Páginas

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Reciprocidade entre fé e sacramentos (1): Introdução

No ano de 2020 a Comissão Teológica Internacional publicou um documento intitulado "A Reciprocidade entre a Fé e os Sacramentos na Economia Sacramental". Por sua relevância em relação à Liturgia e por sua extensão (195 parágrafos), vamos propô-lo aqui no blog ao longo desta semana, dividido em seis partes.

Segue, pois, a primeira parte desse importantíssimo Documento, com o capítulo I e parte do capítulo II (nn. 1-41):

Comissão Teológica Internacional
A Reciprocidade entre a Fé e os Sacramentos na Economia Sacramental

Sumário:
1. Fé e sacramentos: Pertinência e atualidade
1.1 A oferta salvífica divina é baseada na inter-relação entre fé e sacramentos
1.2 Crise atual da reciprocidade entre fé e sacramentos
    a) Fé e sacramentos: Uma reciprocidade em crise
    b) Objetivo do Documento
2. Natureza dialogal da economia sacramental da salvação
2.1 O Deus trinitário: fonte e fim da economia sacramental
    a) Fundamento trinitário da sacramentalidade
    b) Sacramentalidade da criação e da história
    c) A Encarnação: Centro, cume e chave da economia sacramental
    d) A Igreja e os sacramentos na economia sacramental
    e) Os eixos da economia sacramental


1.1 A oferta salvífica divina é baseada na inter-relação entre fé e sacramentos

1. [Partindo da Escritura...]. “Minha filha, a tua fé te salvou; vai em paz, fique curada desse teu mal” (Mc 5,34). No meio da multidão que o espremia (Mc 5,24.31), a hemorróissa toca Jesus com fé e recebe uma cura, como símbolo da salvação que Jesus traz à humanidade [1]. O caso da hemorróissa mostra como a fé nasce do “encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” [2]. A fé se situa no campo das relações interpessoais. Muitos doentes tentaram tocar em Jesus (cf. Mc 3,10; 6,56) “porque dele saía uma força que a todos curava” (Lc 6,19). Contudo, ele não realizou muitos milagres em Nazaré, “por causa da incredulidade deles” (Mt 13,58), nem tampouco satisfez a curiosidade de Herodes (Lc 23,8). A humanidade de Jesus Cristo é um canal eficaz para a salvação de Deus. No entanto, essa eficácia não assume um caráter automático; requer um contato adequado com ela: humilde, suplicante, aberta ao presente [3]. Todas essas atitudes levam à fé, como o meio mais adequado para receber a oferta da salvação. “A fé é acima de tudo uma adesão pessoal do homem a Deus” [4], revelado em Jesus Cristo. Os sacramentos da Igreja prolongam no tempo as obras de Cristo realizadas durante a sua vida terrena. Neles se atualiza a força sanadora que emana do corpo de Cristo, que é a Igreja, para curar a ferida do pecado e doar a nova vida em Cristo.

2. [E da Tradição]. Na economia trinitária da salvação há um rico entrelaçamento entre fé e sacramentos: “Fé e Batismo são, no entanto, dois modos de salvação mutuamente inerentes e inseparáveis, pois a fé, em efeito, se aperfeiçoa através do Batismo, e o Batismo, por sua vez, se fundamenta na fé, e ambos alcançam sua plenitude pelos mesmos nomes. De fato, assim como cremos no Pai, no Filho e no Espírito Santo, também somos batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. E, certamente, prossegue a confissão de fé, que introduz na salvação, mas é seguida pelo Batismo, que sela nosso consentimento” [5].
O relacionamento pessoal com o Deus trino é realizado através da fé e dos sacramentos. Entre a fé e os sacramentos se dá uma ordenação mútua e uma circularidade; em uma palavra: uma reciprocidade essencial. No entanto, como Basílio atesta no texto há pouco citado, a confissão de fé precede à celebração sacramental; enquanto a celebração sacramental garante, sela, fortalece e enriquece a fé. Sem dúvida, hoje, na prática pastoral, essa interação é frequentemente obscurecida ou mesmo ignorada.

Alegoria da "Fé" de Rafael Sanzio (séc. XV-XVI)
(Note-se o cálice e a hóstia em referência ao sacramento da Eucaristia)

1.2 Crise atual da reciprocidade entre fé e sacramentos

a) Fé e sacramentos: uma reciprocidade em crise

3. [Constatação]. A Comissão Teológica Internacional, já em 1977, referindo-se ao sacramento do Matrimônio, advertiu a existência de “batizados não-crentes” que exigiam o sacramento do Matrimônio. Esta Comissão dizia que esse fato levanta “questões novas” [6], com significado profundo. Desde então, essa realidade não parou de crescer e gerar desconforto na celebração dos sacramentos. Além disso, esse problema não se limita exclusivamente ao sacramento do Matrimônio, mas abrange todo o organismo sacramental. Em particular na Iniciação Cristã, onde, por sua própria natureza, a reciprocidade entre a fé e os sacramentos deveria ser selada, se detecta com bastante frequência preocupação e a inquietação.

4. [Raízes teológico-filosóficas]. Embora a dissociação entre fé e sacramentos se deva a fatores diversos, dependendo dos contextos sociais e culturais, uma análise que não deseja permanecer em um nível superficial deve se perguntar sobre as raízes últimas dessa ruptura.
Em primeiro lugar, além de possíveis deficiências na catequese e certas unilateralidades culturais contra o pensamento sacramental, existe um fator filosófico profundamente enraizado que destrói a lógica sacramental. Uma extensa linha de pensamento, que parte da Idade Média (nominalismo) e atinge a Modernidade, é caracterizada por um dualismo antimetafísico que dissocia o pensamento do ser e rejeita categoricamente todo tipo de pensamento de caráter representativo, como acontece hoje na pós-modernidade. Essa perspectiva rejeita o sinal do Criador na criação, ou seja, que a criação seja um espelho (imagem sacramental) do próprio pensamento do Criador. Dessa maneira, o mundo já não aparece mais como uma realidade expressamente ordenada por Deus, senão como um mero caos de fatos, que o ser humano deve ordenar com seus conceitos. Contudo, se os conceitos humanos já não são mais algo como “sacramentos” do Logos divino, mas meras construções humanas, então há uma dissociação subsequente entre o ato pessoal da fé (fides qua) e qualquer representação conceitual compartilhada sobre seu conteúdo (fides quae). Em suma, e como aspecto decisivo, quando a capacidade da razão de conhecer a verdade do ser (metafísica) é negada, está sendo implicada a impossibilidade de aceder ao conhecimento da verdade de Deus [7].
5. Em segundo lugar, o saber científico e tecnológico, hoje tão prestigiado, tende a se impor como modelo único em todos os campos do conhecimento e para todo tipo de objeto. Sua orientação radical para a certeza de tipo empírico e naturalista se opõe não apenas ao conhecimento metafísico, mas também ao conhecimento de tipo simbólico. Embora o conhecimento científico destaque a capacidade da razão humana, no entanto, não esgota todas as dimensões da razão e do conhecimento, e também não cobre todas as necessidades cognitivas de uma vida humana plena. O pensamento simbólico, com sua riqueza e plasticidade, por um lado, recolhe e elabora reflexivamente as dimensões éticas e afetivas da experiência, e, por outro, toca e transforma a estrutura espiritual e cognitiva do sujeito. Por isto, juntamente com todas as tradições religiosas da humanidade, a transmissão da revelação, com seu concomitante conteúdo cognitivo, situa-se no campo simbólico, não no campo empírico e naturalista. A realidade sacramental da participação no mistério da graça só pode ser entendida na unidade dessa dupla dimensão da experiência simbólica: cognitiva e performativa. Onde reina o paradigma cientificista, cego ao pensamento simbólico, se obstrui o pensamento sacramental [8].
6. Em terceiro lugar, devemos ainda apontar uma mudança cultural significativa, característica da nova civilização da imagem, que coloca um novo problema para o esclarecimento teológico da fé sacramental. Embora seja verdade que a modernidade racionalista minimizou o valor cognitivo do símbolo, a pós-modernidade contemporânea exalta com grande intensidade o poder performativo das imagens. Assim, torna-se necessário superar o preconceito racionalista (moderno) contra o valor cognitivo do simbólico, sem cair no excesso oposto (pós-moderno), que redireciona a efetividade do símbolo para o poder emocional da representação, desprovido de referência. Em outras palavras, a inteligência cristã deve preservar a originalidade do sacramento cristão do risco de um duplo esvaziamento. De um lado, a redução do símbolo-sacramento à condição de mero sinal cognitivo, que simplesmente reúne mais facilmente os significados doutrinários da fé, sem operar nenhuma transformação (eliminação da dimensão performativa). Por outro lado, a redução do símbolo-sacramento à pura sugestão estética feita por meio de sua encenação ritual, de acordo com a lógica de uma mera representação que substitui a adesão interna à realidade simbolizada do mistério (supressão da dimensão cognitiva).

