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segunda-feira, 5 de março de 2012

A Celebração da Paixão do Senhor

“Ó Pai, em tuas mãos eu entrego o meu espírito” (cf. Lc 23,46).

O que se deve preparar:

- Paramentos vermelhos para o sacerdote, como para a Missa
- Tapete e almofada para o sacerdote (opcional, para a prostração)
- Missal Romano
- Livros da Paixão do Senhor, se houver
- Três estantes para a história da Paixão
- Genuflexório
- Cruz para a adoração (coberta com véu vermelho, caso se adote a 1ª forma)
- Dois castiçais com velas para ladear a cruz
- Toalha do altar e corporal
- Véu umeral
- Dois castiçais com velas para a transladação do Santíssimo Sacramento

Cruz exposta à veneração na Basílica de São Pedro (2020)

Sobre os Livros da Paixão: livros com os textos da narrativa da Paixão para o Domingo de Ramos e a Sexta-feira Santa. Conforme a tradição, são três: um para o narrador ou cronista, um para o leitor (que lê as falas de todos os personagens) e outro para o sacerdote, que lê as falas de Cristo. No Brasil infelizmente os Livros da Paixão não foram publicados.

Para essa celebração, que tem lugar às três horas da tarde (15h) ou em um horário próximo, o altar deve estar completamente desnudado: sem cruz, sem castiçais com velas, sem a toalha e sem flores. As cruzes e as imagens dos santos que houver na igreja são retiradas ou cobertas com um véu vermelho ou roxo (cf. Cerimonial dos Bispos, n. 314).

Proíbem-se nesse dia o toque dos sinos e os instrumentos musicais só podem ser utilizados para sustentar o canto (cf. Paschalis Sollemnitatis, n. 50; Cerimonial dos Bispos, n. 300).

Para acessar nossa postagem sobre os cantos litúrgicos para a Celebração da Paixão do Senhor, clique aqui.

1. Liturgia da Palavra

A celebração inicia-se com a procissão de entrada, em silêncio:
- Acólitos e demais ministros
- Diáconos ou leitores com os Livros da Paixão, se houver
- Sacerdote, paramentado para a Missa (com a casula vermelha)
Nesta procissão não se levam incenso, cruz processional ou castiçais com velas.

O Papa Francisco prostra-se diante do altar (2016)

Ao chegar diante do altar, o sacerdote faz a devida reverência e prostra-se com o rosto por terra ou ajoelha-se em genuflexório desguarnecido (sem almofadas). O diácono, os ministros e fiéis ajoelham-se e rezam por alguns instantes em silêncio.

O Papa Bento XVI ajoelha-se (2012)

Após alguns instantes de oração silenciosa, o sacerdote se levanta, assim como todos os demais e dirige-se à cadeira ou sede presidencial, de onde recita uma das orações do dia indicadas no Missal Romano (p. 254), sem o convite “Oremos”: “Ó Deus, foi por nós que o Cristo...” ou “Ó Deus, pela Paixão de nosso Senhor...”.

Após a oração, todos se sentam e são proclamadas as leituras e o salmo, como de costume: Is 53,13–53,12; Sl 30; Hb 4,14-16; 5,7-9.

Segue-se a aclamação ao Evangelho, na forma descrita no Lecionário, sem o Aleluia (omitido durante toda a Quaresma, até a Vigília Pascal exclusive): “Louvor e honra a vós, Senhor Jesus: Jesus Cristo se tornou obediente...” (cf. Fl 2,8-9)

Proclama-se então a narrativa ou história da Paixão segundo João (Jo 18,1–19,42). Nessa narrativa da Paixão não se levam velas nem incenso (Cerimonial dos Bispos, n. 319).

Três diáconos proclamam a Paixão (2016)

A Paixão é tradicionalmente proclamada por três leitores: o narrador ou cronista; o leitor, que lê as falas de todos os personagens; e o sacerdote, que lê as falas de Cristo (cf. Paschalis Sollemnitatis, n. 33). Convém, portanto, preparar três estantes no centro do presbitério para os três leitores.

