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sexta-feira, 7 de março de 2014

As igrejas estacionais romanas

Em nossa postagem anterior apresentamos as “estações quaresmais romanas, celebrações que tinham lugar nas principais igrejas da cidade de Roma durante a Quaresma.

Nesta postagem apresentaremos a lista das igrejas estacionais, cujo itinerário foi formado em três grandes etapas, ao longo dos séculos IV a VIII.

As quatro Basílicas Maiores romanas, tendo ao centro o Papa São João XXIII

O processo de escolha das igrejas estacionais

a) Século IV:

As estações mais antigas, que remontam ao século IV, são as da quarta-feira, sexta-feira e sábado da I semana da Quaresma, quando se celebram as Têmporas de primavera no hemisfério norte; do III, IV e V Domingos da Quaresma; e do Tríduo Pascal.

Essas estações tinham lugar nas quatro Basílicas maiores romanas - São João do Latrão, São Pedro no Vaticano, São Paulo fora-dos-muros e Santa Maria Maior - e em outras igrejas mais importantes da cidade [1].

Algumas dessas igrejas estavam relacionadas aos próprios ritos que se celebravam. Por exemplo, os “escrutínios” dos catecúmenos, culminando na administração do Batismo na Vigília Pascal. Neste dia, portanto, devia celebrar-se necessariamente na Basílica do Latrão, a Catedral de Roma, junto à qual estava o Batistério.

Ilustração do séc. XVII das "sete igrejas de peregrinação" em Roma,
incluindo as quatro Basílicas Maiores

b) Século V:

Acrescentam-se no século V, sobretudo durante o pontificado do Papa Santo Hilário (†468), as estações para todos os dias restantes da Quaresma, exceto as quintas-feiras.

As estações desses dias eram celebradas sobretudo nas “igrejas titulares” (tituli) de Roma, as “igrejas paroquiais” da época, cujo cuidado espiritual atualmente é confiado aos Cardeais Presbíteros.

c) Século VIII:

O Papa São Gregório II (†731) inclui as estações para as quintas-feiras. Com efeito, o os primeiros cristãos não celebravam a Missa nesse dia, dedicado ao deus romano Júpiter (como permanece expresso em italiano, Giovedì, dia de Jove ou Júpiter) [2].

Incluem-se aqui algumas igrejas menores, conhecidas como “diaconias”, cujo cuidado espiritual, como o nome indica. é confiado aos Cardeais Diáconos.

Papa Gregório II, grande promotor das estações quaresmais

Vale recordar que posteriormente seriam inseridas as estações para a Oitava Pascal e para os três domingos que antecediam a Quaresma (o chamado Tempo da Septuagésima).

Da mesma forma, foram paulatinamente estabelecidas igrejas próprias onde o Papa celebrava a Missa nas solenidades e festas, embora sem a procissão estacional. Basta pensar, por exemplo, nas três Missas da Solenidade do Natal do Senhor.

As igrejas estacionais romanas

Segue a lista das quarenta e duas igrejas estacionais romanas, conforme divulgada pela Pontifícia Academia Cultorum Martyrum:

Quarta-feira de Cinzas: Santa Sabina all’Aventino
Quinta-feira: São Jorge al Velabro
Sexta-feira: Santos João e Paulo al Celio
Sábado: Santo Agostinho in Campo Marzio

I Domingo da Quaresma: São João do Latrão
Segunda-feira: São Pedro in Vincoli
Terça-feira: Santa Anastácia al Palatino
Quarta-feira: Santa Maria Maior
Quinta-feira: São Lourenço in Panisperna
Sexta-feira: Santos XII Apóstolos al Foro Traiano
Sábado: São Pedro no Vaticano

Arquibasílica do Latrão, Catedral de Roma

II Domingo da Quaresma: Santa Maria in Domnica alla Navicella
Segunda-feira: São Clemente al Laterano (presso il Colosseo)
Terça-feira: Santa Balbina all’Aventino
Quarta-feira: Santa Cecília in Trastevere
Quinta-feira: Santa Maria in Trastevere
Sexta-feira: São Vital in Fovea
Sábado: Santos Marcelino e Pedro al Laterano

III Domingo da Quaresma: São Lourenço fora-dos-muros
Segunda-feira: São Marcos al Campidoglio
Terça-feira: Santa Pudenciana al Viminale
Quarta-feira: São Sisto
Quinta-feira: Santos Cosme e Damião in Via Sacra
Sexta-feira: São Lourenço in Lucina
Sábado: Santa Susana alle Terme di Diocleziano