7. [Distorções da fé]. Nas sociedades de hoje existem outros fenômenos que dificultam o crer, tal como é proposto pela fé católica. O ateísmo e a relativização do valor de todas as religiões avançam em muitas partes do planeta. O secularismo corrói a fé, semeia a dúvida, em vez de fertilizar a alegria de crer. A ascensão do paradigma tecnocrático [9] implanta uma lógica contrária à fé, que está fundamentada sobre uma relação pessoal. A redução emocional da fé produz uma crença subjetiva, regulada pelo próprio sujeito, que se afasta da lógica objetiva marcada pelos conteúdos da fé cristã. A cultura cientificista, já mencionada, tende a negar a possibilidade do relacionamento pessoal com Deus e sua capacidade de intervir na vida pessoal e na história. A objetividade do Credo e a determinação de condições para a celebração dos sacramentos são entendidas, segundo uma crescente sensibilidade cultural, como uma coação da liberdade de acreditar de acordo com a própria consciência. Tal modo de pensar se utiliza de uma concepção insuficiente de liberdade, que pretende defender. Deste tipo de premissas, se produz um tipo de crença ou um modo de crer que não se encaixa na concepção cristã nem se correlaciona com a prática sacramental que a Igreja propõe.

8. [Fracassos pastorais] No período posterior ao Vaticano II, também houve algumas atitudes generalizadas entre os fiéis e os pastores que, de fato, debilitaram a correspondência saudável entre fé e sacramentos. Assim, em algumas ocasiões, a pastoral de evangelização foi entendida como se esta não incluísse a pastoral sacramental, perdendo, desse modo, o equilíbrio entre Palavra de Deus, evangelização e sacramentos. Outros não compreenderam que o primado da caridade na vida cristã não implica menosprezo dos sacramentos. Alguns pastores concentraram seu ministério na edificação da comunidade, negligenciando o lugar decisivo dos sacramentos para o fim desse propósito. Em alguns lugares, faltou uma avaliação teológica e um acompanhamento pastoral da piedade popular católica, para ajudá-la a crescer na fé e, assim, alcançar uma Iniciação Cristã plena e uma participação sacramental frequente. Por fim, não poucos católicos chegaram à ideia de que a substância da fé reside em viver o Evangelho, desprezando o ritual como estranho ao coração do Evangelho e, consequentemente, ignorando que os sacramentos promovem e fortalecem a vivência intensa do próprio Evangelho. Isso aponta, portanto, para a necessidade de uma articulação adequada de martyria, leitourgía, diakonía e koinonía.

9. [Resultado]. Não poucas vezes, os agentes pastorais recebem o pedido de recepção dos sacramentos com grandes dúvidas sobre a fé e a intenção daqueles que os exigem. Muitos outros acreditam que podem viver sua fé em plenitude, prescindindo da prática sacramental, que consideram opcional e de disposição livre. Com acentos diversos, mas generalizados, existe certo perigo: seja pelo ritualismo desprovido de fé, devido à falta de interioridade ou ao costume social e a tradição; seja por uma privatização da fé, reduzida ao espaço interior da consciência e de seus sentimentos. Nos dois casos, a reciprocidade entre fé e sacramentos é violada.

b) Objetivo do Documento

10. [Objetivo do Documento]. Propomo-nos destacar a reciprocidade essencial entre fé e sacramentos, mostrando a mútua implicação entre fé e sacramentos na economia divina. Dessa forma, esperamos contribuir para superar a ruptura entre fé e sacramentos, onde quer que ocorra, em sua dupla vertente: ou uma fé que não está ciente de sua sacramentalidade essencial, ou uma práxis sacramental realizada sem fé ou cujo vigor levanta sérias questões a respeito da fé e da intenção de acordo com a fé que a prática dos sacramentos requer. Nos dois casos, a prática e a lógica sacramental, situadas no coração da Igreja, sofrem uma ferida grave e preocupante.

11. [Estrutura]. Tomamos como ponto de partida a índole sacramental da economia divina [10], em que a fé e os sacramentos estão inseridos (cap. 2). Elaboramos uma intelecção da economia, que inclui simultaneamente: a economia divina como tal, em suas dimensões trinitária, cristológica, pneumatológica, eclesial e dialógica (fé); o lugar na mesma, assim entendido, da fé e dos sacramentos; e a reciprocidade predominante entre fé e sacramentos, que daí se deriva. Essa compreensão constitui a base teológica a partir da qual será abordada a problemática específica da inter-relação entre fé e sacramentos em cada um dos sacramentos que serão abordados posteriormente. Este capítulo mostra que a celebração de um sacramento sem fé carece de sentido por contradizer a lógica sacramental que sustenta a economia divina, que é constitutivamente dialógica.
12. Em seguida, se desenvolverá a incidência de reciprocidade entre fé e sacramentos em alguns dos sacramentos mais afetados pastoralmente pela crise dessa reciprocidade, seja em seu entendimento seja na sua práxis, como são os sacramentos da Iniciação Cristã (cap. 3). À luz da elucidação doutrinária do papel específico da fé para a validade e fecundidade de cada sacramento, oferecemos alguns critérios para elucidar qual fé é necessária para a celebração de cada um dos sacramentos de Iniciação. Em uma etapa posterior (cap. 4), abordamos a inter-relação entre fé e sacramentos no caso do Matrimônio. Por sua própria natureza, nos detemos em uma questão que a reciprocidade entre fé e sacramentos não pode deixar de lado: a elucidação de se a união conjugal entre “batizados não-crentes” deva ser considerada um sacramento. Trata-se de um caso particular em que, na verdade, a articulação da reciprocidade entre fé e sacramentos na economia é posta à prova, como sustenta o segundo capítulo. Finaliza-se com uma breve conclusão (cap. 5), na qual, em um plano mais geral, a reciprocidade entre fé e sacramentos na economia sacramental é retomada.