Quando há três diáconos são eles que proclamam a Paixão, pedindo antes a bênção ao sacerdote. Na falta dos diáconos, a Paixão será proclamada por leitores, reservando sempre a parte de Cristo ao sacerdote. Os leitores não pedem a bênção, dirigindo-se diretamente às estantes com o sacerdote.

Na história da Paixão não há saudação ao povo nem sinal-da-cruz sobre o livro no início nem o beijo do livro no final.

Ao ser anunciada a morte do Senhor (“E, inclinando a cabeça, entregou o espírito”), todos se ajoelham e rezam por alguns instantes em silêncio. Pode ser preparado um genuflexório desguarnecido para o sacerdote diante da cadeira ou do altar.

Genuflexão ao anúncio da Morte do Senhor

Segue-se a homilia, como de costume, após a qual convém guardar alguns instantes de silêncio.

Após a homilia tem lugar a Oração Universal, na qual rezamos por dez intenções:
I. Pela Santa Igreja
II. Pelo Papa
III. Por todas as ordens e categorias de fiéis
IV. Pelos catecúmenos
V. Pela unidade dos cristãos
VI. Pelos judeus
VII. Pelos que não creem no Cristo
VIII. Pelos que não creem em Deus
IX. Pelos poderes públicos
X. Por todos os que sofrem provações (cf. Missal Romano, pp. 255-259).

Cada um das intenções é proferida pelo diácono ou por um leitor do ambão: “Oremos, irmãos e irmãs caríssimos...”. Segue-se um breve momento de oração silenciosa e então o sacerdote, da cadeira ou junto ao altar, recita, de mãos estendidas, a respectiva oração.

O Papa Francisco durante a Oração Universal (2015)

Durante todo o tempo destas orações os fiéis podem permanecer em pé ou de joelhos. Se for costume, os fiéis podem ajoelhar-se para a pausa de silêncio, levantando novamente antes de cada oração. Neste caso, o diácono fará o convite: “Ajoelhemo-nos” e “Levantemo-nos” (cf. Missal Romano, p. 255).

Em circunstâncias extraordinárias, o Ordinário do lugar (isto é, o Bispo diocesano ou aquele a ele equiparado pelo direito) pode determinar ou permitir que se acrescente uma intenção especial (cf. Paschalis Sollemnitatis, n. 67). Em 2020, por exemplo, no contexto da pandemia de Covid-19, a Congregação para o Culto Divino propôs a oração “Pelas vítimas da atual pandemia.

2. Adoração da Cruz

duas formas de Adoração da Cruz (cf. Cerimonial dos Bispos, n. 321; Missal Romano, pp. 260-261): o sacerdote e os ministros devem escolher uma das duas.

A cruz apresentada ao povo deve sempre ser uma só, grande e artística: “Use-se uma única cruz para a adoração, tal como o requer a verdade do sinal” (Paschalis Sollemnitatis, n. 69).

a) 1ª forma:

O diácono ou outro ministro leva a cruz coberta por um véu vermelho até o altar através da nave, ladeado por dois acólitos com velas acesas. A entrada se faz em silêncio e sem “paradas”.

Entronização da cruz - 1ª forma (2010)

O sacerdote recebe a cruz diante do altar, descobre sua parte superior e a eleva, cantando a aclamação: “Eis o lenho da Cruz, do qual pendeu a salvação do mundo”, à qual o povo responde: “Vinde, adoremos” (Missal Romano, p. 261).

Após a aclamação, todos se ajoelham e rezam por alguns instantes em silêncio, levantando em seguida.

A aclamação “Eis o lenho” e a oração silenciosa repetem-se mais duas vezes, após o sacerdote descobrir o braço direito da cruz, e, por fim, após descobrir toda a cruz.

O Papa Bento XVI descobre a cruz junto ao altar (2012)

b) 2ª forma:

O diácono ou o próprio sacerdote dirige-se à porta da igreja e recebe a cruz descoberta. Ladeado por dois acólitos com velas acesas, dirige-se ao altar, cantando a aclamação “Eis o lenho...” junto à porta da igreja, no meio da nave e diante do altar.

Após cada um das três aclamações com sua resposta, todos se ajoelham e rezam por alguns instantes em silêncio, levantando em seguida, como na 1ª forma.

