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terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Missas votivas da Terra Santa (4): Jericó e Caná

Nas postagens anteriores desta série sobre as Missas votivas dos Santuários da Terra Santa, apresentamos as “Missas votivas do lugar” celebradas nos Santuários ligados ao mistério da Encarnação: Nazaré, Ain Karem e Belém.

A partir desta postagem veremos os Santuários ligados à vida pública de Jesus, começando por dois que marcam o início do seu ministério: Jericó e Caná.

Como dissemos antes, apresentaremos aqui a “oração do lugar”, as indicações de leituras e prefácio de cada celebração, além de algumas adaptações dignas de nota.

1. JERICÓ

1a. Santuário do Bom Pastor

O Santuário do Bom Pastor, igreja paroquial do pequeno grupo de cristãos de Jericó, tem associado a si três Missas votivas do lugar. As duas primeiras dizem respeito a eventos que marcam o início do ministério de Jesus e que ocorreram próximos a esta cidade: seu Batismo no Jordão e seu jejum no deserto.

A terceira Missa, por sua vez, diz respeito a um evento que ocorreu na própria cidade de Jericó: a visita de Jesus à casa de Zaqueu. Podemos acrescentar também a cura do cego Bartimeu (Lc 18,35-43). A atitude de Jesus para com estes dois homens foi de fato a atitude do Bom Pastor, donde o título da igreja.

Missa votiva do Batismo do Senhor
O santuário de Jericó está próximo ao local onde, segundo a tradição, Jesus teria sido batizado por João (Mt 3,13-17; Mc 1,9-11; Lc 3,21-22).

Em 1956 os franciscanos haviam construído uma pequena igreja mais próxima ao rio Jordão. Porém, esta teve de ser abandonada às pressas em 1967, quando eclodiu a guerra entre Israel e Jordânia. Somente em 2018 a área, que se tornou um campo minado, foi finalmente limpa, sendo devolvida oficialmente aos franciscanos em 2020.

No dia 10 de janeiro de 2021, após 54 anos, foi possível celebrar novamente a Festa do Batismo do Senhor nessa igreja. Para ver as fotos dessa histórica celebração, clique aqui.

A igreja da Custódia junto ao rio Jordão

A Missa votiva do Batismo do Senhor toma as leituras e orações da respectiva Festa (com o Prefácio próprio do Batismo do Senhor, omitindo apenas a palavra “hoje”), incluindo as opções de Evangelho paras os três anos litúrgicos.

Antífona de entrada: “E do céu veio uma voz que dizia: ‘Aqui está o meu Filho amado; nele está o meu agrado...” (Mt 3,17) - o Missal em português traz “este é”, enquanto o texto em latim traz “aqui está”;

Oração do lugar: “Deus eterno e todo-poderoso, que, sendo o Cristo batizado no Jordão, e pairando sobre ele o Espírito Santo, o declarastes solenemente vosso Filho, concedei aos vossos filhos adotivos, renascidos da água e do Espírito Santo, perseverar constantemente em vosso amor” (em português há apenas esta opção de coleta, mas em latim há as duas opções da Festa do Batismo do Senhor);

Cumpre notar ainda que no Jordão costuma-se fazer também a renovação das promessas batismais. Porém, esta geralmente é feita fora da Missa, em um momento de oração junto à água.

Missa votiva do jejum do Senhor
No Missal em português divulgado pela Custódia Franciscana da Terra Santa consta apenas a Missa que vimos acima. Portanto, para as outras duas celebrações faremos uso do Missal em latim, traduzindo livremente as orações.

Nos três Evangelhos Sinóticos, após o seu Batismo, Jesus se dirige para o deserto, onde permanece por quarenta dias em jejum e é tentado por Satanás (Mt 4,1-11; Mc 1,12-13; Lc 4,1-13).

Próximo a Jericó encontra-se um monte que a tradição identifica como o local das tentações, o qual abriga um mosteiro ortodoxo. Sendo o santuário franciscano mais próximo, na igreja do Bom Pastor pode-se celebrar também a Missa votiva do jejum do Senhor (De Commeratione Ieiunii Domini), especialmente na Quaresma.

Mosteiro ortodoxo no Monte das Tentações

Esta é uma Missa própria deste local, não possuindo paralelo no Missal Romano, sendo as leituras adaptadas do I Domingo da Quaresma do ano A.

Antífona de entrada: “O Espírito levou Jesus para o deserto. E ele ficou neste deserto durante quarenta dias...” (Mc 1,12-13) ou “Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e, neste deserto, era guiado pelo Espírito...” (Lc 4,1);

Oração do lugar: “Ó Deus, que não desejas a morte do pecador mas a sua conversão, pelo jejum e pela vitória do vosso Filho, que se tornou autor da salvação para todos os que lhe obedecem, atendei benigno às nossas preces, para que consigamos obter o perdão dos pecados e viver uma vida nova, à imagem do nosso Redentor”;

Leituras: Gn 3,1-8 / Sl 50,3-6.12-14.17 (R: v. 3) / Rm 5,12.17-19 / Mt 4,1-11 ou Lc 4,1-13;

Evangelhos: “O Espírito conduziu Jesus a este deserto, para ser tentado...” (Mt 4,1); “Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e, neste deserto, era guiado pelo Espírito...” (Lc 4,1);

Prefácio próprio do I Domingo da Quaresma: “Jejuando quarenta dias neste deserto, Jesus consagrou a observância quaresmal...”.