13. [Caráter doutrinal]. A intenção do Documento é claramente doutrinal. Certamente parte-se de uma problemática pastoral, diferenciada para cada um dos sacramentos abordados. No entanto, não se pretende oferecer pistas pastorais concretas nem específicas para cada uma deles. Desejamos insistir no lugar fundamental da fé na celebração de cada sacramento, sem deixar fora a precisão doutrinária sobre a fé necessária para a sua validade. A partir daí, podem ser extraídos alguns critérios gerais de orientação para a ação pastoral, como fazemos no final da abordagem de cada um dos sacramentos em consideração, mas sem entrar em detalhes e, muito menos, em casuística ou fornecer o discernimento necessário de cada caso em particular.

14. [Seleção]. Estamos conscientes de que a situação pastoral em torno de outros sacramentos, como a Penitência e a Unção dos Enfermos, também sofre sérias deficiências. Não raramente, se chega à participação plena na Eucaristia sem consciência alguma da necessidade de reconciliação prévia com Deus e com a comunidade eclesial, da qual nos separamos e que prejudicamos em sua realidade de Corpo visível de Cristo com nosso pecado. Há uma dissociação entre a vida eucarística e a prática da Reconciliação por parte de muitos fiéis e, inclusive, de alguns ministros ordenados, ignorando a unidade harmoniosa de todo o organismo sacramental da Igreja na prática de sua fé cristã, onde não é possível escolher subjetivamente quais sacramentos “consumir” e quais desprezar. Também se vive com frequência a Unção dos Enfermos cercada por elementos mágicos, como se fosse uma espécie de “encantamento”, invocando uma intervenção milagrosa de Deus ou do Espírito divino, sem uma relação pessoal com Cristo, Salvador da pessoa, tanto de seu corpo quanto de sua alma. Os limites da extensão nos obrigam a nos concentrar naqueles sacramentos que compõem a Iniciação Cristã e o Matrimônio, todos eles de importância excepcional para a construção e fortalecimento do Corpo de Cristo. A maneira pela qual esses sacramentos são abordados, bem como as alusões eventuais aos outros sacramentos e o marco teológico geral oferecida, permitirão extrair consequências para aqueles sacramentos que não podemos considerar monograficamente.



15. [Introdução: Plano e objetivo]. Neste capítulo fazemos uma dupla incursão de ordem geral, a fim de discernir a reciprocidade entre fé e sacramentos. Na primeira seção consideramos a economia divina, descobrindo nela uma natureza sacramental [11]. Isso nos permite aprofundar a sacramentalidade como uma dimensão constitutiva dela. A análise da sacramentalidade como tal exige, por si mesma, adentrar-se na fé, destacando assim a interconexão entre fé e sacramentalidade e, também e mais especificamente, entre fé e sacramentos. Concluímos esta seção com uma recapitulação dos eixos constitutivos da economia sacramental mais destacados em nossa exposição. Com isso, em um primeiro momento, se ilumina a reciprocidade entre fé e sacramentos. Na segunda seção, nos detemos na consideração da fé, de um lado, e dos sacramentos da fé como tais, por outro lado, mostrando, não obstante, a íntima conexão entre fé e sacramentos em ambos os casos. A fé é constitutivamente predisposta à celebração sacramental. A natureza dialógica dos sacramentos exige uma fé adequada em sua celebração. Ambas as seções deste capítulo têm um teor complementar, o que nos permite mostrar tanto a amplitude quanto a profundidade da reciprocidade entre fé e sacramentos, com suas diversas ramificações. O capítulo se encerra com uma breve conclusão.

2.1 O Deus trinitário: fonte e ápice da economia sacramental

a) Fundamento trinitário da sacramentalidade

16. [Sacramentalidade: Conceito]. Pertence à lógica sacramental a correlação inseparável entre uma realidade significante, com uma dimensão externa visível, por exemplo, a humanidade integral de Cristo, e outra, significada, de caráter sobrenatural, invisível, santificante, por exemplo, a divindade de Cristo [12]. Quando falamos de sacramentalidade, nos referimos a essa relação inseparável, de tal maneira que o símbolo sacramental contenha e comunique a realidade simbolizada. Isso pressupõe que toda a realidade sacramental inclua, por si mesma, um relacionamento inseparável com Cristo, fonte da salvação, e com a Igreja, depositária e dispensadora da salvação de Cristo.

17. [Deus trino: Raiz]. A compreensão da lógica sacramental supõe entender como opera a economia divina da salvação, que brota do Deus trinitário, comunhão de pessoas distintas na unidade de uma única substância divina, e da Encarnação redentora, na qual o Verbo eterno, sem detrimento de sua divindade irrestrita, assume nossa humanidade com todas as suas consequências. Essa estrutura afirma claramente a presença do próprio Deus na humanidade de Jesus Cristo, o Verbo enviado pelo Pai, que se encarnou da Virgem Maria por obra do Espírito Santo. O encontro com a humanidade de Jesus Cristo, ungido pelo Espírito Santo para sua missão pública, é, por meio da fé, encontro com o Verbo encarnado. É através dessas chaves que se compreende como é possível que uma palavra sensível, sacramental, perceptível por nós, os humanos, seja simultaneamente a verdadeira palavra de Deus. As pessoas humanas somente são capazes de perceber, experimentar e se comunicar de modo “humano”, também para entrar em relação com Deus. Como os sinais sacramentais ou as palavras sagradas da Escritura podem ser mais do que meras criações humanas e conter a presença do próprio Deus? Para que haja uma comunicação verdadeira, não é suficiente a emissão de uma mensagem, mas é necessária a acolhida. Se Deus Pai tivesse falado conosco em Jesus Cristo e ninguém tivesse ouvido sua mensagem (fé), a comunicação entre Deus e a humanidade não teria ocorrido. Sem dúvida, de acordo com o testemunho do Novo Testamento, quem entra em relacionamento com o homem Jesus se relaciona com o Deus mesmo, com o Verbo encarnado. O Espírito Santo é quem age de modo que a Palavra de Deus, encerrada na limitação da humanidade de Jesus, seja percebida pelos crentes como a Palavra de Deus. Gregório Nazianzeno assim expressa essa realidade: “a partir da luz, que é o Pai, entendemos a luz que é o Filho na luz do Espírito”. E acrescenta: “teologia breve e simples da Trindade” [13].

18. [Fé como acolhida dialogal da revelação sacramental]. Assim, pois, não apenas entra em jogo a inseparabilidade da humanidade de Jesus com a Palavra de Deus, mas também a recepção pelos crentes (fé) desta Palavra, enquanto divina, mediante a intervenção do Espírito Santo. Aqui reside a lógica sacramental, mediante a qual Deus mesmo se dá nos sacramentos. A sacramentalidade primária de Jesus Cristo, aquela derivada da Igreja e aquela dos sete sacramentos se fundamentam na fé trinitária. Só se Jesus Cristo é Deus verdadeiro nos pode revelar a face de Deus. Mas, nesse caso, a comunhão sacramental com Jesus Cristo é comunhão sacramental com Deus. Se o Espírito Santo é Deus verdadeiro, então pode nos abrir para Deus e nos introduzir na vida divina por meio dos sinais sacramentais [14].