Entronização da cruz - 2ª forma (2021)

Independentemente da forma utilizada, após a terceira invocação “Eis o lenho”, a cruz é colocada diante do altar, seja em uma mesa ou suporte ou sustentada por um ministro, mas sempre ladeada por dois castiçais com velas acesas.

O sacerdote retorna então à cadeira, depõe a casula e, se julgar oportuno, também os sapatos, e dirige-se à frente do altar. Ajoelha-se diante da cruz e a beija. Em seguida, retorna à cadeira, onde retoma a casula (e os sapatos, se os tirou) e senta-se.

O Papa Francisco (sem a casula) beija a cruz (2015)

Após o sacerdote, o diácono, os acólitos e demais ministros e os fiéis também passam em procissão diante da cruz, saudando-a com a genuflexão e, se for costume, também com o beijo ou outro sinal adequado (por exemplo, tocando a cruz).

Durante a adoração, cantam-se os hinos propostos no Missal ou outros cantos adequados: a antífona “Adoramos, Senhor, vosso madeiro...”, os Impropérios ou Lamentos do Senhor (com o Triságion como refrão) e o hino “Cruz fiel” (Missal Romano, pp. 261-266).

Se o número de fiéis for muito grande, depois da adoração dos ministros o sacerdote toma a cruz, a eleva por alguns instantes diante do altar e os fiéis a adoram em silêncio (cf. Paschalis Sollemnitatis, n. 67; Cerimonial dos Bispos, n. 323).

O Papa Francisco eleva a cruz para a adoração dos fiéis (2021)

3. Rito da Comunhão

Terminada a adoração da cruz, os ministros estendem sobre o altar a toalha (que deve ser sempre uma toalha branca; cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano, 3ª edição, nn. 117.304) e um corporal. Em seguida, colocam a cruz sobre o altar ou junto dele, ladeada pelos dois castiçais.

O diácono ou o próprio sacerdote recebe o véu umeral (que neste caso pode ser branco ou vermelho; cf. Cerimonial dos Bispos, n. 315d) e, acompanhado por dois acólitos com velas acesas, traz a âmbula com as hóstias consagradas até o altar pelo caminho mais curto. Os castiçais são colocados sobre o altar ou junto dele. Enquanto o Santíssimo Sacramento é conduzido ao altar, todos permanecem em pé e em silêncio (cf. Cerimonial dos Bispos, n. 325).

Transladação do Santíssimo Sacramento (2021)

Após o diácono colocar a âmbula sobre o altar e a descobrir, o sacerdote se aproxima, genuflete e convida à Oração do Senhor (Pai nosso): “Rezemos, com amor e confiança, a oração que o Senhor nos ensinou...” (Missal Romano, p. 267).

Rito da Comunhão (2013)

Ao Pai nosso, omitido o Amém, o sacerdote acrescenta o embolismo: “Livrai-nos de todos os males, ó Pai...”. Logo após o embolismo, omitido a oração e o rito da paz, o sacerdote genuflete, eleva uma hóstia sobre a âmbula e profere a aclamação: “Felizes os convidados para a Ceia do Senhor. Eis o Cordeiro de Deus...”, à qual o povo responde como de costume: “Senhor, eu não sou digno...” (Missal Romano, p. 268).

Segue-se a distribuição da Comunhão, como de costume. Durante o Pai nosso e seu embolismo, os ministros podem trazer as outras âmbulas, se houver, ao altar.

"Eis o Cordeiro de Deus..." (2012)

Depois da Comunhão, o diácono ou outro ministro leva a Reserva Eucarística para um lugar adequado fora da igreja. Se não for possível, coloca-a no sacrário (cf. Cerimonial dos Bispos, n. 328).

Igualmente após a Comunhão o sacerdote levanta-se e recita a Oração após a Comunhão: “Ó Deus, que nos renovastes...” (Missal Romano, p. 268). Em seguida, acrescenta imediatamente acrescenta a Oração sobre o povo: “Que a vossa bênção, ó Deus...” (ibid., p. 269).

