No próximo
sábado, 22 de fevereiro, Festa da Cátedra de São Pedro, Sua Santidade o Papa
Francisco presidirá o primeiro Consistório Ordinário Público para a criação de Cardeais
de seu pontificado, conforme anunciado no Angelus do último dia 13 de janeiro.
Um Consistório é
uma reunião solene dos Cardeais, convocados e sob a presidência do Papa. Pode
ser Ordinário (para a celebração de algum ato solene ou para a consulta aos
cardeais sobre algum assunto de interesse da Igreja) ou Extraordinário (para a
consulta aos cardeais em casos graves e de necessidades especiais da Igreja).
Apenas o Consistório Ordinário pode ser público (CIC, cân. 353).
Os Cardeais são
bispos ou presbíteros que constituem o Colégio Cardinalício, responsável pela eleição
do Papa e por auxiliá-lo no governo da Igreja, aconselhando-o em questões mais
graves e presidindo os Dicastérios da Cúria Romana (CIC cân. 349).
No início da
Igreja eram chamados de cardeais os presbíteros que constituíam o conselho do
bispo em uma diocese. A partir do século XI este título ficou restrito à
diocese de Roma, mais especificamente aos presbíteros das principais igrejas da
cidade, as tituli. Com o tempo, o título foi estendido aos sete diáconos
que regiam as regiões em que se dividia a cidade para o serviço da caridade, as
diaconias, e aos bispos das dioceses
próximas a Roma, as dioceses
suburbicárias. Desta tradição provém a atual divisão dos Cardeais em três
ordens: Episcopal, Presbiteral e Diaconal (CIC, cân. 350).
Feita esta introdução,
vamos conhecer o rito do consistório do próximo sábado, basicamente o mesmo
utilizado durante o pontificado de Bento XVI, com pequenas alterações. O livreto da celebração já está disponível no site da Santa Sé.
A celebração
inicia-se com a procissão de entrada, ao canto da tradicional antífona Tu
est Petrus (Mt 16, 18-19). Chegando
diante do altar, o Santo Padre se ajoelhará por um momento em silenciosa oração.
Chegando à sede,
o Papa recita o sinal da cruz e a saudação, como na Missa, e recita a coleta ou
oração do dia. Em seguida, se fará a proclamação do Evangelho (Mc 10, 32-45), a
homilia do Santo Padre e um momento de silêncio.
Passa-se então
ao rito da criação dos cardeais, iniciado pela alocução do Santo Padre:
Fratres carissimi, munus gratum
idemque grave sumus expleturi, quod cum ad Romanam Ecclesiam imprimis pertineat
totius quoque Ecclesia corpus afficit: in Patrum Cardinalium Collegium
nonnullos Fratres cooptabimus, qui artiore vinculo cum Petri Sede devinciantur,
Romani Cleri membra fiant et in apostolico servitio Nobiscum strictius
cooperentur.
Ipsi sacra purpura exornati,
in Urbe Roma et in dissitis regionibus intrepidi erunt Christi testes eiusque
Evangelii.
Itaque auctoritate omnipotentis Dei, sanctorum Apostolorum
Petri et Pauli ac Nostra hos Venerabiles Fratres creamus et sollemniter
enuntiamus Sancta Romana Ecclesia Cardinales...
Irmãos
caríssimos, nos dispomos a cumprir um ato gratificante e solene de nosso sacro
ministério. Ele refere-se antes de tudo à Igreja de Roma, mas interessa também
a toda comunidade eclesial: chamaremos a fazer parte do Colégio dos Cardeais
alguns irmãos nossos, para que sejam unidos à Sé de Pedro com mais estreito
vínculo, se tornem membros do Clero de Roma e cooperem mais intensamente com
nosso serviço apostólico.
Eles,
investidos da sagrada púrpura, deverão ser intrépidas testemunhas de Cristo e
de seu Evangelho na cidade de Roma e nas regiões mais distantes.
Portanto, com a autoridade de Deus
Onipotente, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e a nossa, criamos e proclamamos
solenemente Cardeais da Santa Igreja Romana estes nossos irmãos...