19. [Estabelecimento da sacramentalidade]. Dado que a Revelação acontece de maneira sacramental, o elemento sacramental deve permear toda a existência crente e a própria fé. De fato, da sacramentalidade da Revelação, da graça e da Igreja segue a sacramentalidade da fé, como acolhida e resposta a essa Revelação (cf. Dei Verbum, n. 5). A fé é gerada, cultivada, cresce e se expressa na sacramentalidade, nesse encontro com o Deus vivo através das mediações pelas quais Ele mesmo se doa. Assim, a sacramentalidade é o lar da fé. Mas também, nessa dinâmica, a fé se manifesta como a porta (cf. At 14,27) de acesso ao sacramental: ao encontro e ao relacionamento com o Deus cristão na criação, na história, na Igreja, na Escritura [15] e nos sacramentos. Sem a fé, os símbolos de natureza sacramental não atualizam seu significado, mas os emudecem. A sacramentalidade implica comunicação e comunhão pessoal entre Deus e o crente por meio da Igreja e das mediações sacramentais.

20. [Correlação da sacramentalidade com a antropologia]. A pessoa humana é um espírito encarnado [16]. Nós, seres humanos, não somos nem uma simples matéria inanimada nem um espírito incorpóreo angelical. O que nos define com mais autenticidade é a união complementar entre o material-corporal, visível, e o espiritual-incorpóreo, que não está desligado do material e se dá a conhecer através dele. O caso do rosto pessoal, que é a expressão de um corpo material, manifesta de modo magnífico essa união entre nosso ser material, a face, e a nossa realidade espiritual, estado de ânimo e identificação pessoal. A pessoa toda se manifesta no rosto. A estrutura sacramental da Revelação divina tem presente nossa realidade mais autêntica [17]. Adapta-se ao nosso ser mais radical, à nossa capacidade e à nossa maneira de interagir nas dimensões mais profundas da comunicação. Os encontros mais profundos entre as pessoas humanas são sempre de natureza interpessoal. O encontro com Deus participa dessa natureza: é um encontro pessoal com o Deus trinitário que se faz presente nas Escrituras, na Igreja, nos sinais sacramentais.

21. [Sacramentalidade da fé]. A “sacramentalidade da fé”, no fundo, formula uma redundância, pois toda fé cristã é fé sacramental, graças à mediação da Igreja durante a nossa peregrinação para a pátria celestial. A fé é a acolhida e a resposta à revelação sacramental de Deus; e a fé se expressa a si mesma e se alimenta de maneira sacramental, sendo incapaz de não fazê-lo para ser verdadeira fé cristã. A partir desta perspectiva, os sacramentos são basicamente entendidos como um ato de fé eclesialA fé da Igreja precede, gera, sustenta e nutre a fé do cristão. A fé, por sua vez, não é estranha ao sacramental, mas na sua própria essência é constituída e impregnada por uma lógica sacramental. Por essa razão, entram em jogo na relação entre fé e sacramentos dois elementos que se encontram em íntima reciprocidade: os sacramentos, que pressupõem e nutrem a fé pessoal e eclesial, e a necessária expressão sacramental da fé. Os sacramentos, portanto, se configuram como um tipo de representação anamnética que atualiza e torna visível a fé.

A Trindade: fonte da economia sacramental

b) Sacramentalidade da criação e da história

22. [Deus criador]. Segundo o testemunho bíblico, a criação (por exemplo, Gn 1–2) é o primeiro passo da economia divina. A compreensão cristã sustenta o caráter livre da criação. Deus não cria por necessidade nem por falta de algo, pois, se assim fosse, ele não seria Deus em verdade, mas pela abundância transbordante de amor que Ele mesmo é, com o objetivo de distribuir seus bens a seres capazes de acolhê-los e de responder pela lógica de amor que preside à própria criação [18].

23. [Sacramentalidade da criação]. O Pai realiza o desígnio criador através do Verbo e do Espírito. Por essa razão, a mesma criação contém o traço de ter sido plasmada pelo Verbo e estar guiada pelo Espírito para sua finalização no próprio Deus. Como Deus molda sua marca na criação, a teologia fala de certa “sacramentalidade da criação”, em um sentido analógico, na medida em que, por ela mesma, em seu próprio ser criativo constitutivo, há uma referência ao seu Criador (cf. Sb 13,1-9; Rm 1,19-20; At 14,15-17; 17,27-28), o que permite que logo seja elevado e consumado na obra redentora, sem forçar de forma extrínseca. Nesse sentido, se falou do livro da natureza [19].

24. [Pessoa humana: Responde a Deus]. Dentro da criação visível, a pessoa humana se destaca por ter sido criada à imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26). São Paulo sublinha a dimensão cristológica dessa imagem: é Cristo, que é a imagem do Deus invisível (Cl 1,15; 2Cor 4,4), pois o primeiro Adão era a figura daquele que devia vir (cf. Rm 5,14). Isso faz da pessoa humana um ser no qual o dom que Deus faz de si mesmo na criação pode encontrar uma resposta pessoal e livre. Sendo à imagem de Deus, a pessoa humana também realiza mais profundamente seu próprio ser (identidade) quanto mais se entrega em uma relação de amor (alteridade).
25. A rica realidade da pessoa humana como imago Dei inclui vários aspectos, entre os quais se destaca, mediante a semelhança divina, a capacidade de responder a Deus, assimilando o próprio ser ao divino [20]. Entre eles destacam-se a comunhão e o serviço [21]. Se o Deus trinitário é essencialmente comunhão e relação interpessoal, a pessoa humana, como imagem de Deus, foi criada para viver em comunhão e relação interpessoal. Isso se expressa de maneira magnífica na diferença sexual: “Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou” (Gn 1,27). Assim, a pessoa humana alcança seu próprio ser na medida em que desenvolve sua relacionalidade e sua capacidade de comunhão: com outros seres humanos, com a criação e com Deus. Em Jesus Cristo resplandece em sua plenitude o exercício dessa dinâmica de comunhão e de relação. A vida filial, que n’Ele se mostra, manifesta a altura da vocação humana (cf. Gaudium et Spes, nn. 10.22.41).
26. Como um ser relacional e criado para a comunhão, a pessoa humana pode ser definida pela linguagem. Ora, a linguagem é uma realidade de ordem simbólica, que aponta, por um lado, para a expressão daquilo que a realidade é nela mesma (criação de Deus) e, por outro, para a comunicação interpessoal (comunhão). Como ser simbólico, criado à imagem de Deus, a pessoa alcança sua realidade mais autêntica na medida em que inscreve a realização de seu ser em um campo específico de expressão simbólica, no qual se desenvolve toda a riqueza de seu próprio ser: como ser criatural, como ser inter-relacional e como ser chamado à comunhão com Deus. Os sacramentos recolhem com fluidez, expressam, desenvolvem e potencializam essa rica estrutura.
27. Como um sinal eloquente da sua dignidade e amizade com Deus, o homem também recebe o encargo de exercer um governo delegado sobre a criação (Gn 2,15; cf. 1,28; Sb 9,2), nomeando todas as demais criaturas (Gn 2,19-20) e cuidando delas segundo o desígnio divino [22]. Por isso, a atividade humana no mundo está direcionada para a glorificação de Deus, reconhecendo nele o traço do criador (cf. Gaudium et Spes, n. 34). Desse modo, a pessoa humana conduz a criação, através de um tipo de “sacerdócio cósmico”, em direção a sua verdadeira finalidade: a manifestação da glória de Deus.

