No dia 29 de novembro de 2020, I Domingo do Advento, entra
em vigor na Itália a tradução da 3ª edição do Missal Romano. A Conferência
Episcopal Italiana (CEI) julgou ser esta a ocasião oportuna para uma renovada
formação litúrgica dos fiéis.
Por isso, o Ofício Litúrgico Nacional da CEI publicou em seu
site um subsídio com dez “encontros” de formação, intitulado “Un Messale per le nostre Assemblee: La terza
edizione italiana del Messale Romano tra Liturgia e Catechesi” (Um Missal
para as nossas Assembleias: A 3ª edição italiana do Missal Romano entre
Liturgia e Catequese).
O subsídio pode ser baixado gratuitamente no site do Ofício Litúrgico, com os direitos reservados à Editore
Fondazione di Religione Santi Francesco d’Assisi e Caterina da Siena, que
permitiu sua consulta on-line e impressão para uso pessoal e comunitário, sem
finalidade lucrativa.
Assim, com o objetivo pastoral, proporemos aqui
no blog uma tradução dos dez “encontros” do subsídio, que serão
muito úteis também para a realidade brasileira, enquanto aguardamos a
tradução da 3ª edição do Missal por parte da CNBB (Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil).
1. A serviço do dom
Esta nova edição italiana do Missal Romano é oferecida ao
povo de Deus em uma etapa de aprofundamento da reforma litúrgica inspirada pelo
Concílio Vaticano II. (...) Tal reforma, que encontrou na edição dos livros
litúrgicos um dos pilares da própria realização, não poderia exaurir-se na
simples entrega à Igreja de um novo ponto de referência normativo, mas deveria
continuar no longo e paciente trabalho de assimilação prática do modelo
celebrativo proposto pelo livro litúrgico, entre a mudança dos tempos e o
processo de impulsos culturais.
Neste caminho, o livro litúrgico permanece o primeiro e
essencial instrumento para a digna celebração dos mistérios, assim como o
fundamento mais sólido de uma eficaz catequese litúrgica [1]. Se isto é
verdadeiro para cada livro litúrgico, tanto mais o é para o Missal que, junto
aos outros livros em uso na Celebração Eucarística, está a serviço do mistério
que constitui a fonte e o ápice de toda a vida cristã. Desta consciência deriva
a importância de promover e encorajar uma ação pastoral que visa valorizar o
conhecimento e o bom uso do livro litúrgico, sobre a dupla vertente da
celebração e do seu aprofundamento na mistagogia (CEI, Apresentação da 3ª edição do Missal Romano, n. 5).
O livro litúrgico, dom
para a Igreja
Quando é promulgado um livro litúrgico, se realiza sempre um
evento importante para a vida da Igreja. E com maior razão se o livro é o
Missal Romano (MR). A importância deste acontecimento não se dá apenas pelas
eventuais novidades que o MR possa conter, mas pelo fato de que com ele a Igreja
transmite à comunidade dos fiéis um instrumento de autoridade que dá forma à
vida sacramental, de modo que, celebrando a Eucaristia, seja edificada como
«Corpo de Cristo» (1Cor 12,27). «A
Liturgia, pela qual, especialmente no sacrifício eucarístico, “se opera o fruto
da nossa Redenção”, contribui em sumo grau para que os fiéis exprimam na vida e
manifestem aos outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira
Igreja» (Sacrosanctum Concilium, n.
2). Deste modo, podemos redescobrir que o celebrar juntos já traz consigo um
dom para cada um de nós: dá-nos estar na presença de Deus, dá-nos ser e
tornar-se comunidade como Ele quer, dá-nos sintonizar juntos com as palavras e
os gestos de Jesus.
O dom de poder
celebrar
Receber o novo MR como um dom nos remete ao conteúdo do MR,
que não é tanto um texto, mas sobretudo um gesto e uma ação “fontal”. O MR é um
instrumento a serviço do dom que constitui a Liturgia: o dom de poder conduzir
a própria vida à fonte da Palavra, da presença, do amor do Senhor; o dom de
interromper o “fazer” mil atividades pastorais para “estar” diante do Senhor; o
dom de poder reencontrar aquilo que está no início e no fim da nossa fé e do
nosso “agir”, isto é, o encontro com o Senhor que salva na comunhão dos fiéis.
A mais de cinquenta anos da afirmação conciliar de que a
Liturgia é “fonte e ápice da ação da Igreja” (cf. Sacrosanctum Concilium,
n. 10: fons et culmen), trata-se de
renovar a consciência de um primado, que pode ser ameaçado pelo hábito ou pela
fadiga, de viver o momento litúrgico da vida cristã em sua capacidade fontal,
regenerante e renovadora.