O Papa anuncia os nomes dos
novos cardeais e a ordem a que pertencerão (Episcopal, Presbiteral ou Diaconal).
Os novos cardeais então levantam-se e fazem a profissão de fé (Símbolo
Apostólico, substituindo o Símbolo Niceno-Constantinopolitano, que era tradicionalmente
usado nesta celebração) e o juramento de fidelidade ao Sumo Pontífice.
Em seguida, na ordem em que
foram anteriormente anunciados, os cardeais aproximam-se do Santo Padre para
receberem as insígnias cardinalícias.
Entrega
do Barrete Cardinalício
O barrete é a principal
insígnia cardinalícia, só podendo ser usado juntamente com a veste coral. A cor
vermelha do barrete indica o sangue que o cardeal se propõe a derramar, se
necessário, pela Igreja, como expressa a oração:
Ad laudem omnipotentis Dei et
Apostolica Sedis ornamentum, accipite biretum rubrum, Cardinalatus dignitatis
insigne, per quod significatur usque ad sanguinis effusionem pro incremento
christiana fidei, pace et quiete populi Dei, libertate et diffusione Sancta
Romana Ecclesia vos ipsos intrepidos exhibere debere.
Para o louvor de Deus
Onipotente e decoro da Sé Apostólica, recebe o barrete vermelho, sinal da
dignidade do Cardinalato, significando que deveis estar pronto a comprometer-se
com força, até a efusão do sangue, pelo desenvolvimento da fé cristã, pela paz
e tranquilidade do povo de Deus e pela liberdade e difusão da Santa Igreja
Romana.
Entrega
do Anel
O Cardeal, mesmo que não
seja Bispo, deve sempre portar o anel, símbolo de sua íntima união com a
Igreja. Será entregue aos novos Cardeais o mesmo anel dos
Consistórios anteriores: em forma de cruz, com as imagens dos Santos Apóstolos
Pedro e Paulo e uma estrela de oito pontas, símbolo da Virgem Maria; dentro do
anel, em baixo relevo, o brasão do Santo Padre. À entrega do anel o Papa reza:
Accipe anulum de manu Petri et
noveris dilectione Principis Apostolorum dilectionem tuam erga Ecclesiam
roborari.
Recebe o anel das mãos de
Pedro e sabei que com o amor do Príncipe dos Apóstolos se reforça o teu amor
para com a Igreja.
Entrega
do Título ou Diaconia
Como dito anteriormente, os
cardeais dividem-se em três ordens e recebem uma Igreja Suburbicária (Cardeais
Bispos), um Título (Cardeais Presbíteros) ou Diaconia (Cardeais Diáconos) de
uma igreja de Roma. O Santo Padre entrega a cada cardeal a bula de nomeação dizendo:
Ad
honorem Dei omnipotentis et sanctorum Apostolorum Petri et Pauli, tibi
committimus Titulum (vel
Diaconiam) N. In nomine Patris, et Filii, et Spiritus Sancti.
Para a honra de Deus
Onipotente e dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo te entregamos o Título (ou
Diaconia) N. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
Segue-se o abraço de paz do
novo cardeal com o Santo Padre e com os demais cardeais. A celebração prossegue
com a Oração do Senhor (Pai Nosso) e uma oração conclusiva, encerrando-se com a
bênção do Santo Padre e o canto da antífona mariana Salve Regina (Salve
Rainha).
No domingo, dia 23, haverá a
Concelebração Eucarística dos novos cardeais com o Santo Padre. No início desta
celebração, o primeiro dentre os novos cardeais (Dom Pietro Parolin, Secretário de Estado) dirigirá um agradecimento
ao Santo Padre. O livreto da celebração encontra-se disponível no
site da Santa Sé.
Nota: As traduções das orações do
rito do Consistório foram realizadas livremente pelo autor deste blog,
utilizando-se do texto italiano disponível no livreto da celebração. Não são
traduções oficiais, mas apenas aproximações ao sentido do texto, e portanto
podem estar sujeitas a erros.
FONTES: Código de Direito Canônico
cân. 349-359 e Livreto de Celebração do Consistório.
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