28. [Sacramentalidade da história]. O desejo de Deus de comunicar seus dons não se restringe a deixar o traço de seu amor na criação. A história do povo de Israel como um todo pode ser adequadamente contemplada como uma história de amor de Deus com seu povo. Dentro desta história destacam-se alguns acontecimentos especiais, que prefiguram aspectos essenciais, que fundam a relação sacramental de Deus com seu povo, que alcançará seu ponto culminante com Cristo. Em todos eles se observa uma percepção visível do modo como Deus se relaciona com seu povo, agraciando-o. Assim, neles se descobre um tipo de primeira gramática para a constituição posterior da linguagem sacramental sensu stricto. Entre esses acontecimentos, dos quais podemos fazer uma leitura de tipo sacramental, se encontram: a eleição de Abraão, de Davi e dos israelitas e o dom da Lei, que se tornaram a base de todo discurso sacramental; as múltiplas alianças, dentro do único desígnio divino, em que se estabelece uma nova relação entre Deus e a humanidade, nas quais se atua de modo especial a sacramentalidade; a libertação de Israel do Egito, o exílio e o retorno a Jerusalém, em que de um modo novo se antecipa tanto a futura salvação de Cristo como se representa em figura (typos) a função sacramental da Igreja; a presença de Deus no meio de seu povo no Tabernáculo e no Templo, que adquirirá uma densidade particular em Cristo e nos sacramentos cristãos. Israel recordará e atualizará liturgicamente essa densidade da presença de Deus através de diferentes ritos cultuais (por exemplo, sacrifícios), sinais sagrados (por exemplo, a circuncisão) e festas (por exemplo, a Páscoa), sempre iluminados pela leitura da Palavra. A teologia cristã designa essas realidades como sacramentos da Lei antiga e lhes atribui um componente salvífico por sua referência a Cristo [23] e em proporção à fé daqueles que as celebraram (ex opere operantis). Portanto, se descobre que a mesma história de salvação possui certa índole sacramental [24]. Mediante acontecimentos históricos, sinais e palavras, estreitamente entrelaçados, o próprio Deus se aproxima de seu povo e comunica a sua vontade, seu amor, sua predileção, ao mesmo tempo em que lhe indica o caminho da amizade com Deus e a vida humana mais verdadeira.

29. [Pecado]. Ao longo da história, muitos crentes de todos os tempos viveram em amizade com Deus, acolhendo seu dom e respondendo generosamente à misericórdia e à fidelidade de Deus. No entanto, também é verdade que, apesar da insistência de Deus, os homens nem sempre acolhem essa oferta de amor. Desde o início, não apenas existe a tentação de ignorar o caminho da amizade com Deus, como o melhor meio de realizar o que significa ser pessoa humana, mas também se rejeita a sua oferta (Gn 3). A história de Israel, e a da humanidade, podem ser entendidas como uma busca ansiosa de Deus para conquistar novamente a amizade cordial com o homem quando essa se perdeu (por exemplo, Ez 16). A partir daqui, se percebe o profundo sentido de que muitos dos sinais cultuais de caráter salvífico do Antigo Testamento contenham um significado de expiação ou reconciliação com Deus (por exemplo, abluções, sacrifícios).

c) A Encarnação: Centro, cume e chave da economia sacramental

30. [Jesus Cristo: Ur-Sakrament]. O desejo de Deus de doar-se adquire seu ápice insuperável em Jesus Cristo (cf. Dei Verbum, n. 2). Em virtude da união hipostática (cf. DH 301-302), a humanidade de Cristo, verdadeiro homem, “em tudo como nós, com exceção do pecado” (Hb 4,15), é a humanidade do Filho de Deus, do Verbo eterno encarnado “por nós e para nossa salvação” (cf. DH 150). A teologia recente afirma que Jesus Cristo é o sacramento primordial (Ur-Sakrament) e a chave da estrutura sacramental da história da salvação. Em síntese, em Jesus Cristo descobrimos que a economia divina da salvação, por ser encarnatória, é sacramental [25]. Por esse motivo, pode-se afirmar verdadeiramente que “os sacramentos estão no centro do Cristianismo. A perda dos sacramentos equivale à perda da Encarnação e vice-versa” [26]. Porque em Jesus Cristo, como o ápice da história e plenitude do tempo salvífico (Gl 4,4), acontece a unidade mais estreita possível entre um símbolo criatural, sua humanidade, e o que é simbolizado, a presença salvadora de Deus em seu Filho em meio a história. A humanidade de Cristo, como humanidade inseparável da pessoa divina do Filho de Deus, é “símbolo real” da pessoa divina. Nesse caso supremo, o que é criado comunica em grau máximo a presença de Deus.

31. [A humanidade do Crucificado glorioso: Fundamento dos sacramentos]. Consequentemente, a humanidade de Cristo está intrinsecamente capacitada para que Ele seja o “mediador e a plenitude de toda Revelação” (Dei Verbum, n. 2), de maneira qualitativamente insuperável em relação a qualquer outra realidade criatural, uma vez que é a humanidade própria do Filho de Deus (cf. Hb 1,1-2). Aquilo para o qual a criação apontava de modo aproximativo se realiza eminentemente na humanidade de Jesus Cristo. Todas as ações e palavras de Jesus Cristo, o Verbo eterno encarnado, ungido pelo Espírito, ficam qualificadas pela Encarnação. De tal maneira que, através de suas palavras, suas obras, e a manifestação de toda a sua pessoa, Ele nos transmite a Revelação de Deus (cf. Dei Verbum, n. 4) Assim, o próprio Jesus Cristo é o mistério de Deus transmitido e revelado aos seres humanos (cf. Cl 2,2-3; 1,27; 4,3), presente nos diferentes mistérios salvíficos de sua vida: Nascimento, Batismo, Transfiguração, etc. Contudo, o desdobramento do mistério de Cristo atinge seu ápice na Morte e na gloriosa Ressurreição, seguidas pelo dom do Espírito (cf. Dei Verbum, n. 4) Aí a revelação do amor de Deus ao extremo (cf. Jo 13,1) e sua força redentora são condensadas com uma intensidade sublime e intransponível. Como resultado, ocorre a condenação do pecado (cf. Cl 2,13-14) e a abertura para participar da vida eterna do Ressuscitado, mediante o dom do Espírito, que nos torna participantes da natureza divina (cf. 2Pd 1,4). É assim que entendemos que Jesus Cristo concentra o fundamento e a fonte de toda a sacramentalidade, que depois se desdobra nos diferentes sinais sacramentais que geram a Igreja, de onde se recolhem aspectos únicos e momentos densos de sua vida: perdão dos pecados (Penitência), cura dos enfermos (Unção dos Enfermos), Morte e Ressurreição (Batismo e Eucaristia), eleição e instituição de discípulos como pastores da comunidade (Ordem), etc. A lógica sacramental, inscrita na revelação trinitária, se prolongada e se condensa nos sacramentos, nos quais Cristo se faz presente de maneira particularmente intensa (Sacrosanctum Concilium, n. 7). A estrutura e a lógica sacramental da fé derivam de Jesus Cristo, o Verbo encarnado e redentor [27].
32. Com efeito, Jesus não nos comunica simplesmente algo importante sobre Deus. Ele não é simplesmente um mestre, um mensageiro ou um profeta, mas a presença pessoal do Verbo de Deus na criação. Dado que Ele, como homem verdadeiro, é inseparável de Deus, a quem chama de “Pai”, a comunhão com Ele significa comunhão com Deus (Jo 10,30; 14,6.9). O Pai quer levar todos os seres humanos à comunhão com Jesus Cristo através do Espírito Santo. Jesus Cristo é, ao mesmo tempo, o caminho que leva à vida e a própria vida (Jo 14,6). Em outras palavras: “Ele é, ao mesmo tempo, o Salvador e a Salvação” [28]. Com os sacramentos do Verbo celebrados no Espírito, especialmente com o memorial de sua Morte e Ressurreição, nos é oferecido um caminho e um remédio após a perda do pecado, para nos aproximar da comunhão e do relacionamento pessoal com Deus mediante a participação na vida de Cristo, inserindo-nos n’Ele. Deste modo se realiza a obra de salvação, que completa e culmina seu início com a criação. No entanto, Deus faz com que a aceitação desse dom dependa da cooperação dos destinatários. Como manifesta exemplarmente o caso da Virgem Maria, modelo eclesial do discípulo, a graça respeita a liberdade, enquanto ela não se impõe de maneira coerciva sem o consentimento da liberdade (Lc 1,38), mesmo que o consentimento seja possível pela própria graça (Lc 1,28).