Basílica de São Pedro no Vaticano

IV Domingo da Quaresma: Santa Cruz em Jerusalém
Segunda-feira: Santos Quatro Coroados al Celio
Terça-feira: São Lourenço in Damaso
Quarta-feira: São Paulo fora-dos-muros
Quinta-feira: Santos Silvestre e Martinho ai Monti
Sexta-feira: Santo Eusébio all’Esquilino
Sábado: São Nicolau in Carcere

V Domingo da Quaresma: São Pedro no Vaticano
Segunda-feira: São Crisógono in Trastevere
Terça-feira: São Ciríaco / Santa Maria in via Lata
Quarta-feira: São Marcelo al Corso
Quinta-feira: Santo Apolinário in Campo Marzio
Sexta-feira: Santo Estêvão al Celio
Sábado: São João a Porta Latina

Basílica de São Paulo fora-dos-muros

Domingo de Ramos: São João do Latrão
Segunda-feira da Semana Santa: Santa Praxedes all’Esquilino
Terça-feira da Semana Santa: Santa Prisca all’Aventino
Quarta-feira da Semana Santa: Santa Maria Maior
Quinta-feira “in Coena Domini”: São João do Latrão
Sexta-feira da Paixão: Santa Cruz de Jerusalém
Sábado Santo: São João do Latrão

Domingo de Páscoa: Santa Maria Maior
Segunda-feira da Oitava Pascal: São Pedro no Vaticano
Terça-feira: São Paulo fora-dos-muros
Quarta-feira: São Lourenço fora-dos-muros
Quinta-feira: Santos XII Apóstolos al Foro Traiano
Sexta-feira: Santa Maria ad Martyres in Campo Marzio (Pantheon)
Sábado: São João do Latrão
II Domingo da Páscoa: São Pancrácio

Basílica de Santa Maria Maior

Ó Deus, sede propício a vosso povo, e perdoai-lhe todos os pecados, para que se afaste por vossa misericórdia o que por nossas culpas merecemos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém
(2ª opção de oração da Missa pelo perdão dos pecados, uma das opções de oração inicial a ser recitada nas estações quaresmais; Missal Romano, p. 932).

Notas:

[1] As quatro Basílicas Maiores, juntamente com as Basílicas de São Lourenço fora-dos-muros, de Santa Cruz em Jerusalém e de São Sebastião fora-dos-muros, integram as chamadas “sete igrejas de peregrinação”.
Esta tradição foi difundida por São Filipe Néri (†1595) a partir do Jubileu de 1575, baseada no amplo simbolismo do número sete. Basta pensar, por exemplo, nas “sete igrejas do Apocalipse” (Ap 2–3) ou nos “sete Salmos Penitenciais”.
Dessas sete igrejas, a única que não é uma estação quaresmal é a Basílica de São Sebastião, sobre as catacumbas da via Ápia, onde teriam sido conservadas as relíquias de São Pedro e São Paulo durante a perseguição do Imperador Valeriano, em 258.

Sobre as quatro Basílicas Maiores, confira também:
[2] Assim atesta o Liber Pontificalis: “Gregório II determinou que nas quintas-feiras da Quaresma se celebrasse Missa nas igrejas, o que até então não se fazia” (CORDEIRO, José de Leão [org.]. Antologia Litúrgica: Textos Litúrgicos, Patrísticos e Canónicos do Primeiro Milénio. Secretariado Nacional de Liturgia: Fátima, 2003, p. 1326).

Referências:

RIGHETTI, Mario. Historia de la Liturgia, vol. I: Introducción general; El Año Litúrgico; El Breviario. Madrid: BAC, 1955, pp. 747-753.

PONTIFICIA ACCADEMIA CULTORUM MARTYRUM. Stazioni quaresimali. Disponível no site da Santa Sé.

Postagem publicada originalmente em 07 de março de 2014. Revista e ampliada em 02 de janeiro de 2022.

3 comentários:

  1. muito obrigado,sou aluno Puc SP,curso de teologia,para o Diaconato permanente diocese de Guarulhos.

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  2. se puder colaborar com meus estudos preciso de materiais que tratem o tema caridade.desde já obrigado.

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    1. O tema foge ao escopo do nosso blog, dedicado à Liturgia. Mas recomendamos sem dúvida a Encíclica Deus caritas est, do Papa Bento XVI.

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