Bispo, torna-se
imediatamente o Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro e Sumo Pontífice da Igreja
Universal. Se não é Bispo, deve receber o quanto antes a Ordenação Episcopal. A
última vez que isso ocorreu foi com Gregório XVI em 1846, que embora fosse
Cardeal, era um presbítero ao ser eleito.
Uma vez que o eleito aceita e escolhe
seu nome, o Mestre das Celebrações redige o documento que atesta o ocorrido.
Enquanto isso, os Escrutinadores queimam as cédulas e anotações com substâncias
químicas que tornam a fumaça branca e tocam-se os sinos da Basílica de São
Pedro, dando a conhecer ao mundo que o Papa foi eleito.
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Fumaça branca |
O eleito dirige-se então à
Sacristia da Capela Sistina, chamada “Sala das Lágrimas”, onde, auxiliado pelo
Mestre das Celebrações, endossa a veste talar branca própria do Papa.
De volta à Capela, o novo Papa é saudado pelo primeiro dos
Cardeais Bispos (Pietro Parolin). Em seguida, o primeiro dos Cardeais Diáconos
(Dominique Mamberti) proclama o Evangelho (Mt 16,13-19 ou Jo 21,15-17)
e o primeiro dos Cardeais Presbíteros (Vinko Puljic) recita uma prece pelo
Pontífice.
Os Cardeais, seguindo a ordem de
precedência, aproximam-se do eleito para saudá-lo e prometer-lhe obediência. Esse
momento é concluído com o canto do hino Te Deum laudamus (A vós, ó Deus,
louvamos).
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“Sala das Lágrimas” da Capela Sistina |
Após o Te Deum, o
Protodiácono (Dominique Mamberti) dirige-se ao balcão central da Basílica de
São Pedro e anuncia a eleição do novo Papa com a célebre fórmula:
Annuntio vobis gaudium magnum:
Habemus Papam!
Eminentissimum ac
reverendissimum Dominum, Dominum [Nome], Sanctae Romanae Ecclesiae
Cardinalem [Sobrenome],
Qui sibi nomen imposuit [Nome
pontifício com a numeração histórica, se for o caso].
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Habemus Papam |
Enquanto isso, o Papa reza por
alguns instantes na Capela Paulina, dirigindo-se em seguida ao balcão central
da Basílica, de onde saúda os fiéis presentes na Praça de São Pedro ou que
acompanham através dos meios de comunicação.
Se desejar, ele pode dirigir algumas
palavras aos fiéis, antes de conceder pela primeira vez a Bênção Urbi et
Orbi (À cidade e ao mundo).
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Bênção Urbi et Orbi |
Oração
Ó Deus, Pastor eterno, que com zelo
constante governais o vosso rebanho, concedei à Igreja, em vossa imensa
bondade, um pastor que vos seja agradável pela santidade e, com solicitude,
sirva o vosso povo. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e
convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos
séculos. Amém.
(Coleta da Missa para a eleição do
Papa ou Bispo).
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