Jesus Cristo, sacramento primordial
("El Salvador Eucarístico", Juan de Juanes - séc. XVI)

d) A Igreja e os sacramentos na economia sacramental

33. [Igreja: Grund-Sakrament]. A tangibilidade histórica da graça, que se tornou historicamente presente em Jesus Cristo, permanece de modo privilegiado na Igreja, mas de forma derivada, pela obra do Espírito Santo [29]. Ao ser da Igreja pertence uma estrutura visível e histórica, a serviço da transmissão da graça invisível, que ela mesma recebe de Cristo e transmite graças ao Espírito. Há uma analogia notável entre a Igreja e o Verbo Encarnado (cf. Lumen Gentium, n. 8; Sacrosanctum Concilium, n. 2). A partir dessas premissas, a teologia contemporânea aprofundou a compreensão da Igreja como sacramento fundamental (Grund-Sakrament), em uma linha próxima à compreensão do Vaticano II da Igreja como sacramento universal da salvação [30]. Como sacramento, a Igreja está a serviço da salvação do mundo (Lumen Gentium, n. 1; Gaudium et Spes, n. 45) e da transmissão da graça, cuja recepção a tornou um sacramento. A sacramentalidade comporta sempre um caráter missionário, de serviço ao bem dos outros.
34. Contudo, também enquanto sacramento, na própria Igreja já existe uma perceptibilidade da graça de Deus, da irrupção do reino de Deus. Assim, se por um lado a Igreja está a serviço da instauração do reino de Deus; por outro lado, nela já se dá a presença do reino de Cristo em mistério (Lumen Gentium, n. 3). Dotada desses meios de graça, ela pode realmente ser o gérmen e o início do reino [31] (Lumen Gentium, n. 5). Como peregrina e formada por pecadores, não se dá uma identificação total entre a Igreja e o reino de Deus; como realidade constituída pela graça, possui uma dimensão escatológica, que culmina na Igreja celestial e na comunhão dos santos [32] (cf. Lumen Gentium, n. 48-49).

35. [Igreja: Realidade cristológica e pneumatológica]. Como criatura trinitária, este é “o povo unido ‘pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo’” [33]; a Igreja não apenas mantém uma íntima relação com o Verbo Encarnado, a ponto de podermos afirmar que ela é verdadeiramente o Corpo de Cristo (cf. Lumen Gentium, n. 7), mas também com o Espírito Santo. E isso não apenas porque o Espírito, o grande dom do Ressuscitado (cf. Jo 7,39; 14,26; 15,26; 20,22), atua em sua constituição (cf. Lumen Gentium, n. 4), habita nela e nos fiéis como em um templo (1Cor 3,16; 6,19), unifica-a e gera o dinamismo missionário que lhe é inerente (cf. At 2,4-13), mas também porque a Igreja é um povo espiritual, pneumático (cf. Lumen Gentium, n. 12), enriquecido com os diversos dons que o Espírito doa aos fiéis para o bem de toda a comunidade (cf. Rm 12,4-8; 1Cor 12,12-30; 1Pd 4,10). Esses dons carismáticos conduzem a uma apropriação particular da riqueza da Palavra de Deus e da graça sacramental, fortalecendo a comunidade, impulsionando sua missão (cf. Apostolicam Actuositatem, n. 3), enfim, fortalecendo a sacramentalidade da Igreja [34].

36. [Continuidade sacramental da oferta de salvação]. A oferta salvífica que se tornou história com Jesus Cristo continua através da Igreja (cf. Lc 10,16), Corpo de Cristo, vivo nos sacramentos, graças à ação do Espírito [35]: “O que (...) era visível em nosso Salvador passou para os sacramentos” da Igreja [36]. A Igreja Católica sustenta que os sete sacramentos foram instituídos por Cristo [37], uma vez que somente Ele pode, com autoridade, unir efetivamente o dom de sua graça salvífica a determinados sinais [38]. Com esta afirmação, destaca-se que os sacramentos não são uma criação eclesial, e que a Igreja não pode mudar sua substância [39], mas eles se fundamentam no evento Cristo tomado em seu conjunto: Encarnação, vida, Morte e Ressurreição. O significado da encarnação entra em jogo na origem dos sacramentos (cf. nn. 30-32), devido às características específicas da humanidade de Cristo, que se desdobram ao longo dos mistérios de sua vida, culminando na Páscoa, como o dom máximo de si mesmo e fonte de todas as graças, começando pelo dom do Espírito. A Igreja, iluminada pelo Espírito que recebeu em Pentecostes e animada pela celebração da Eucaristia (cf. Presbyterorum Ordinis, n. 5), fonte e cume da vida cristã (Sacrosanctum Concilium, n. 10; Lumen Gentium, n. 11), reconheceu que o dom sacramental de Cristo continua de modo eminente nos sete sinais sacramentais, que remontam ao próprio Cristo de modo diverso [40], mantendo, ao mesmo tempo, que a graça divina não se limita exclusivamente aos sete sacramentos [41].

37. [Graça sacramental e os não-cristãos]. A Igreja afirma que a graça que justifica e doa a salvação e, portanto, a verdadeira fé, também se dá fora da Igreja visível, mas não independentemente de Jesus (sacramento primordial) e da Igreja (sacramento fundamental). A ação do Espírito Santo não se circunscreve aos limites da Igreja visível, mas “sua presença e ação são universais, sem qualquer limite de espaço ou tempo” [42]. As religiões não-cristãs podem conter aspectos da verdade e podem ser meios e sinais indiretos da graça espiritual de Jesus Cristo. Mas nem por isso se trata de caminhos salvíficos paralelos a Cristo ou independentes de Cristo e de sua Igreja [43].