A Eucaristia como dom
O dom de celebrar resplandece na experiência da Eucaristia,
que muito oportunamente é lida pela Encíclica Ecclesia de Eucharistia de São João Paulo II a partir da categoria
do dom: «A Igreja recebeu a Eucaristia de Cristo, seu Senhor, não como um dom,
embora precioso, entre muitos outros, mas como o dom por excelência, porque dom d’Ele mesmo, da sua Pessoa na
humanidade sagrada, e também da sua obra de salvação» (Ecclesia de Eucharistia, n. 11). A Eucaristia é o dom de Cristo à
Igreja, o dom da obediência e do sacrifício do Filho ao Pai (ibid., n. 13), o dom do Espírito aos
homens (n. 17), e também o dom de nós mesmos a Cristo, pelo qual «podemos dizer
não só que cada um de nós recebe Cristo,
mas também que Cristo recebe cada um de
nós» (n. 22), para que cada um de nós possa tornar-se um dom para os outros
(n. 20).
Para receber o dom
A Eucaristia, coração e centro de toda a vida litúrgica da
Igreja, é um autêntico evento relacional: o dom de Deus e o agir do homem se
entrelaçam, a fim de que se realize um autêntico encontro. Para que isso
aconteça, é necessário que o “fazer” litúrgico esteja à altura do dom que
contém, para que a beleza do encontro não seja ofuscada pela banalidade dos
estilos com os quais se dispõe.
Para que a Eucaristia, enquanto coração e centro de toda a
vida litúrgica da Igreja, seja efetivamente vivida como um dom e não como um
ônus, como uma ação que revela o dom de Deus e não como uma simples realização
humana, é necessário que o “fazer” da Liturgia seja inspirado, isto é, seja
capaz de entrar naquele modo singular de agir ritual que constitui o segredo da
Liturgia.
Isto acontece mediante o amadurecimento de uma dupla
competência. Para acolher o dom como tal, é certamente necessário conhecer “o
sentido” da Eucaristia e dos seus momentos celebrativos, bem descritos pela
Introdução Geral do Missal Romano (IGMR). Descobrir as diversas possibilidades
que o Missal oferece, tanto em relação aos textos quanto aos gestos da Missa, é
muito útil para apreciar o dom da Eucaristia. Por outro lado, conhecer "o sentido" da Missa é necessário, mas não suficiente. É necessário entrar na
experiência eucarística com "todos os sentidos”, a mente e os sentimentos da
alma. É necessário que o estilo celebrativo favoreça o envolvimento e a
participação de todo o corpo da assembleia no Mistério celebrado. A nova edição
do MR que é entregue à nossa atenção oferece uma ajuda e um ponto de referência
seguro para amadurecer uma dupla competência: aquela relativa ao “o quê” e a
“quem” celebramos, e aquela relativa a “como” celebrar.
A proposta
Os “encontros” que seguem são destinados antes de todo às
Dioceses e às comunidades paroquiais. Oferecem uma contribuição inicial, mais
exemplar que exaustiva, que pode ser acolhida e desenvolvida por aqueles
(ministros ordenados, ministros leigos, comunidade de fiéis, grupos
eclesiais...) que desejem enfatizar alguns valores fundamentais da Celebração
Eucarística ou identificar alguns aspectos mais delicados que merecem
particular atenção. Deste modo, da recepção atenta e responsável do MR poderão
surgir percursos formativos e ocasiões para aprofundar aquilo que a Eucaristia
é para a vida da Igreja e como deve ser celebrada para que o Dom seja
reconhecido, recebido, apreciado.
A 3ª edição do Missal Romano em italiano |
Nota:
[1] cf. COMMISSIONE EPISCOPALE PER LA LITURGIA, Nota pastorale: Il rinnovamento liturgico in Italia, 23 settembre 1983, n. 15.
Os seguintes temas, que publicaremos em nosso blog nas
próximas semanas, são:
Fonte:
CONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA. Al servizio del dono. in: Un
Messale per le nostre Assemblee: La terza edizione italiana del Messale Romano
tra Liturgia e Catechesi. Fondazione di Religione Santi Francesco d’Assisi
e Caterina da Siena: Roma, 2020, pp. 7-11.
Disponível em: https://liturgico.chiesacattolica.it/un-messale-per-le-nostre-assemblee/
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