Missa votiva da entrada do Senhor na casa de Zaqueu
Por fim, a terceira Missa votiva do lugar prevista para Jericó celebra a visita de Jesus à casa de Zaqueu, cobrador de impostos nesta cidade (Lc 19,1-10).

Igreja do Bom Pastor em Jericó

Como a anterior, é uma Missa própria do local, sem paralelo no Missal Romano. A seguir indicamos a oração do lugar e as leituras (adaptadas do XXXI Domingo do Tempo Comum do ano C, quando se lê o episódio de Zaqueu no Evangelho). O Prefácio indicado é o dos Domingos do Tempo Comum I.

Oração do lugar: “Ó Deus, que pelo vosso Filho levastes a salvação à casa de Zaqueu, concedei, vos pedimos, que todos os que vos abandonaram não pereçam, mas pelo sangue do Redentor retomem o caminho da salvação”;

Leituras: Sb 11,23–12,2 / Sl 144,1-2.8-11.13-14 (R: v. 1) / Ap 3,14-22 / Lc 19,1-10.

Vitral representando o encontro de Jesus com Zaqueu

2. CANÁ

2a. Santuário do primeiro milagre de Jesus

Se, como vimos, os Sinóticos iniciam o relato da vida pública de Jesus com o Batismo e as tentações, no Evangelho de João o ministério de Jesus começa em um casamento em Caná da Galileia (Jo 2,1-11): “Este foi o início dos sinais de Jesus”.

Uma pequena igreja foi construída em Caná em 1880 e logo ampliada (1897-1905), tornando-se o atual “Santuário do primeiro milagre de Jesus”. Escavações arqueológicas no terreno identificaram restos de uma sinagoga do século IV e túmulos cristãos dos séculos V-VI.

Santuário do primeiro milagre de Jesus - Caná

Missa votiva do início dos milagres de Jesus
A celebração do mistério titular da igreja é também própria deste lugar, não possuindo paralelo no Missal Romano. Indicamos na sequência algumas orações e as leituras (adaptadas das propostas para o Sacramento do Matrimônio):

Antífona de entrada: “Naquele tempo celebravam-se bodas aqui em Caná da Galileia, e achava-se aqui a mãe de Jesus. Também foram convidados Jesus e os seus discípulos” (Jo 2,1-2);

Oração do lugar: “Ó Deus, que quisestes que vosso Filho estivesse presente aqui nas Bodas e transformasse a água em vinho para revelar sua glória aos homens, pela intercessão da bem-aventurada Virgem Maria, sua Mãe, transformai os nossos corações com o fogo do vosso amor, para que, renovados interiormente, sejamos dignos de participar das Bodas eternas”;

Leituras: Gn 2,18-24 com o Sl 127,1-5 (R: v. 1) ou Is 54,5-10 com o Sl 29,2.4-6.11-13 (R: v. 2) / Ef 5,2a.21-33 / Jo 2,1-11;

Evangelho: “Naquele tempo, celebravam-se bodas aqui em Caná da Galileia...” (Jo 2,1);

No final das Preces há uma oração de bênção própria para os casais;

Prefácio: o Missal em português apresenta o Prefácio do Matrimônio I, enquanto o Missal em latim propõe os Prefácios dos Domingos do Tempo Comum I ou II;

Antífona de Comunhão: “Este foi o primeiro milagre de Jesus; realizou-o aqui em Caná da Galileia. Manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele” (Jo 2,11).

Interior do Santuário de Caná

Missa votiva de Maria “medianeira”
Dado o importante papel que Maria desempenha no episódio das bodas de Caná, propõe-se também para este santuário a Missa votiva de Maria “medianeira”.

Cumpre dizer que este título não deve obscurecer a “única mediação” exercida por Jesus Cristo (1Tm 2,5). A “mediação” de Maria é de intercessão e de amor materno.

O formulário desta Missa não consta no Missal em português divulgado no site da Custódia, o que nos leva a recorrer mais uma vez ao Missal em latim, do qual faremos uma tradução livre, uma vez que esta também é uma Missa específica desse santuário, tomando do Missal Romano apenas o Prefácio da Virgem Maria I [1].

Oração do lugar: “Deus de misericórdia, que dispusestes em vossa sabedoria que a Virgem santíssima, Mãe do vosso Filho, se tornasse também nossa Mãe, faz com que os irmãos de Cristo ainda peregrinos e sujeitos aos perigos, experimentando seu amor materno como medianeira e auxiliadora, adiram mais intimamente ao Salvador”;

Leituras: Jz 5,3-7 / Sl 2,1-9 (R: v. 12) / At 1,12-14 / Jo 2,1-12;

Evangelho: “Naquele tempo, celebravam-se bodas aqui em Caná da Galileia...” (Jo 2,1).

Altar do Santuário de Caná

[1] Há na Coletânea de Missas de Nossa Senhora o formulário de “Maria, Mãe e medianeira da graça”, porém com outras orações e leituras.

Imagens: Wikimedia Commons

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