38. [Graça sacramental e fé]. Em suma, a Palavra de Deus, criadora e eficaz, deu vida à linguagem interpessoal das palavras sacramentais, que são os sacramentos; palavras nas quais a Palavra continua a agir graças ao Espírito. Nas palavras que o ministro pronuncia em nome da Igreja, por exemplo, “Eu te batizo”, Cristo Ressuscitado continua falando e agindo [44]. Visto que os sacramentos tornam possível, hoje, pelo Espírito um relacionamento pessoal com o Senhor Morto e Ressuscitado, eles não têm sentido sem essa relação, que se condensa na palavra “fé”.

39. [Sacramentos: Exercício supremo da sacramentalidade eclesial] A sacramentalidade fundamental da Igreja é exercida de maneira privilegiada e com especial intensidade na celebração dos sacramentos. Os sacramentos comportam sempre um caráter eclesial: neles a Igreja põe em jogo seu próprio ser, a serviço da transmissão da graça salvífica do Cristo Ressuscitado, mediante a assistência do Espírito. Por esse motivo, todos e cada um dos sacramentos são atos intrinsecamente eclesiais. Segundo os Padres, os sacramentos são sempre celebrados na fé da Igreja, uma vez que foram confiados à Igreja. Em todos e em cada um dos sacramentos, a fé da Igreja precede a fé de cada fiel em particular. Com efeito, trata-se de um exercício pessoal de fé eclesial. Portanto, esses atos simbólicos emudecem sem a participação na fé eclesial, enquanto que a fé abre a porta do significado sacramental operante.

40. [Sacramentais]. A sacramentalidade eclesial não apenas se plasma nos sacramentos. Existem outras séries de realidades de natureza sacramental que fazem parte da vida e da fé da Igreja, entre as quais se destaca a Sagrada Escritura. Para a piedade cristã, os chamados sacramentais têm grande importância, sinais sagrados instituídos à imitação dos sacramentos, que dispõem a eles e santificam as várias circunstâncias da vida (Sacrosanctum Concilium, n. 60) A característica própria dos sacramentos é que neles se dá um compromisso eclesial, autorizado e seguro, da transmissão da graça de Cristo, desde que todos os requisitos sejam cumpridos. Nos sacramentais, no entanto, não se pode falar de uma eficácia semelhante à dos sacramentos [45]. Neles há uma preparação para a recepção da graça e uma disposição para cooperar com ela, não uma eficácia ex opere operato (cf. n. 65), exclusiva dos sacramentos. Assim, enquanto a água do Batismo produz o efeito do perdão dos pecados na celebração sacramental, a água benta, recordação do Batismo, não causa um efeito por si mesma, mas na medida em que é recebida na fé, por exemplo, traçando o sinal-da-cruz à entrada do templo.

e) Os eixos da economia sacramental

41. Ao sistematizar os principais resultados de nossa caminhada até aqui, podemos estabelecer os seguintes pontos fundamentais:

a) A economia divina trinitária, por ser encarnatória, é sacramental. Sendo a economia de natureza sacramental, os sete sacramentos instituídos por Cristo, guardados e celebrados pela Igreja, têm uma importância capital nela mesma.

b) A sacramentalidade da economia divina remete à fé. Mediante a fé se compreende essa sacramentalidade e a pessoa passa a viver nela. A percepção da sacramentalidade, através da fé, está intimamente ligada: à encarnação, por meio da qual o desígnio divino se torna visível de maneira histórica e tangível; ao Espírito Santo, que perpetua os dons de Cristo transmitindo a graça salvífica através de símbolos sacramentais; à Igreja, instituição histórica e visível, que, tendo recebido os dons sacramentais, continua a celebrá-los para nutrir e fortalecer a fé dos fiéis.

c) Jesus Cristo instituiu os sacramentos e os doou à sua Igreja para que os mistérios da fé fossem visivelmente representados. O fiel que participa desses mistérios recebe os dons que estão representados neles. Consequentemente, a transmissão da fé implica não apenas a comunicação de alguns conteúdos doutrinários de natureza intelectual, mas também, e juntamente com eles, a inserção existencial na estrutura da economia sacramental, que a Encíclica Lumen fidei magistralmente descreveu:
“Mas aquilo que se comunica na Igreja, o que se transmite na sua Tradição viva é a luz nova que nasce do encontro com o Deus vivo, uma luz que toca a pessoa no seu íntimo, no coração, envolvendo a sua mente, vontade e afetividade, abrindo-a a relações vivas na comunhão com Deus e com os outros. Para se transmitir tal plenitude, existe um meio especial que põe em jogo a pessoa inteira: corpo e espírito, interioridade e relações. Este meio são os sacramentos celebrados na Liturgia da Igreja: neles, comunica-se uma memória encarnada, ligada aos lugares e épocas da vida, associada com todos os sentidos; neles, a pessoa é envolvida, como membro de um sujeito vivo, num tecido de relações comunitárias. Por isso, se é verdade que os sacramentos são os sacramentos da fé (cf. Sacrosanctum Concilium, n. 59), há que afirmar também que a fé tem uma estrutura sacramental; o despertar da fé passa pelo despertar de um novo sentido sacramental na vida do homem e na existência cristã, mostrando como o visível e o material se abrem para o mistério do eterno” [46].

d) A estrutura da economia sacramental é dialogal. A fé representa o momento da resposta de graça da pessoa humana ao dom de Deus. Há uma reciprocidade essencial entre fé e sacramentalidade, em geral, e entre fé e sacramentos, em particular.

e) A natureza dialogal (fé) da economia supõe uma série de consequências significativas quando se trata de compreender teologicamente e oferecer pastoralmente cada um dos diferentes sacramentos. Das afirmações antecedentes, pode-se sustentar que os sacramentos eficazes sem fé suporiam: ou um mero mecanismo causal, alheio à esfera das relações entre o Deus trinitário e os homens, de natureza dialogal e interpessoal; ou uma ação de tipo mágico, estranha à fé cristã e à lógica sacramental da economia; ou uma concepção de Deus incompatível com a doutrina católica, que não tem em mente que o próprio dom divino já contém a graça que capacita à criatura a consentir e a colaborar com a ação divina, na medida própria da criatura. Em outras palavras: dado que a economia trinitária, enquanto sacramental, é dialogal, não se pode compreender a ação da graça que se manifesta neles de acordo como um tipo de automatismo sacramental.