O sacerdote dirige-se então à frente do altar, genuflete à cruz e todos se retiram em silêncio.

Após a celebração, desnuda-se novamente o altar. Porém, convém que permaneça sobre o altar ou junto dele a cruz ladeada por dois ou quatro castiçais. Se for oportuno, a cruz pode ser colocada também na capela da reposição para a adoração dos fiéis (cf. Paschalis Sollemnitatis, n. 71).

O Papa Francisco toca a cruz (2021)

Após a Celebração da Paixão do Senhor encerra-se o 1º dia do Tríduo Pascal, o “Dia do Crucificado”, que vai do pôr-do-sol da Quinta-feira Santa (com a Missa da Ceia do Senhor) ao pôr-do-sol da Sexta-feira Santa.

No 2º dia do Tríduo, o “Dia do Cristo Sepultado” (do pôr-do-sol da Sexta-feira Santa ao pôr-do-sol do Sábado Santo) não há nenhuma celebração litúrgica, salvo a Liturgia das Horas (particularmente o chamado Ofício das Trevas) e as práticas de piedade popular (Via Sacra, Procissão do Senhor Morto...).


Sobre as demais celebrações da Semana Santa, confira:

ALDAZÁBAL, José. Instrução Geral sobre o Missal Romano: Texto e Comentário. São Paulo: Paulinas, 2007.

CERIMONIAL DOS BISPOS. Cerimonial da Igreja. Tradução portuguesa da edição típica. São Paulo: Paulus, 1988, pp. 103-107.

CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Paschalis Sollemnitatis: A preparação e celebração das festas pascais. Brasília: Edições CNBB, 2018, pp. 25-28. Coleção: Documentos da Igreja, n. 38.

MISSAL ROMANO. Tradução portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1991, pp. 254-269.

Para acessar o texto completo da Carta Paschalis Sollemnitatis, clique aqui.

Postagem publicada originalmente em 05 de março de 2012. Revista e ampliada em 21 de fevereiro de 2022.

8 comentários:

  1. Obrigada por compartilhar. Ficou muito fácil i entendimento com as fotos

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  2. Salve Maria!

    André, por que tirar a casula para beijar a Cruz? É um costume ou está em algum documento?

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    1. Também faço a mesma pergunta para a questão de, na leitura da Paixão, não fazer o sinal da cruz e beijar o livro.

      Obrigado!

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    2. 1. Sobre a deposição da casula: é um gesto de despojamento, indicado pelo Cerimonial dos Bispos (n. 322). A 3ª edição do Missal Romano traz a mesma indicação. A deposição da casula é obrigatória, a dos sapatos é facultativa: "sem casula e, se lhe parecer bem, sem sapatos".

      2. A omissão dos gestos de reverência na narrativa da Paixão (sem incenso, velas, saudação, sinal da cruz e beijo no livro), tanto no Domingo de Ramos como na Sexta-feira Santa, também indicam o despojamento diante do mistério da Paixão (Cerimonial dos Bispos, nn. 273.319).

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  3. Andre, bom dia.
    O novo missal fala que o pano da cruz deve ser roxo na sexta feira, certo?

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    1. Não estou com a tradução do Missal comigo, mas a forma típica (em latim) afirma sim que na 1ª forma da adoração da cruz se usa um véu roxo (velo violaceo).

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  4. Obrigado André, verifiquei que o Cerimonial dos Bispos fala sobre o vei vermelho e tb no Vaticano se usa o vermelho pq essa diferença entre os documentos ?

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    1. O Cerimonial dos Bispos foi promulgado em 1984, a 3ª edição típica do Missal em 2002. Quando há conflito entre dois livros litúrgicos, vale sempre o mais recente.
      O Cerimonial na verdade não especifica a cor do véu, mencionando apenas "o véu" (n. 315) e "a cruz velada" (n. 321).
      O roxo provavelmente foi indicado no Missal em harmonia com as demais imagens da igreja, cobertas desde o V Domingo da Quaresma ou desde o final da Missa da Ceia do Senhor.
      Na dúvida, sempre é possível adotar a 2ª forma de apresentação da cruz, na qual esta é entronizada já descoberta.

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