O Espírito Santo fortalece a Igreja, sacramento fundamental

Notas:
[1] cf. Catecismo da Igreja Católica, § 1116.
[2] Bento XVI, Encíclica Deus caritas est (25 de dezembro de 2005), n. 1. Citado novamente por Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 7.
[3] cf. Orígenes, In Leviticum hom. IV, 8 (PG 12, 442-443).
[4] Catecismo da Igreja Católica, § 150
[5] Basílio Magno, De Spiritu Sancto, XII, 28 (SCh 17bis, 346).
[6] Comissão Teológica Internacional, Doutrina católica sobre o sacramento do Matrimônio (1977), § 2.3.
[7] cf. São João Paulo II, Encíclica Fides et ratio (14 de setembro de 1998), n. 84-85.
[8] J. Ratzinger, Die sakramentale Begründung christlicher Existenz (1965), in: GesammelteSchrifen 11: Teologia da Liturgia, Freiburg, Basel E Wien 2008, pp. 197-198.
[9] cf. Francisco, Encíclica Laudato si' (24 de maio de 2015), nn. 106-114.
[10] São João Paulo II, Encíclica Fides et ratio, n. 13, onde afirma o “horizonte sacramental da Revelação”. Bento XVI, na Exortação Apostólica Sacramentum caritatis (22 de fevereiro de 2007), n. 45, retoma a ideia central e se refere à “perspectiva sacramental da revelação cristã”.
[11] cf. Catecismo da Igreja Católica, § 1076: “A economia sacramental”. Ver a nota 54.
[12] “Se precisamos falar brevemente, o Salvador é a partir de ‘uma coisa’ e ‘outra’ (ἀλλο καὶ ἀλλο). É certo que o invisível e o visível não são os mesmos, nem o que está fora do tempo e o que está submetido ao tempo. No entanto, o Salvador não é ‘um’ e ‘outro’ (ἀλλος καὶ ἀλλος). Em absoluto!” (Gregório Nazianzeno, Ep. I ad Cledonium, 20 [SCh 208, 44; PG 37, 180 A]).
[13] Gregório Nazianzeno, Or. Theol. V (PG 36, 135 C [Or. 31,3 (SCh 250, 280)]).
[14] cf. Catecismo da Igreja Católica, § 1091.
[15] cf. Bento XVI, Exortação Apostólica Verbum Domini (30 de setembro de 2010), n. 56.
[16] cf. IV Concílio de Latrão, Profissão de Fé. Capítulo 1: Sobre a fé católica (DH 800); Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral Gaudium et Spes, n. 14.
[17] cf. Ambrósio, In Lucam II, 79 (PL 15, 1581); Tomás de Aquino, STh III, q. 61, a.1.
[18] cf. Teófilo de Antioquia, Aut. II,10,1 (PG 6, 1064; FuP 16, 116); Irineu de Lião, Adv. haer. IV 14,1; IV, 20,4 (SCh 100/2, 538; 636); João Duns Scoto, Ord. III, d. 32, q. un., n. 21 (Vat. X, 136-137); Catecismo da Igreja Católica, § 293.
[19] Por exemplo, Hugo de São Vítor, De tribus diebus, IV (PL 175, 814 B; CCCM 177, 9); Ricardo de São Vítor, De Trin. I,9; Boaventura, Itinerarium, I,14; Bento XVI, Exortação Apostólica Verbum Domini, n. 7.
[20] Efrém, Hymni de fide, 18.4-5 (CSCO 154, 70; 155, 54).
[21] cf. Comissão Teológica Internacional, Comunhão e serviço: A pessoa humana criada à imagem de Deus (2004). Veja também nosso § 20.
[22] cf. Francisco, Encíclica Laudato si', nn. 65-75.
[23] “Proinde prima sacramenta, quae observabantur et celebrabantur ex Lege, praenuntiativa erant Christi venturi: quae cum suo adventu Christus implevisset, ablata sunt; et ideo ablata, quia impleta; non enim venit solvere Legem, sed adimplere” (Agostinho, Contra Faustum, XIX, 13; PL 42, 355).
[24] cf. Irineu de Lião, Adv. haer. IV, 21,3 (SCh 100/2, 684); Tertuliano, De Baptismo, 3 (CCSL 1, 278-279).
[25] “Caro salutis est cardo” (Tertuliano, De Ressurrectione, 8; CCSL 2, 931); cf. Congregação para a Doutrina da Fé, Carta Placuit Deo (22 de fevereiro de 2018) § 1-2, 4, 8 (Encarnação) em correlação com § 13-14 (sacramental).
[26] J. Ratzinger, “Prefazione”, in: H. Luthe (ed.), Incontrare Cristo nei sacramenti. Milão, 1988, 8.
[27] Tomás de Aquino, STh III, q. 60, a.6 resp.
[28] Congregação para a Doutrina da Fé, Carta Placuit Deo, § 11.
[29] “Moritur Christus ut fiat Ecclesia” (Agostinho, In Johannis Ev., IX,10: CCSL 36, 96; PL 35, 1463).
[30] cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, nn. 1.9.48.59; Constituição Sacrosanctum Concilium, nn. 5.26; Decreto Ad gentes, nn. 1.5; Constituição Pastoral Gaudium et Spes, nn. 42.45.
[31] cf. São João Paulo II, Encíclica Redemptoris Missio (07 de dezembro de 1990), n. 18; Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus (06 de agosto de 2000), n. 18.
[32] cf. Comissão Teológica Internacional, Temas seletos de Eclesiologia (1984), cap. 10: “A índole escatológica da Igreja: Reino de Deus e Igreja”.
[33] Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, n. 4, com a citação de Cipriano, De dominica oratione, 23 (PL 4, 553; CSEL 3/I, 285).
[34] cf. Congregação para a Doutrina da Fé, Carta Iuvenescit Ecclesia (15 de maio de 2016), n. 23; ver também nn. 11 e 13.
[35] cf. Catecismo da Igreja Católica, § 1116.
[36] Leão Magno, Sermo 74,2 (PL 54, 398); cf. Ambrósio de Milão, Apol. pro prophetae David, XII, 58 (PL 16, 875); Catecismo da Igreja Católica, § 1115.
[37] cf. Concílio de Trento, VII sessão. Decreto sobre os sacramentos, can. 1 (DH 1601); Catecismo da Igreja Católica, § 1114.
[38] cf. Tomás de Aquino, STh III, q.64 a.2.
[39] Clemente VI, Carta Super Quibusdam de 1351 (DH 1061); Concílio de Trento, XXI sessão. Doutrina e cânones sobre a Comunhão sob as duas espécies e a Comunhão de crianças pequenas, cap. 2 (DH 1728); Pio X, Carta Ex quo, nono de 1910 (DH 3556); Pio XII, Constituição Sacramentum ordinis de 1948 (DH 3857).
[40] Veja abaixo, para cada um dos sacramentos que tratamos, as breves notas sobre a fundamentação escriturística.
[41] Tomás de Aquino, STh III, q.64 a.2 a 3 ad.
[42] São João Paulo II, Encíclica Redemptoris Missio, n. 28 (AAS 83 [1991] 273). cf. idem, Encíclica Dominum et Vivificantem (18 de maio de 1986), n. 53; Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral Gaudium et Spes, n. 22.
[43] cf. São João Paulo II, Encíclica Redemptoris Missio, n. 28-29; Comissão Teológica Internacional, O Cristianismo e as religiões (1997), n. 81-87.
[44] cf. Agostinho, In Johannis Ev., V, 18 (CCSL 36, 51-53; PL 35, 1424); João Crisóstomo, In 2Tm. Hom., 2,4 (PG 62, 612).
[45] Catecismo da Igreja Católica, § 1670. cf. Concílio Vaticano II, Constituição Sacrosanctum Concilium, n. 61.
[46] Francisco, Encíclica Lumen fidei (29 de junho de 2013), n. 40.

Fonte: Santa Sé, com pequenas correções feitas pelo autor deste blog.

As próximas partes do Documento a serem publicadas são:

Nenhum comentário:

Postar um comentário